DELIBERAÇÃO. Na verdade, as hipotecas encontram-se inscritas a favor do BS, e a declaração para cancelamento foi emitida pelo BA.

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1 P.º R. P. 17/2009 SJC-CT - Cancelamento de inscrições hipotecárias. Prova da integração do crédito hipotecário no património da entidade que autoriza aquele registo. Título. DELIBERAÇÃO 1 Em 14 de Novembro de 2008, a coberto das aps. 1 e 2, foram apresentados na conservatória referenciada em epígrafe dois pedidos de registo de cancelamento das hipotecas voluntárias inscritas a favor do Banco relativas à fracção «FN» do prédio descrito sob o n.º / , da freguesia de. Para titular os pretendidos registos o interessado procedeu à junção da autorização para cancelamento das aludidas inscrições hipotecárias, emitida pelo BS tendo ainda sido oferecidos os documentos arquivados junto das aps. 1 e 42, de 8 de Outubro de Na respectiva requisição foi declarado, inter alia, que os créditos relativos a operações de crédito à habitação do Grupo.., efectuadas pelo Banco S (doravante BS), foram transferidos para o B A. (BA), em virtude da fusão cisão inscrita sob o n.º 11 (ap /001222) na Conservatória do Registo Comercial do. 2 A Senhora Conservadora fez recair sobre os aludidos pedidos um despacho de recusa por o facto não estar titulado no documento apresentado. Na verdade, as hipotecas encontram-se inscritas a favor do BS, e a declaração para cancelamento foi emitida pelo BA. Da certidão do registo comercial resulta que a cisão por destaque de parte do património do BS foi registada, mas daí não se pode concluir, sem mais, que os créditos em causa tenham sido transmitidos para o BA. Apoia-se no disposto nos artigos 69.º, n.º 1, alínea b), 68.º e 56.º, todos do CRP. 3 O requerente, inconformado, interpõe recurso hierárquico cujos fundamentos se dão aqui por integralmente reproduzidos, dos quais extraímos, em síntese, os seguintes: 1

2 3.1 A parte do património que foi destacado do BS para integrar o património do BA corresponde precisamente aos créditos relativos a operações de crédito à habitação do Grupo, efectuados pelo BS, como se esclareceu no pedido. 3.2 Mas se a recorrida tivesse dúvidas devia ter cumprido o n.º 3 do artigo 73.º do CRP, pois mediante a consulta da certidão da escritura pública arquivada na Conservatória do Registo Comercial do, verificava que da parte do património cindido do BS e fundido com o BA constam os referidos créditos. 3.3 Assim, a Senhora Conservadora violou, pelo menos, o disposto na alínea x) do n.º 1 do artigo 2.º e no artigo 73.º do CRP, pelo que o despacho ora impugnado deve ser revogado e, em consequência, deve também ser ordenando à recorrida que proceda à requalificação do pedido tendo em conta o prescrito no citado n.º 3 do artigo 73.º. 4 A recorrida procedeu à sustentação da decisão prolatada nos termos que aqui se dão por integralmente reproduzidos. Esclarece, ainda, que aquando da recusa destes mesmos cancelamentos pedidos em 3 de Outubro de 2008 consultou, além da certidão permanente do registo comercial respeitante ao BA, a escritura pública que serviu de base ao registo da cisão em causa dela constando que os créditos se encontravam descritos e identificados em 657 documentos complementares a que não teve acesso. 5 Relatada a matéria de facto pertinente e sumariadas as posições em confronto, atento que o processo é o próprio, as partes têm legitimidade 1, o recurso é tempestivo e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito, passamos à sua apreciação que vai consubstanciada na seguinte Deliberação 1 Na petição de recurso é referido como recorrente o «B..», mas só pode tratar-se de lapso que se sobrepassa visto que o requerente do registo é também o subscritor da petição de recurso, sendo que desse facto lhe advém legitimidade para impugnar a decisão que recaiu sobre os pedidos de registo que apresentou cfr., neste sentido, o parecer do Conselho proferido no proc.º C.P. 3/2000 DSJ-CT, in BRN n.º 4/2000, II, pág

3 1 A transmissão de créditos garantidos por hipoteca em consequência da transferência de parte do património social de uma sociedade para integrar no património de outra sociedade, deve ser registada por averbamento à inscrição a que respeita, por força do prescrito na alínea b) do n.º 1 do artigo 101.º do Código do Registo Predial 2. 2 Como é sabido, a cisão de sociedades pode revestir várias modalidades sendo que a patenteada nos autos revestiu a modalidade de cisão fusão por incorporação prevista na alínea c) do n.º 1 do artigo 118.º do Código das Sociedades Comerciais (CSC). As administrações das sociedades participantes dão início ao processo de cisão mediante a elaboração de um projecto do qual constam, além dos demais elementos necessários ou convenientes para o perfeito conhecimento da operação visada, tanto no aspecto jurídico como no aspecto económico, os elementos elencados nas diversas alíneas do artigo 119.º do CSC. Dentre estes é fundamental destacar in casu a enumeração completa dos bens a transmitir da sociedade cindida para a sociedade incorporante alínea d) do citado artigo 119.º, visto que a transmissão de direitos e obrigações se circunscreve aos elementos dos activos e passivos destacados e expressamente consignados no correspondente título. No que concerne aos requisitos especiais da transmissão de certos bens ou direitos no caso de cisão-fusão consagrados no artigo 128.º do CSC, veja-se RAÚL VENTURA, in Fusão, Cisão, Transformação de Sociedades, Reimpressão, 1999, págs. 407 e segs. Impõe-se ainda uma nota final atinente à teleologia e natureza do registo da cisão-fusão. O artigo 112.º do CSC assinala como um dos efeitos do registo a extinção da sociedade incorporada, sendo que, por força do disposto no artigo 120.º do CSC, é aplicável à cisão, com as necessárias adaptações, a mesma normatividade essencial, donde se retira que o iter da cisão é substancialmente o mesmo da fusão. As dúvidas colocam-se, no dizer de DIOGO COSTA GONÇALVES, in Código das Sociedades Comerciais Anotado, coordenado por ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, 2009, pág. 418, quanto à concretização do que sejam «as necessárias adaptações» não sendo mais do que possível formular um critério hermenêutico: o regime da fusão não se aplica sempre que a ratio dos preceitos em causa não proceda ante a natureza da cisão. O registo tem natureza constitutiva pois é com a inscrição definitiva que a cisão ocorre, mas no caso da cisão parcial não se verifica o efeito extintivo da sociedade cindida. Do registo da cisão fusão resulta o efeito da transmissão de direitos e obrigações da sociedade cindida para a sociedade incorporada nos precisos termos em que constem discriminados na escritura pública, e/ou nos documentos anexos, que titula aquela. Por conseguinte, para o cancelamento das inscrições hipotecárias que nas tábuas figuram ainda a favor do BS, deve ser feita a prova de que os créditos destacados do património desta sociedade integraram o património da sociedade incorporante o BA., sendo que o consentimento para 3

4 2 Tratando-se do registo de cancelamento de inscrição hipotecária a efectuar com base em consentimento do credor, nos termos do disposto no artigo 56.º do Código do Registo Predial, não é exigível o cumprimento da norma citada na conclusão anterior bastando para o efeito, para além do imprescindível consentimento prestado pela sociedade incorporante, que seja apresentada certidão do registo comercial da cisão-fusão por incorporação e documento comprovativo de que os créditos destacados do património da sociedade cindida foram transferidos para o património da sociedade incorporante 3. 3 Consequentemente, in casu o requerente do registo deve apresentar, além do consentimento prestado pelo titular do direito de crédito, os documentos comprovativos da transmissão dos créditos do BS, para o BA, em conformidade com o prescrito nos artigos 41.º, 42.º e 43.º, todos do Código do Registo Predial. 4 Quando tal não aconteça, as deficiências do procedimento de registo devem ser supridas nos termos previstos no artigo 73.º do citado Código 4, só podendo ser sanadas até ao momento da qualificação do pedido de registo. cancelamento das referidas inscrições hipotecárias, ao abrigo do disposto no artigo 56.º do CRP, deve ser prestado pela sociedade incorporante. 3 Veja-se, com as necessárias adaptações designadamente as derivadas do facto de estarmos aqui perante uma cisão-fusão e não perante uma fusão (com extinção da sociedade incorporada ou fundida), o parecer do Conselho proferido no proc.º R.P.150/2002 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 4/2003, II, pág As alterações introduzidas pelo artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, no artigo 73.º do Código do Registo Predial, vieram ampliar os casos em que a conservatória deve suprir oficiosamente os vícios do pedido de registo abrangendo inclusive casos em que, por lapso, não seja apresentado o título para registo. Para o efeito, a conservatória deve, em primeira instância, socorrer-se dos documentos apresentados ou já existentes no serviço de registo competente ou aceder directamente à informação constante da base de dados das entidades ou serviços da Administração Pública n.º 1 do citado artigo 73.º. Não sendo possível o suprimento das deficiências por esta via, e tratando-se de deficiência que não envolva novo pedido de registo nem constitua motivo de recusa nos termos das alíneas c) e e) do 4

5 5 Verificando-se que os documentos apresentados não titulam os actos de registo peticionados devem os mesmos ser recusados ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 69.º do Código do Registo Predial. Em consonância com o exposto, é entendimento deste Conselho que o presente recurso hierárquico não merece provimento. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 29 de Abril de Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em n.º 1 do artigo 69.º do CRP, o serviço de registo deve comunicar este facto ao interessado, para que este, no prazo de cinco dias, proceda a tal suprimento sob pena de o registo ser efectuado como provisório ou recusado n.º 2 do citado artigo 73.º. Contudo, o registo não será efectuado provisoriamente nem recusado se as deficiências se reportarem à omissão de documentos a emitir pelas entidades referidas no citado n.º 1, caso em que o serviço de registo deve solicitar esses documentos às entidades ou serviços da Administração Pública em conformidade com o prescrito no n.º 3 do mesmo preceito. No caso vertente, verifica-se que a Senhora Conservadora não observou o referido comando legal, como devia, muito provavelmente porque interpretou o pedido de registo no sentido de que o requerente vinha reiterar o entendimento da suficiência dos documentos apresentados e dos «oferecidos», uma vez que os actos de registo em causa já tinham sido pedidos a coberto das aps. 1 e 42, de 8 de Outubro de 2008, e recusados precisamente pela falta de prova da transferência dos aludidos créditos do BS para o BA. Nesta fase, porém, o poder decisório da recorrida encontra-se esgotado com a decisão proferida. A requalificação da decisão só poderia ter ocorrido até ao momento da prolação do despacho referido no n.º 1 do artigo 142.º-A do CRP. 5