PN ; Ap.: Tc. Gondomar, 1º J. (); Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:
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- Maria do Mar de Figueiredo Bergmann
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1 PN ; Ap.: Tc. Gondomar, 1º J. (); Ap.e1: Ap.a2: Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) A Ap.e discorda da improcedência dos embargos de executada, onde alegara nada dever à embargada. (b) Da sentença recorrida: (1) Em embargos de executada, veio a [embargante] referir que nada deve à [embargada], uma vez que nunca fez qualquer negócio com a mesma, sendo-lhe lícito excepcionar factos relativos à relação subjacente à emissão do título dado à execução, uma vez que embargante e embargada estão no domínio das relações imediatas; (2) De facto, do art. 22 LUC resulta, por interpretação a contrário, que no âmbito das relações imediatas (como no caso dos autos entre sacador e sacado), aquele que for accionado em virtude de um cheque, pode opor as excepções relativas à relação subjacente à sua emissão; 1 Advs.: Dr. idem. 2 Adv.: 1
2 (3) E dos autos resulta que entre embargante e embargada jamais foi realizado qualquer negócio, e que os fornecimentos subjacentes à emissão do título dado à execução foram efectuados à Sociedade Imoalbos 5 Construções, SA; (4) Porém, tal não significa que a embargante não seja responsável por aquela dívida; (5) Na verdade, com a emissão de tal cheque verificou-se a assunção de daquela dívida por parte da executada/embargante, nos termos do disposto no art. 595/1.b CC, tornando-se esta, solidariamente com a anterior, devedora, responsável pelo seu pagamento. (6) Assim, têm de proceder os presentes embargos. II. Matéria assente: (1) A Ap.a deu à execução um cheque sacado sobre a conta nº , de Alberges. Sociedade de Participações, SA, do Crédito Predial Português, no montante de Pte $00, emitido à ordem de Lupralnorte, Lda, o qual, apresentado a pagamento, foi devolvido com a menção devolvido por falta de provisão; (2) Entre a Ap.e e a Ap.a jamais foi realizado qualquer negócio, não lhe tendo aquela fornecido jamais o que quer que fosse; (3) Os fornecimentos subjacentes à emissão do título supra referido foram efectuados à Sociedade Imoalbos 5 Construções, SA. III. Justificação do julgamento de facto: (a) depoimento das testemunhas inquiridas, demonstrando ter conhecimento directo sobre os factos a que depuseram, e documentos juntos pela Embargante em Audiência; (b) Deu-se por não provado que a Imoalbos 5 é uma sociedade participada pela Embargante, gestora de participações sociais, uma vez que a prova desta circunstância só pode ser documental; 2
3 (c) Na sequência da carência de prova desta estrutura societária, ficou prejudicada a resposta ao quesito sobre se foi nessa qualidade de gestora da participação social que detinha na cliente da embargada que a embargante emitiu o cheque dado à execução. IV. Cls./Alegações: (a) Compulsada e apreciada a decisão sobre a matéria de facto no caso vertente, extrai-se, objectivamente, que a Recorrente alegou em sede de Embargos e logrou provar que, entre si e a Recorrida não foi celebrado qualquer negócio jurídico, independentemente da sua natureza3; (b) Na verdade, contra o alegado pela Recorrida no nº 2 da Petição de Execução, na qual afirma que o cheque exequendo titula o fornecimento de materiais de construção civil por si fornecidos à Recorrente, resultou provado que, os fornecimentos subjacentes à emissão do referido título, foram efectuados à sociedade Imoalbos 5 Construções, S.A.; (c) E contra o alegado pela Recorrida na sua Contestação aos Embargos, não ficou provado, nem que a Recorrente participasse no capital social da citada Imoalbos 5 e, menos que, nessa qualidade e enquanto sociedade gestora de participações sociais, tivesse emitido o cheque em apreço, ónus da prova que lhe competia4; (d) Assim, da resposta a tal matéria, não se pode, por isso, concluir que, a Recorrente seja responsável pela dívida exequenda quer, por não lhe ter sido transmitida, quer por não a ter assumido; 3 Vd. Base Instrutória: Q1. Entre a em bargante e a embargada jamais foi realizado qualquer negócio, não lhe tendo fornecido jamais o que quer que fosse? Provado; Q2. Oa fornecimentos subjacentes à emissão do título supra referido foram efectuados à Sociedade Imoalbos5 Construções, SA? Provado; Q3. Esta última é uma sociedade participada pela sociedade embargante, gestora de participações sociais? Não provado; Q4. Foi nessa qualidade que a embargante emitiu o aludido cheque? Não provado. 4 Vd, nota antecedente. 3
4 (e) No entanto e, mesmo que resultasse provada e, não resultou, esta última matéria, nem a prova dessa factualidade obrigava a Recorrente ao pagamento do cheque exequendo, porquanto, ainda que a Recorrente participasse maioritariamente ou, na totalidade, no capital da referida sociedade Imoalbos 5 (sendo certo e sem prescindir que a Recorrida não alegou tratar-se de posição dominante ou participação qualificada ou maioritária), não estava obrigada ao pagamento das dívidas desta, por se tratarem de pessoas jurídicas distintas e não estar alegado, nem demonstrado, a existência de qualquer contrato de subordinação entre uma e outra sociedade, pois, só nessa hipótese, seriam aplicáveis as regras da desconsideração; (f) É que, não existindo, nem sendo alegada pela Recorrida, a mora da sociedade subordinada, não se tendo provado a celebração de qualquer contrato de subordinação, nem a existência de qualquer relação de domínio ou, sequer de participação da Recorrente no capital social da sociedade Imoalbos 5, não pode a Recorrente ser responsabilizada por dívidas daquela, sendo, consequentemente, inaplicáveis as disposições normativas consignadas nos art.s 491 e 501 CSC: não se mostra assim afastado o princípio da separação entre uma e outra pessoa colectiva; (g) De qualquer forma, nunca resultou provado que, a Recorrente haja assumido o pagamento das mercadorias fornecidas à Imoalbos 5; bem pelo contrário; (h) Sendo a assunção de dívida de terceiro, material e formalmente um efectivo negócio jurídico, não pode a sentença recorrida concluir pela assunção da dívida exequenda por parte da Recorrente, quando foi dado como provado que entre esta e a Recorrida não foi celebrado qualquer negócio jurídico; (i) E se nenhum negócio jurídico foi celebrado entre Recorrente e Recorrida, não pode aquela ter assumido perante esta a dívida da sociedade Imoalbos 5, visto que a assunção de dívida constitui um negócio jurídico, em si próprio; (j) Ademais, não se mostra sequer alegado (e, menos provado) que com a emissão do cheque Exequendo, a Recorrente haja assumido a obrigação de pagamento da dívida exequenda; 4
5 (k) Assim apenas poderia resultar provada a assunção da dívida da Imoalbos 5 pela Recor rente perante matéria assente a condizer, que não há; (l) Ora, se a Recorrente nunca se obrigou ao pagamento dessas mercadorias e tal facto se extrai do provado, o cheque entregue nunca se poderia destinar ao seu pagamento; (m) Porém, na sentença recorrida, o tribunal veio a considerar não ter sido celebrado qualquer negócio jurídico entre Recorrente e Recorrida, e dela se extrai também que a Recorrente não assumiu a obrigação de pagamento da ajuizada dívida da sociedade Imoalbos 5; (n) Constata-se, deste modo, flagrante contradição entre a fundamentação de direito e a fundamentação de facto da sentença recorrida, pois que, por um lado, se dá como provado que entre a Recorrente e Recorrida jamais foi realizado qualquer negócio e, bem assim que, jamais foi fornecido à Recorrente pela Recorrida o que quer que fosse, ou que esta haja assumido o pagamento de qualquer dívida da sociedade Imoalbos 5 e, por outro, responsabiliza-se a Recorrente pelo pagamento da quantia titulada pelo cheque exequendo, invocada, para o efeito, a assunção de dívida por parte desta última, com base na emissão de tal cheque, sendo certo que tal matéria nem sequer foi concretamente alegada pela Recorrida e, menos, provada; (o) A sentença recorrida fez, portanto, deficiente interpretação e aplicação dos arts. 491 e 501 CSC e, bem assim, preteriu, entre outras, a norma do art. 668/1.c.d. CPC; (p) Deve ser dado provimento ao presente recurso, revogada a sentença recorrida, substituída, por outra que, julgue procedentes os Embargos de Executado: em consequência, ordene a extinção da instância executiva. V. Contra-alegações: não houve. VI. Recurso: pronto para julgamento, nos termos do art. 705 CPC. VII. Sequência: 5
6 (a) No fundamental as conclusões do recurso apresentam uma tese coerente e que levaria à procedência da Apelação; contudo, não é certo que a embargada não tenha articulado o acordo de assunção da dívida por parte da embargante e em benefício da parte inicialmente devedora, segundo contrato celebrado entre Lupralnorte e Imoalbos 5. (b) Com efeito, disse-se na Resposta:.. (7) não está vedado [à embargante] prestar serviços técnicos de administração e de gestão [em favor de Imoalbos 5];.. (9) [Circunstância que se revela já na emissão do cheque ajuizado];.. (c) E esta interpretação do segmento da peça, que o contexto impõe sem crítica meramente literal, exige agora uma apreciação da causa no âmbito e alcance do art. 712/1 CPC; é que é necessário aditar à Base Instrutória o quesito seguinte: Q5. A embargante emitiu o cheque ajuizado para liquidação da conta de fornecimentos Lupralnorte/Imoalbos 5? (d) A resposta a este quesito não é evidentemente prejudicada pela circunstância de não ter ficado provada a participação no capital social de uma das sociedades pela outra, e afinal de contas é este o cerne do debate, mas sem dados ainda não certeiros. (e) Por conseguinte, no uso dos poderes oficiosos conferidos pela disposição legal citada, vai a sentença recorrida revogada, para que se retorne à fase da Audiência a fim de ser dada resposta ao quesito acima sugerido. VIII. Custas: no final, por quem decair. 6
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