Acordam no Tribunal da Relação de Évora

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Adelina Carneiro Galvão
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1 PN ; AP.: TC. Vila Real de Sto. António; Ap.e2: Ap.a3: Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1. A Ap.a [A.] pediu a condenação da Ap.e [R.] a remover parte do caminho traçado no prédio rústico, sito em Alagoa, inscrito na matriz sob o art. 170º, e descrito na C. Reg. P. Castro Marim, sob o nº 617, , Lv. B10, fls. 11B, deixando o terreno e a vedação no estado primitivo, bem como a pagar-lhe uma indemnização de montante não inferior a Pte.: $00, pelos danos patrimoniais e não patrimoniais que lhe determinou com a invasão da propriedade alheia. 2. Alegou em síntese: a) É dona e legítima proprietária do prédio em questão, que confronta a S. com um terreno onde a R. se encontra a construir um prédio; b) A R. traçou, junto à extrema S. do prédio da A., um caminho que ocupa uma faixa de 2,1 m de largura por 63 m de comprimento; c) Um dos passeios e metade da faixa de rodagem invadem o terreno que é pertença da A.; d) Para o efeito, a R. derrubou uma parte da vedação que a A. levantara para defesa do prédio de que é dona; e) Após ter parado a obra, a R. reiniciou-a, alcatroando e assentando os lambrins do passeio; 1 ML (50399); MM (12299). 2 Adv.: Dr. 3 Adv.: Dr. 1

2 f) O caminho traçado pela R. destina-se exclusivamente ao acesso ao edifício de construção que leva a efeito; g) A A. nunca autorizou a ocupação; h) A conduta da R. tem levado a frequentes deslocações da A. ao Algarve, com as inerentes despesas e aborrecimentos. 3. A R. não apresentou contestação atempada. 4. Ficou provado, perante o que resulta da PI e dos documentos juntos: a) A A. é dona e legítima possuidora de um prédio rústico, sito em Alagoa,, sobre o qual a R. traçou um caminho de acesso ao prédio confinante, de pertença desta, ocupando a área de 321,8 m2; b) Para a realização destas obras, a R. destruiu parte de uma vedação que circundava o prédio da A., estacionando as máquinas no terreno do mesmo, tudo sem qualquer autorização do dono. 5. Com base nestes factos, segundo o disposto nos arts. 483º, 496º e 1305º CC, a sentença recorrida julgou procedente o pedido, mas para liquidação em execução de sentença da indemnização. 6. Concluiu a recorrente: a) A decisão recorrida é nula por violar o disposto no art. 659º/2 CPC (cf. Art. 668º/1b), pelo que deve ser revogada; b) Ou de todo o modo a matéria de facto dada como provada não permite concluir pela condenação da recorrente, devendo ser substituída por decisão que absolva a R. dos pedidos. 7. Nas contra-alegações disse-se: 2

3 a) A decisão que admitiu o presente recurso violou o disposto nos arts. 667º/2, 670º/4 e 677º CPC, por erro de interpretação; b) Em todo o caso, a decisão recorrida não padece dos defeitos alegados pela recorrente, devendo por isso ser confirmada. 8. O recurso está pronto para julgamento. 9. Pode e deve conhecer-se da questão prévia levantada pela Ap.a, dado que não fazem caso julgado quer o deferimento da reclamação por não recebimento do recurso, quer o despacho tabelar subsequente. Para se aferir do mérito da mesma, tenham-se em consideração os seguintes dados: (1) A sentença recorrida foi proferida em ; (2) E foi notificada por carta expedida em ; (3) Em , a R. foi notificada, ao abrigo do disposto no art. 64º/1 a CCJ, para examinar a conta e impugnar ou pagar as custas da sua responsabilidade; (4) Em , a A., já depois de ter apresentado execução da sentença (prestação de facto), requereu a rectificação de lapso material, deferida: enquanto na 1ª versão ficou escrito que a faixa de terreno do prédio de ocupada abusivamente tinha 2,10 m de largura por 63 m de comprimento, na segunda, ficou a constar que a faixa em questão tinha uma área total de 321,8 m2, e de acordo com o que resultou da substituição da PI; (5) Deste deferimento interpôs, a R., recurso de agravo (art. 667º/2 CPC); (6) No dia seguinte, , a mesma R. interpôs o presente recurso de apelação: o prazo de interposição começou a correr com a notificação do despacho que decidiu o requerimento de rectificação (art. 686º/1 CPC); (7) O agravo foi admitido, mas já não a apelação, por extemporânea: o disposto no art. 686º/1 CPC não é aplicável à R., na medida em que não foi ela quem requereu a rectificação da sentença (caso contrário, careceria de qualquer utilidade o disposto no art. 670º/4 CPC); 3

4 (8) Com a reacção, nos termos do art. 688º CPC, foi proferida decisão que mandou receber a apelação: a sentença rectificada só chegou ao conhecimento da R. por notificação de , pelo que o requerimento de recurso dessa sentença [está em tempo]; dispõe o art. 670º/4 CPC que [neste caso] a parte prejudicada com alteração da decisão pode recorrer, mesmo que a causa esteja compreendida na alçada do tribunal; e resulta do disposto no nº 2 do art. 670º CPC, conexionado com o art. 667º/2, última parte, que do despacho que deferir a rectificação da primitiva sentença cabe agravo, que aliás já foi recebido; do mesmo modo resulta do disposto nos nºs 2 e 4 que, passando o despacho rectificativo a fazer parte complementar e integrante da primitiva sentença, que esta sentença alterada pode ser impugnada pela parte prejudicada, cabendo desta recurso de apelação, a interpor no prazo legal, contado da notificação da rectificada, conforme dispõe o art. 685º/1 CPC, e não por aplicação do preceituado no art. 686º/1; a sentença rectificada é uma nova decisão, como aliás resulta do art. 686º/2 CPC e, assim o facto de a reclamante não ter recorrido da primitiva sentença, que só se pode considerar transitada nessa medida, não a pode inibir de recorrer da nova sentença rectificada, no respectivo prazo legal, após o seu conhecimento, sob pena de ficar totalmente desprotegida quanto ao mérito da causa, cujo resultado final for sensivelmente alterado com a rectificação; cremos pois ter sido esta a intenção do legislador ao integrar, no Nv. CPC, o nº 4 do art. 670º, que se reveste assim de grande utilidade para a defesa das partes; (9) Porém, a A. pediu aclaração: não compreende a requerente como pode sustentar-se o trânsito em julgado da primitiva decisão quando afinal se admite um recurso ordinário (agravo) de parte da decisão rectificada (isto é, na parte rectificada) e outro recurso ordinário (apelação) da totalidade da decisão rectificada (o que inclui toda a primitiva decisão); (10) Foi dado provimento parcial: quando se exarou, a sentença rectificada é uma nova decisão, como aliás resulta do art. 686º/2 CPC, e assim o facto de a reclamante não ter recorrido da primitiva sentença, que só se pode considerar transitada nessa medida, não a pode inibir de recorrer da nova sentença rectificada, quis-se significar que o recurso de apelação só poderia ter razão de 4

5 ser e era justificado no caso de o recurso de agravo não proceder, pois se proceder, a primitiva sentença tem de ter-se por definitiva e com trânsito em julgado, ficando prejudicado o conhecimento do recurso de apelação: o agravo apreciará a decisão rectificativa e a apelação apreciará, se for caso disso, o mérito da sentença rectificada que não é a primitiva sentença, mas uma nova sentença (art. 686º/2 CPC); (11) No despacho tabelar: nada obsta por ora ao conhecimento. (12) Porém, o agravo interposto do despacho de rectificação da sentença, nem sequer foi alegado, muito embora o recebimento tenha sido notificado às partes4, tendo logo começado a correr o prazo. 10. Muito embora se mostre deveras aliciante a posição de defesa das mais amplas faculdades da parte (eventualmente prejudicada), com vista a obter, no limite, uma solução justa, também é certo que as formalidades de processo, nomeadamente o respeito pelos prazos preclusivos, são consubstanciais ao Direito: fórmulas, inimigas juradas do arbítrio, segundo o ensino de Jhering. Ora, houve trânsito da sentença, e o incidente posterior diz apenas respeito à correcção do erro circunstancial cometido: a integração da versão nova na sentença inicial é na sentença já transitada, servindo o agravo para discutir, e decidir definitivamente, se deve ou não haver lugar à correcção. Porém, quanto ao contexto, a parte vencida já não pode reagir pela via da apelação precludida: a surpresa tem de alegá-la como motivo exclusivo da rasura do local afectado da sentença corrigido, e por via de procedência do agravo, até última instância, já que não há irrecorribilidade por força da alçada (art. 670º/4 CPC). E o sistema por isso mesmo propõe-se garantir também, de modo eficaz, mas segundo esta modalidade específica, o bom direito da recorrente, cumprindo assim a directiva constitucional de justo exame da causa. Tem pois razão a Ap.a na questão prévia que objectou. 4 Foram consultados os livros de registo quer do tribunal de Vila Real de Sto. António, quer do Tribunal da Relação de Évora, e finalmente o Ex.o Sr. Adv. de Turibaía. 5

6 11. Atento o exposto, vistos os art.s 670º/4, 689º/2 e 700º/1e. CPC, decidem não tomar conhecimento do recurso. 12. Custas pela Ap.e, sucumbente. 6

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