Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:
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- Aurélia Câmara Delgado
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1 PN ; Ag.: Tc. Ovar, 2º J. (PN 629-B/99); Ag.e 2 : Daniel Valente da Silva Vigário; Ag.o 3 : Constantino José de Almeida e Silva, cc Elza Ferreira da Costa. Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) O recorrente não se conformou com o despacho pelo qual lhe foi indeferido pedido de reconhecimento de direito de preferência na aquisição dos quinhões hereditários de José, João e Manuel Maria Vigário, levada a cabo pelo recorrido. (b) Do despacho de 1ª instância: (1) Os co-herdeiros gozam do direito de preferência, que assiste aos comproprietários, na venda ou dação em cumprimento a estranhos de um quinhão hereditário; (2) A atribuição legal desse direito de preferência tem na mira evitar a entrada de terceiros numa comunhão de raiz familiar; (3) Assim, a alienação da quota a um co-herdeiro não confere qualquer direito de preferência aos restantes descendentes não contratantes; (4) E o cessionário entra na comunhão hereditária, passa a ter os mesmos direitos e deveres do cedente, devendo ser considerado um co-herdeiro no que respeita à situação dos bens e, consequentemente não pode ser considerado estranho para o efeito do art. 2130/1 CC; (5) Por outro lado, a partir do momento em que os co-herdeiros permitam ao cessionário intrometer-se na indivisão hereditária..., deram consentimento 1 Vistos: Des. Ferreira de Sousa ( ); Des. Paiva Gonçalves ( ). 2 Adv.: Dr. Manuel de Oliveira Dias, Rua Gomes Freire, 237, 1º, Ap. 183, Ovar. 3 Adv.: Dr. Paulo Jorge Araújo, Rua Visconde de Sucena, 2291, 2º andar, Esq., S. João da Madeira. 1
2 a essa mesma intromissão, não podendo, agora, pretender evitá-la quando já está consumada, por não terem em tempo oportuno exercido outros direitos de preferência, que então detinham, sem dúvida. II. Matéria assente: (1) O presente inventário corre por morte de Zeferino Valente Vigário, falecido em ; (2) Por escritura pública, , C. Not. S. João da Madeira, os interessados Lino Vigário cc Maria Dias Valente, declararam vender, pelo preço de Pte $00, aos Ap.os o quinhão hereditário que tinham na herança ilíquida e indivisa aberta por óbito de Zeferino; (3) De tal herança fazem parte os imóveis relacionados sob a verba 1 e 2 da descrição de bens; (4) Os Ag.os declararam comprar, por escritura de , 43/100 do prédio relacionado sob a verba 2, denominado Mata da Bicha; (5) Encontra-se registada a favor dos mesmos Ap.os, a propriedade de 31/300 e ainda de 23/100, além dos 43/100 já mencionados do prédio em causa; (6) Por escritura pública, , C. Not. Ovar, os interessados José Vigário cc Dulcina Andrade, declararam vender, pelo preço de Pte $00, aos Ag.os, o quinhão hereditário que lhes pertencia na herança ilíquida e indivisa aberta por óbito de Zeferino; (7) Por escritura pública, , C. Not. Ovar, os interessados João Vigário cc Idalina Santos, declararam vender, pelo preço de Pte $00 aos Ag.os, o quinhão hereditário que detinham na herança ilíquida e indivisa aberta por óbito de Zeferino; (8) Por escritura pública, , C. Not. Ovar, os interessados Manuel Vigário cc Maria dos Santos, declararam vender, pelo preço de Pte $00 aos Ag.os, o quinhão hereditário que detinham na herança ilíquida e indivisa aberta por óbito de Zeferino. III. Cls/Alegações: 2
3 (a) Um terceiro que adquiriu um quinhão hereditário de um co-herdeiro na herança indivisa continua a ser um estranho para efeitos do direito de preferência previsto no art CC; (b) A possibilidade desse terceiro poder licitar e intervir no processo de inventário advém-lhe da habilitação ou posição de cessionário, para efeitos processuais: não lhe atribui a qualidade de co-herdeiro; (c) Não é irrelevante para a herança indivisa e seus titulares que um terceiro adquira apenas um quinhão hereditário inicialmente, e mais tarde adquira outros; (d) A qualidade de estranho, prevista no art CC, não pode prever apenas a individualidade de cada estranho, mas a quantidade da aquisição de participações sucessivas na herança indivisa; (e) A decisão recorrida contrariou, por conseguinte, o art CC: deve ser revogada, e reconhecida a preferência. IV. Contra-alegações: (a) O tribunal reconheceu, através da omissão do exercício do direito de preferência dos restantes herdeiros não contratantes, e em tempo oportuno, que os recorridos já haviam sido admitidos a intervir no processo de inventário judicial, ocupando o lugar dos cedentes; (b) Por via de tal efeito, os recorridos passaram a interessados na herança aberta, una e indivisível, na qualidade verdadeiramente de co-herdeiros; (c) E gozando do mesmo direito de preferência que assiste aos mesmos coproprietários na venda ou dação em cumprimento a estranhos na venda de um quinhão hereditário; (d) Pelo que deixaram de ser considerados estranhos à herança; (e) Deste modo, face aos factos provados, o direito está bem aplicado: o agravo deve ser julgado improcedente. V. Recurso: foi decidido por despacho nos termos do art. 705 CPC (manifesta simplicidade), com a sequência: (a) O recorrente, mau grado o esforço argumentativo, não conseguiu convencer que o cessionário do quinhão da herança conserva a qualidade de 3
4 estranho que naturalmente tinha em relação ao conjunto dos herdeiros, antes de se ter consolidado o negócio, a que podia ser oposta preferência. Na verdade, o argumento de domínio maioritário da partilha adquirido através da aquisição de todos os quinhões menos um, argumento forte das alegações, nada acrescenta quanto à estraneidade, porque justamente qualquer herdeiro, e esse não é estranho, pode obter, pela mesma via, uma posição equivalente. Como bem defende o despacho recorrido, através da cessão transmitem-se todos os direitos do herdeiro cedente, perante o quinhão hereditário, que sejam de natureza patrimonial. E é neste domínio estrito da patrimonialidade da herança que se situa a base da preferência na alienação do quinhão conferida por lei aos co-herdeiros frente a estranhos. Aqui, portanto, o cessionário já não é estranho: não é de aplicar ao caso, por isso mesmo, o art. 2130/1 CC. Não têm mérito as conclusões dos Ag.es. (b) Pelos fundamentos exactos do despacho recorrido, aceites na modalidade sintética transcrita (que ainda assim convocou uma sábia raiz no abuso de direito) foi o despacho recorrido mantido inteiramente. VI. Reclamação: nos termos do art. 700/3 CPC, sem motivos (para além de ter sido alegado: sobre esta questão não encontrou o recorrente jurisprudência) VII. Resposta: não houve. VIII. Cumpre apreciar e decidir: Nem as conclusões do recurso convencem contra a decisão recorrida, nem o fundamental do despacho reclamado contem vícios de raciocínios que justifiquem ser alterado. Por isso mesmo, e porque remete para os fundamentos apresentados em 1ª instância, tal como a lei permite, decidem do mesmo jeito manter o remate dado ao recurso: o cessionário [firme de um quinhão hereditário] já não é estranho não é de aplicar ao caso o art. 2130/1 CC, e o recorrente não goza 4
5 pois do direito de preferência, que invocou, frente à posterior cessão de outras quotas da herança. IX. Custas: pelo Ag.e, sucumbente. 5
estrada municipal; insc. mat. art (VP Aguiar).
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