- // - Sumário: Alterações ao Código do Registo Predial Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho rejeição do pedido de registo - dúvidas.

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1 P.º C. P. 62/2008 SJC-CT A DELIBERAÇÃO DO CONSELHO TÉCNICO QUE A SEGUIR SE TRANSCREVE FOI HOMOLOGADA PELO EXMO. SENHOR PRESIDENTE EM , COM EXCEPÇÃO DOS PONTOS 1 E 7 DA PRONÚNCIA. - // - P.º C.P. 62/2008 SJC-CT Consulente: SJC Sumário: Alterações ao Código do Registo Predial Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho rejeição do pedido de registo - dúvidas. Relatório 1. Por despacho superior de 2 de Setembro de 2008, são submetidas à apreciação do Conselho Técnico, sob proposta do SJC, as seguintes questões: 1.1. Interpretação do disposto na alínea e) do n.º1 do artigo 66º do Código do Registo Predial (CRP): a) As quantias devidas a que a lei faz referência incluem ou não as que sejam devidas a título de agravamento emolumentar? b) Em caso de insuficiência emolumentar, deverão ser rejeitados todos os actos de registo peticionados ou só aqueles para cujo pagamento a quantia entregue se revele insuficiente, «apresentando os actos pela ordem em que foram pedidos e rejeitando pela mesma ordem»? 1.2. Interpretação do disposto no artigo 33º do Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho, quanto à data a considerar para efeitos de gratuitidade do acto de registo: a) Relativamente ao registo de aquisição em comum e sem determinação de parte ou direito, deve atender-se à data da ocorrência do óbito ou à data da escritura de habilitação de herdeiros? 1

2 b) Quando se trate de um averbamento à inscrição para actualização do estado civil, releva a data do facto, a data da emissão da certidão, a data do acesso à base de dados ou a data do assento ou do averbamento do registo civil? c) Relativamente ao registo de aquisição por doação, deve considerar-se a data da escritura pública ou a data do cumprimento das obrigações fiscais? d) Quando o facto seja titulado por decisão judicial cujo ingresso definitivo dependa de trânsito em julgado, deve valer a data da sentença ou despacho ou a data do seu trânsito em julgado? e) Quando deva existir ratificação do negócio jurídico por nele ter tido intervenção um gestor de negócios, considera-se a data do título ou a data da ratificação? f) A gratuitidade prevista no n.º 3 do artigo 33º do Decreto-Lei n.º 116/2008, abrange ou não o registo de aquisição de quota-parte indivisa quando o prédio se ache descrito e inscrito apenas quanto a quota-parte? Pronúncia Interpretação do disposto na alínea e) do n.º1 do artigo 66º do Código do Registo Predial (CRP) 1. Considerando o princípio da prioridade vigente no nosso sistema de registo que, nos termos do disposto no artigo 6º do CRP, supõe a existência de terceiros e, no caso de direitos incompatíveis, garante que o direito primeiramente registado prevaleça em relação aos que se lhe seguirem sobre o mesmo prédio, ou, tratando-se de direitos de garantia, permite a graduação do direito primeiramente registado relativamente aos demais; 1.1. Considerando que, face ao disposto nos artigos 6º, n.º3, 61º e 77º do CRP, é a apresentação que, normalmente, define a data do registo e que, por sua vez, é a data do registo e, dentro da mesma data, a ordem temporal da respectiva apresentação que marca a prioridade do registo; 1.2. Considerando ainda que, por força do disposto no artigo 60º do CRP, os documentos apresentados para registo são anotados no diário segundo a ordem aí estabelecida e que, face ao disposto no artigo 66 º do mesmo Código, a apresentação apenas pode ser 2

3 rejeitada nos casos taxativamente previstos, o que, naturalmente, bem se compreende dada a relevância da mesma como «centro de polarização» de todo o processo de registo e de todos os seus efeitos Considerando, finalmente, o interesse público na realização do registo que conduziu à adopção de um sistema de registo predial obrigatório e que, no dizer preambular do diploma que aprovou as recentes alterações ao Código do Registo Predial, visa potenciar «a coincidência entre a realidade física, a substantiva e a registral» e contribuir, por esta via, «para aumentar a segurança no comércio jurídico de bens imóveis» Parece-nos que a rejeição da apresentação, motivada pela falta de pagamento das quantias devidas artigo 66.º, n.º1, alínea e), do CRP há-de ser compreendida no justo equilíbrio de todos estes interesses, públicos e privados, porquanto, na sua génese, estará indiscutivelmente presente um intuito de garantir o pagamento do custo efectivo do processo de registo 1, posto não estar em causa a prestação de um serviço absoluta ou tendencialmente gratuito, mas, a nosso ver, não pode estar o «repúdio» daquele fim de segurança jurídica que ditou a criação do sistema de registo obrigatório Vale isto por dizer que, na nossa opinião, rejeitar a apresentação do registo porque não se entregou a quantia devida pelo incumprimento do prazo previsto no artigo 8.º-C do CRP, é, no fundo, estabelecer uma prevalência da «sanção» sobre o objecto ou o bem acesso dos factos ao registo - que justamente se procurou salvaguardar com a obrigatoriedade do registo; é, numa perspectiva simples, rejeitar o registo porque não se pediu o registo Ora, da ponderação dos valores que participam em cada uma das disposições legais envolvidas, designadamente os artigos 8.º-A a 8.º-D e 151.º do CRP, não resulta, a nosso ver, que o interesse público na feitura do registo possa ser sacrificado precisamente pelo interesse público em «penalizar» por via emolumentar aqueles que, estando obrigados a pedir o registo, não o promoveram atempadamente, e, mais grave do que isso, que a «sanção» contra estes possa servir de instrumento de privação do 1 Como resulta do preâmbulo do Decreto-Lei n.º 322-A/2001, de 14 de Dezembro, que aprovou o Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado, o princípio básico adoptado em sede de tributação emolumentar é o princípio da correspondência ao custo efectivo do acto ou o princípio da proporcionalidade, a que, por via das alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, se procurou, aliar a transparência, passando os preços dos actos a ter uma lógica de processo e a incluir, designadamente, as inscrições, descrições, averbamentos, certidões e emolumentos pessoais necessários à satisfação do pedido apresentado pelo interessado. 3

4 interesse daqueles que no registo pretendem obter uma determinada prioridade ou «posição registral do seu título» Cremos, de resto, que as opções legislativas de fazer cessar a obrigação de registar nos termos do artigo 8.º-B, n.º5, do CRP, e de traduzir em «quantia pecuniária» o resultado negativo do incumprimento do prazo da obrigação de registar, em vez de se ter decidido pela coima e respectivo processo contra-ordenação, como no registo comercial, acabam por ilustrar a prevalência do interesse público no registo face à omissão do sujeito da obrigação de registar Tal não significa, porém, que não se deva dar cumprimento ao disposto no artigo 151º, n.º3, do CRP, com a leitura resultante do ponto VI. do despacho n.º 74/2008, que, obviamente, sempre se terá de acatar. O que se propõe é tão-somente que a falta da quantia que seja devida pelo cumprimento tardio ou pelo incumprimento definitivo da obrigação de registar não conduza à rejeição da apresentação 2, ainda que, sempre, deva levar à cobrança da conta junto do apresentante, seja ou não este o sujeito da obrigação de registar e, portanto, independentemente da sua responsabilidade pela quantia em apreço (cfr. os artigos 8.º-D, n.º1, e 151º, n.º3, do CRP, com a interpretação contida no referido despacho). 2. Ainda a propósito da rejeição da apresentação e, concretamente, quanto à questão de saber se, em caso de insuficiência emolumentar, deverão ser rejeitados todos os actos de registo peticionados ou só aqueles para cujo pagamento a quantia entregue se revele insuficiente, parece-nos adequado apresentar os registos pela ordem por que foram trazidos a registo e enquanto as quantias entregues permitirem a liquidação do 2 Como se sabe, na interpretação da norma, o elemento gramatical ( letra da lei ) e o elemento lógico ( espírito da lei ) têm sempre que ser utilizados conjuntamente pois, é evidente que o enunciado linguístico que é a letra da lei é apenas um significante, portador de um sentido ( espírito ) para que nos remete (Baptista Machado, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, pág. 181). Ora, na interpretação do preceito legal em apreço, concretamente, do disposto no artigo 66º, n.º 1, alínea e), do CRP, acima propugnada, o texto é tomado como ponto de partida, procurando precisamente reconstituir-se o «pensamento legislativo» a partir da letra da lei e balizar, nestes termos, o sentido e alcance daquela expressão legal. Donde, quando o dito preceito legal refere as quantias devidas, há-de, quanto a nós, tomar-se como sentido da fórmula verbal as quantias devidas pelo registo ou processo de registo sob apresentação, e não o agravamento emolumentar representado pela quantia devida pelo incumprimento da obrigação de registar, posto que esta quantia, apesar de acompanhar a conta do processo, não é quantia estritamente devida pelo processo, isto é, quantia destinada a compensar o custo efectivo do serviço prestado, nem deverá figurar especificada sob nenhum dos itens do regulamento emolumentar. 4

5 emolumento respectivo, rejeitando-se todos os demais que, face à quantia sobrante, não possam aceder ao diário Obviamente, tal critério deverá ceder sempre que o interessado especifique as quantias que, do total junto, «reserva» para cada processo de registo, sendo que, se nada se disser, ou se nada se puder apurar por qualquer meio idóneo, designadamente por comunicação com o interessado, se afigura preferível garantir a entrada de parte dos registos, a postergar, por rejeição, a prioridade de todos eles. Interpretação do disposto no artigo 33º do Decreto-Lei n.º116/2008, de 4 de Julho. 3. Compulsado o preâmbulo do Decreto-Lei n.º116/2008, temos que, a par da adopção de um sistema de registo predial obrigatório, se introduz um sistema de gratuitidade dos registos dos actos praticados antes da publicação do diploma e que se destina a vigorar até ao dia 2 de Dezembro de Sob a epígrafe «regime transitório de incentivo à promoção do registo», vem o artigo 33º, n.º2, do aludido Decreto-Lei n.º116/2008 dispor que o registo dos factos ocorridos antes da data da publicação deste diploma é gratuito se for pedido até ao dia 2 de Dezembro de Assim, procurou trazer-se para o registo os factos que por força do âmbito temporal e material de aplicação do artigo 8.º-A do CRP artigo 33º, n.º1, do Decreto-Lei n.º116/ se acham excluídos do regime de obrigatoriedade do registo, deixando, todavia, de fora do mencionado regime transitório os que tenham ocorrido entre a data da publicação do diploma legal e a data da sua entrada em vigor, evitando promover-se, neste período temporal, uma inflação negocial norteada pela gratuitidade do acto de registo e, desta forma, perturbar a cadência do comércio jurídico imobiliário Parece ter sido então fim visado pelo legislador o de se carrear para as tábuas toda a situação jurídica do prédio existente à data da publicação do diploma legal, colocando na conciliação da realidade física, substantiva e registral o propósito da obrigatoriedade do registo e, bem assim, do «incentivo emolumentar» Assumida a disposição legal contida no artigo 33º, n.º2, do Decreto-Lei n.º116/2008 com este sentido e alcance, a data relevante para efeitos de gratuitidade só poderá ser, por isso, a que corresponda ao momento da constituição do facto, e não a da obtenção 5

6 da prova documental ou do instrumento de demonstração da realidade do facto trazido a registo ou de algum ou alguns dos seus elementos Serve isto para dizer que, consistindo o registo de aquisição em comum e sem determinação de parte ou direito na tradução tabular da situação jurídica do prédio face ao fenómeno sucessório e, concretamente, da sua integração no património colectivo de que são titulares os sujeitos indicados na habilitação de herdeiros (documento destinado a fazer prova da qualidade de herdeiro mas que, face ao disposto nos artigos 2050º, n.º2, e 2056º do Código Civil, não constitui o suporte de exteriorização de aceitação da herança nem determina o momento a partir do qual aquela qualidade de herdeiro ganha relevância jurídica), o momento relevante para efeitos de gratuidade há-de ser aquele em que juridicamente ocorre aquela vicissitude, ou seja, o momento da abertura da sucessão e que, nos termos do artigo 2031º do Código Civil é precisamente a data do óbito do autor da sucessão Relativamente ao registo de aquisição por doação ou por negócio jurídico no qual tenha intervindo gestor de negócios, afigura-se que, dado o disposto no artigo 408º do Código Civil, quanto ao momento da produção do efeito real translativo da propriedade, e o preceituado no artigo 268º, n.º2, do mesmo Código, aplicável à ratificação da gestão por via do artigo 471º do Código Civil, não poderá deixar de relevar também a data da constituição do facto e, assim, a data do contrato de doação ou do negócio ratificado com eficácia retroactiva, sem prejuízo dos direitos de terceiros. 5. Tratando-se de facto titulado por decisão judicial que seja enquadrável no elenco das provisoriedades por natureza a que se refere o artigo 92º, n.º1, do CRP, deve, a nosso ver, valer a data da sentença ou do despacho respectivo, posto que o facto, ainda que pendente de efeito definitivo, é já admitido a registo com a «consistência jurídica» que lhe é conferida pela decisão judicial transitanda Todavia, se o facto sujeito a registo for a própria decisão judicial artigo 3º do CRP -, a data a prevalecer para efeitos de incentivo emolumentar não poderá deixar de ser a 3 Quer se adopte uma concepção autonomista da sucessão, segundo a qual esta é caracterizada pelo ingresso de um sujeito na posição que o outro ocupara, quer se pretenda ver na sucessão por morte uma passagem de situações jurídicas de um sujeito para o outro, juridicamente todo o fenómeno sucessório se reporta ao momento da abertura da sucessão (cfr. Oliveira Ascensão, Sucessões, 4ª edição, revista, págs. 38/39 e 135/136. 6

7 do trânsito em julgado, dado que, aqui, o registo da decisão judicial consistirá justamente na tradução tabular da eficácia relativa daquele caso julgado Quanto à alteração do estado civil, esta não é, por si, facto sujeito a registo predial, posto que não figura no elenco do artigo 2º do CRP, nem mesmo quando do regime matrimonial possa decorrer uma comunicabilidade de bens artigo 2º, n.º2, do CRP -, e apenas pode representar a alteração da identificação do sujeito activo de facto inscrito, sem, contudo, importar ampliação do direito, ónus ou encargo definido na inscrição artigo 100º do CRP Donde, não tendo aptidão para bulir com a situação jurídica do prédio e tratando-se de mera actualização de facto inscrito, o averbamento para alteração do estado civil do sujeito activo não integra, a nosso ver, a previsão do artigo 33º, n.º2, do Decreto-Lei n.º116/ Finalmente, no que concerne à interpretação do disposto no artigo 33º, n.º3, do Decreto-Lei n.º 116/2008, e, em particular, sobre se a gratuidade nele estatuída abrange o registo de aquisição de quota-parte de prédio descrito e com inscrição em vigor apenas quanto a ½, cremos que no conceito de primeira inscrição apenas se poderão enquadrar os registos que determinem a abertura da descrição, isto é, a colocação do prédio no sistema de registo, independentemente de se tratar, ou não, de factos aquisitivos (cfr. a este propósito os artigos 80º, n.º1, e 87º, n.º1, alínea g), do CRP) A interpretação do preceito legal no sentido de abranger apenas a primeira inscrição de propriedade, total ou parcelada, ou de se confundir com a inscrição prévia artigo 34º, n.ºs 1 a 3, do CRP -, não tem, a nosso ver, fundamento na letra da lei nem oferece nesta um mínimo de correspondência. Nesta perspectiva, não caberá na previsão legal a inscrição de aquisição de quota-parte de prédio já descrito e com inscrição em vigor. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 29 de Outubro de Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em Sobre o alcance do registo da decisão judicial, cfr. o parecer do Conselho Técnico da Direcção-Geral dos Registos e do Notariado, proferido no Pº n.º R.P. 68/97, DSJ-CT, publicado no Boletim dos Registos e do Notariado 1/98, II caderno. 7