N/Referência: PROC.: C. Bm. 48/2014 STJ-CC Data de homologação: PARECER

Transcrição

1 N.º 28/ CC /2014 N/Referência: PROC.: C. Bm. 48/2014 STJ-CC Data de homologação: Consulente: Conservatória do Registo Comercial e de Automóveis de.... Assunto: Palavras-chave: Registos de apreensão, penhora e arresto de veículo automóvel. Registos posteriores sobre o mesmo. Emissão do respetivo certificado de matrícula oficiosamente ou a requerimento do interessado. Registos de apreensão, penhora e arresto sobre veículos. Posteriores registos. Certificado de matrícula. Emissão. PARECER I Relatório 1 A Senhora Conservadora dos Registos Comercial e de Automóveis de C formula uma consulta relativa à emissão oficiosa, ou não, do certificado de matrícula em momento posterior ao da elaboração de registos que, em regra, dão origem a essa emissão, mas que, devido à existência de registos de penhora (ou de apreensão e de arresto) em vigor sobre o veículo em causa, tal não aconteceu. Desenvolve o seu pensamento salientando, em síntese, que a regra de emissão do certificado na sequência da realização de um ato de registo que implique a alteração dos elementos constantes daquele documento, consagrada no artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 178-A/2005, de 20 de outubro, sofre exceções sempre que se encontre vigente sobre o veículo registo de apreensão, penhora ou arresto artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de fevereiro. Com efeito, apesar destes registos não impedirem a feitura do registo subsequente em termos definitivos (transferência de propriedade, alteração do nome ou morada do titular inscrito), nesta precisa situação, o registo não dá lugar à emissão de certificado, pelo que aquando do posterior cancelamento do registo que impediu a emissão do certificado se coloca nos serviços externos a dúvida acerca da obrigação de emitir oficiosamente o referido documento, ou se o mesmo tem de ser requerido pelo interessado. Defende que o certificado de matrícula que não foi emitido aquando da qualificação e realização do registo peticionado devido à existência de qualquer um dos registos que a impediam, não deve ser emitido oficiosamente, em momento posterior, aquando do cancelamento desses registos. Com efeito, à apreciação da viabilidade do pedido de registo aplica-se o princípio da legalidade consagrado no artigo 68.º do CRP, aplicável ex vi do disposto no artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de 1/5

2 fevereiro, pelo que devido à existência dos registos anteriores sobre o veículo a emissão do certificado não era permitida, e essa decisão consumou-se no momento. Assim, logo que o facto que determinou a não emissão do certificado seja cancelado ou caduque, a posterior emissão do certificado não deve ser efetuada oficiosamente, antes deve requerida pelo interessado e pago o correspondente valor emolumentar que se encontra fixado no artigo 25.º, n.º 2.3., do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado. 2 Perante a aludida consulta, o Setor Técnico Jurídico dos Serviços de Registo (STJSR) elaborou a informação constante dos autos, cujos termos se dão aqui por reproduzidos, na qual propõe a remessa destes para o Conselho Consultivo, considerando, por um lado, que inexiste doutrina sobre a matéria e, por outro, que a apontada divergência de atuação dos serviços de registo no que concerne à emissão dos certificados de matrícula, na situação descrita, justifica a uniformização de procedimentos. A proposta veio a ser sancionada pelo Senhor Presidente do Conselho Diretivo, pelo que cumpre emitir parecer. II Pronúncia 1 Decorre do disposto no artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de fevereiro, na redação introduzida pelo Decreto-Lei n.º 178-A/2005, que a cada veículo automóvel corresponde um certificado de matrícula, que deve acompanhar sempre o respetivo veículo, sob pena de o infrator incorrer nas sanções fixadas no Código da Estrada. Do certificado de matrícula devem constar todos os registos em vigor sobre o veículo (salvo, naturalmente, os excecionados na lei), sendo que, como regra, nenhum ato sujeito a anotação no referido certificado, ou que tenha por objeto a extinção ou modificação de factos nele anotados, pode ser efetuado sem a sua apresentação 1, por força do que se encontra estatuído nos artigos 10.º, n.º1, e 11.º, n.º 1, ambos do Decreto-Lei n.º 54/75. Com efeito, atentando-se no disposto no aludido artigo 10.º, n.º 1, alínea a), verifica-se que do certificado de matrícula não devem constar os registos que publicitem providências judiciais ou administrativas que determinem a apreensão do veículo. 2 Consabidamente, o certificado de matrícula é necessariamente emitido quando se efetua o primeiro registo de veículo importado, admitido, montado, construído ou reconstruído em Portugal, como decorre do 1 Tal apresentação é, contudo, dispensável sempre que os pedidos de registo sejam promovidos pela Internet ou tenha havido extravio ou destruição do certificado de matrícula vd., em conformidade, o que estatui o n.º 2 do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de fevereiro. 2/5

3 preceituado no n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 178-A/2005, na redação conferida pelo Decreto-Lei n.º 20/2008, de 31 de janeiro. A realização de qualquer ato relativo a veículo que implique alteração dos elementos constantes do certificado de matrícula determina, em regra, a emissão de novo certificado, sendo obrigatória a entrega do anterior, em face do prescrito no n.º 2 do citado artigo 4.º. De igual modo também o mau estado de conservação implica a substituição do certificado, sendo que esta substituição tanto pode ocorrer oficiosamente como na sequência de requerimento apresentado pelo interessado com esse objetivo cfr. o que dispõe o n.º 4 do artigo 4.º do Decreto-lei n.º 178-A/ A emissão de segunda via do certificado de matrícula obedece aos requisitos previstos no n.º 1 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 178-A/2005, isto é, só pode ter lugar em caso de extravio ou destruição, sob requerimento do titular do referido certificado, cuja assinatura deve ser reconhecida presencialmente ou efetuada na presença de funcionário competente do serviço recetor do pedido, ou, no caso de veículos da propriedade do Estado ou de outras entidades públicas, com base em ofício. 2.2 Na hipótese de extravio, o requerente do certificado de matrícula deve assumir o compromisso de entregar o exemplar que vier a ser recuperado, no serviço competente, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 5.º citado no número anterior. 3 A apreensão de veículos 2, que se processa nos termos fixados nos artigos 17.º e segs. do Decreto-Lei n.º 54/75, determina a imobilização forçada do veículo (sob pena de o depositário ficar sujeito às sanções aplicáveis ao crime de desobediência) bem como a simultânea apreensão do correspondente certificado de matrícula 3. Nestes termos, os registos efetuados neste interim, mesmo implicando alterações aos elementos constantes do certificado de matrícula, não determinam a emissão de novo certificado, nem a entrega do anterior pelos requerentes destes registos, pela singela razão de que não está na posse deles. 3.1 À penhora e ao arresto é aplicável o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 18.º do citado diploma legal, por força do disposto no n.º 1 do artigo 23.º do citado Decreto-Lei n.º 54/75. Tanto a apreensão como a penhora e o arresto envolvem sempre a proibição de o veículo circular, como resulta do n.º 1 do artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 54/75. 2 A título meramente informativo chama-se ainda a atenção para o facto de ter sido publicado o Decreto-Lei n.º 177/2014, de 15 de dezembro, que criou o procedimento especial para o registo de propriedade de veículos adquirida por contrato verbal de compra e venda, e estabeleceu também, o regime de apreensão de veículos decorrente do referido procedimento especial vd., sobre o ponto, o que se encontra preceituado nos artigos 9.º e segs. do aludido diploma. 3 No que concerne à efetivação da apreensão veja-se MOITINHO DE ALMEIDA, in O processo cautelar de veículos automóveis, 2.ª edição, 1983, págs. 39 e segs. 3/5

4 3.2 Infere-se já de todo o exposto que não só o registo da apreensão, penhora ou arresto não determina a emissão de certificado de matrícula como também o cancelamento do registo destas providências o não determina, posto que não integram o elenco dos factos que origina a emissão de novo certificado atualizado com os elementos pertinentes, como decorre da análise conjugada do disposto nos artigos 10.º, n.º 1, alínea a), e 11.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 54/ No entanto, apesar de a realização de atos de registo que impliquem a alteração dos elementos constantes do certificado determinar a simultânea emissão oficiosa de novo certificado, tal emissão não se mostra viável havendo registos de apreensão, penhora ou arresto, devendo a mesma ocorrer posteriormente a pedido dos interessados, sem encargos, por falta de previsão legal, já que não se trata verdadeiramente da emissão de uma segunda via do certificado de matrícula. Consequentemente, fora daquele circunstancialismo, compete ao interessado requerer a emissão de novo certificado de matrícula e proceder ao pagamento do correspondente emolumento, que se encontra previsto no artigo 25.º, n.º 3.2, do RERN. Em conformidade com o que precede, o entendimento deste Conselho Consultivo vai condensado nas seguintes Conclusões I O certificado de matrícula é emitido de harmonia com o que se encontra previsto do artigo 4.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 178-A/2005, devendo ser apresentado sempre que seja pedido qualquer ato de registo que implique alteração dos elementos dele constantes em face do disposto no artigo 11.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 54/75. II A cada veículo corresponde um certificado de matrícula, que o deverá acompanhar permanentemente, sendo apreendido conjuntamente com a apreensão do próprio veículo, por força do prescito nos artigos 9.º, n.º 1, 18.º, n.º 3, aplicável ex vi do disposto no artigo 23.º do Decreto-Lei n.º 54/75. III Os registos de apreensão, penhora ou arresto sobre o veículo não são publicitados no certificado, por força da exceção consignada o artigo 10.º, n.º 1, in fine, alínea a), do Decreto-Lei n.º 54/75. IV Decorrentemente, também o cancelamento dos registos assinalados na conclusão anterior não tem projeção nos elementos constantes do certificado, não demandando, por isso, a emissão oficiosa do mesmo. 4/5

5 V Encontrando-se ainda vigentes os registos referidos na III conclusão, não há lugar à emissão de novo certificado de matrícula, nos termos do referido artigo 10.º, n.º1, alínea a), sob pena de se frustrar a apreensão do mesmo, realizada pelo tribunal ou, a requisição deste, por qualquer autoridade administrativa ou policial, ao abrigo do prescrito no artigo 17.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 54/75. VI Nestes termos, o certificado de matrícula que não tenha sido emitido na sequência de ato de registo, porquanto essa emissão, ao tempo, não era possível devido à existência de registos de apreensão, penhora ou arresto, pode, após o cancelamento destes, ser requerido pelo interessado, sem encargos por falta de previsão legal. Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 17 de dezembro de Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, Carlos Manuel Santana Vidigal, Ana Viriato Sommer Ribeiro. Este parecer foi homologado em pelo Senhor Vice-Presidente do Conselho Diretivo, em substituição. 5/5