P.º C.P. 57/2008 SJC-CT- Alterações ao Código do Registo Predial Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho pedido de esclarecimento de dúvidas.

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1 P.º C.P. 57/2008 SJC-CT- Alterações ao Código do Registo Predial Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho pedido de esclarecimento de dúvidas. DELIBERAÇÃO Relatório 1. Conforme despacho superior de 4 de Setembro de 2008, foram submetidas à apreciação do Conselho Técnico as questões colocadas, via , pelo senhor conservador da Conservatória do Registo Predial de, todas elas directa ou indirectamente relacionadas com as recentes alterações introduzidas ao Código do Registo Predial (CRP) pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho. 2. Sumariamente, pretende-se saber o seguinte: a) Havendo lapso na anotação no diário do número da descrição do prédio objecto mediato do registo de que resulte desconformidade com o pedido de registo, correctamente efectuado, como resolver a consequência emolumentar da desistência ou da «inelutável» recusa do registo? Tratando-se de erro dos serviços, poderá solucionarse a questão transferindo os emolumentos para um novo pedido de registo, à semelhança do disposto no n.º7 do artigo 73º do CRP? b) Poderá a menção do NIF do cônjuge do titular inscrito, introduzida no elenco do artigo 93º do CRP pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, satisfazer as finalidades de consulta, pesquisa e estatística que determinam a exigência de identificação do cônjuge do titular inscrito como sujeito activo do facto, quando o bem seja comum do casal? c) A certidão de todos os registos em vigor, a que se refere o artigo 110º, n.º6, do CRP, pode ser substituída por certidão com informação total, designadamente quando se pretenda obter prova da realização de todos os registos requeridos, incluindo os que se reportem a reatamento do trato sucessivo ou ao cancelamento de inscrições, por exemplo, de hipoteca? 2.1. Por último, dá-se conta das dificuldades de materialização do pedido escrito, por inadequação de alguns dos campos do impresso-requisição, a saber: 1

2 a) O espaço reservado à indicação dos prédios contempla, em dizeres pré-impressos, apenas um prédio quando o pedido pode respeitar a vários prédios, o que obriga à utilização de tantas requisições quantos os prédios objecto do facto a registar; b) O espaço disponível para indicação dos factos submetidos a registo é exíguo, o que, no caso de se tratar de diversos actos de registos, torna, por vezes, ilegível o pedido e fomenta a omissão de anotação no diário de alguns deles; c) A sistemática do verso do impresso-requisição determina a aposição de assinaturas em campos diversos declarações principais/declarações complementares/ requisição, o que, no caso dos registos provisórios de aquisição e de hipoteca tem, com frequência, provocado a omissão de assinatura de declarações complementares indispensáveis à feitura dos registos nos termos requeridos. Pronúncia 1. Lapso de anotação no livro-diário do número da descrição do prédio objecto mediato do registo 1.1. Na consulta, parte-se do pressuposto de que o diário não pode ser rectificado quando a anotação apresente desconformidade com o pedido quanto a algum ou alguns dos seus elementos, nomeadamente quando tenha havido omissão ou erro na anotação do número da descrição, correctamente referenciada pelo interessado no impressorequisição de acordo com os documentos apresentados Na verdade, face ao disposto no 42º do CRP, o pedido de registo deve conter a identificação do apresentante, a indicação dos factos e dos prédios a que respeita, bem como a relação dos documentos que o instruem, sendo que, por via do preceituado nos artigos 60º, 61º, 77º, n.º1, e 6º, do CRP, a apresentação deve ser anotada no diário pela ordem do pedido, os elementos da anotação devem ser os que resultam do pedido de registo e a data do registo é a da apresentação, quando desta dependa, prevalecendo o direito inscrito em primeiro lugar sobre os que se lhe seguirem relativamente ao mesmo bem, por ordem da data dos registos e, dentro da mesma data, pela ordem temporal das apresentações correspondentes. Daí a importância da apresentação e da respectiva anotação no diário como factos iniciadores do processo de registo e dos seus efeitos Cremos, porém, que não se bulirá com o entendimento de que «os elementos essenciais do pedido designadamente, os factos e os prédios a que o mesmo respeita 2

3 são fixados definitivamente com a apresentação dos documentos no Diário, ainda que se alegue e prove que houve erro na indicação na requisição do número da descrição», 1 se dissermos que, se o interessado pediu o registo com referência ao prédio x, não pode este pedido valer com referência ao prédio y, indicado no diário à revelia da instância e por lapso do funcionário executante, porquanto, neste caso, às razões de certeza e de protecção do interesse dos terceiros que contactam com o registo haverá sempre de sobrepor-se o interesse daquele que prioritariamente procurou garantir nas tábuas uma determinada posição para o seu direito, exactamente, sobre o prédio sobre que versam os documentos apresentados Não obstante a importância do livro diário, como suporte destinado a «marcar» a data e hora do registo, e todas as cautelas que se colocam no seu processamento e no seu encerramento artigos 61º e 67º do CRP -, não se afigura que o mesmo, ao invés de garante da prioridade ou da «posição registral do título», possa surgir precisamente como instrumento de efeito oposto, impondo, por via dos lapsos no seu preenchimento, a perda de prioridade quanto ao prédio a que se refere a instância e suscitando, em troca, uma qualificação minguante, já que os documentos apresentados nada titulam quanto ao prédio nele indicado Vale isto por dizer que a anotação no diário não pode, a nosso ver, autonomizar-se do pedido de registo, fazendo vingar um pedido que não tem correspondência com a pretensão formulada pelo interessado e fixando uma prioridade ou uma pendência registral sobre uma descrição que, na verdade, não se «localiza» em nenhum dos actos do interessado, nem na instância do registo, nem na prova do facto registando É certo que da consideração do pedido de registo tal como se acha formulado pelo interessado, mas não retratado no livro-diário, pode resultar um desacerto da informação registral entretanto veiculada, designadamente através de certidão ou de outro meio de prova, contudo, este desacerto tanto ocorre com referência ao prédio sobre que se pretende o pedido de registo, mas que, por lapso dos serviços, não se fez constar do livro-diário, como relativamente ao prédio indicado no livro-diário, sobre o qual não existe, na verdade, qualquer pedido de registo Por outro lado, admitir que o pedido de registo possa valer com referência a prédio não indicado no impresso-requisição e deva ser, depois, recusado em virtude dos documentos apresentados titularem o facto, mas, sobre outro prédio, é fazer impender 1 Cfr. o parecer proferido no Pº n.º RP 21/97 DSJ-CT, publicado no BRN 10/97, II caderno. 3

4 sobre a ficha do prédio uma realidade registral sem instância, com consequências mais ou menos negativas, consoante haja ou não registos subsequentes que devam depender directa ou indirectamente do registo recusado, e, porventura, mais gravoso, é determinar a perda da prioridade que, realmente, se pretendeu assegurar no prédio sobre que versam o pedido de registo e os documentos apresentados Pelo exposto, uma vez verificada a desconformidade entre o pedido e a sua anotação no diário, e, consequentemente, entre o pedido tal como se acha configurado no diário e os documentos apresentados, não colhe, a nosso ver, recusar o registo, como acontece quando a instância se acha deficiente ou «irregular» 2, antes cumprirá diligenciar no sentido de ser corrigido o erro, repondo-se a conformidade entre a instância e a anotação no diário e tomando-se as providências que se mostrem necessárias com vista a corrigir também quaisquer consequências que entretanto se tenham produzido por via daquela inexactidão Identificação dos sujeitos - menção do NIF do cônjuge do sujeito activo Considerando a aplicação informática que serve à realização do registo predial e o disposto no despacho 63/2007, complementado pela informação, de 10 de Agosto de 2007, da equipa de projecto SIRP, e no despacho n.º 70/2007, temos que, os dados registrais devem ser inseridos no SIRP de forma estruturada, ou seja, devem ser «digitados nos campos próprios, identificados pelas etiquetas associadas, para que sejam respeitadas todas as funcionalidades, nomeadamente as de pesquisa e de estatística, bem como, permitida a interoperabilidade com outras aplicações». 2 Com efeito, à luz da actual redacção do artigo 73º do CRP, introduzida pelo DL n.º116/2008, de 4 de Julho, não há razões para alterarmos o entendimento de que não é legalmente admissível o suprimento das deficiências do processo de registo que consista na indicação do número de descrição do prédio, que inicialmente se indicou como omisso, ou na correcção do número da descrição, que o interessado, por lapso, recolheu incorrectamente dos títulos, porquanto nestes casos, ao contrário da hipótese sobre que versa a consulta em apreço, não se trata de mera desconformidade entre o pedido e a sua anotação no diário, ao invés, é a própria instância que se exerce com erro, promovendo-se o registo e a respectiva prioridade sobre prédio diferente daquele sobre que versam os documentos. 3 Afigura-se que a actuação dos serviços tendente a regularizar a anotação no diário não pode dispensar a orientação e a supervisão, precedida da avaliação do erro e das suas causas, por parte do conservador ou de quem assuma as funções de gestor da unidade orgânica e de superior hierárquico do oficial executante, na certeza de que as consequências gravosas que podem ser produzidas por este tipo de erro evidenciam bem o grau de exigência que deve ser colocado na tarefa de anotação dos pedidos no livro-diário e o zelo e diligência reclamáveis dos funcionários que a executam. 4

5 2.2. Obviamente, servindo a aplicação informática como instrumento de realização do registo, à sua concepção e actualização encontrar-se-ão, por regra, subjacentes as exigências legais relativas aos actos de registo e, concretamente, as que se reportam aos requisitos gerais e especiais da descrição, das inscrições, dos averbamentos e das anotações artigos 75º e seguintes do CRP Donde, do extracto da inscrição devem constar, como menções gerais, a identificação dos sujeitos activos do facto inscrito, pela menção do nome completo, número de identificação fiscal, estado e residência, e, sendo casados, o nome do cônjuge e do regime de bens do casamento artigo 93º, n.º1, alínea e), do CRP -, preenchendose o verbete para o cônjuge quando se pretenda «realizar automaticamente o registo de um novo sujeito que diz respeito ao cônjuge» - Manual de Utilizador, ITIJ, SIRP, de , actualizado em , pág Assim, sempre que tenham intervindo como sujeitos activos do facto ambos os cônjuges, é justamente nessa qualidade que deverão os mesmos constar da ficha de registo, utilizando-se para o efeito a funcionalidade «Criar verbete para o Cônjuge» Já se o sujeito activo ou interveniente no título for apenas um dos cônjuges, cumprirá o disposto nos referidos despachos o registo que seja efectuado com inserção nos campos próprios dos elementos de identificação do sujeito activo, tendo em particular atenção o que a este propósito se deixou dito na informação complementar ao despacho n.º63/2007, atrás referida Todavia, razões de interoperabilidade com outras aplicações podem aconselhar à utilização da funcionalidade «Criar verbete para o Cônjuge» quando, no título, não haja intervenção de ambos os cônjuges mas se verifique a comunicabilidade do bem por força do regime de bens do casamento Ora tal «conveniência» só poderá ser apreciada pela equipa de projecto SIRP, sem prejuízo de nos parecer que a solução prevista no ponto anterior não é adequada, face ao resultado que produz na publicidade registral do facto, e antes justificará um aperfeiçoamento do SIRP que «não comprometa» a harmonização entre o extracto da inscrição e o que consta do título Resulta do que antecede que, a nosso ver, a introdução do número de identificação fiscal como elemento de identificação do sujeito e requisito geral da inscrição não é de molde a alterar as regras e procedimentos relativos à informatização de registos, posto 5

6 que apenas se prevê um novo dado registral, a inserir no SIRP no campo próprio, identificado pela etiqueta associada Faz-se, de resto, notar que a pesquisa de prédio, por critério: proprietário, a que também se refere a dita informação complementar ao despacho n.º63/2007, em nada parece alterar o que atrás se deixou dito, porquanto, tratando-se de bem comum do casal, o cônjuge que não figure como sujeito activo no registo, em virtude de não constar como interveniente no título, em princípio, não se consegue localizar no campo «nome», mas já se consegue «localizar» no campo «nome do cônjuge», sendo que, nos termos daquela informação, deverão efectuar-se duas pesquisas por cada sujeito, introduzindose precisamente a sua identificação nome no campo «nome» e no campo «nome do cônjuge». 3. Certidão gratuita informação em vigor ou informação total 3.1. De acordo com o disposto no artigo 110º, n.º6, do CRP, introduzido pelo Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho, por cada processo de registo é entregue ou enviada ao requerente uma certidão gratuita de todos os registos em vigor respeitantes ao prédio em causa, salvo se o interessado optar pela disponibilização gratuita, pelo período de um ano, da informação constante da certidão em sítio da Internet Como refere aquela disposição legal, conjugada com o preceituado no artigo 112º, n.º1, alínea a) do CRP, a certidão gratuita a emitir na sequência da feitura dos registos requeridos deve reproduzir apenas a descrição e os actos de registos em vigor respeitantes ao prédio em causa, cabendo a interessado, querendo, solicitar e suportar os encargos de certidão com outro conteúdo, designadamente com informação total ou reprodução de todos os actos de registo Ao invés da fotocópia não certificada dos actos lavrados a que se referia o artigo 115º do CRP, revogado pelo artigo 34º do DL n.º116/2008, disponibiliza-se agora ao interessado um meio de prova de que resulta também a demonstração da feitura dos registos requeridos, seja porque figuram no elenco dos registos em vigor, revelando-se o seu extracto, seja porque se trata de inscrições intermédias, cujos efeitos se transferiram em virtude um novo registo definitivo (artigo 10º do CRP), ou da extinção de inscrições anteriores, todas elas remetidas para «histórico» como forma de facilitar a leitura da ficha e favorecer a apreensão da informação registral vigente. 6

7 3.4. Mais do que um simples meio de conhecimento da feitura do registo e dos termos do seu extracto, presta-se agora ao interessado uma informação certificada da situação jurídica do prédio publicitada pelo registo predial, na qual se inclui o resultado dos registos por ele requeridos, e que constitui meio de prova de registo, válida por um ano e sujeita a revalidação nos termos legais. 4. Modelo de requerimento do pedido de registo 4.1. Com efeito, o modelo de requisição de registo, aprovado nos termos artigo 2º, n.º2, da Portaria n.º 621/2008, de 18 de Julho, nem sempre tem logrado atingir o objectivo de simplificação na formulação do pedido que determinou a sua existência, posto que ao intuito de condensação dos anteriores modelos A e B e de previsão exaustiva de diversos factos sujeitos a registo, se sobrepõe, muitas vezes, a falta de espaço para preenchimento dos campos em branco e algum constrangimento de compreensão face ao excesso de dizeres pré-impressos Parecem, por isso, pertinentes as observações feitas pelo consulente, justificandose, a nosso ver, reponderar algumas opções de concepção do mencionado modelo, designadamente a que se refere ao espaço destinado a assinatura das «declarações complementares» que, como sabemos, não são necessariamente subscritas pelo apresentante e, portanto, não se bastam com o espaço destinado à assinatura da requisição do registo, podendo, outrossim, equacionar-se um desdobramento das menções: «factos» e «sujeitos» ou mesmo a simplificação do modelo de modo a constar apenas, em dizeres pré-impressos, o enunciado dos elementos do pedido do registo a que se refere a mencionada Portaria Ainda assim, sempre diremos que aos serviços externos cumprirá também desenvolver todos os esforços tendentes a debelar as dificuldades e os constrangimentos detectados na utilização dos modelos, procurando, sempre que possível, dirimir as deficiências na formulação do pedido através do mecanismo previsto no artigo 73º do CRP e colocar na tarefa de anotação no diário uma cautela acrescida, de forma a evitar os efeitos negativos de que atrás se deu conta. *** Sem embargo do que antecede, propõe-se que seja superiormente determinada a apreciação da questão tratada no ponto 2. pela equipa de projecto SIRP, e que à equipa 7

8 responsável pela concepção dos modelos se dê conhecimento dos constrangimentos de estrutura do modelo de requisição de registo e, bem assim, da proposta contida no ponto 4.2. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 29 de Outubro de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em