PN 219.011; AG: TC VN Gaia; Ag.e2: Ag.a3: Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1., Investimentos Imobiliários Lda. interpôs o presente agravo da decisão de 1ª instância pela qual foi indeferido requerimento que apresentara visando obter levantamento do arresto. Concluiu: (a) As facturas apresentadas pela arrestante, juntas com o requerimento inicial, mais os depoimentos das testemunhas e os factos assentes nestes, foram determinantes da decisão de o decretar; (b) No entanto, a confissão da arrestante, ocorrida na acção principal, de que as ditas facturas se não referem à dívida fundante, entra em contradição insanável com o deferimento: a decisão de decretar o arresto foi tomada sob erro quanto aos factos apurados, quanto à verdade material desses factos; (c) È que o pedido se baseou afinal no não pagamento de facturas que já haviam sido pagas e que nem sequer diziam respeito à arrestada; (d) Deste modo, deveria ter sido considerada extinta a instância e consequentemente ordenado o levantamento do arresto, por prova do pagamento e/ou por ilegitimidade da parte contrária; 1 Vistos: Des.: Ferreira de Sousa (240); Des.: Paiva Gonçalves (1037). 2 Adv.: Dr. 3 Adv.: Dr. 1
(e) Insiste-se, a obra adjudicada pela arrestada à arrestante foi de facto paga e não há qualquer indício de que exista qualquer probabilidade, muito menos séria, de existência de outro crédito de uma contra a outra; (f) Razão pela qual o arresto decretado não tem mais razão de ser, devendo ser levantado, decisão que o tribunal recorrido tomou ao contrário. 2. Nas contra alegações disse-se: (a) Não estão a ser alegados ou invocados quaisquer factos substanciais novos, que ponham em causa a decisão sob recurso; (b) Esta atendeu aos factos provados e à concreta existência, ou pelo menos a uma probabilidade séria de existência do direito invocado, e ao justificado receio da perda da garantia patrimonial do crédito da Ag.a; (c) Mas a Ag.e reconhece a feitura das obras e que não foram pagas, limitando-se a dizer não ser devedora por haver feito um acerto de contas unilateral ou compensação, em que a parte contrária ainda foi beneficiada (d) Por outro lado a existência de facturas, que não estão relacionadas com o crédito em questão, decorre de circunstâncias que não põem em causa a existência do crédito na titularidade de Construções Lda.; (e) A razão de ser do mesmo, ou a fonte da obrigação, é o contrato de empreitada e não a facturação, como supõe e insiste a recorrente; (f) Aliás, a não facturação decorre do não cumprimento da Ag.a, que se confirmou no decurso do tempo; (g) E a prova testemunhal fez assentar em que obras existiram; houve pedido de facturação em nome de LRV; não foram pagas as quantias atinentes às obras; e só por lapso foi referida a existência da facturação junta, por razão de ter sido afirmada pelo sócio gerente de Construções Lda.; (h) Ora, os depoimentos das testemunhas são credíveis, só não sendo exactos no que diz respeito à emissão das facturas; (i) Não há assim qualquer contradição insanável, pois existe o crédito proveniente da feitura da obra; o reconhecimento de não ter sido pago, e mais 2
existe a manifestação de nada se querer pagar, consubstanciada no presente recurso, em que a Ag.a pretende o levantamento do arresto, para poder discutir na acção principal sem preocupações; (j) Por seu turno, os requisitos do periculum in mora e do bonus fummus juris estão verificados, razão por que foi decretada a providência; (k) O levantamento do arresto levaria contudo à não efectivação do direito que assiste à recorrida tanto como poria em causa os fins visados pelas providências cautelares, que são meios de defesa avançada de direitos de outra forma ineficazes; (l) A decisão recorrida fez por conseguinte correcta interpretação de facto e de direito, respeitando nomeadamente os arts. 389/1 e (a contrario sensu) 406/1 e 408/1 CPC; (m) Deve ser mantida, improcedendo o agravo. 3. A decisão que decretou o arresto da fracção autónoma A do prédio urbano descrito sob o nº 01582/221196, Matosinhos, inscrito na matriz urbana sob o art. 7358 pertença de I realização de obras por Construções, Investimentos Imobiliários Lda, teve por fundamento a Lda., respeitantes a trabalhos solicitados e prestados exclusivamente em favor da arrestada, segundo as facturas que constituem os docs. 2,3 e 4 juntos com o requerimento inicial, as quais não foram pagas por esta, e embora não tivessem sido emitidas em nome dela. Também foi dado como assente que um sócio gerente da arrestante havia solicitado que a facturação relativa à obra fosse emitida em nome de Lda., por motivo relacionado com vantagens fiscais. Arquit. e Engenharia 3.1. Entre outra matéria, ficou depois provado, na decisão que, após os embargos, manteve o arresto: (a) Para liquidação da factura 97011, emitida em nome de, Arquit. e Engenharia Lda. foi entregue à arrestante a quantia de Pte. 4 680 000$00; (b) O valor da fracção arrestada ascende a mais de Pte. 220 000 000$00. 3
3.2. E não provado, apenas no que agora interessa: (a) As facturas que constituem os docs. 2/4 do requerimento de arresto foram emitidas no âmbito de um contrato celebrado entre embargante; (b) Embargante e embargada fixaram por acordo em Pte. 97 500 000$00 o preço devido pela realização da obra (c) A embargada pagou integralmente à embargante o valor dos trabalhos realizados por esta no Lda. e a 3.3. A convicção do tribunal, no que diz respeito aos factos não provados, seguiu as regras do ónus da prova, uma vez que a arrestada não logrou apresentar meios de prova que permitissem um mínimo de certeza quanto à verificação dos mesmos. 3.4. Durante a fase dos articulados na acção principal, instaurada na sequência do arresto, Construções Lda. admitiram: efectivamente houve um lapso do sócio gerente da A., no que concerne à identificação das facturas juntas aos autos de arresto, apensos: estas dizem respeito a um contrato de adjudicação celebrado com o preço., que saldou 4. A decisão recorrida louvou-se no art. 389/4 CPC: a extinção do procedimento cautelar e o levantamento da providência são determinados logo que se mostre demonstrada nos autos a ocorrência de facto extintivo. Ora, no caso vertente, se é certo que Construções aceitaram ter havido lapso no que diz respeito à identificação das facturas juntas, e que a convicção do tribunal relativamente à matéria de facto que conduziu ao decreto da providência se baseou também nessa mesmas facturas, tal circunstância não faz concluir, sem mais, que tenham desaparecido os fundamentos da decisão: o direito que a arrestante pretendia acautelar não se extinguiu, continuando controvertida a questão fundamental em debate, ou seja, a existência ou não da alegada dívida da arrestada para com a arrestante. Lda. 4
5. O recurso está pronto para julgamento. 6. Devem ter-se em conta, segundo os autos, as circunstâncias relatadas em 3/3.4. 7. Numa lógica de linear simplicidade, a recorrente defende ter de ser levantado o arresto, por ter havido confissão de matéria de facto que vai em contrário daquilo que ficou assente, nesse domínio, nas decisões que ordenaram e mantiveram a providência. Na verdade, referindo-se o preço não satisfeito da obra a uma série de facturas apresentada à discussão que depois a própria embargante veio admitir, na acção principal, terem antes a ver com obra distinta, diferente devedor e estarem saldadas, aceite também pela recorrida que as testemunhas ouvidas para decretar o arresto as confirmaram, por erro, e erro induzido até pelo depoimento de um dos gerentes da embargante, não repugna admitir que se possa estar perante defeituosa fixação da matéria de facto que levou à decisão de mandar arrestar. Note-se porém que o despacho recorrido argumentou, pelo menos de um modo implícito, no sentido de a prova da dívida desprovida de garantia cautelar não ter repousado só nas facturas. Mas este não é o ponto principal, embora dê conforto ao que se segue. É que, transitada a decisão que coube sobre os embargos ao arresto, este só pode ser levantado, tal como também argumenta o despacho em crise, por ocorrência de facto extintivo, neste caso da dívida em discussão ou do clima patrimonial de ingarantia devedora. Ora, o erro judiciário não é oponível como causa apropriada de qualquer destas extinções, antes poderia dar lugar a remédio recursivo de que a parte prejudicada (ou eventualmente prejudicada) não lançou mão, porventura por ainda assim não ter deixado de ter presente que já admitira uma base séria para a controvérsia acerca do pagamento do preço da empreitada: não alegou exclusivamente a estraneidade e pagamento das facturas juntas com o requerimento inicial, contudo que lhe assistia o direito de compensação unilateral daquela dívida com créditos sobre a embargante, decorrentes de circunstâncias conexas com a execução da mesma; em suma, admitiu, com efeito, a existência da dívida (no sentido de poder ser discutida; logo, no plano da probabilidade) para além da cartografia fornecida pelas facturas polémicas. Não assiste por conseguinte razão à recorrente. 5
8. Atento o exposto, visto o art. 389/4 CPC, decidem manter inteiramente a decisão recorrida. 9. Custas pela Age., sucumbente. 6