N/Referência: PROC.: R. Bm. 11/2013 STJ-CC Data de homologação:

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1 N.º 11/ CC /2014 N/Referência: PROC.: R. Bm. 11/2013 STJ-CC Data de homologação: Recorrente: Joaquim F. Recorrido: Espaço dos Registos. Assunto: A tributação emolumentar do recurso hierárquico de impugnação da decisão do conservador momento da realização do preparo e consequência da falta de pagamento do preparo devido. Palavras-chave: Recurso hierárquico preparo momento do pagamento - omissão rejeição da apresentação indeferimento. Relatório 1. Sob a ap. 5. de , foi pedido no Espaço dos Registos. o registo de propriedade do veículo com a matrícula X.., com base em compra verbal entre Joaquim F (sujeito ativo) e Maria A. e Maria J. (sujeitos passivos), na qualidade de herdeiras de Henrique A.. 2. O registo foi recusado, por estar em causa um contrato de compra e venda entre cônjuges proibido pelo art º/2 do Código Civil (CC) e por ser, assim, manifesta a nulidade do facto trazido a registo. 3. O interessado (sujeito ativo do facto) veio impugnar tal decisão, mediante carta dirigida à Sra. Conservadora, alegando que o contrato foi celebrado entre a herança em comum de Henrique A.. e o signatário, e não entre ele e Maria J., pelo que pede a reapreciação do assunto e a feitura do registo Considerada a impugnação, assim formulada, como interposição de recurso hierárquico, foi a mesma anotada sob a ap. 8 de Porém, verificando-se não ter sido entregue qualquer quantia a título de preparo pelo recurso ou prova de pagamento antecipado do mesmo, notificou-se o interessado para, nos termos do art. 151.º/9 do CRP e no prazo de dois dias, proceder à entrega da quantia de 300 euros prevista no art. 27.º/5.1. do RERN, sob cominação da recusa de apreciação da impugnação Em , o processo de recurso hierárquico foi remetido ao IRN, com a informação de que o despacho recorrido não foi apreciado, por não ter sido efetuado o pagamento de qualquer quantia. 1/6

2 Questões prévias Da forma da impugnação 1. Considerando que da legislação própria do registo de automóveis não consta a regulamentação da impugnação das decisões tomadas no âmbito do processo de registo, é no Código do Registo Predial (direito subsidiário) e nas disposições contidas nos arts. 140.º e seguintes que devemos enquadrar a impugnação em tabela (art. 29.º do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de fevereiro, que disciplina o Registo da Propriedade Automóvel) Logo, estando em causa um pedido de reapreciação da decisão de recusa dirigido à conservadora e não subsistindo já, no Código do Registo Predial (CRP), a figura da reclamação, cabe, na esteira do entendimento firmado, entre outros, no Procs. RP 84/2000 DSJ-CT (BRN n.º 9/2000) e RP 60/2000 DSJ-CT (BRN n.º 11/2000), o aproveitamento do ato, considerando-se o requerimento como de interposição de recurso hierárquico Como atrás se relatou, foi esta a interpretação do requerimento apresentado que foi feita pelo serviço de registo competente, posto que foi a de recurso hierárquico a forma da impugnação levada em consideração na notificação feita ao requerente para pagamento do preparo e, bem assim, na remessa do processo ao IRN. Do dever de entrega do preparo 2. De acordo com o ponto 5.1. do art. 27.º do RERN, por cada processo de recurso hierárquico é devido o emolumento de 300, sendo que, nos termos dos pontos 5.2. e 5.3. do mesmo artigo, em caso de procedência do recurso, há lugar à devolução desse emolumento ou, sendo o provimento parcial, é o emolumento reduzido a metade No art. 28.º do Decreto-Lei n.º 54/75 diz-se, a propósito da tributação pela prática de atos respeitantes ao registo de veículos, que os emolumentos devidos são pagos antecipadamente, a título de preparo, e que os pedidos não acompanhados da totalidade do montante devido a título de preparo são rejeitados No art. 151.º/1 do CRP estipula-se, por seu turno, que no momento do pedido deve ser entregue, a título de preparo, a quantia provável do total da conta, e a mesma exigência é feita no art. 34.º do Decreto n.º 55/75, de 12 de fevereiro, que aprova o Regulamento do Registo de Automóveis (RRA) Reconhecendo-se que as disposições citadas se dirigem aos atos praticados nos serviços de registo, a sua aplicabilidade ao processo de recurso hierárquico tem sido alicerçada no argumento de que neste processo se 2/6

3 contém, também, um pedido implícito de registo a praticar no serviço de registo, que consiste na anotação da interposição do recurso hierárquico na ficha de registo (art. 148.º/1 do CRP) A nosso ver, decisivo no sentido da cobrança antecipada do emolumento previsto no art. 27.º/5.1. do RERN é desde logo o princípio geral que se extrai das regras atinentes à contabilidade e que se traduz num dever de liquidação provisória dos emolumentos previstos no RERN, ou de cálculo do montante provável da conta, e na obrigatoriedade do pagamento antecipado das quantias devidas pelos atos e processos atinentes à atividade registal, sem prejuízo da correção da liquidação e da devolução total ou parcial que devam ser feitas a final, em função do desfecho dos pedidos respetivos Vale, por isso, concluir que o preparo relativo a este recurso hierárquico deveria ter sido entregue no momento da apresentação do requerimento no serviço de registo. Da falta de entrega do preparo no momento da apresentação do recurso 3. O ponto é saber que consequências pode ter a omissão dessa entrega, tendo em conta o regime legalmente previsto para a falta de preparo, que é o da rejeição da apresentação (art. 28.º/3 do Decreto-Lei n.º 54/75 e art. 66.º/1/e) do CRP) ou, caso esta não tenha ocorrido, a recusa da qualificação (art. 66.º/4 do CRP), se, após a notificação a que alude o art. 151.º/9 do CRP, o interessado persistir na omissão do pagamento Para nós, a despeito de a interposição de recurso hierárquico poder constituir um ato de registo (a ingressar na ficha de registo mediante anotação), o pedido expresso que no processo de recurso previsto no art. 140.º do CRP se encerra é o de reapreciação da decisão do conservador pela entidade ad quem, pelo que, sendo a rejeição do pedido a que alude o art. 28.º do RPA ou a rejeição da apresentação a que se refere o art. 66.º do CRP um mecanismo dirigido ao processo (normal) de registo 2 e aos atos a praticar nos serviços de registo, fica, naturalmente, excluída a sua aplicação ao processo de recurso hierárquico O mesmo fio de pensamento vale para a recusa de qualificação ou de apreciação a que alude o art. 66.º/4 do CRP, porquanto também este preceito versa sobre atos da competência do conservador e/ou pedidos de registo sujeitos ao juízo de legalidade indicado no art. 68.º do CRP, o que não é o caso Claro que, no âmbito do processo de recurso hierárquico, cabe ao conservador reapreciar o despacho recorrido, nos termos do disposto no art. 142.º-A do CRP, e proferir despacho a sustentar ou a reparar a decisão, dele notificando o recorrente, mas esta atuação, conquanto determinada pela interposição do recurso 1 Cfr. Deliberação proferida no Proc. RP 177/2008 SJC-CT. 2 Daí a necessidade de normas remissivas no âmbito da regulamentação de cada um dos processos especiais (cfr. arts.117.º-d e 123.º do CRP). 3/6

4 hierárquico e podendo constituir mesmo a decisão final a que se refere o art. 148.º do CRP 3, não consubstancia a apreciação do recurso, pela simples razão de que essa competência pertence à entidade ad quem Na falta de disposições legais próprias atinentes ao problema em causa, sobra então procurar a solução no direito subsidiário, que, em face do disposto no art. 156.º do CRP, aditado pelo Decreto-Lei n.º 125/2013, de 30 de agosto, voltou a ser o Código de Processo Civil Assim, compulsados os preceitos legais pertinentes, que são os dos arts. 145.º e 642.º do CPC (correspondentes aos arts. 150.º-A e 685.º-D do CPC revogado pela Lei n.º 41/2013, de 26 de junho), temos que a prova do pagamento da taxa devida deve ser junta ao ato processual (art. 145.º/1) ou apresentada no prazo de 10 dias subsequentes à prática deste ato (art. 145.º/3), e que, no caso dos recursos, quando o documento do pagamento da taxa devida não tiver sido junto ao processo nos momentos definidos para o efeito, a secretaria notifica o interessado para, em 10 dias, efetuar o pagamento omitido e juntar ao processo o documento comprovativo do pagamento, sob cominação do desentranhamento da alegação e consequente indeferimento do recurso, por impossibilidade de conhecimento do seu objeto Adaptada a solução jurídica ao processo de recurso hierárquico, regressamos, com as devidas atualizações, ao entendimento vertido no Proc. CC 66/2003 DSJ-CT (BRN 6/2004) 4 no sentido de que a falta de entrega do preparo não determina a recusa ou rejeição do requerimento no serviço de registo, mas inviabiliza a apreciação do recurso pela entidade ad quem, se aquela falta não for suprida nos termos e no prazo atrás referidos Precisamente porque o objeto do recurso consiste na apreciação da decisão de recusa pela entidade ad quem 5, e porque, de acordo com o regime da impugnação das decisões do conservador posto nos arts. 140.º e seguintes do CRP, não compete ao serviço de registo emitir despacho sobre o requerimento de interposição de recurso, admitindo-o ou rejeitando-o, mas apenas sustentar ou reparar a decisão impugnada (arts. 52.º do RRA e 142.º-A/1 do CRP) e, sendo o caso, expedir o recurso à entidade competente, a decisão de não proceder à 3 Basta para tanto que a decisão de recusa seja reparada. 4 Entendimento que era seguido antes da Reforma do Registo Predial levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho, no qual se fixou como direito subsidiário o CPA, determinando-se, com isso, a formulação vertida no Proc. RP 177/2008 SJC-CT à luz das disposições combinadas dos arts. 71.º/2 e 113.º/2 do CPA, ex vi do art. 147.º-B do CRP. 5 Realçamos que, de acordo com os arts. 140.º e seguintes do CRP, o que o recorrente pede não é a reapreciação da decisão negativa por parte do serviço de registo, situação que corresponderia à figura da reclamação eliminada pelo Decreto-Lei n.º 533/99, de 11 de dezembro, mas a apreciação da mesma decisão por outro órgão. 4/6

5 apreciação do recurso, com a ponderação dos fundamentos respetivos, só poderá caber também a esta entidade Assim, diante da falta do pagamento do preparo, o que o serviço de registo deve fazer é dar cumprimento ao disposto no art. 142.º-A do CRP, portanto, sem fazer refletir no andamento dos atos aí previstos aquela omissão ou aplicar as cominações previstas no art. 66.º do CRP, que, como vimos, visam o processo normal de registo Pode, com isso, suceder que a decisão venha a ser reparada com base num impulso impugnatório que não se fez acompanhar do preparo devido, ou que a decisão se mostre sustentada sem que a omissão do preparo venha a ser suprida, desenvolvendo-se assim atividade processual sem contrapartida emolumentar Mas a verdade é que essa atividade, que é a mesma que se realiza quando o interessado opta pela impugnação judicial e que, de algum modo, constitui um sucedâneo da resposta à reclamação abolida pelo Decreto-Lei n.º 533/99, não está, em si mesma, sujeita a tributação emolumentar A nosso ver, a tributação emolumentar do recurso hierárquico constitui tão somente a retribuição da decisão, de forma ou de mérito, de sinal negativo proferida pela entidade ad quem, pelo que, sem embargo do que atrás se deixou dito sobre o momento da entrega da quantia devida, é no campo de atuação desta entidade que a relevância da falta de preparo efetivamente se coloca Note-se que mesmo quando falte algum pressuposto processual específico do recurso, ou porque o recurso é intempestivo ou porque o recorrente não tenha legitimidade, não pode o conservador deixar de apreciar o despacho recorrido e de enviar o recurso à entidade ad quem, mas aí, naturalmente, sem extrair consequências, de sustentação ou de reparação da decisão, dado estar em causa a própria admissibilidade do processo de recurso. *** Pelo exposto, tendo sido realizada a diligência de notificação a que se refere o art. 642.º do CPC, ex vi do art. 156.º do CRP, por seu turno, aplicável, a título de direito subsidiário, nos termos previstos no art. 29.º do RPA, 6 Note-se que o recurso, embora deva ser apresentado no serviço de registo, é sempre dirigido à entidade ad quem, não ao conservador ou à entidade a quo, pelo que é àquela entidade, não a esta, que compete a admissão ou a rejeição do recurso, sendo que a fase de recurso propriamente dita só se inicia quando o processo é admitido pela entidade ad quem. Daí que não se mostre necessário socorrernos da figura da deserção do recurso, quando o interessado não venha efetuar o preparo, porquanto não estará em causa o prosseguimento do recurso, mas a sua admissão. 7 Note-se que se o interessado optar pela interposição da impugnação judicial, a tramitação a seguir no serviço de registo é a mesma, não estando previsto qualquer emolumento pelos atos de apreciação da decisão e de remessa à entidade ad quem. 5/6

6 após o recebimento do processo de recurso e, tendo decorrido o prazo de 10 dias aí previsto sem que o preparo tenha sido efetuado, propomos o indeferimento do recurso, sem o conhecimento do seu objeto. Em consonância com quanto fica exposto, firmamos as seguintes CONCLUSÕES I Com a interposição do recurso hierárquico deve ser entregue, a título de preparo, a quantia correspondente ao emolumento previsto no artigo 27.º/5 do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado. II A falta de entrega do preparo não dá lugar à rejeição da apresentação prevista no art. 28.º/3 do Decreto-Lei n.º 54/75, de 12 de fevereiro, ou no art. 66.º/1/e) do Código do Registo Predial, mas ao indeferimento do recurso pela entidade ad quem, se o recorrente não suprir a omissão nos termos e no prazo previsto no art. 642.º do Código de Processo Civil, aplicável, com as devidas adaptações, por força do disposto no art. 156.º do Código do Registo Predial e no art. 29.º do Decreto-Lei n.º 54/75. III A tributação emolumentar prevista no art. 27.º/5 do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado constitui a retribuição pela decisão negativa, de forma ou de mérito, proferida pela entidade de recurso, pelo que a falta de pagamento antecipado da quantia correspondente, por si só, não impede o cumprimento do disposto no artigo 142.º-A do Código do Registo Predial nos seus precisos termos. Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 27 de fevereiro de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Carlos Manuel Santana Vidigal, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, Blandina Maria da Silva Soares. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em /6