Ficou também arquivada a planta topográfica do prédio rectificando elaborada por técnico qualificado.

Transcrição

1 P.º n.º R.P. 148/2011 SJC-CT Registo de constituição de propriedade horizontal precedido da anexação de dois prédios urbanos. Tributação emolumentar devida pelo averbamento. Inaplicabilidade das verbas 2.17 e 3.1 do artigo 21.º do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado. Impugnação da decisão. Competência para emitir despacho de sustentação ou de reparação da decisão. Artigo 142.º-A, n.º 1 e artigo 147.º-C, n.º 2 do Código do Registo Predial. 1 Em... de... de... foram apresentados via online na conservatória ora recorrida os pedidos de registo de constituição da propriedade horizontal do prédio que, após anexação, viria a ser descrito sob o n.º..., freguesia da..., concelho de..., na Conservatória do Registo Predial de..., e da aquisição de uma das suas fracções autónomas, a que couberam as apresentações n.ºs... e..., respectivamente. 2 Para instruir os aludidos pedidos foi apresentada escritura pública outorgada no cartório notarial da ora recorrente, mediante a qual se procedeu à constituição em regime de propriedade horizontal do prédio supra mencionado e à compra e venda de uma das suas fracções autónomas a.... Da aludida escritura consta que o prédio ora submetido ao regime da propriedade horizontal resulta da anexação dos prédios descritos na Conservatória do Registo Predial de... sob os n.ºs... e..., que foi efectuada a declaração para inscrição na matriz, tendo-lhe sido atribuído o artigo n.º P, conforme modelo que os interessados exibiram e do qual consta a correspondência entre este e os anteriores artigos... e... mencionados na descrição dos prédios anexados. No que concerne à divergência da área verificada entre a descrição predial e a declarada na matriz esclarece-se que resulta de erro de medição, provavelmente devido à omissão da superfície descoberta correspondente ao saguão que fazia parte do prédio quando ainda se encontrava descrito sob o n.º... e não transitou no momento em que foi actualizado e extractado para a ficha n.º... A primeira outorgante (titular inscrita) declarou ainda, nos termos do artigo 28.º do CRP, que não houve qualquer alteração na configuração do prédio em causa. 1

2 Ficou também arquivada a planta topográfica do prédio rectificando elaborada por técnico qualificado. 3 Na dependência do pedido anotado no Diário sob o n.º... foram efectuados os averbamentos de rectificação da área na ficha do prédio n.º... e de anexação, anotando-se a inutilização da descrição deste prédio por anexação. No prédio n.º... foi também averbada a anexação e anotada a inutilização do prédio devido à sua anexação ao prédio n.º..., tendo, nessa sequência, sido aberta a descrição do prédio n.º... e aí inscrita a constituição da propriedade horizontal. 3.1 A conservatória entendeu que eram devidas as seguintes quantias emolumentares: 1 Pelo averbamento de rectificação, em face do prescrito na verba 3.1 do artigo 21.º do RERN, 40 ; 2 Pelo averbamento de anexação, nos termos do disposto na verba n.º 2.17 do citado artigo 21.º, 200 ; e 3 Pelo registo da constituição da propriedade horizontal, tendo em conta o disposto nas verbas 2.12 e 2.15 do artigo 21.º do RERN, Pela elaboração do registo de aquisição, correspondente à ap...., foi cobrada a quantia de 200, pelo que a conta perfaz, na sua totalidade, o montante de A requerente vem manifestar o seu frontal desacordo contra o entendimento subjacente à elaboração da conta efectuada pela conservatória deduzindo o presente recurso hierárquico de conta nos termos e com os fundamentos que aqui damos por integralmente reproduzidos, sem prejuízo de destacarmos das suas alegações, muito em síntese, o seguinte: 1 Tendo em consideração que a via utilizada na formulação do pedido foi a electrónica os registos beneficiam da redução emolumentar de 20%, por força do disposto na verba n.º 27 do artigo 28.º do RERN. 2

3 4.1 Na verdade, apenas é devido o emolumento de 424, correspondendo 224 à elaboração do registo da propriedade horizontal e 200 à inscrição de aquisição O disposto na verba n.º 2.17 do artigo 21.º do RERN não é aplicável, in casu, sendo apenas relevantes para a aplicação do invocado normativo, «os actos de transformação fundiária lavrados com base em declaração do interessado, cujo título assente em declaração do interessado, ( ) ficando fora da aplicação do mesmo os que são tributados pelo acto aquisitivo e cuja causa assenta em negócio jurídico, acto administrativo ou judicial». (Orientação do IRN de 30 de Setembro de 2010). 4.3 Também o averbamento de rectificação foi indevidamente cobrado já que o mesmo é afastado da previsão do n.º 3.1 do citado artigo 21.º que só tem aplicação a averbamentos à descrição de factos que não sejam lavrados na dependência de pedido de registo ou que não devam ser efectuados oficiosamente. Finaliza, por isso, solicitando a restituição do emolumento cobrado a mais pelos registos peticionados. 5 A Senhora Adjunta da Conservadora profere despacho mediante o qual repara a conta impugnada no que concerne ao averbamento de rectificação, sustentando-a, porém, no tocante ao averbamento de anexação. Salienta que o averbamento de anexação não foi efectuado na dependência do registo de aquisição mas por dependência do registo de constituição da propriedade horizontal pelo que o mesmo não se encontra abrangido na excepção consignada no último parágrafo da «Orientação dos Serviços» citada pela recorrente, devendo, por isso, o mesmo ser tributado nos termos do disposto na verba n.º 2.17 do artigo 21.º do RERN. 6 Descrita sumariamente a factualidade dos autos e a controvérsia que opõe recorrente e recorrida cumpre apreciar uma vez que o processo é o próprio, as partes têm legitimidade, o recurso foi interposto tempestivamente, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do seu mérito. 3

4 II Questão prévia O despacho de sustentação (parcial) foi proferido pela Senhora Adjunta da Conservadora, ao que parece, por ter sido ela que confirmou os registos em causa já que, ao tempo, se encontrava em exercício. A Senhora Conservadora, contudo, veio posteriormente manifestar a sua concordância com os termos que presidiram à elaboração da conta ora impugnada, após a reparação parcial da mesma. Como se sabe, a questão aqui suscitada prende-se com o disposto no artigo 142.º-A do CRP que, no seu n.º 1, preceitua que «Impugnada a decisão e independentemente da categoria funcional de quem tiver emitido o despacho recorrido, este é submetido à apreciação do conservador, o qual deve proferir, no prazo de 10 dias, despacho a sustentar ou a reparar a decisão, dele notificando o recorrente» 2. A prescrição da norma é de tal forma clara que parece não que deixar margem para dúvidas: o despacho de sustentação ou reparação de decisão impugnada é da competência exclusiva do conservador, pelo que deve ser sempre por ele proferido independentemente da competência funcional de quem tenha emitido o despacho inicial e da disposição legal que lhe concedeu permissão para o efeito. Este preceito, por força do disposto no n.º 2 do artigo 147.º-C do citado Código, aplica-se também, com as necessárias adaptações, à impugnação da conta dos actos pelo que, summo rigore, o despacho de sustentação (e reparação parcial) deveria ter sido proferido pela Senhora Conservadora. No entanto, considerando, por um lado, que a questão não foi suscitada pela recorrente e, por outro, que a posterior a Senhora Conservadora veio como que a ratificar o entendimento que norteou a elaboração da conta ora impugnada podemos considerar, in casu, a omissão inicial colmatada. III Assim, a posição deste Conselho vai expressa na seguinte 2 Veja-se também, no mesmo sentido, o que prescrevem os artigos 101.º-B, n.º 2, e 110.º, n.º 2, ambos do Código do Registo Comercial. 4

5 Deliberação 1 O disposto na verba 2.17 do artigo 21.º do Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado (RERN) aplica-se nos casos em que o acto de transformação fundiária seja efectuado com base em declaração do interessado que tenha por fim a anexação ou a desanexação predial 3. 3 Cremos que a anexação dos prédios descritos sob os n.ºs... e efectuada por força do pedido de registo da constituição da propriedade horizontal não se enquadra no âmbito de aplicação da verba 2.17 do artigo 21.º do RERN. Com efeito, o averbamento de anexação em causa foi efectuado na dependência de outro acto de registo, não decorrendo de um pedido autónomo e independente baseado em declaração do interessado. No último parágrafo da Orientação dos Serviços, aprovada em 30 de Setembro de 2010 pelo Presidente do IRN, consta que ficam fora do âmbito de aplicação da verba 2.17 do artigo 21.º do RERN as situações que sejam tributadas pela realização do acto aquisitivo que tenha por base um negócio jurídico, um acto administrativo ou judicial. Ora, como decorre do prescrito no n.º 1 do artigo 1417.º do Código Civil, a propriedade horizontal pode ser constituída por negócio jurídico, que é aliás a hipótese mais frequente, embora alguma doutrina questione a eficácia do negócio constitutivo da propriedade horizontal, nem momento em que todas as fracções do edifício se encontram na titularidade de uma só pessoa, não se verificando ainda a pluralidade normalmente inerente a esta situação. No caso dos autos, porém, a aludida questão doutrinal nem se coloca já que a escritura também consubstancia, além da constituição da propriedade horizontal do referido prédio, a compra e venda de uma das suas fracções autónomas. Mas ainda que assim não fosse, CARVALHO FERNANDES, in Lições de Direitos Reais, 2004, pág. 357, defende que a melhor solução é a que aponta no sentido da validade do acto, ficando embora a sua eficácia, em tudo o que pressuponha a pluralidade de condóminos, dependente da conditio juris da alienação de alguma fracção. Serve isto apenas para relembrar que a recorrente coloca a questão da tributação emolumentar dos actos de registo peticionados na existência do negócio jurídico de forma a torná-la reconduzível à situação prevista no último parágrafo da citada «Orientação dos Serviços», interpretação que a recorrida repudia. Mas, bem vistas as coisas, não nos parece que haja necessidade de ir por aí. Com efeito, a ênfase é de colocar, a nosso ver, na lei e da seguinte forma: 5

6 2 Tratando-se de averbamento à descrição de outros factos que não seja lavrado na dependência de pedido de registo ou que não deva ser efectuado oficiosamente são devidos os emolumentos previstos na verba 3.1 do artigo 21.º do RERN 4. 3 O averbamento de anexação efectuado na sequência do pedido de registo da constituição da propriedade horizontal não se subsume na facti species da verba n.º 2.17 do artigo 21.º do RERN, nem na da verba 3.1 do mesmo preceito, não estando, de per si, sujeito a qualquer tributação emolumentar autonomamente considerada. 4 A impugnação da decisão é sempre submetida à apreciação do conservador, independentemente da categoria funcional de quem tiver proferido o despacho recorrido, para que, no prazo legal, profira 1 Trata-se de pedido de registo autónomo e independente de qualquer outro, visa a anexação de prédios e tem como título subjacente ao registo a declaração do interessado? Então a cobrança emolumentar obedece ao prescrito na referida verba n.º 2.17 do artigo 21.º do RERN, mais gravosa do que a verba n.º 3.1, tendo especialmente em conta a eventual complexidade que o acto possa acarretar; 2 Trata-se de averbamento à descrição de outros factos independentes de pedido de registo ou de averbamento que não deva ser efectuado oficiosamente? Aplica-se, neste caso, o disposto na verba 3.1 do citado artigo 21.º; ou 3 Trata-se de averbamento efectuado por dependência (ou oficiosamente) de outro pedido de registo? Sendo assim, o averbamento não se enquadra na previsão da verba n.º 2.17 nem na da verba 3.1 ambas do artigo 21.º do RERN, pelo que o acto não é, em si, tributado autonomamente, cobrando-se, contudo, o emolumento devido pelo acto de registo de que aquele depende e no qual se considera incluído por força do prescrito na alínea a) do n.º 1 do citado artigo 21.º. 4 A aplicação do disposto na verba 3.1 do artigo 21.º do RERN fica também claramente arredada porque, no caso em apreço nos autos, se trata de averbamento à descrição efectuado na dependência de outro pedido de registo, sem que seja apresentado e anotado no Diário. 6

7 despacho de sustentação ou reparação da decisão em causa, nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 142.º-A do Código do Registo Predial aplicável também à impugnação da conta dos actos ex vi do prescrito no n.º 2 do artigo 147.º-C do citado Código. Nos termos do que precede, o entendimento deste Conselho vai no sentido de que o presente recurso hierárquico merece provimento, devendo proceder-se à devolução da quantia emolumentar cobrada em excesso, isto é, 240. Lisboa, 22 de Setembro de Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 22 de Setembro de Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em

8 FICHA Proc.º n.º R.P. 148/2011 SJC-CT Súmula das questões abordadas Averbamento de anexação efectuado na dependência de pedido de registo de outro facto inaplicabilidade do disposto na verba 2.17 e na verba 3.1, ambas do artigo 21.º do RERN. Impugnação das decisões Competência para emitir despacho de sustentação ou de reparação da decisão n.º 1 do artigo 142.º-A e n.º 2 do artigo 147.º-C, ambos do Código do Registo Predial. ***** 8