Civil que estipula: 1. A citação e a notificação são efectuadas nos termos da lei processual civil.
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- Benedicto Álvares Aragão
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1 Proc. RC 9/2005 DSJ.CT- Aplicabilidade dos artºs 143º a 145º do CPC em matéria de recurso das decisões dos Conservadores do Registo Civil. PARECER 1. Vem submetida à apreciação deste Conselho a questão de saber se o disposto no art.º 145.º, n.º 5 do Código de Processo Civil (CPC) se deve ou não aplicar aos recursos hierárquicos das decisões dos conservadores do registo civil. Na base está um processo de justificação administrativa, instaurado e decidido na Conservatória, para declaração de nulidade e cancelamento de determinado assento de nascimento, com fundamento em falsidade da certidão transcrita que lhe deu base. Da decisão foi feita notificação à interessada, nos termos legais, tendo o registo postal a data de 21 de Outubro de 2005, pelo que, face ao disposto no art.º 254.º, n.º 3 do CPC 1, a mesma se presume efectuada em 24 de Outubro de O prazo para interposição de recurso dessa decisão, ou para dela ser apresentada reclamação hierárquica, é de 15 dias (art.º 288.º, n.º 1, aplicável por força do preceituado no art.º 286.º,n.º 4 do Código do Registo Civil (CRC)), pelo que a data limite se esgotava a 8 de Novembro do mesmo ano. Porém, a reclamação hierárquica deu entrada na Conservatória a 9 de Novembro, tendo o mandatário da interessada invocado para o efeito o art.º 145.º, n.º 5 do CPC, comprometendo-se a efectuar o pagamento da multa prevista no citado normativo, se à mesma houvesse lugar. 2. Pela Conservatória, quanto à questão da tempestividade da reclamação, foi considerado que: Sendo conhecida a subsidariedade da lei processual civil aos processos de registo civil, como decorre do art.º 231º do Código, propende a entender-se que será juridicamente sustentável a aplicabilidade de tal preceito, não obstante se desconhecer como e se e em 1 Aqui aplicável por remissão directa do preceituado no n.º 1 do art.º 225 do Código do Registo Civil que estipula: 1. A citação e a notificação são efectuadas nos termos da lei processual civil. 1
2 que termos é que poderia ser exigido o pagamento de tal coima (anote-se que o recorrente se dispôs a efectuar o pagamento logo que para tal notificado). Em consequência, e no que à questão material controvertida respeitava, foi proferido despacho de sustentação da decisão reclamada, ao abrigo do disposto no art.º 288.º, n.º 2 do CRC. 3. Na informação dos Serviços Jurídicos da DGRN anota-se o entendimento já firmado no Proc. RC 1/99 DSJ, onde designadamente se refere que: O prazo para recorrer de uma decisão do conservador proferida no âmbito de um processo de justificação administrativa é, indubitavelmente, um prazo do processo, pelo que para a contagem do prazo rege o disposto no art. 228.º do CRC. e recorda-se o teor do Acórdão, de , do Supremo Tribunal de Justiça quanto à definição da natureza do prazo suplementar previsto no citado art.º 145.º do CPC e suas implicações na contagem do prazo para o trânsito em julgado da decisão. Não foi tomada posição pelos Serviços quanto à matéria de fundo da questão em tabela. 4. Cumpre agora emitir parecer. O Capítulo II, do Título III, do CRC abre com a epígrafe Processos Privativos do Registo Civil, dividindo-se depois em secções, respeitando a primeira às Disposições Gerais, a segunda aos Processos Comuns, e uma terceira aos Processos Especiais. Na secção segunda acham-se regulados os processos de justificação judicial e de justificação administrativa. Todos estes processos, independentemente da sua natureza, estão pois sujeitos às normas enunciadas na secção Disposições Gerais (art.ºs 221.º a 232.º). O processo comum de justificação administrativa é, quanto à forma, um processo privativo do registo civil e como tal claramente definido logo no art.º 221.º. Daí que as decisões neles proferidas e os recursos das mesmas não possam deixar de enquadrar-se na disciplina geral daqueles processos. 2 2 E se é certo que quanto ao processo de justificação administrativa não temos na lei uma disposição expressa sobre a possibilidade de recurso das decisões neles proferidas, não pode deixar de considerar se que esse recurso é admissível pela aplicação subsidiária do CPC, prevista no art.º 231.º do CRC. No mesmo sentido aponta o art.º 232.º do mesmo código. A decisão do conservador pode, assim, ser impugnada por meio de recurso. Este, para além da via contenciosa, pode, nos termos do n.º 1 do art.º 286.º do CRC, assumir a via hierárquica. O recurso hierárquico aplica-se, pois, a todas as decisões do conservador que recusem a prática de um acto tal como foi requerido, ou que determinem a prática de outro que a parte não desejou. Impõe-se, deste modo, interpretar extensivamente o disposto no referido artigo. Esta interpretação tem por base o disposto no art.º 9.º do Código Civil, ou seja, a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias 2
3 Da tramitação dos processos trata o art.º 228.º: Os processos previstos neste Código e respectivos prazos correm durante as férias judiciais, sábados, domingos e dias de feriado. Aos recursos das decisões dos conservadores respeita todo o capítulo I do Título IV do Código, aí se regulamentando os prazos e tramitações das duas formas de recurso admissíveis, o hierárquico e o contencioso. Para um melhor enquadramento da questão importa também recordar o art.º 231.º, ínsito na secção Disposições Gerais acima referida, que estipula: Aos casos não especialmente regulados neste Código é aplicável, subsidiariamente, com as necessárias adaptações, o disposto no Código de Processo Civil. 5. Ora, a matéria em apreço, o recurso hierárquico, está especialmente tratada no CRC. Encontra-se prevista a forma de processo (art.º 286.º), o prazo para recurso (art.º 288.º, n.º 1, por remissão do art.º 286.º, n.º 4), bem como a contagem continuada desse prazo (art.º 228.º). Da pesquisa feita no arquivo dos Serviços Jurídicos verificámos que tem sido esta a posição desde sempre assumida, ao longo dos anos, no que aos processos de recurso hierárquico de decisões dos conservadores respeita. Em registo civil encontramos desde logo o Proc. RC 4/98 DSJ no qual se considerou padecer de falta de tempestividade uma reclamação apresentada no dia imediato ao termo do prazo de 15 dias para e efeito legalmente previsto. Também no Proc. RC 1/99 DSJ se entendeu dever ser considerado intempestivo um processo de reclamação que havia dado entrada no dia seguinte ao termo do prazo. 3 em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada, dado que a abrangência dos processos de justificação administrativa se estende hoje a muitas situações que até há pouco tempo só judicialmente poderiam ser decididas. 3 Foram estas as 2 primeiras conclusões formuladas no processo: 1.-A intempestividade do recurso é motivo para o seu indeferimento liminar (art.234.º-a, n.º1, do Código do Processo Civil e art. 231.º do Código do Registo Civil). 2. O prazo para recorrer da decisão do conservador proferida no âmbito de processo de justificação administrativa é de quinze dias (artigos 288.º, n.º 1, 286.º, n.º 4 e 228.º do Código do Registo Civil). 3
4 Em registo predial - Proc. RP 33/97 DSJ-CT, entre outros tem igualmente sido esse o entendimento, considerando-se intempestivos os recursos que tenham dado entrada nas conservatórias competentes após o termo do prazo previsto para o efeito (30 dias na actualidade). Na verdade, cremos que a estes processos, bem como a todos os outros que se acham regulamentados no CRC só se aplicam as normas do CPC quanto: Aos casos não especialmente regulados (Art.º 231.º já citado), sublinhado nosso, por aplicação subsidiária, ou quando a própria lei do registo civil remete para a lei processual civil (caso do art.º 225.º). Fundamentamos esta posição na interpretação pragmática e literal dos preceitos em presença, mas não só. De facto, se o legislador tivesse entendido que o comando contido no n.º 5 do art.º 145.º do CPC tinha aplicação aos serviços dos registos e do notariado teria, sem qualquer dúvida, previsto a cobrança de multas e definido o processamento e encaminhamento das verbas em causa no Regulamento Emolumentar dos Registos e do Notariado, aprovado pelo Dec.Lei n.º 322-A/ 2001, de 14 de Dezembro, com a alteração introduzida pelo Dec.Lei n.º 194/2003, de 23 de Agosto, ou no respectivo Código. Se fosse essa a sua vontade tê-lo-ia dito, pois não ignorava certamente que o referido art.º 145.º previa o justo impedimento n.º 4 bem como a prorrogação do prazo, mediante o pagamento de multa n.ºs 5 e 6. Não o fez, porém. Aliás, anteriormente à entrada em vigor do referido RERN, também tal circunstância não constava das tabelas emolumentares do Registo Civil que sucessivamente vigoraram. Por outro lado, também no CRC não se encontra qualquer referência à cobrança de multas, nem o livro Diário de registo está legalmente preparado para as acolher 4, ao contrário do que sucede com as coimas, cuja cobrança se encontra prevista no art.º 295.º, normativo que define quando devem ser cobradas, quem gradua o seu valor dentro dos parâmetros fixados e para quem reverte o produto das mesmas. Ocorre-nos agora o princípio fixado no art.º 9.º do Código Civil, em especial o seu n.º 3 que estipula: 4 Art.º 21.ºdo Código do Registo Civil: 1.-O livro Diário destina-se à anotação especificada e cronológica de todos os serviços requisitados na conservatória e à escrituração dos emolumentos cobrados e das coimas aplicadas. 4
5 3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados. Na verdade, sempre que o legislador pretendeu agravar o custo de um acto fê-lo deliberadamente, quer estabelecendo a cobrança de coimas, como vimos, quer agravando o custo de determinados actos quando praticados para além do prazo legalmente previsto para o efeito, como sucede quando o pagamento dos emolumentos devidos pela instrução e decisão do processo de rectificação, em registo predial, não é feito dentro do prazo legalmente previsto 5. O mesmo sucede em registo comercial 6, e ambas as situações se acham ressalvada no RERN, respectivamente nos art.ºs 21.º.5 e 22.º.5 6. Sobre esta matéria, e no mesmo sentido, importa ainda recordar o teor do acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de , proferido no Proc /04: O estatuído nos arts. 144º e 143º, ambos do CPC, tem de entender-se circunscrito e só compatibilizável com a regulamentação do funcionamento dos tribunais judiciais, não sendo de admitir, ante o preceituado no art. 9º, nº 3 do CC, que, a sufragar o entendimento oposto, o legislador não tivesse procedido à alteração da redacção do art. 228º do Cód. do Reg. Civil, à semelhança do que fez, designadamente, com o nº 1 do art. 225º do mesmo Cód., o qual passou a remeter para as correspondentes injunções da lei adjectiva, por via do estatuído no art. 2º do DL nº 273/01, também de Sendo firmada a seguinte conclusão: A contagem do prazo de apresentação de oposição, previsto no artigo 7 n. 2 do Decreto-Lei n. 272/2001, de 13 de Outubro - diploma que atribuiu às Conservatórias do Registo Civil competência respeitante a processos de jurisdição voluntária relativos a relações familiares deve ser efectuada segundo as regras próprias dos processos que tramitam pelas Conservatórias do Registo Civil e não com observância do disposto no artigo 144º do Código de Processo Civil. 5 Art.º 128.º do Código do Registo Predial: 1. Quando não haja motivo para indeferimento liminar, são os requerentes notificados para efectuarem o pagamento dos emolumentos que sejam devidos pela instrução e decisão do processo. 2. O pagamento desses emolumentos é efectuado no prazo de cinco dias a contar da data da notificação, podendo ainda os requerentes efectuá-lo nos oito dias após e termo deste prazo com o agravamento de 20%. (sublinhado nosso). 3. Findo este último prazo sem que o pagamento se mostre efectuado, o conservador declara o processo findo e do respectivo despacho notifica os requerentes. 6 Art.º 89.ºdo Código de Registo Comercial, na redacção introduzida pelo Dec.Lei n.º 273/2001, de 13 de Outubro. 5
6 Ora, este entendimento deve, cremos, por consequência, estender-se ao estatuído no art.º 145.º do CPC. Os três artigos consubstanciam normas específicas que pressupõem a prática de actos judiciais e que só no âmbito judicial têm enquadramento. Importa realçar que se nos procedimentos perante o conservador do registo civil, introduzidos pelo referido Dec.Lei n.º 272/2001, de 13 de Outubro, se entendeu, como vimos, que não obstante a lei fixar como prazo para a interposição dos recursos o previsto no art.º 685.º do CPC 7, a contagem desse prazo devia ser feita segundo as regras dos processos que tramitam no registo civil, por maioria de razão os processos privativos do registo civil, para os quais até o próprio prazo para recurso é definido em diploma privativo, não há razão que justifique a aplicabilidade do citado art.º 145.º da lei processual civil. 7. Como refere Isabel Ferreira Quelhas Geraldes 8 : sendo o prazo para recurso da decisão de um conservador um prazo peremptório, a interposição de recurso para além do prazo legalmente fixado conduz inexoravelmente ao indeferimento liminar do mesmo, por intempestividade ou extemporaneidade. Desta autora e a propósito do pagamento do processo recolhemos, ainda, uma nota que não deixa também de ser esclarecedora: Toda a argumentação que sustentava o paralelismo no que se dispõe em sede de processo civil, onde a falta de pagamento da taxa de justiça inicial deixou de ser causa de extinção da instância, parece-me ficar agora esvaziada de sentido, visto termos de dar prevalência à literalidade do preceito. O legislador quer que se cobre preparo e di-lo expressamente, determinando a devolução parcial ou total do preparo cobrado, conforme haja provimento parcial ou total do recurso hierárquico. Assim, parece ter deixado de fazer sentido socorrermo-nos das regras fixas em processo civil, neste tocante, tanto mais que aí, a falta de pagamento da taxa de justiça inicial determina a fixação de multa pelo juiz do processo, não tendo este seguimento enquanto não se mostrar paga a taxa e a multa referidas, como decorre do disposto no artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 329-A/ No Código de Processo Civil anotado por Abílio Neto, 14.ª edição, Março de 1997, encontramos várias anotações ao art.º 145.º, que nos ajudam a compreender a natureza e alcance do preceito em causa. Realçamos o Acórdão da Relação do Porto, de : 7 Ex vi do art.º 10.º do Dec.Lei n.º 273/2001, de 13 de Outubro. 8 In Impugnação das Decisões do Conservador nos Registos, pág.ª 86, 3.º. 6
7 I. O n.º 5 do art.º 145.º do Código de Processo Civil tem a natureza de uma disposição de carácter geral, no concernente à matéria de prazos dos actos processuais. II. Consequentemente, não é aplicável ao pagamento de custas judiciais, que configurando embora, um acto materialmente processual, constitui objecto de legislação especial. Ora, a lei geral não revoga a especial, excepto se outra for a instrução inequívoca do legislador. 9. A orientação dominante em matéria de processo penal era também no sentido de não ser aplicável o disposto no art.º 145.º citado: II. Se fosse intenção do legislador acolher o expediente da prorrogação do prazo, consagrado na lei de processo civil artigo 145.º, n.ºs 5 e 6 -. Tê-lo-ia dito, pois não ignorava que o referido artigo 145.º previa o justo impedimento n.º 4 -, ao lado da prorrogação do prazo mediante o pagamento de multa, pelo que a omissão de qualquer referência à prorrogação não pode interpretar-se senão no sentido da sua deliberada exclusão Por outro lado verifica-se que os prazos previstos para recurso das decisões dos conservadores, 15 dias no registo civil e 30 nos registos predial e comercial, são superiores ao previsto na lei processual civil, 10 dias, ainda quando acrescido do prazo suplementar previsto no citado art.º 145.º. 11. Assim, não obstante se nos afigurar indiscutível a bondade do despacho de declaração de nulidade e cancelamento de determinado assento de nascimento e é este despacho o objecto do recurso - no entanto, não o analisamos, visto considerarmos que há lugar ao indeferimento liminar do processo de recurso, por intempestividade. Do exposto retiramos, pois, a seguinte conclusão: A matéria do recurso das decisões dos conservadores do registo civil está especialmente regulada no Código do Registo Civil, razão por que não lhe é aplicável o disposto nos art.ºs 143.º, 144.º e 145.º do Código de Processo Civil. 9 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de Em igual sentido o Acórdão, de , do mesmo Tribunal. Actualmente, cfr. art.º 107º do Código de Processo Penal. 7
8 Este parecer foi homologado por despacho do Director-Geral de
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