N/Referência: P.º C.P. 41/2016 STJ-CC Data de homologação:

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1 DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 10/ CC /2017 N/Referência: P.º C.P. 41/2016 STJ-CC Data de homologação: Consulente: Setor Técnico-Jurídico dos Serviços de Registo (STJSR). Assunto: Palavras-chave: Obrigatoriedade do registo resultante do artigo 8.º-C, n.º 1, do Código do Registo Predial Cômputo do prazo para a sua promoção. Obrigatoriedade Prazo Contagem Termo. PARECER Relatório 1. Em face de formulação de consulta de acordo com o despacho n.º 7/94, publicado no BRN n.º 1/94, com vista à uniformização de doutrina a veicular aos serviços, foi submetida à apreciação deste Conselho Consultivo a questão precisa de saber se ao prazo da obrigação de registar inserto no artigo 8.º-C, n.º 1, do Código do Registo Predial (CRP), do qual decorre que, em regra e salvo disposição legal em contrário, o registo deve ser pedido no prazo de dois meses a contar da data em que factos tiverem sido titulados, se aplica o artigo 279.º, c) do Código Civil (CC) ou o artigo 155.º, n.º 2, do CRP Para a consulente, se entendermos que é aplicável a regra fixada na alínea c) da norma geral contida no artigo 279.º do CC artigo que se considerou aplicável à contagem dos prazos para cumprimento da obrigação de registar já antes das alterações introduzidas ao CRP pelo Decreto-Lei n.º 125/2013 de 30/08 1 o prazo, fixado em meses, terminará às 24 horas do dia que corresponda, dentro do último mês, a essa data, pelo que o termo inicial do prazo da obrigação de registar coincidirá com a data da titulação; mas se, diferentemente, se 1 Cremos que primeiramente no Processo C.P. 61/2008 SJC-CT, onde se deixou dito: Afigura-se-nos líquido que o prazo se conta nos termos do art. 279.º do Cód. Civil. Como temos sustentado, ao processo de registo não se aplica o disposto no Cód. do Procedimento Administrativo, designadamente o art. 72º. O pedido de registo é um ato tendente à formação da decisão registral, integrando-se assim no processo de registo, e não faria sentido que o regime do prazo de apresentação do pedido fosse diverso do regime dos prazos dos restantes atos que integram aquele processo, designadamente do prazo de prolação da decisão registral e da respetiva execução (feitura do registo). 1/5

2 concluir pela aplicação do disposto no artigo 155.º, n.º 2, do CRP, não se incluirá na contagem do tempo o dia da titulação. Pronúncia 1. O cômputo do tempo, isto é, a forma como se conta o decurso do tempo, é tão essencial para o Direito que foram estabelecidas e consolidadas pelo legislador, nos artigos 279.º e 297.º do CC, normas gerais de contagem do tempo 2. Com efeito, o prazo fixado por lei (ou por convenção das partes ou por decisão judicial) pode referirse a unidades de contagem do tempo, como dia, mês ou ano, mas não definir em concreto as regras respetivas de contagem do prazo 3. Daí que o citado artigo 279.º estipule regras gerais de contagem do tempo, todavia supletivas, posto que só aplicáveis na falta de disposição em contrário e em caso de dúvida (cfr. artigo 296.º do CC) Essas regras podem referir-se ao início do prazo, como a alínea b) do artigo 279.º, a qual determina que na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr; ou indicar o fim do prazo, como as alíneas c) e e) do artigo 279.º, das quais decorre que o prazo fixado em semanas, meses ou anos, a contar de certa data, termina às 24 horas do dia que corresponda, dentro da última semana, mês ou ano, a essa data, porém, se no último mês não existir dia correspondente, o prazo finda no último dia desse mês; e que o prazo que termine em domingo, dia feriado ou em férias judiciais, se o ato tiver de ser praticado em juízo, transfere-se para o primeiro dia útil; 1.2. Podem ainda precisar o sentido de certas expressões correntes: se o termo se referir ao princípio, meio ou fim do mês, entende-se como tal, respetivamente, o primeiro dia, o dia 15 e o último dia do mês; se for fixado no princípio, meio ou fim do ano, entende-se, respetivamente, o primeiro dia do ano, o dia 30 de Junho e o dia 31 de Dezembro [alínea a) do artigo 279.º]; é havido, respetivamente, como prazo de uma ou duas semanas o designado por oito ou quinze dias, sendo havido como prazo de um ou dois dias o designado por 24 ou 48 horas [alínea d) do artigo 279.º]. 2 Cfr. LUÍS A. CARVALHO FERNANDES, Teoria Geral do Direito Civil, Vol. II, 5.ª Ed., Lisboa: UCE, 2010, pp. 679 e ss. e PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, Teoria Geral do Direito Civil, 7.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2012, pp. 527 e ss. 3 Para MANUEL A. DOMINGUES DE ANDRADE são dois os modos de fixar o tempo: o termo, isto é, a fixação de tempo mediante a referência a uma certa data de calendário (por exemplo, 30 de julho de certo ano); e o prazo, sendo a fixação de tempo efetuada com referência a uma série mais ou menos longa de momentos temporais (dias, meses ou anos). Cfr. Teoria Geral da Relação Jurídica, Vol. II, Coimbra: Almedina, 1964, p No mesmo sentido, INOCÊNCIO GALVÃO TELLES (Manual dos Contratos em Geral, 4.ª Ed., Reimpressão, Coimbra: Coimbra Editora, 2010, p. 280): O artigo 279.º do Código Civil enuncia várias regras sobre o cômputo do termo, aplicáveis tanto ao termo voluntário como ao termo legal, e só de observar quando não resulte coisa diversa do estatuído pelas partes ou por outras leis. 2/5

3 1.3. No que concerne às regras contidas nas alíneas b) e c) do artigo 279.º, entende a doutrina que as normas se harmonizam, já que se por força do disposto na alínea b) os prazos se contam com mais um dia ou mais uma hora, dependendo da hipótese em questão, de acordo com a alínea c), o prazo de uma semana que começou numa segunda-feira termina às 24 horas da segunda-feira seguinte, não se contando, portanto, o dia do início do prazo. O mesmo acontece com o prazo de meses ou anos Deste modo, se certas regras estabelecidas no artigo 279.º do CC poderão, por vezes, sobrepor-se, sendo exequível a aplicação de mais do que uma ao mesmo prazo, não nos parece que tal possa suceder no caso das alíneas b) e c) do artigo 279.º, no que respeita à aplicação em simultâneo das regras sobre o termo inicial e o termo final do prazo Consistindo em princípios de natureza supletiva e interpretativa, torna-se necessário averiguar quais as regras específicas de contagem do tempo que contém o CRP No artigo 155.º estabelecem-se efetivamente regras de contagem dos prazos processuais, norma essa que foi aditada pelo Decreto-Lei n.º 125/2013 de 30-08, tendo em vista a condensação normativa do regime atinente ao registo predial no código respetivo Aí se estabelece: a) é havido como prazo de um ou dois dias o designado por 24 ou 48 horas; b) o prazo é contínuo, não se incluindo na contagem o dia em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr; e c) o prazo que termine em sábado, domingo, feriado, em dia com tolerância de ponto ou em dia em que o serviço perante o qual deva ser praticado o ato não esteja aberto ao público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil seguinte Disposição que reflete as quatro regras gerais do citado artigo 279.º do Código Civil 7. 5 PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, 4.ª Ed., Coimbra: Coimbra Editora, 1987, p Escreve também LUÍS A. CARVALHO FERNANDES (Teoria Geral do Direito Civil, cit., p. 683) que o regime da alínea b) do artigo 279.º se harmoniza com o que se estatui na primeira parte da alínea c), pois se um prazo de cinco dias começar no dia 10, termina às 24 horas do dia 15, independentemente da hora do dia 10 em que ocorra o facto desencadeador do prazo. Pode ler-se nas conclusões do Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 08/05/2002: A regra de cálculo do prazo fixado em semanas, meses ou anos, estabelecida na al. c) do art. 279.º do Código Civil tem ínsita a que se estabelece na al. b) do mesmo artigo, não havendo, por isso, que fazer preceder o seu funcionamento de prévia aplicação desta al. b). 7 São elas: i) o momento a partir do qual o tempo começa a correr não é contado, seja ele o dia ou a hora; ii) o tempo conta-se em dias civis, salvo quanto a certos prazos de horas; iii) o tempo conta-se ininterruptamente; iv) os domingos ou feriados, quando coincidentes com o último dia do prazo, não se contam. Cfr. LUÍS A. CARVALHO FERNANDES, Teoria Geral do Direito Civil, p. cit. 3/5

4 2.4. De resto, como vimos, antes do aditamento normativo efetuado pelo citado Decreto-Lei, o Conselho pronunciou-se sempre no sentido de que à contagem dos prazos para cumprimento da obrigação de registar eram aplicáveis as regras fixadas no artigo 279.º do CC Dito isto, decorre apenas do artigo 279.º, c), do CC, mas não do artigo 155.º do CRP, a regra interpretativa ou o modo de contagem do tempo quando o prazo é fixado em semanas, meses ou anos, a contar de certa data. Assim, o prazo perentório de dois meses a contar da data em que o facto foi titulado (artigo 8.º-C, n.º 1, do CRP) extingue-se ou termina às 24 horas do dia que corresponda, dentro do último mês, a essa data, com a exceção de no último mês não existir dia correspondente (por exemplo, dia 29 de fevereiro), pois nesse caso termina no último dia desse mês 9. Poderá ainda suceder que esse último dia seja sábado, domingo, feriado ou dia com tolerância de ponto, transferindo-se para o primeiro dia útil seguinte (artigo 155.º, n.º 3 do CRP). ******* Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 19 de janeiro de Blandina Maria da Silva Soares, relatora, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins. Este parecer foi homologado pelo Senhor Presidente do Conselho Diretivo, em Cfr. ainda R.P. 276/2008 SJC-CT, R.P. 57/2009 DSJ-CT, R.P. 80/2009 DSJ-CT e R.P. 159/2009 SJC-CT, todos em Assim, por hipótese, ao prazo de 30 dias a contar da data em que tivessem sido titulados os factos ou da data do pagamento das obrigações fiscais (artigo 8.º-C, n.º 1, do CRP na redação anterior à estabelecida pelo Decreto-Lei n.º 125/2013) eram aplicáveis as alíneas b) e e) do artigo 279.º do CC. 9 A questão atinente à relação entre as alíneas b) e c) do artigo 279.º do CC não é desprovida de polémica. Como salientou a consulente, deu lugar, no âmbito do direito penal, ao Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça nº 4/2012 de , o qual contém um extensivo estudo a propósito da problemática legislativa e da doutrina crítica relativas à contagem do prazo na lei substantiva, decidindo pela aplicação do artigo 279.º, c), do CC, ao prazo de seis meses para o exercício do direito de queixa, a contar da data em que o titular teve conhecimento do facto e dos seus autores, previsto no artigo 115.º n.º 1, do Código Penal. 4/5

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