Vistos etc. I.- Trata-se de AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO proposta por JUDITH GONÇALVES DA SILVA em face de

Transcrição

1 fls. 164 SENTENÇA Processo nº: Procedimento Comum Requerente: Judith Gonçalves da Silva Requerido: Uniproperties Empreendimentos Imobiliários Ltda. Eximo. Sr. Dr. Juiz Ademir Modesto de Souza. Vistos etc. I.- Trata-se de AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO proposta por JUDITH GONÇALVES DA SILVA em face de UNIPROPERTIES EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, em que a autora, alegando ter celebrado um contrato de compromisso de compra e venda de imóvel com a ré, aduz que o negócio ficou inviabilizado pela impossibilidade de financiamento de parte do preço convencionado, ante a existência de uma hipoteca constituída em favor do Itaú Unibanco S/A e do imóvel estar matriculado em nome de Esser Nice Empreendimentos Imobiliários Ltda. Sustenta que a inviabilização do negócio decorreu de culpa da ré, o que a obriga, por efeito da rescisão do contrato, a lhe restituir a totalidade das quantias que pagou, além de lhe devolver o valor de despesas de condomínio cujo pagamento também realizou. Em razão disso, pretende a rescisão do contrato celebrado com a ré e sua condenação à restituição da

2 fls. 165 totalidade das quantias que lhe foram pagas, além das despesas condominiais cujo pagamento também realizou, protestando pelo deferimento de tutela provisório, visando à suspensão da exigibilidade das prestações vincendas a que está obrigada a pagar e a compelir a ré a se abster de promover o apontamento do débito relacionado às prestações não pagas, em cadastros de inadimplentes de órgãos de proteção ao crédito (fls. 01/24). Com a inicial foram juntados os documentos de fls. 25/110. Deferida a tutela antecipada (fls. 116/117), a ré foi regularmente citada (fls. 120) e apresentou contestação, oportunidade em que protestou pela improcedência das pretensões deduzidas na inicial, sustentando, em síntese, a inexistência de justo motivo para a rescisão contratual, pois a constituição de hipoteca de todas as unidades do empreendimento decorreu de erro da incorporadora Esser, o que a levou a propor à autora a posse imediata do imóvel sem o pagamento do restante do preço que seria financiado, proposta que ele não aceitou, aduzindo que a quantia paga para a satisfação das despesas condominiais são insuscetíveis de devolução e que, em caso de rescisão do contrato, deve se respeitar a cláusula que impõe o perdimento de 40% (quarenta por cento) dos valores pagos, devendo os juros de mora sobre as prestações a serem restituídas serem contados da citação, e não dos respectivos desembolsos (fls. 121/132). Com a contestação foram juntados os documentos de fls. 133/143. de sua pretensão (fls. 146/163). Em sua réplica, a autora reiterou os termos

3 fls. 166 É o relatório. II.- D E C I D O. 1.- A presente ação comporta julgamento antecipado, pois, apesar de a questão de mérito ser de direito e de fato, a prova produzida nestes autos é suficiente à solução da lide. 2.- O inadimplemento contratual da ré é manifesto, pois, apesar de ter anuído expressamente com que parte substancial do preço fosse paga mediante financiamento (fls. 38), inviabilizou a obtenção deste pela autora ao permitir que as unidades que construiu fossem gravadas com hipoteca. De fato, a obtenção de um financiamento imobiliário exige que o imóvel esteja livre de quaisquer ônus, já que ele será dado em garantia hipotecária ou fiduciária ao agente financeiro por ocasião da liberação do crédito ao financiado. Ademais, mesmo que a autora se dispusesse a quitar o saldo devedor do compra e venda com recursos próprios, a ré não teria condições de lhe entregar o imóvel prometido à venda, já que o referido bem está em nome de terceiro. Justa, portanto, a recusa da autora em receber as chaves do imóvel, mesmo sem a quitação do saldo devedor do preço, o que também o desobriga pelo pagamento das cotas de despesas condominiais, já que o adquirente só responsável por seu pagamento após sua imissão na posse do

4 fls. 167 imóvel adquirido. 3.- Em razão do manifesto inadimplemento contratual da ré, tem a autora direito à rescisão do contrato, o que implica a reposição das partes ao estado anterior à contratação, obrigando a ré a restituir à autora a totalidade das prestações por ele pagas, bem como os valores das cotas de despesas condominiais que ele comprovadamente pagou. 4.- Ao contrário do que sustentou a ré, não é permitida qualquer retenção no valor a ser restituído à autora, pois a retenção prevista no contrato com ele celebrado diz respeito à hipótese de desistência do negócio, vale dizer, à hipótese de rescisão sem culpa, o que não é o caso, porquanto manifesto o inadimplemento contratual da ré. 5.- Resta destacar que a restituição devida à autora deve ser realizada em uma única parcela, já que o imóvel por ele adquirido ficará disponível à ré para revenda, devendo o valor de cada parcela ser corrigida desde o respectivo desembolso, incidindo sobre o montante total corrigido juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, desde a citação, quando se configurou a mora da ré. III.- Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados na presente AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO ajuizada por JUDITH GONÇALVES DA SILVA em face de UNIPROPERTIES EMPREENDIMENTOS

5 fls. 168 IMOBILIÁRIOS LTDA, a fim de CONDENAR a ré a restituir à autora a totalidade das quantias por ela comprovadamente pagas para amortização do preço do imóvel descrito na inicial, bem como a totalidade dos valores das cotas de despesas condominiais que comprovadamente quitou, com correção monetária pelos índices da tabela prática de atualização de débitos judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo a partir de cada desembolso, com acréscimo de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação. Pela sucumbência, arcará a ré com as custas e despesas processuais e pagará honorários advocatícios, que ficam arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor total da condenação. P. R. Intimem-se. São Paulo, 13 de junho de ADEMIR MODESTO DE SOUZA JUIZ DE DIREITO (assinatura digital)