Acordam no Tribunal da Relação do Porto
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- Laura Furtado Sintra
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1 PN ; Ap: TC VN Gaia; Ap.e2: Ap.os: Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. Os Ap.es discordam da absolvição do pedido, ditada na sentença recorrida em favor dos Ap.os, contra os quais deduziram: (1) seja declarado não cumprido definitivamente o contrato promessa trazido a juízo, e por culpa e causa imputáveis aos 3ºs. RR; (2) sejam condenados estes, consequentemente, no pagamento de uma indemnização no montante de Pte $00, do dobro do sinal prestado; (3) seja declarado o direito de retenção que aos AA assiste para serem pagos, preferentemente a todos os demais credores, incluindo a R. pelo produto da venda executiva da fracção autónoma [objecto do dito contrato promessa, com tradição, instrumento no qual haviam tomado a posição de promitentes compradores]. 1 Vistos: Des. Ferreira Des. Paiva). 2 Adv: Dr. 3 Adv: Dr.. 1
2 2. Concluíram: (a) A decisão do tribunal sobre a matéria de facto, não assentando o material vertido em 1, 2, 3, 4, primeira parte de 5, 6, 8 e 9 da p.i.4, viola as disposições legais dos arts. 358, 371, 374/1, 376 CC e o art. 490/2 CPC; (b) Deve ser alterada, considerando-se não escritas, as respostas dadas a Q1, Q2 e Q35, nos termos previstos na disposição legal do art. 646/4 CPC e, por via do presente recurso, art. 712/1b CPC; assentar-se, além da matéria constante das respostas a Q4 e Q56, na matéria dos arts. da p.i. acima ditos, que está 4 Da p.i.:.. 1- Os AA são casados em regime de comunhão de adquiridos, tendo celebrado o casamento em ; 2- Em , entre os 3 RR e a A. foi celebrado contrato promessa de compra e venda mediante o qual aqueles RR prometeram vender, e a A. prometeu comprar-lhes, pelo preço de Pte $00, uma fracção autónoma, designada pela letra H, correspondente à habitação do apartamento 12, no 1º andar do prédio constituído em regime de propriedade horizontal, Rua Barão do Corvo, 490, 492, 508, 514 e 516, Rua das Luzes, 26, 36, 40 e 46, Santa Marinha, VN Gaia; 3- Pelo referido contrato, os 3 RR prometeram vender a dita fracção autónoma livre de quaisquer ónus ou encargos; 4- A A. mulher pagou aos 3 RR o preço estipulado; 5- Na data da celebração do referido contrato, os 3 RR entregaram à A. a referida chave do prédio 6- Todavia, a escritura relativa ao prometido negócio nunca se realizou até hoje, visto que subsistem hipotecas registadas na 1ª C. Reg. P. VN Gaia, sob as inscrições C1, C2 e C3, relativas às Ap 18/140390, 12/ e 2/250991, da ficha 927, Santa Marinha, a qual corresponde à descrição do prédio onde se integra a fracção dos autos; 7- Tais hipotecas foram constituídas pela 1ª R. [Congaia, Lda] a favor da 2ª [CPP, SA], para garantia de em préstimos que esta concedeu àquela, e já existiam pois quando os 3 RR prometeram vender a fracção, livre de ónus e encargos, à A.; 8- Os 3 RR, contrariamente ao que se obrigaram, não obtiveram, até hoje, o cancelamento das hipotecas, que viabilizasse o cumprimento da promessa e, para obter pagamento das dívidas garantidas pelas ditas hipotecas registadas sobre a fracção, que ascendem a pelo menos Pte $00, a 2 R. instaurou execução, a qual corre termos actualmente pela 1ª Sec. Do 5º JC Porto, PN 1319/95, citados 1 R e 3 RR, penhorada fracção, seguindo para a venda judicial; 9- Ora, certo é que 1 R. e 3 RR recusam pagar à 2 R. as dívidas que as hipotecas registadas garantem, não obstante terem decorrido já mais de 5 anos sobre a data de celebração do contrato promessa e 4 sobre a data em que 2 R. instaurou a execução contra os outros Questionário: Q1. [Vd. nota antecedente] factos constantes de 2. p.i.? Não provado; Q2. Livre de quaisquer ónus ou encargos? Não provado; Q3. [Vd. nota antecedente] factos constantes de 4 p.i? Não provado. 6 Questionário:.. 2
3 plenamente provada seja por documentos7, seja por acordo ou confissão das partes; (c) Consequentemente, tendo em atenção os materiais em que deverá assentar-se: fundamentalmente, a promessa de venda da fracção livre de quaisquer ónus ou encargos, feita pelos 3ºs. RR à A., o preço da venda prometida, a tradição da fracção, o pagamento do preço em relação ao prometido, a mora e a recusa dos 3ºs. RR cumprirem a obrigação ou o dever de desonerar o prédio, deve a sentença ser revogada, como é de direito, arts. 441, 442, 755f CC (tb. por exigência do princípio da boa fé, art. 762/2 CC), e substituída por decisão que julgue procedente o pedido dos AA. 3. CPP, SA, e apenas esta Ap.a, contra-alegou: pese embora a douta argumentação dos recorrentes, parece não aproveitar à situação dos autos a legislação invocada e jurisprudência atinente os AA não juntaram à p.i. o contrato promessa de compra e venda em cujo incumprimento fundamentam o pedido e, em audiência de julgamento, não lograram fazer prova dos factos; Q4. [Vd. nota 4] factos constantes de 5. p.i.? Provado apenas que os 3 RR, pais da A., entregaram a esta as chaves do prédio que, desde então até hoje, ela habita por forma permanente e que, desde a data do casamento, constitui o lar de família, incluindo além dos AA um filho do casal; Q5. A fracção referida em Q1 tem o valor de Pte $00? Provado. 7 (1) Assento de casamento respeitante aos AA; (2) Certidão C. Reg. P. VN Gaia relativa à descrição predial 00927/170991, Santa Marinha, com averbamento das fracções autónomas, incluindo a dos autos; C1. Ap. 18/ hipoteca voluntária, provisória por natureza a favor de CPP, EP montante máximo Pte $00; Av. 01. Ap. 11/ convertida; C2. Ap. 12/170790, hipoteca voluntária a favor de CPP EP em ampliação à inscrição C1.montante máxima da ampliação Pte $00; F1. Ap. 03/ constituição da propriedade horizontal; C3. A p. 02/ hipoteca voluntária, provisória por natureza a favor de CPP, EP montante máximo Pte $00; Av. 01. Ap. 42/ convertida; G1. Ap. 47/120592, aquisição a favor de, cc por compra a Congaia Lda, abrange 2 fracções; F1. Ap. 80/250698, penhora em , na execução movida por CPP SA contra Congaia Lda, quantia exequenda $00, abrange 4 fracções; (3) Pública forma, , de Contrato de prom essa de compra e venda, celebrado (e subscrito sem reconhecimento de assinaturas), , em Lamego, entre cc b e a A., referente às 2 fracções autónomas de que são proprietários, como no documento antecedente se vê, a transmitir livres de ónus e encargos pelo preço de Pte $00 + Pte $00, dividido em 50 prestações mensais de Pte $00 até e cláusula de entrega das chaves. 3
4 Desde logo, (1) o invocado contrato promessa de compra e venda é apenas uma promessa de venda de pais a filhos; (2) à época, a A. auferia vencimento inferior aos pagamentos ditos contratados com o pai, aos quais, em todo o caso, não foi conferida a natureza de sinal, enquanto não é aplicável ao caso o disposto no art. 441 CC; (3) por fim, os pais entregaram tão simplesmente à filha, em 1993, a fracção autónoma em causa, para esta habitar, e ela, quando casou, em 1998, passou ali a residir com o marido. 4. Ficou provado: (a) Os 3ºs. RR, pais da A, entregaram a esta as chaves do prédio que, desde então, até hoje, ela habita por forma permanente e que, desde a data do casamento, constitui o lar da família: além dos AA, um filho do casal; (b) A fracção autónoma em causa tem o valor de Pte $ A convicção do tribunal baseou-se no depoimento das testemunhas, funcionários CPP (valor do prédio), e de uma amiga e colega de curso da A.,, (a A. foi residir para a casa em questão em 1993, sendo que nessa altura auferia cerca de Pte $00 mensais). Rejeitou o depoimento de parte do 3º R. pai da A: não mereceu credibilidade não só quando analisado isoladamente, mas também quando confrontado com o depoimento de ; p. ex., referiu que a A. auferia Pte $00 mensais. 5. Contém a sentença, na motivação de direito: (a) Face à matéria de facto provada é patente e manifesto que se impõe a improcedência da presente acção; 4
5 (b) Na verdade, os AA não fizeram a mínima prova dos factos que alegam no articulado inicial, sendo certo que a eles competia a prova desses mesmos factos; (c) Por outro lado, os factos provados são manifestamente insuficientes para suportarem a tese dos AA. 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. Os recorrentes só juntaram o escrito do contrato promessa depois da contestação que apenas a R. SA ofereceu. Nesta peça, foi posta em dúvida a realidade do convénio justamente por não ter sido até então junto o original do contrato. Mas, depois, SA não impugnou o documento; logo, aceitou-o. Ora, segundo a exigência legal de forma escrita para a promessa de compra e venda ajuizada, segue-se haver de contar com o dito original, e só este, para resposta a Q1 e Q2, já que foram formulados e respondidos, contudo não provado. Têm razão os recorrentes: os quesitos relativos ao contrato promessa, ao preço concorde, à transmissão livre de ónus e encargos, e à tradição do apartamento têm de merecer resposta provado, a qual é admissível, visto o art. 712/1 CPC. Aqui chegados não há ainda motivo para vencimento da pretensão dos AA, porque mesmo assim não está provado qualquer pagamento, e por isso dívida de sinal: os AA teriam apenas direito à indemnização dos danos derivados da denúncia motivada no incumprimento dos pais. É que também têm de aceitar-se como fixa a matéria de facto respeitante quer à hipoteca quer à execução, inviável a compra e venda livre de ónus de encargos, sem a sequela onerosa, com a qual os interessados não querem arcar, e por via de regresso elidir. Contudo o direito de retenção não nos surge fundado na garantia do débito do ressarcimento, e é verdadeiramente esta faculdade (frustrada) de opor ao banco 5
6 hipotecário um crédito de graduação precedente aquilo que os AA ambicionam, e querem, mas não podem ter. Na verdade, não há razão alguma para responder diferentemente a Q3 ou para anular a reposta não provado: os motivos da íntima convicção dos julgadores estão lá, e são susceptíveis de convencer racionalmente (contradição entre testemunhas sobre o nível da renda mensal da A., superada por ter sido dado maior valor ao depoimento que, segundo a normalidade das coisas, pode muito bem aparecer como mais isento ou desinteressado da causa); foi somente apresentada prova de viva voz, quando natural seria terem sido exibidos os recibos, ou movimentos bancários com origem nas contas da A. e creditados nas contas dos pais. E mesmo que a preferência pelo depoimento da amiga e colega da A. não nos quadrasse (afinal de contas o pai melhor saberia da vida da filha), certo é não permitir a lei impor outra resposta, ou repetir, nesta parte, a audiência: rege com efeito o princípio da convicção livre, apenas censurável através de alguma irracionalidade do discurso motivador, que aqui não está patente, antes pelo contrário. Assim sendo, em face da ausência de um pedido expresso, e verdadeiramente assumido de declaração judicial da denúncia do contrato promessa, o qual por isso mesmo vem a não adquirir saliência em face de um manifesto claudicar da condenação no pagamento do sinal em dobro, ou com base no art. 830/5 CC8, e perante a inviabilidade do pedido formulado contra CCP, SA, comparece sem dificuldades a mera improcedência da Apelação. 8. Atento o exposto, vistos os arts. 442/2 e 755.f CC, e a norma acima cit., decidem manter inteiramente a sentença recorrida. 9. Custas pelos Ap.es, sucumbentes. 8 Entendemos que a norma obriga à absolvição do pedido se no final dos debates, adquirindo visibilidade a exceptio, já não houver oportunidade, nem verdadeira lógica, para a notificação judicial de prazo a fim de a A. consignar em depósito. 6
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