senhoria operou-se no fim do prazo estabelecido (caducidade do contrato); do estabelecimento comercial em causa outro se extinguiu;

Transcrição

1 PN ; Ap.: TC Santarém, 1º J; Ap.e: Maria José Couto Pereira dos Santos, Rª António Vicente Júnior, 17º 2º Esq., Vale de Estacas; Ap.a: DIM Portugal, Importação e Comercialização Lda, Rª da Matinha, Lt. 4A, Lisboa. Acordam no Tribunal da Relação de Évora I- Maria José Couto Pereira dos Santos apela da sentença do Tribunal Judicial da Comarca de Santarém que julgou improcedente o pedido que formulou contra DIM Portugal, Imp. Com., Lda.: reconhecimento pela R. do direito ao trespasse e arrendamento do estabelecimento comercial, sito na Rua João Afonso nº 84 / 88, r/c, São Nicolau Santarém; Levantamento da penhora desse direito em execução movida por esta contra Isadora Langerie Lda. Concluiu: (a) A extinção do contrato de arrendamento celebrado entre a executada e a senhoria operou-se no fim do prazo estabelecido (caducidade do contrato); (b) A caducidade do contrato fez também extinguir todos os ónus e encargos que sobre o mesmo incidiam; (c) Por isso, a penhora efectuada sobre o direito ao trespasse e arrendamento do estabelecimento comercial em causa outro se extinguiu; (d) Porém a sentença recorrida reputou que o arrendamento invocado pela A. é ineficaz em relação à exequente, em virtude de o contrato ter sido celebrado já depois da penhora (art.s 819º e 820º CC); (e) Contudo, extinta a penhora, não se verifica aplicabilidade destas disposições legais; 1

2 (f) Logo, o contrato de arrendamento comercial celebrado pela Ap.e é eficaz e válido perante a Ap.a; (g) Ao decidir em contrário, a sentença recorrida violou, entre outros, os art.s 1051º CC e 66º RAU; (h) Deve por isso ser revogada e substituída por decisão que julgue extinta a penhora e julgue eficaz e válido o arrendamento celebrado depois da caducidade daquele que fora celebrado com esse contrato. Nas contra alegações disse-se: (a) Dos factos dados como provados resulta: quando a penhora do estabelecimento comercial foi ordenada, , este ainda estava na posse da executada, Isadora Langerie, Lda., e não na posse da Ap.e; (b) Aliás o despacho que ordenou a penhora do referido estabelecimento comercial ocorreu inclusivamente antes da alegada denúncia de contrato de arrendamento por parte da executada, que a ter-se verificado teria sido de Maio de 1995; (c) Ora, o art. 819º CC estipula: são ineficazes em relação ao exequente os actos de exposição ou oneração de bens penhorados; (d) E o art. 820º CC: sendo penhorado algum crédito do devedor, a extensão dele por causa de pendente da vontade do executado ou do seu devedor, verificada depois da penhora, é igualmente ineficaz em relação ao exequente; (e) Assim sendo, a partir de , data em que foi proferido o despacho que ordenou a penhora, quer o senhorio quer a executada, jamais podiam dispor do direito ao trespasse e arrendamento, por se encontrar penhorado; (f) Pelo que, a cessação do contrato de arrendamento, e a posterior celebração de um outro com a A., são actos ineficazes em relação à R.; (g) Consequentemente, a d3ecisão recorrida fez correcta aplicação da lei, devendo ser mantida. Ficou provado: 2

3 (a) Por meio de escritura pública, , José Teodósio Bento, cc., Virgínia de Jesus Afonso Gaspar deram de arrendamento à Ap.e o prédio urbano, sito na Rª João Afonso, nº 84 / 88, r/c, S. Nicolau, Santarém, mediante a renda mensal de $00; (b) Em , deu entrada no Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, uma execução de sentença (Apº. à acção 2985/94), e na qual a exequente, ora Ap.a, nomeou à penhora o estabelecimento comercial da executada Isadora Langerie, Lda., sito Rª João Afonso, nº 84 / 88, r/c, S. Nicolau, Santarém; (c) Esta penhora foi ordenada por despacho de ; (d) José Teodósio Bento, na qualidade de senhorio, em , foi notificado da penhora do direito ao trespasse e arrendamento do estabelecimento em causa, e de que, esse direito ficava então à ordem do 9º Juízo Cível de Lisboa (PN 2985A/94, 2ª sec.), podendo fazer as declarações que entendesse; (e) Por despacho proferido dos despachos de execução aludidos, , foi proferido despacho de manutenção da mesma penhora, por esta ser anterior a invocada resolução do arrendamento à executada. Todos estes factos resultam de documentos juntos aos autos. A sentença recorrida fundamentou-se na interpretação jurisprudencial do art. 819º CC: Ac RL, , CJ (1996), p. 103, Ac RP, , CJ (1995), p. 23, e Ac RL, , CJ, IV /182 salvo o devido respeito não se nos afigura que o art. 819º CC não vise os casos de penhora de direitos; não só os direitos são bens (embora imateriais), como também, a razão de ser do art. abrange tal penhora (se são ineficazes, em relação ao exequente, os actos de disposição ou oneração de bens materiais penhorados, são, pelos mesmos motivos, ineficazes em relação ao exequente os actos de disposição ou oneração de direitos penhorados. Também em passos doutrinais de Pires de Lima & Antunes Varela, o CC Anotado, II, p. 94º; de J. Lebre de Freitas, Acção Executiva, II, p. 158: se B adquire o direito sobre o bem penhorado, esse direito é inopunível à execução; se a penhora for 3

4 levantada B poderá exercer então plenamente o direito que adquiriu, mas se o direito for vendido na execução, o direito de B caduca. Termina: o contrato de arrendamento invocado pela A. é ineficaz em relação à R., não podendo assim proceder o pedido. Cumpre agora apreciar e conhecer. II- Defende a Ap.e, em boa verdade, que a entrega do estabelecimento pelo inquilino ao senhorio, antes do inicio do prazo de renovação do contrato de arrendamento comercial, não deve ser tida como acto de disposição para os efeitos dos art.s 819º CC, nem equiparável a extinção de crédito do devedor executado, segundo o art. 820º CC. Todavia por disposição entende-se a forma de exercício de um direito que tem por consequência a sua perda, total ou parcial, absoluta ou relativa. Ora, o inquilino, nas circunstâncias alegadas pela Ap.e, tinha o direito de manter o arrendamento, mas dele prescindiu, perdendo-o então. Logo: dispôs. E convence o inciso jurisprudencial citado na sentença recorrida quanto ao alargamento do campo de aplicação do art. 819º CC, também aos direitos, como bens imateriais. Por outro lado, a manutenção do gozo do prédio constitui objecto da prestação contratual do senhorio, no caso de renovação do arrendamento comercial. Logo: o inquilino tem este crédito a seu favor. Prescindindo da renovação, extingui-o, por vontade própria. Ora, o direito ao trespasse e arrendamento que estava penhorado é fundador do dito crédito, que nele se engloba indissociavelmente: também por via do disposto no art. 820º CC, a solução dada pela sentença de 1ª Instância se mostra adequada ao caso. Improcedem pois as razões pelas quais a Ap.e pretendeu pôr em crise a decisão recorrida. Atento o exposto, vistos os citados preceitos da Lei, decidem julgar improcedente a presente apelação. 4

5 III- Custas pela Ap.e, sucumbente. 5