P.º R.P. 159/2009 SJC-CT- Registo de aquisição com base em partilha Obrigação de registar: prazo
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- Antônio Quintanilha Carreira
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1 P.º R.P. 159/2009 SJC-CT- Registo de aquisição com base em partilha Obrigação de registar: prazo PARECER Relatório 1. Adelino vem apresentar reclamação da conta do acto de registo pedido a coberto da ap.27 de 2008/ /, que versa sobre a inscrição de aquisição de ½ do prédio descrito sob o n.º 2583/ , da freguesia de, concelho de., e do prédio não descrito, situado na mesma freguesia e concelho, e inscrito na matriz sob o artigo O pedido de registo, enviado pelo correio e acompanhado da quantia de 250 euros, em cheque, foi instruído com certidão judicial, emitida em 30/9/2008 e extraída dos autos de inventário a que se procedeu por divórcio entre o apresentante e Ilda, de que fazem parte integrante fotocópias da relação de bens a partilhar, do mapa de partilha e da sentença, proferida em 31/7/2008 e transitada em julgado em 18/9/2008, que homologa a partilha e, designadamente, adjudica os prédios em causa ao apresentante, ora recorrente. 2. O registo, assim requerido, foi anotado no diário sob a apresentação n.º 27 de 31/10/2008 e efectuado como definitivo, tendo sido elaborada a respectiva conta sob o n.º 11461, de 2008/11/17, de que resultou um crédito no montante de 250 euros, correspondente à diferença entre a quantia entregue no momento do pedido (250 euros) e a quantia que se considerou ser devida (500 euros). 3. De acordo com a informação recolhida dos autos, foi entendimento do serviço de registo competente que, por um lado, o facto em causa aquisição com base em partilha homologada por sentença de 31/7/2008 e transitada em julgado em 18/9/ está sujeito a registo obrigatório, e, por outro lado, que o prazo para promover o registo foi excedido, porquanto o registo foi pedido em 30 de Outubro de 2008, portanto, decorridos mais de 30 dias após a data do trânsito em julgado daquela sentença. 4. A este entendimento opõe-se a perspectiva alinhada em sede de recurso hierárquico, no qual se aduz a falta de clareza do preceito legal contido no artigo 8.º-C/1 do Código de Registo Predial (CRP), se propõe como termo inicial do prazo para cumprimento da obrigação de registar a data da emissão dos documentos que legalmente comprovam o 1
2 facto a registar ou a data do pagamento das obrigações fiscais, valendo a data do trânsito em julgado apenas para os casos previstos no n.º 3 do referido artigo, e se requer que seja considerado o acerto do preparo efectuado. 5. Instada a pronunciar-se sobre o teor da reclamação, veio a Senhora Conservadora informar que «o registo foi requerido após os 30 dias que a legislação determina para que se não pague o emolumento em dobro», limitando-se a tanto a sustentação da conta do acto de registo em causa. 6. Atento o circunstancialismo descrito, vem o presente processo submetido a pronúncia do Conselho Técnico com as seguintes questões: - No caso de aquisição com base em partilha judicial, qual o momento relevante para efeitos do disposto no artigo 33.º/1 do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho; - Se a feitura do registo como definitivo, a despeito da falta de entrega das quantias devidas, põe em causa a validade do acto. Fundamentação 1. Em face do preceituado no artigo 33.º/1 do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, ficam sujeitos ao regime de obrigatoriedade contido nos artigos 8.º-B e seguintes do CRP, todos os factos previstos no artigo 8.º-A do mesmo Código que ocorram após a entrada em vigor daquele diploma legal, ou seja, depois de 21 de Julho de 2008 (artigo 36.º do Decreto-Lei n.º 116/2008) Considerando que, no caso dos autos, está em causa a aquisição com base em partilha em inventário por divórcio, a questão que primeiramente se coloca é a de saber qual a data relevante para efeitos de obrigatoriedade do respectivo registo, tendo em conta que as relações patrimoniais entre os cônjuges cessaram por divórcio decretado por sentença de 19 de Maio de 2004 e a partilha dos bens comuns do casal foi homologada por sentença de 31 de Julho de 2008, transitada em 18 de Setembro de Ora, não obstante os termos da inscrição de aquisição acentuarem a consequência produzida ao nível da titularidade do bem ou, dito de outro modo, a projecção do efeito 2
3 de direito produzido pelo facto na esfera jurídica do sujeito, à luz do disposto no artigo 2.º/1/a) do CRP o objecto do registo não deixa de ser «o evento da vida social a que o Direito reconhece relevância como fonte de eficácia jurídica» E é justamente a data em que ocorre ou nasce definitivamente para a ordem jurídica o comportamento ou evento susceptível de produzir ou ser causa dos efeitos previstos no artigo 2º do CRP, que, a nosso ver, releva para enquadramento no disposto no artigo 33.º/1 do CRP, ainda que tais efeitos devam retroagir a momento anterior Sendo que, no caso da partilha, a discussão doutrinal em torno da natureza jurídica do acto, designadamente a tese que a configura como acto meramente declarativo, fazendo depender de um acto principal e causal os efeitos que declara (em caso de partilha de herança, da morte do de cuius, e no caso de partilha por divórcio, da cessação das relações patrimoniais), não impede que se continue a considerar a data da partilha extrajudicial como o momento em que ocorre o facto jurídico, posto que é este «arranjo através do qual se põe termo à indivisão hereditária» ou se liquida o património comum do casal que constitui o objecto imediato do registo obrigatório Assim como no inventário há-de valer a data do trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha (art. 677.º do CPC), pois, ainda que os seus efeitos retroajam a momento anterior (artigos 1789.º e 2119.º do CC), é nessa data que efectivamente se conclui, se completa ou torna definitivo o facto jurídico sujeito a registo obrigatório, ou seja, a adjudicação definitiva do bem ou direito que faz parte da herança ou da comunhão conjugal dissolvida 3. 1 Cfr. a noção de facto jurídico proposta por Carvalho Fernandes, Teoria Geral do Direito Civil II,, pp. 11 e ss. 2 Vd., sobre a retroactividade da partilha da herança, Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil anotado, VI, pp.194/196, e sobre a retroactividade da partilha por divórcio, Seabra de Magalhães, Formulário do Registo Predial, p. 63, e acórdão da Relação do Porto, de 06/10/2008, Apelação nº 3627/08-5ª Secção, no qual que se conclui que: «Realizada a partilha, de acordo com as regras próprias decorrentes do regime de bens do casal, cada um dos ex-cônjuges é considerado titular dos bens que lhe couberam na mesma, com efeitos reportados à data da propositura da acção de divórcio, considerando, por um lado, que a partilha tem efeito meramente declarativo limitando-se a tornar certa a situação anterior e, por outro lado, o regime do já mencionado n.º 1 do artigo 1789». 3 A partilha judicial é feita mediante um processo especial, designado por inventário, que segue uma tramitação especial, desenvolvida por diversas fases, e que precisamente culmina com a fase do julgamento e o trânsito em julgado da sentença homologatória. 3
4 1.6. Devemos, por isso, considerar que o facto jurídico a que se referem os autos fica a coberto do regime de obrigatoriedade a que alude o artigo 33.º/1 do Decreto-Lei n.º 116/2008, posto tratar-se de partilha judicial homologada por sentença transitada em 18/09/2008, ou seja, após a entrada em vigor daquele diploma legal, asserção que, de resto, parece ser assumida também pelo recorrido, dado que não põe em causa a obrigatoriedade do registo por si requerido. 2. Questão convertida é antes a que se coloca em torno do prazo para promover o registo, pois aqui a posição do recorrido vai no sentido de que, tendo em conta a morosidade na emissão dos documentos judiciais que servem de base ao registo, o termo inicial do prazo deve coincidir com a data da obtenção da prova documental ou do instrumento de demonstração da realidade do facto trazido a registo Ora, para nós, o disposto no artigo 8.º-C/1 do CRP, interpretado segundo os cânones hermenêuticos definidos no artigo 9.º do CC, não autoriza senão o entendimento de que o registo deve ser pedido no prazo de 30 dias a contar da data em que tiverem sido titulados os factos, em regra, do momento em se complete, do ponto de vista formal ou processual, o acto (causa ou fonte) de que promanam os efeitos jurídicos previstos no artigo 2.º do CRP 4, que, neste caso, é a partilha judicial autenticada mediante sentença 5 e não o documento que a certifica Por conseguinte, o elemento constitutivo do termo inicial do prazo para promover o registo é o momento da titulação do facto ou a data do pagamento das obrigações fiscais e não o momento da obtenção da prova do facto ou da prova do cumprimento daquelas obrigações, porquanto, a nosso ver, onde esta ocasião pesou foi na estipulação do prazo, isto é, na fixação do número de dias considerado razoável para a organização do pedido, ponderada que terá sido a necessidade da obtenção de documentos junto de terceiros 6. Faz-se notar que também no novo regime jurídico do processo de inventário, aprovado pela Lei n.º 29/2009, de 29 de Junho, a entrar em vigor no dia 18 de Janeiro de 2010, a decisão de partilha se torna definitiva e ganha relevância para efeitos de registo predial definitivo com o trânsito em julgado da sentença homologatória. 4 Por não ser essa a hipótese dos autos, não estamos a considerar os casos em que haja obrigações fiscais cujo pagamento deva ocorrer depois da titulação. 5 Cfr. Carvalho de Sá, Do Inventário, 3.ª edição, p Estipulou-se assim um prazo mais alargado (de 30 dias) face ao que se acha previsto nos restantes números do artigo 8º-C, posto que, nas hipóteses nestes previstas, a emissão da prova documental está a cargo do próprio sujeito da obrigação de registar. 4
5 2.3. Pode acontecer que o interessado diligencie no sentido da obtenção do documento em tempo útil, mas, a despeito do seu cuidado, a morosidade na emissão do documento não permita o cumprimento atempado da obrigação de registar 7. Nessas situações, cremos que a «racionalidade» subjacente ao regime legal da obrigatoriedade do registo predial consentirá uma aplicação subsidiária e adaptada do disposto no artigo 146.º do Código de Processo Civil (CPC), e, com isso, o afastamento da cominação prevista no artigo 8.º-D do CRP, desde que a instância se exerça logo que cesse o impedimento e, em simultâneo, se faça prova de que o cumprimento tardio da obrigação se deve a evento não imputável ao obrigado, ou seja, a facto independente de culpa, negligência ou imprevidência deste No caso dos autos, como a sentença homologatória da partilha transitou em julgado em 18/09/2008, o registo deveria ter sido requerido até ao dia 20 do mês seguinte (considerando o disposto no artigo 279.º/e) do CC, o prazo, que terminaria no sábado, dia 18 de Outubro, transfere-se para o primeiro dia útil) O entendimento de que o prazo para promover o registo começaria a contar da data da emissão da certidão judicial que lhe serviu de base (30/09/2008) levou assim ao cumprimento tardio da obrigação a que aludem os artigos 8.º-A e seguintes do CRP 9 e, por conseguinte, ao dever de entrega do «emolumento em dobro» (artigo 8.º-D/1 do CRP) a cargo do apresentante Perante a constatação de que apenas se juntou a quantia de 250 euros, correspondentes ao emolumento devido pelo acto de registo, terá sido a ponderação do interesse público na feitura do registo (que, de resto, justifica a sua obrigatoriedade) a ditar que não se tivesse rejeitado a apresentação nem se tivesse recusado a qualificação 7 Nada disto se passa no caso em apreço, pois a certidão judicial foi emitida em data que permitia um cumprimento folgado da obrigação de registar. 8 Cfr. o parecer proferido no processo C.P. 83/2008 SJC-CT, disponível na Intranet. 9 Com efeito, o pedido de registo, recebido na Conservatória em 31/10/2008, foi remetido pelo correio, segundo o recorrente, na véspera, ou seja, em 30/10/2008, como tal, dentro do prazo de 30 dias a contar da data da emissão da certidão judicial, em 30/09/ Aqui também sujeito activo do facto e, por isso, sujeito da obrigação de registar (art. 8.º-B/1/f) do CRP). 5
6 do pedido de registo pelo facto de não ter sido entregue também quantia de igual montante a título de sanção pelo incumprimento do prazo para promover o registo Permanece, todavia, por pagar a quantia de 250 euros, efectivamente devida no caso em apreço à luz das considerações que antecedem, pelo que se nos afigura caber ao apresentante e sujeito da obrigação de registar o dever de liquidação do crédito apurado na conta junta aos autos, a qual se afigura ter sido correctamente elaborada Finalmente, importa dizer que a falta de rejeição da apresentação (tendo em conta o resultado interpretativo do artigo 66.º/1/e) do CRP superiormente preconizado), bem como da recusa da qualificação, e a consequente feitura do registo, não constituem causa de inexistência, nulidade ou inexactidão do registo, porquanto tal actuação não se inscreve em nenhuma das hipóteses legais previstas nos artigos 15.º, 16.º e 18.º do CRP Na verdade, do ponto de vista do valor dos actos, nenhuma consequência legal se prescreve para a feitura do registo cujo pedido não tenha sido acompanhado da entrega das quantias devidas, o que bem se compreende se tivermos em atenção que, apesar de tudo, a instância se exerceu e, portanto, não estaremos perante um caso de registo lavrado sem apresentação prévia (artigo 16º/e) do CRP), e que, embora a falta de entrega daquelas quantias possa inquinar ou interferir com o desenvolvimento do esquema lógico em que a publicidade do acto se desenvolve, as mesmas não constituem um elemento da estrutura da relação de conhecimento registral. 11 Faz-se notar que, ao tempo do pedido de registo dos autos, ainda não estava assente a doutrina sufragada pelo Exmo. Presidente do IRN, I.P., que se encontra vertida na declaração de voto junta ao processo RP 186/2008 SJC-CT, no sentido de que a falta de entrega das quantias devidas a título de sanção pecuniária pelo incumprimento da obrigação de registar integra a facti-species do artigo 66.º/1/e) do CRP e, como tal, determina a rejeição da apresentação. 12 Não obstante, reiteramos aqui a nota já aposta no processo C.P. 83/2008 SJC-CT atrás citado no sentido de que o dever de fundamentação justificará um aperfeiçoamento da aplicação informática, na parte relativa à elaboração das contas dos actos de registo obrigatório e ao conteúdo do recibo respectivo, de modo a que, para além das pertinentes disposições do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado, nela possam figurar também as disposições legais atinentes à obrigação de registar (sujeito, prazo e cominação) que determinam o «agravamento emolumentar», tudo por forma a elucidar cabalmente os cidadãos e as empresas acerca das quantias que lhe são exigidas. 6
7 *** Pelo exposto, propõe-se a improcedência do recurso e formulam-se as seguintes CONCLUSÕES I Em face das disposições conjugadas dos artigos 33.º/1 do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, e 8.º-A/1/a) do Código de Registo Predial, o registo de partilha que tenha sido homologada por sentença transitada em julgado após 21 de Julho de 2008 (artigo 36.º/1 do Decreto-Lei n.º116/2008) fica sujeita ao regime de obrigatoriedade previsto e regulado nos artigos 8.º-B e seguintes do Código de Registo Predial, porquanto se considera que o facto jurídico objecto do registo obrigatório só ocorre quando a sentença homologatória se torna definitiva. II- Do artigo 8.º-C/1 do Código de Registo Predial resulta que o elemento constitutivo do termo inicial do prazo para promover o registo é o momento da titulação do facto ou a data do cumprimento das obrigações fiscais quando este deva ocorrer depois da titulação, e não a data da emissão da prova do facto ou a data da certificação do cumprimento daquelas obrigações. Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 23 de Setembro de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Maria Eugénia Cruz Pires dos Reis Moreira, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes de Bastos, José Ascenso Nunes da Maia. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em
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