PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO

Transcrição

1 ORDEM DOS ADVOGADOS CNEF / CNA Comissão Nacional de Estágio e Formação / Comissão Nacional de Avaliação PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO Questões de Deontologia Profissional (6 valores) e de Prática Processual Civil (7 valores) 22 de Outubro de 2005

2 I DEONTOLOGIA PROFISSIONAL O Manuel e a Maria são casados, têm dois filhos, e trabalhavam ambos na fábrica de calçado Botas e Sapatos, Lda, cuja falência foi judicialmente decretada em Janeiro de No final desse mesmo ano, o Manuel conseguiu encontrar um emprego, mas a Maria continua desempregada. Por causa da sua desesperada situação económica, no início de 2004 deixaram de pagar os montantes devidos ao Banco Milhões, pela utilização de uma linha de crédito associada aos cartões que ambos usam para pagar as despesas correntes da família. Em Julho de 2005, o Banco enviou-lhes uma carta, reclamando o pagamento da totalidade das quantias em dívida, sob pena de ser forçado a recorrer às competentes vias judiciais. A Maria quer vender a casa onde residem, para pagar a dívida, mas o Manuel recusa-se a aceitar essa solução, que reputa de muito drástica, e pretende, antes, encontrar uma forma de evitar a penhora do imóvel, na execução que o Banco, mais tarde ou mais cedo, vai instaurar. Uma vez que não chegam a acordo sobre o que devem fazer, o Manuel e a Maria decidem, então, consultar um advogado. 1. Imagine que é o advogado que Manuel e Maria procuram para obter conselho. Considerando a situação de facto acima descrita, e ainda as posições de ambos relativamente ao assunto, aceitaria aconselhá-los? Em caso afirmativo, tendo em vista os seus deveres estatutários, que conselho lhes daria? (Pontuação: 3 valores) 2. Suponha que antes de falarem consigo, o Manuel e a Maria conversaram com o cunhado de Manuel, António, e que este último

3 está disposto a adquirir formalmente o direito de propriedade sobre o imóvel, e a assumir o compromisso de voltar a transmitir-lhes tal direito, logo que os problemas com o Banco sejam ultrapassados. Durante a reunião que ambos mantêm consigo, no seu escritório, a Maria declara que está disposta a aceitar esta solução desde que V. aceite tratar da formalização do negócio com o António, para que as coisas fiquem bem feitas e ninguém venha a ter problemas, e aceite, ainda, negociar o pagamento da dívida com o banco. Aceitaria estas incumbências? (Pontuação: 2 valores) 3. Durante a reunião, o Manuel e a Maria referem-lhe, igualmente, que gostariam de fixar, antecipadamente, o montante dos seus honorários, pretendendo, ainda, que tal montante varie em função do pagamento a efectuar ao Banco (ou seja, quanto menor fôr a quantia a entregar ao Banco, mais elevados serão os honorários do advogado). Aceitaria fixar os honorários e, em caso afirmativo, afigura-se-lhe possível aceitar que os mesmos sejam fixados nos termos pretendidos pelos clientes? (Pontuação: 1 valor) Justifique todas as respostas indicando os preceitos aplicáveis do E.O.A. São critérios de avaliação: o conhecimento demonstrado sobre as matérias em causa; a pertinência do conteúdo; a organização da exposição; a capacidade de argumentação e de síntese; o domínio da língua portuguesa.

4 II Prática Processual Civil Exmº. Senhor Juiz de Direito dos Juízos Cíveis de LISBOA ANTÓNIO PROPRIETÁRIO, casado, residente na Rua da Alegria, em Lisboa, contribuinte nº , Vem propor acção de despejo, com processo sumário, contra, MANUEL LOCATÁRIO, casado, residente na Rua Volta que não Volta, nº 1, 1º andar, em Leiria; Nos termos e com os seguintes fundamentos: 1. O Autor e a sua mulher Felismina, são donos e legítimos proprietários do apartamento correspondente ao 1º andar, do prédio sito na Rua Volta que não Volta, nº 1, em Leiria, e inscrito na matriz predial da freguesia das Cortes sob o artigo 1111; 2. Por contrato de arrendamento, celebrado em 1 de Junho de 2000, contrato este reduzido a escrito, outorgado por Autor e Réu, respectivamente, aquele cedeu a este o uso e fruição da fracção anteriormente descrita, com vista a constituir ali o seu domicílio e de sua família. (doc. 1); 3. O contrato foi celebrado com a duração limitada de 5 anos, com início em 1 de Janeiro de 2000 e com termo em 31 de Dezembro de 2004; 4. Foi estipulada a renda anual inicial de 4.800,00, correspondente às rendas mensais de 400,00, que se vencem no 1º dia útil do mês anterior àquele a que dizem respeito;

5 5. Ficou estipulado que as rendas obedeciam ao regime de renda livre e deveriam ser pagas ao Autor na residência deste; 6. O Réu não pagou ao Autor as rendas relativas aos meses de Maio e Junho de 2000, que deveriam ter sido pagas nos dias 1 dos meses de Abril e Maio, respectivamente; 7. Já por diversas vezes o Autor solicitou ao Réu o pagamento dessas mesmas rendas, no montante total de 800,00, mas este até à data tem-se recusado a fazê-lo. 8. Existe mora por parte do Réu, pelo que este deve pagar ao Autor, ainda, os respectivos juros os quais somam, a quantia de 236, Em 2 de Maio de 2004 o Autor esteve no arrendado, com o consentimento do Réu, tendo constatado que este realizara obras que alteraram a estrutura das respectivas divisões. 10. Com efeito, eliminou uma parede que dividia um quarto de uma sala e transformou estas duas divisões numa sala comum mais ampla. 11. O Autor não deu o seu consentimento à realização de tais obras. 12. Por tudo isto assiste o direito de resolver o contrato de arrendamento e, consequentemente, a obter o despejo imediato da fracção arrendada, nos termos das alíneas a) e d), nº 1, do artigo 64º do RAU; 13. Devendo a fracção arrendada ser imediatamente entregue pelo Réu ao Autor, inteiramente livre e devoluta de pessoas e bens; 14. O Autor exige, ainda, que o Réu lhe pague uma indemnização correspondente ao valor das obras necessárias com vista à reposição do arrendado no estado anterior às que ele realizou. 15. Estimando-se, provisoriamente, o custo das mesmas em 1.500,00. Nestes termos e nos mais de direito, deve a presente acção ser julgada provada e procedente e, em consequência, ser o Réu condenado: a) a ver resolvido, de imediato, o contrato de arrendamento, ordenando-se o despejo da fracção arrendada; b) a entregar ao Autor o local arrendado, livre e devoluto de pessoas e bens;

6 c) a pagar ao Autor as rendas em dívida, no montante de 800,00, bem como os juros de mora, às taxas legais de 7% e 4% vencidas até ao dia 28/4/2005, no montante de 236,95, bem como as que se vencerem até integral pagamento. d)- a pagar ao Autor o valor das obras necessárias para a reposição do arrendado no estado em que este se encontrava anteriormente, valor a determinar na fase de liquidação da sentença, mas que provisoriamente se fixa em 1.500,00.. f)- em custas e procuradoria. Citado o Réu para contestar, querendo, no prazo e sob cominação legal, deverão os presentes prosseguir os seus termos até final. VALOR: 7.336,95 SETE MIL TREZENTOS E TRINTA E SEIS EUROS E NOVENTA E CINCO CÊNTIMOS; JUNTA: Duplicados, procuração, 1 documento, cópias legais e comprovativo do pagamento da taxa de justiça inicial, NIP O ADVOGADO

7 ENUNCIADO 1- Na qualidade de Advogada(o), é procurada(o) pelo Manuel Locatário o qual lhe solicita que defenda os seus interesses na acção de despejo, para a qual foi, pessoalmente, citado em 8/7/2005, tendo o carimbo de entrada em Tribunal do dia 28/4/ O seu cliente dá-lhe conhecimento de que a parede que retirou era, apenas, uma parede divisória, sem qualquer outra função. 3- O seu cliente dá-lhe conhecimento de que realizou obras no arrendado, substituição da canalização de água, no que despendeu a quantia de 2.500,00, pretendendo ser ressarcido dessa importância. a)- Elabore a respectiva peça processual com vista à defesa dos interesses do seu cliente, alegando tudo quanto seja legítimo com vista a alcançar este objectivo (6,5 valores). b)- Diga qual o último dia em que pode apresentar em Tribunal aquela peça processual, sem pagamento de qualquer multa (0,5 valores). Nota São critérios de avaliação: o conhecimento demonstrado sobre as matérias em causa; a pertinência do conteúdo; a organização da exposição; a capacidade de argumentação e de síntese; o domínio da língua portuguesa.