Acordam no Tribunal da Relação do Porto
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- Carlos Eduardo Aragão Castilho
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1 PN ; Ag.: Tc. Porto, 1ª V. ( Ag.e2:; Ap.os:, Acordam no Tribunal da Relação do Porto interpõe o presente Agravo do despacho que indeferiu a intervenção principal que requerera na causa que corre entre os dois recorridos, e. Esta é a matéria relevante para a decisão: (1) articulou em síntese: (i) os créditos cujo pagamento o A. reclama, podem vir a ser considerados pelo tribunal como não sendo da titularidade dele ou, então, essa titularidade, embora parcial, pode vir a ser atribuída à requerente; (ii) para esta última hipótese, foram esses créditos cedidos com caracter litigioso; (iii) por conseguinte, a requerente tem na lide um interesse paralelo ao do A. (2) Respondeu o despacho recorrido: (i) o A., com base em relações comerciais estabelecidas ao longo de alguns anos com o R., entende que tem vindo a fazer certas despesas, imputando a responsabilidade das mesmas ao segundo, e deste vem exigir o pagamento; 1 Vistos: Des. Paiva). 2 Adv.: Dra. 3 Adv.: Dr. 4 Adv.: Dr. 1
2 (ii) De entre as várias despesas alegadas, o A. veio dizer que lhe emprestara Pte $00, através do expediente contabilístico de sup rimentos de terceiros à sociedade ; (iii) Nesta parte, o tribunal decidiu no despacho saneador pela ilegitimidade: o A. teria de exigir o pagamento dos suprimentos não ao R. mas à última sociedade mencionada; (iv) Contudo, a Ag.e veio dizer afinal que as despesas efectuadas no estabelecimento do R. foram formalmente suportadas por ela, mas efectivamente suportadas pelo A., através do expediente contabilístico dos tais suprimentos; (v) E então decidiu ceder os créditos de carácter litigioso que eventualmente possuísse sobre o R., e em discussão nos autos, ao ora A. (vi) O A. é, por isso, credor da sociedade pelos montantes dos alegados suprimentos que fizeram dela sua devedora; e assim sendo, e sendo distintos os interesses de sociedade e sócio, não se entend e como é que a Ag.e diz ter cedido, entretanto, os créditos em discussão ao A., quando este já os veio reclamar como dele, antes de ocorrer tal cessão: a acção foi configurada pelo A. na posição de credor perante o R., e não, tal como sendo credora a Ag.e; (vii) Deste modo, existe sim antagonismo entre a posição agora apresentada por e a posição do A.: interesses contraditórios entre eles, incidente inviável. À decisão recorrida foram opostas as seguintes conclusões deste Agravo: (a) Veio o recurso interposto do despacho que indeferiu liminarmente a intervenção principal de ; (b) Da leitura do mesmo resulta claro para a Ag.e: (i) por um lado, o tribunal não compreendeu nem o alcance nem o sentido da cessão de créditos feita pela requerente; (ii) por outro, assumiu uma posição incongruente no que respeita à ilegitimidade do A., e perante a orientação do despacho saneador; 2
3 (c) Só assim se compreende que tenha sido proferido o despacho recorrido, com a exclusão da hipótese do caso em análise poder ser subsumido ao art. 320a/b CPC; (d) Contudo, a situação nos presentes autos não é linear do ponto de vista processual, e não o é atendendo ao carácter condicional da cessão de créditos da Ag.e em benefício d o A., característica essencial que tem, mas descurada pelo tribunal; (e) No entanto, quer a condição se verifique, quer não ocorra, sucede que a Ag.e possui sempre um interesse paralelo ao do A., o qual se traduz no reconhecimento da totalidade dos créditos por este invocados; (f) A questão da titularidade desses mesmos créditos é que fará ou não funcionar a cessão de créditos, hipótese em que terá então um interesse ainda mais forte, directo, na medida em que a Ag.e terá direito a receber o preço resultante da cessão; (g) Ora, é precisamente esta mesma titularidade que constitui matéria controvertida ainda, ou seja, aquela matéria que diz respeito a ter a requerente um necessário interesse idêntico e paralelo ao do A., relativamente ao objecto da causa (na medida em que o que pretende é a prova da totalidade dos créditos invocados por este no pedido), e faz com que ela faça valer um direito próprio e igual; (h) Atendendo porém à configuração dada pelo A. à relação controvertida (uma única relação do ponto de vista material, ainda que com intervenção meramente formal e parcial da Ag.e, é a situação sub judice recondutível à modalidade de litisconsórcio voluntário e, como tal, subsumível a art. 320a CPC ; (i) Na realidade, a Ag.e, ainda que por via indirecta (consubstanciada no teor da declaração junta aos autos), vem a juízo para fazer vin gar um direito seu, que coexiste com o do A., parte principal, e o q eu faz cair por terra aquilo que é afirmado no despacho recorrido: a requerente não vir fazer valer um direito próprio em paralelismo com o do A.; (j) Acresce ainda que o tribunal recorrido, ao afirmar que a relação material controvertida, tal como se apresenta configurada pelo A., não respeita à interveniente, adopta, atenta a orientação afirmad a no despacho saneador, uma posição inconsistente, senão mesmo incongruente; 3
4 (k) Por isso, uma das perguntas que a Ag.e aqui deixa ao tribunal de recurso é esta: como pode (segundo o tribunal recorrido), em sede d e san eador, competir à requerente accionar o pagamento ao R. e, em sede de incidente de intervenção principal espontânea, não ser admitido à mesma que o faça, atenta a relação material controvertida configurada? (l) E não se objecte com o facto de a Ag.e ter invocado no seu requerimento o art. 320a CPC: (i) por um lado, o tribunal de 1ª instância não se encontra, neste âmbito, limitado no que respeita a considerações de direito, mas tão somente à alegação dos factos (vale o princípio da assistência, art. 275 CPC); (ii) por outro lado, entendeu o mesmo tribunal não ser igualmente aplicável o disposto no art. 320b CPC (extemporaneidade; não verificação dos pressupostos legais do instituto em causa); (m) Ainda assim, outro reflexo da incongruência do tribunal recorrido reside na interpretação e sentido dados à declaração junta pela Ag.e com o requerimento de intervenção principal espontânea; (n) É que, com excepção da cessão de créditos, de carácter condicional, o que agora e afinal a recorrente vem dizer não é mais do que já se encontrava dito nos autos pelo A.; (o) Ainda mais: a cessão de créditos constante da referida declaração assume até todo o sentido, atenta a posição do tribunal no que respeita à ilegitimidade parcial do A., afirmada no despacho saneador; (p) Assim sendo, não há antagonismo entre a posição ora apresentada pela Ag.e e a posição do A. e [falha portanto o seguimento da proposição]: existindo, como existem, interesses contraditórios entre eles mostra-se inviável o incidente deduzido; (q) O tribunal recorrido, então, ao afirmar a existência de interesses distintos (resultantes da cessão ocorrida entretanto entre A. e Ag.e; e da circunstância de o A. já ter vindo reclamar esses mesmo créditos como seus) par ece olvidar a solução dada no despacho saneador, a qual, antes da fase de produção de prova, optou por excluir parte desses mesmos créditos, ao julgar, ainda que parcialmente, o A. parte ilegítima; 4
5 (r) Mas faz todo o sentido que os mesmos créditos sejam cedidos por quem tem legitimidade para o fazer: a Ag.e; (s) Ago ra, no que diz respeito ao afastamento da intervenção principal provocada atrav és do art. 320b CPC, não colhe o argumento invocado no despacho recorrido de o requerimento apresentado pela Ag.e se revelar extemporâneo, atenta a fase pro cessual em que os autos se encontram e o obstáculo do art. 322/1 in fine CPC, norma segundo a qual só é admissível enquanto o interveniente possa deduzir a sua pretensão em articulado próprio; (t) E não colhe na medida em que a Ag.e podia, no caso sub judice, apresentar articulado superveniente, e até à audiência, art. 506/3c CPC: a cessão de créditos ocorreu já depois da designação da data para julgamento (não há extemporaneidade liminar); (u) Entretanto, outro argumento invocado pelo despacho recorrido para afastar a intervenção principal com base neste preceito legal consiste na ausência dos pressupostos do art. 30 CPC; (v) Ora sucede que apesar de ter sido invocado no requerimento de intervenção principal o art. 320a C PC, não foi afastada a possibilidade de a situação sub judice se subsumir ao art. 320b do mesmo Código, atentos os contornos sui generis dela, e a prerrogativa de direcção do processo que assiste ao juiz; (w) De facto, se atend ermos à relação invocada pelo A. do ponto de vista meramente formal, tal como foi feito no despacho saneador, desembocamos não em uma mas em duas relações jurídica controvertidas (ainda que entre elas exista identidade da causa de pedir e relação de prejudicialidade ou dependência dos pedidos), dado que o reconhecimento dos créditos de que a Ag.e seja considerada em juízo titular dependerá da solução dada à totalidade dos créditos materialmente invocados pelo A.; (x) Deste modo, por força do art. 320a ou do art. 320b CPC, conforme a perspectiva adoptada acerca da relação material configurad a pelo A., certo é que estão reunidos os pressupostos processuais necessários para a admissão da Ag.e como parte principal; (y) Face ao exposto, não deveria ter sido rejeitado liminarmente a intervenção principal requerida pela Ag.e: o despacho recorrido será revogado e mandada seguir a causa. 5
6 Não houve contra-alegações. O recurso foi apreciado e decidido nos termos do disposto no art. 705 CPC. Trata-se aqui de pedir ao R. um certo pagamento de um débito perante o qual o A., desde o início da lide, afirma ter a posição de credor, porém sustentando ter financiado o devedor através do expediente de certos suprimentos entregues à recorrente. Julgado o R. parte ilegítima, perante este cenário, e muito bem, foi então a vez de a Ag.e exibir uma cessão desses créditos ao A. [créditos que tinha sobre o R., por lhe ter transmitido o produto líquido dos suprimentos] e, em alternativa, requerer a intervenção principal, para prosseguimento da lide quanto a este tema, porque se o A. não for o credor do R., então é ela a credora, e é a ela que o R. deve pagar. Perante este [novo] desenho das coisas, decerto que não há posições contraditórias ou contrapostas entre o A. e a Ag.e. Depois, também o pedido está em tempo, no limite balizado pela data da cessão posterior aos articulados. Mas haverá paralelismo? Parece que não, trata-se de dívidas bem distintas, na sua origem e titularidade: não há uma única ou unificada relação material controvertida, nem direito nem obrigação comum; a lei e o negócio também não exigem a interven ção de ambos, A. e Ag.e, nem esta é condição para que se produza o efeito útil normal da decisão. Por outro lado, os pedidos não estão ainda assim numa relação de prejudicialidade ou dependência, nem depend em enfim da apreciação dos mesmos factos, nem se sabe se é o caso de haver identidade de cláusulas em contratos análogos, suscitada aplicação da mesma norma de direito. Por conseguinte, não estando presentes os elementos de fundo que autorizam a intervenção espontânea nos termos do art. 320a.b CPC, foi mantida inteiramente a decisão recorrida. 6
7 Veio,, Lda requerer quer a rectificação, por erro de escrita, da decisão singular, quer dela reclamar, nos termos do art. 700/3 CPC: (a) Onde ficou escrito [na decisão singular] julgado o R. parte ilegítima, queria concerteza ter sido dito julg ado o A. parte legítima, ou mais precisamente, e como determinou o despacho saneador, nesta parte ainda não transitada, julgados A. e R. partes ilegítimas; (b) Por outro lado, na base d o despacho reclamado esteve a consideração da ausência de paralelismo entre os interesses da Ag.e e do A., e a ausência da relação de dependência entre os pedidos formulados; por conseguinte: inaplicabilidade à situação sub judice do instituto da intervenção principal espontânea; (c) Contudo, a reclamante tem opinião contrário: ambas as situações resultam claramente demonstradas nas alegações do Agravo, e também do despacho recorrido, que no entanto indeferiu liminarmente a interven ção p rincip al da Ag.e. Cumpre apreciar e decidir. Parece não haver o erro de escrita enunciado pela reclamante. A perspectiva discursiva da decisão singular necessita simplesmente da ilegitimidade do R.5 e é a própria Ag.e que aqui refere tê-lo o despacho saneador declarado (também) parte ilegítima. De seguida, os argumentos da reclamação não convencem per ante o que ficou demonstrado, com facilidade, no despacho em crise. Verd adeiramente não há novos argumentos e, por isso mesmo, não há motivo de inflectir o rumo tomado no encerramento do incidente. Mantêm-se portanto o despacho singular pelas razões que foram dele e fazendo apelo justamente a uma aplicação do art. 320a.b CPC, intocada a decisão recorrida. Custas: pela Ag.e, sucumbente. 5 Vd. estrutura d o pedido A ped e, sem mais, a B que lhe pague quantia em numerário entregue a C: o R. não tem interesse directo em contradizer, art. 26/2 CPC. 7
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