Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

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1 PN ; Ag.: TC º Azemeis, 2º J (996.02) Ag.e 1 : Manuel da Costa Cristino, Rua João Crisóstomo de Aguiar, s.n., Costa, Cucujães, O. Azemeis; Ag.os 2 : Luis António da Costa Gomes, Maria de Fátima Ferreira Barbosa, Faria de Cima, Cucujães, O. Azemeis. Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) O Ag.e não se conforma com o levantamento do embargo de obra nova decidido na 1ª instância em favor dos Ag.os, por ter sido julgada procedente a excepção de caducidade da providência. (b) Da decisão recorrida: (1) Em face dos dados assentes existem, de facto, elementos novos que impõem uma alteração radical da providência tomada na fase inicial; (2) Na verdade, a obra realizou-se em (início e fim) e não, conforme foi alegado no requerimento inicial, em , e o requerentes esteve antes no local da obra, onde foi colocado um fio que serviu de linha divisória dos prédios, com a sua concordância; (3) Por conseguinte, à data em que o procedimento foi instaurado, [ ] já tinham decorrido mais de 30 dias do conhecimento pelo interessado da realização da obra alegadamente lesiva do seu direito: caducidade do direito, ilícito o recurso ao embargo de obra nova; (4) Para além disto ficaram também indiciariamente provados factos que tornam insustentável a manutenção da providência, uma vez que dos mesmos 1 Adv.: Dr.ª Edite M. Dias, Rua da Paz, 66 3º, sala 33, Porto. 2 Adv.: Dr. Domingos Ferreira, Rua João de Deus, 155 sala 1, S. J. Madeira. 1

2 resulta precisamente uma circunstância oposta ao fundamento da decisão inicial de procedência: os alicerces e o muro não foram construídos no prédio do requerente, antes levantado aquele muro, na sua extensão, no prédio dos requeridos, observada a linha de divisória previamente acordada entre as partes. II. Matéria assente: (a) Está inscrita em favor de Manuel da Costa Cristino a aquisição por compra do prédio urbano: casa de habitação térrea, anexos e arrumos, pátio e quintal; área coberta 194 m2 e descoberta 1962 m2; S., Alexandre Alves Leite, Po., José António dos Santos Costa e Constantino Barbosa da Silva, Desc. C. Reg. P. O. Azemeis 01444/140693; (b) Entretanto o prédio que confronta de Po. foi adquirido pelos requeridos a Constantino Barbosa da Silva e José António dos Santos Costa, anteriores proprietários; (c) Nele está a ser construído, para além de uma moradia, um muro de limites; (d) As obras tiveram início em finais de Novembro, inícios de Dezembro; (e) Os requeridos, na construção do muro acima referido penetraram em cerca de 30 cm do terreno do prédio (1) e a partir do fim do muro em pedra já existente no mesmo terreno, no sentido Sul-Norte; (f) Ao longo da divisória dos prédios do requerente e dos requeridos existiam 3 marcos cravados no solo; (g) Antes de efectuarem a escavação, através do empreiteiro que contrataram, para o alicerce do muro, os requeridos pediram ao requerente para comparecer no local; (h) Em final 10.02, o requerente, o requerido marido e o referido empreiteiro encontraram-se neste local; (i) E nesse encontro foi efectuado o alinhamento da divisória através de um fio ligado aos marcos das pontas; (j) O marco existente a meio da linha divisória ficava além do fio, considerado no lado do terreno do requerido; 2

3 (k) Solução que foi escolhida para que o muro fosse levantado em linha recta; (l) Requerente e requerido aceitaram de comum acordo o alinhamento em causa; (m) Em , os requeridos procederam à escavação do alicerce do muro, obra que concluíram nesse mesmo dia; (n) E na mesma data foi colocada a pedra para o alicerce junto à escavação. III. Cls/Alegações (a) O despacho recorrido violou claramente o disposto no art. 412 CPC; (b) Na verdade, proferido na sequência de oposição deduzida, ignorou em absoluto o depoimento gravado das testemunhas Constantino Silva, Maria Cristino e Maria Amorim os quais constam de registo sonoro (cassete única); (c) Além disso, o despacho recorrido sustenta a caducidade da providência por ter sido interposta fora do prazo legal, nos termos do art. 412 CPC, mas contando o prazo a partir do momento em que o recorrente teve conhecimento da obra e não a partir do momento em que o recorrente teve conhecimento de que a obra era lesiva do seu direito, ou a partir do momento em que o recorrente soube que aquela o iria prejudicar; (d) É que a obra em causa se iniciou com a abertura do alicerce em , mas ficou parada até à construção do muro, período de tempo em que não houve sequer indícios de os recorridos pretenderem ofender a propriedade dos recorrentes; (e) E o que efectivamente a lesou foi o dito início da construção do muro propriamente dito, em início de 12.02, com a aplicação de betão e o assentamento de tijolo; (f) Até então, o recorrente sempre confiou nos recorridos: iriam respeitar os limites da propriedade dele; mas tal não aconteceu; (g) Entretanto, a construção ocupa cerca de 30 a 40 cm do terreno do recorrente, quase em toda a extensão do prédio, excepto na parte em que as propriedades são divididas por um muro de pedra; 3

4 (h) Ora, dos factos alegados pelos recorrentes, do depoimentos das testemunhas (sendo certo que uma foi proprietária do terreno onde está a ser feita a construção), dos documentos juntos aos autos (fotografias) constata-se que o muro foi construído dentro da propriedade dos recorrentes, e que a construção do muro só teve início nos primeiros dias de 12.02: a decisão a proferir deveria ser, portanto, a manutenção do despacho inicial que decretou a suspensão das obras; (i) Pelo disposto, o requerimento da providência, , dentro do prazo dos 30 dias a contar do momento em que a recorrente teve conhecimento de ser a obra lesiva do seu direito ou do momento em que o recorrente soube que aquela o iria prejudicar 3 ; (j) Deve por conseguinte ser revogado o despacho recorrido e mantido o despacho inicial que decretou a suspensão da construção. IV. Contra-alegações: não houve. V. Recurso: pronto para julgamento, art. 705 CPC. VI. Sequência: (a) Em primeiro lugar, frente aos problemas levantados nas conclusões do agravo, não se vê qual seja a utilidade de chamar à colação o depoimento das testemunhas ouvidas durante a primeira fase desta providência cautelar, aquela que deferiu o embargo da obra. Na verdade, não há contradição entre os factos assentes de uma e de outra vez. É indiscutível que o muro invadiu propriedade alheia. Ma no que respeita ao outro argumento aduzido pelos recorrentes não é certo que a decisão impugnada tenha contado o prazo da instauração do embargo apenas a partir do início da obra e não a partir do conhecimento da prejudicialidade desta para os requerentes. É que desde o momento do requerente marido ter intervindo numa marcação do muro, justamente a marcação do desvio, não pode deixar de ser considerado esse o verdadeiro 4

5 momento do conhecimento da invasão da propriedade. Assim, os requerentes tiveram conhecimento relevante na altura do início da obra, porque o marido representa a mulher naquele acto, todavia ineficaz porquanto não está documentado o consentimento. Isto é, funciona aqui a ficção do conhecimento pelo casal de um facto em que interveio o marido, mas já não pode dar-se por assente que a mulher autorizou a alienação de parte da propriedade, aliás inválida por desrespeito da forma legal. De qualquer modo, a decisão de 1ª instância não merece crítica: os requerentes tiveram conhecimento da obra e do prejuízo que esta lhes trazia em e só em apresentaram o embargo: logo, caducidade do direito de o pedir e improcedência cautelar. (b) Tudo visto, e o disposto no art. 412 CPC, vai confirmado inteiramente o levantamento do embargo de obra nova em debate. IV. Custas: pelos Ag.es, sucumbentes. 3 Vd. Ac. RE, , BMJ 477/590. 5

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