urbana da Freguesia de Salvador, Beja, sob o Artº 627º. 2. Alegou em síntese:

Transcrição

1 PN 995/98 Ap.te, Ap.dos, Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. A Ap.te, em , pediu o despejo judicial dos Ap.dos de parte do prédio urbano sito na Rua, inscrito na matriz predial urbana da Freguesia de Salvador, Beja, sob o Artº 627º. 2. Alegou em síntese: (a) é dona do prédio em causa, que adquiriu por partilha da herança de em ; (b) por escrito de , a cabeça de casal da herança deu de arrendamento aos Ap.dos, para habitação, algumas divisões do prédio; (c) com a partilha cessaram os poderes de administração da cabeça de casal; (d) pelo que ocorreu a caducidade do contrato de arrendamento (artº 1051º/1 CC); (e) a partilha foi comunicada aos Ap.dos por carta que receberam em ; (f) e não usaram da faculdade prevista nos artigos 90º-66º RAU. 3. A Ap.da contestou e deduziu reconvenção (o direito ao arrendamento foi-lhe comprovadamente devolvido por homologação de acordo em divórcio por mútuo consentimento de ), alegando: 1

2 (a) o arrendamento foi celebrado verbalmente, em 1975, com o de cujus e, imediatamente passou a ocupar o prédio, com o marido; (b) mas o escrito só foi levado a cabo após a morte do locador; (c) ainda que o contrato tivesse sido celebrado pela cabeça de casal, manteve a utilização do locado muito para além de 1986, sem oposição da Ap.te; (d) por outro lado, o locado necessita de obras urgentes, que a senhoria recusou, e que importarão no dispêndio de PTE $00, PTE $00 já investidos. Opõe portanto ao pedido a anulabilidade do consenso resultante do escrito, quando faz reportar o início arrendamento a , e à cabeça de casal (artigos 247º e 287º/2 CC); e a excepção fundada nos artigos 1054º e 1056º CC. Pede a condenação da Ap.te no preço das obras, com os juros desde a notificação da contestação. 4. Na resposta a Ap.te sustentou: (a) o contrato de arrendamento teve início na data que consta do escrito e não antes; (b) operando com a partilha a caducidade do arrendamento, só a partir de então estaria habilitada a decidir sobre o prédio; (c) as obras estão apenas orçamentadas; (d) improcede a defesa e o pedido reconvencional. 5. Foi dado como provado: (a) a Ap.te é proprietária do prédio urbano sito em Beja,, inscrito na matriz predial urbana da Freguesia de Salvador, sob o Artº 627º; (b) por contrato reduzido a escrito em ,, na qualidade de cabeça de casal da herança 2

3 aberta por óbito de, de que fazia parte o referido prédio, deu de arrendamento aos Ap.dos, para habitação: a sala de estar, a sala de jantar hall e corredor, copa e cozinha (no rés-do-chão), quatro quartos, casa de banho, retrete e a escada que une os dois pisos, alpendre e jardim (no rés-do-chão), garagem e respectivo sotão; (c) tal contrato foi celebrado pelo prazo de seis meses, com início em , mediante a renda mensal de PTE 6 000$00; (d) em foi feita a partilha da herança em causa, pela qual foi adjudicada à Ap.te a propriedade plena do referido prédio; (e) a partilha foi comunicada à Ap.da por carta de , recebida em ; (f) a Ap.da não comunicou à Ap.te qualquer intenção de celebrar novo contrato; (g) em Maio de 1996, a irmã da Ap.te subscreveu uma carta que a Ap.da recebeu, a anunciar a actualização da renda a partir de Julho seguinte; (h) em Novembro de 1986 a Ap.da recebeu uma carta, subscrita pela Ap.te, a comunicar-lhe a actualização da renda a partir de Janeiro de 1987; (i) em , e , a irmã da Ap.te subscreveu cartas a comunicar à Ap.da os aumentos da renda; (j) antes de Janeiro de 1992, a Ap.te enviou uma carta à Ap.da para comunicar o aumento da renda a partir desse mês; (l) em e , a irmã da Ap.te subscreveu cartas a comunicar à Ap.da aumentos de renda. 6. A decisão recorrida pronunciou-se pela aplicação da lei do tempo do facto que opera a caducidade, analisando a situação à luz do Código Civil e do regime da locação nele previsto, não no regime RAU. Por isso, dado que a Ap.da se manteve no locado durante 10 anos depois da cessação do cabecelato, sem oposição do locador, concluiu ter havido uma renovação do arrendamento nos termos do artº 1056º CC. No entanto, pela dependência estrita, relativamente ao principal, do pedido reconvencional, absolveu a Ap.te da instância, enquanto absolvia do pedido a Ap.da. 3

4 7. Concluiu a Ap.te: (a) a data constante do artº 8º da PI está erradamente indicada, por manifesto erro de escrita; (b) na realidade, a escritura de partilha foi outorgada em e não em ; (c) dos autos consta cópia da escritura, que diz junta na redacção do referido artigo da PI: consta portanto a data correcta, (d) e a escritura é documento autêntico que contraria o teor da decisão em matéria de facto; (e) a alegação de data diferente, por manifesto erro, não pode ainda assim ilidir a prova da data da escritura, constante da mesma, dado que a prova desse facto só poderá ser feita por certidão, ou por documento de valor superior, em face dela e se lhe tivesse sido oposta falsidade; (f) o simples erro de alegação não tem esse valor probatório; (g) aliás, em nenhum lugar dos articulados foi referido, como se diz na decisão recorrida, que a partilha foi outorgada em ; (h) houve assim uma incorrecta fixação dos factos, uma vez que de documento autêntico consta data diversa da que foi tida em consideração na sentença; (i) e consequentemente deverá a decisão recorrida ser revogada, ordenando-se o prosseguimento dos autos; (j) ou, rectificado o engano, passando a considerar-se a data de , como de cessação do cabecelato, reformada a decisão, com procedência do pedido. 8. A Ap.da não contra-alegou, e o recurso está pronto para decisão. 9. Como bem se defende na sentença recorrida é aplicável ao caso a lei do tempo da ocorrência do facto que determina a caducidade. E na verdade a confissão, ainda que espontânea e crida, não faz prova, nem pode ser oposta, a documento autêntico. Ora, a escritura de partilha é documento autêntico e consubstancial. Dela decorre que a 4

5 partilha foi celebrada não em mas em Assim, visto o disposto no artº 712º/1a CPC há que alterar, antes de tudo, a matéria de facto dada como provada, e no sentido do ajustamento proposto. Depois, fazer aplicação dos artigos 60º, 90º e 94º/1.4 RAU. Ora, porque a Ap.da não exerceu, mediante declaração escrita, enviada ao senhorio nos trinta dias subsequentes à data em que teve conhecimento dos factos que importavam a caducidade do contrato anterior, o direito ao novo arrendamento, teria de considerar-se procedente o pedido da Ap.te, acaso não fosse matéria controvertida, a existência mesma do contrato celebrado pela cabeça de casal. 10. Mas como assim é (a Ap.da diz ter sido celebrado o arrendamento em 1975 pelo de cujus), e porque sempre seria necessário continuar a discussão acerca da indemnização pedida na reconvenção, tem de concluir-se que a causa não está ainda preparada para julgamento. Ora, estamos na fase da condensação, e é por isso necessário organizar a especificação e o questionário, enquanto se decida também da singular posição do Ap.do, em face da comprovada transmissão do arrendamento em favor da Ap.da. 11. Assim sendo, decidem dar provimento ao recurso, pelo mérito das conclusões, revogando a decisão recorrida, para ser substituída por outra no âmbito do disposto no artº 510ºCPC. 12. Sem custas pela Ap.da sucumbente que por enquanto as não satisfará por beneficiar de apoio judiciário. 5