Acordam no Tribunal da Relação de Évora
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- Ayrton Figueira Salgado
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1 PN ; Ag.: TC Faro; Ag.es2: ; Ag.o3:. Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. Os Ag.es [AA.] demandam a Ag.a [R.], pedindo que seja condenada a ressarci-los dos danos que lhes advieram da necessidade de terem tido de tomar de aluguer um automóvel, a partir de até efectiva entrega, para substituir aquele que a parte contrária indicou à penhora, e foi penhorado, em execução contra a qual reagiram, com êxito, mediante embargos, todavia não tendo obtido ainda o veículo, por infidelidade do depositário. 2. A R. contestou com o argumento de não ter, por direito, a obrigação de restituir aquele automóvel, que lhe pertence; e deduzindo a excepção de dolo. 3. Foi entretanto proferido o despacho recorrido: a) Correm termos neste juízo uns autos de acção ordinária com o nº538/95, tendo a respectiva petição inicial dado entrada em ; 1 ML (558.00); MM ( ). 2 Adv. Dr.,. 3 Adv. Dr., Ap.o 12, Loulé. 1
2 b) A referida acção foi interposta pelos ora AA. contra, e funda-se na penhora [do mesmo veículo na mesma] execução movida contra eles pela ora R., penhora essa que foi levantada por despacho judicial, mas não tendo o fiel depositário [R. marido] feito a entrega do veículo; logo, a contingência do dispêndio com o aluguer; c) Afigura-se assim existir questão prejudicial, uma vez que o mesmo pedido, originado na mesma causa de pedir, é conduzido nas duas acções contra pessoas diferentes:, e o fiel depositário, funcionário daquela; d) Assim fica suspensa a instância até ser proferida decisão nos autos de acção ordinária nº 538/95 (arts. 276º/1.c. e 279º CPC). 4. Concluíram os recorrentes: a) Não há relação de dependência justificativa da suspensão da instância entre as acção que os AA. interpuseram contra a R., exigindo-lhe uma indemnização por prejuízos causados com a penhora injusta do veículo e uma outra intentada pelos mesmos AA. contra o depositário, por prejuízos causados pelo não cumprimento dos deveres do cargo (arts. 1187º e 11204º CC, 843º CPC); b) As duas acções apresentam-se com aspectos distintos e elementos constitutivos completamente independentes, não estando a decisão de uma subordinada à da outra; c) Termos em que deve ser revogado o despacho recorrido, para ser substituído por decisão que ordene o prosseguimento da causa. 5. Nas contra-alegações disse-se: a) Vem a jurisprudência entendendo que as situações de prejudicialidade entre acções se situam no âmbito das relações de dependência entre objectos processuais; 2
3 b) Dependência que pode ser genética, quanto a origem das acções dependentes se baseia na existência de objecto processual, que condiciona o aparecimento do outro; c) Ou acidental, se a relação de dependência é uma contingência do conteúdo de alguns objectos processuais autonomamente constituídos, ligando-se a esta as situações de acessoriedade e de consumpção (ac STJ, , BMJ 444/462); d) Não sendo o caso dos autos de outro objecto processual, que condicione o seu aparecimento, é manifestamente da ordem da dependência acidental; e) E sendo a única questão a resolver, saber se a suspensão da instância aqui ordenada se justifica ou não, é óbvia a resposta positiva, face à circunstância de a questão abordada nos presentes autos poder ser afectada pela que for proferida na acção ordinária nº 538/95; f) Havendo utilidade e conveniência processual em que a instância continue suspensa, deve ser negado provimento ao recurso; g) Os recorrentes, porventura cientes da sua sem-razão, omitiram até a indicação da norma jurídica violada; h) E não seria caso de, previamente, requererem o levantamento da suspensão da instância por razões que arredariam o pressuposto subjacente ao despacho que a ordenou? (ac. RL, , BMJ 444/735). 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. Deve dar-se por assente, tendo em conta os documentos juntos: a) Em , deu entrada a acção ordinária nº538/95, em que os AA. pedem a condenação de a pagar-lhe a indemnização de Pte.: $00, quantia acrescida de juros de mora contados da interposição até efectivo e integral pagamento, bem como a quantia diária de Pte.: $00, contada desde , igualmente acrescida de juros de mora nas mesmas circunstâncias; b) Fundam a pretensão na circunstância de ter sido o R. marido nomeado fiel depositário do veículo, pertença dos AA., e de o não o ter devolvido, 3
4 logo que, transitado o despacho de levantamento da penhora, foi notificado para o entregar ( ); c) Por isso, desde , continuaram obrigados a suportar os encargos de aluguer de uma viatura, remontando os dispêndios ao pedido; d) Em deram entrada os presentes autos, em que os AA. pedem a condenação da R. a pagar-lhes o montante de Pte.: $00, acrescido de juros moratórios contados desde a data da propositura até efectivo integral pagamento, bem como a quantia diária de Pte.: $00, do mesmo modo acrescida da mora, nas mesmas circunstâncias; e) Fundam a pretensão na circunstância de a R. estar conluiada com em ordem à retenção ilegal do veículo QJ, mas reconduzem o acerto indemnizatório à data de da penhora injusta, sabendo os exequentes que o automóvel nomeado era essencial à actividade profissional dos executados; f) Nesta acção, foi oferecida pelos RR. a contestação, logo depois proferido o despacho recorrido, e simultaneamente suscitado incidente de apoio judiciário aos AA., indeferido, com interposto agravo em separado; g) Por despacho transitado ( ), na execução foi levantada a penhora do veículo automóvel de matrícula, dando-se conhecimento de facto ao depositário, o que ocorreu em ; h) E teve-se em consideração que a exequente, por tê-lo nomeado à penhora, renunciou à reserva de propriedade que tinha inscrita sobre o veículo, bem comum do casal assim, já que o regime matrimonial do executado é a comunhão de bens, não tendo sido porém pedida a citação do cônjuge para requerer o benefício da moratória. 8. Têm razão os recorridos quando colocam o problema no domínio conceptual da prejudicialidade não genética, acidental, delimitada apenas uma zona de acessoriedade dos pedidos formulados numa e noutra das acções que nos estão presentes. Na verdade para ser condenada a R. no excesso da indemnização 4
5 adveniente do alegado conluio com o infiel depositário, terão os AA. de convencer da infidelidade e dos prejuízos a que levou, como intentam na primeira das acções. Diz-se acessoriedade quando um objecto intelectual depende na arquitectura que lhe é própria da construção de um outro, de modo a que este se torna auxiliar adequado na compreensão do primeiro. Nestas circunstâncias está então o pedido deduzido pelos AA. contra a R., acima referido: a condenação desta depende apropriadamente da condenação do infiel depositário. Logo: causa prejudicial possível. Ora, o limite aos poderes do juiz, que deve ter-se aqui em consideração, para ordenar a suspensão da instância quando a decisão da causa estiver dependente do julgamento de outra já proposta, é aquele que diz respeito à desvantagem pelo adiantamento dos debates. Assim, razões de economia processual regem a pronúncia do julgador. No caso dos autos, apenas foi oferecida a contestação, e suscitado até entretanto incidente de apoio judiciário aos AA., que indeferido, deu lugar a agravo, em separado. Pode concluir-se portanto que não há inconveniente na suspensão, razão nem sequer vertida nas conclusões, mas antes vantagens, perante o risco de se poderem direccionar até em sentido oposto os dados a adquirir, neste particular contexto, numa e noutra das acções. Assim sendo, não merece reparo o despacho recorrido, conquanto pareça avocar o conceito de dependência genética, circunstância de qualquer forma irrelevante em face do alcance do que ficou decidido. 9. Atento o exposto, e pelos argumentos aduzidos, vistos os arts. 277º/1.c. e 279º/1.2 CPC, decidem negar provimento ao agravo. 10. Custas pelos Ap.es, sucumbentes. 5
Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. A sentença recorrida absolveu da instância, por litispendência, arts. 288/1e., 493/2, 494i.
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