a) A sentença não fez correcta aplicação do direito aos factos;
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- Mario Amaro Fartaria
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1 PN ; AG.: Tc. Paços de Ferreira; Ag.e.2: ; Ag.a.3:. Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. A sentença recorrida julgou imerecido o pedido cautelar deduzido por no sentido de ser ordenada a reabertura, por conta e no interesse do requerente do bar da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira, sito no quartel Antero Chaves: a) Somos levados à conclusão de que o recorrente não é titular, nem aparentemente, aparência esta com que a lei se basta, do direito invocado: cessão de exploração; b) Contudo mesmo que o tribunal viesse a dar como provada a existência de um contrato de cessão de exploração, e com isso a aparência do direito, não se verificaria perigo na demora, com prejuízo irreparável ou de difícil reparação para ele recorrente. 2. Inconformado, concluiu: a) A sentença não fez correcta aplicação do direito aos factos; 1 Vistos: Des.: Ferreira de Sousa (255) Des.: Paiva Gonçalves (1051). 2 Adv.: Dra. 3 Adv.: Dr. 1
2 b) Resulta da prova o preenchimento dos requisitos característicos da cessão de exploração; c) Existe transferência do bar, operada entre recorrente e recorrida; d) Transferência, juntamente com a fruição do prédio; e) A cessão de exploração em causa, embora não se tenha estipulado um prazo certo, não deixa de ser temporária: existe sim por tempo indeterminado; f) Não obstante o recorrente não pague renda certa pelo gozo das instalações, utensílios e mercadorias, facto é que ficou provado entregar mensalmente 75% do lucro líquido (e não bruto) à recorrida; g) O contrato não é gratuito, mas oneroso, já que a cessionária recebe mensalmente a quantia acima referida; h) Resultou provado também que auferindo o recorrente 25% dos lucros líquidos, suportava também 25% das despesas; i) E continuou o recorrente a exercer no prédio em causa o mesmo ramo de comércio; j) Logo, com o contrato em causa, operou-se uma transferência conjunta das instalações, utensílios, mercadorias, enfim, tudo o que integrava o estabelecimento; k) Sendo titular de um contrato de cessão de exploração, configura-se muito mais que a aparência do direito invocado pelo recorrente: o primeiro requisito para o decretamento da providência cautelar está desde logo preenchido; l) E no que toca à nulidade por falta de forma, tal invocação protagonizada pela recorrida, configura uma situação de venire contra factum proprium; m) Seja como for, a aludida nulidade poderia ser sempre sanada mediante a conversão, Art. 293 CC; n) Por outro lado, a direcção da recorrida, para além de arrombar as portas do estabelecimento, cortou luz, água e telefone; o) Pelo menos a inexistência de energia eléctrica tem como consequência a deterioração dos diversos géneros alimentícios servidos no bar, e o recorrente pagava pelo menos 25% das despesas, pelo que toda esta situação lhe traz avultados prejuízos; 2
3 p) O decurso normal de uma acção judicial é, depois, incompatível com a preservação do direito do recorrente, sendo eminente o dano; q) Prejuízos reais não hipotéticos, com risco de ser tarde de mais para reagir; r) A sentença recorrida violou por errada interpretação e aplicação, o Art. 384 CPC, e os Arts. 293, 334 CC, 111 RAU; s) Deve ser revogada. 3. Não houve contra-alegações. 4. Ficou provado: a) O requerente acerca de 5 anos que exerce funções no bar da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paços de Ferreira; b) Tendo sucedido nessas funções a c) Em 10.00, o requerente recebeu uma carta da requerida onde lhe davam conta das deliberações da direcção, ; d) Através das quais foi decidido mandar encerrar o bar, sem ouvir a opinião do requerente; e) Este enviou uma resposta, através da carta junta: não posso deixar de apresentar a m/ discórdia; com efeito fui contratado para exercer funções no cinema e não para motorista; o meu posto de trabalho sempre foi no cinema, e não noutro local, como pretendem V.Exs : a lei do contrato de trabalho refere que a entidade patronal só pode transferir o trabalhador para outro local se essa transferência não lhe causar prejuízo sério, ou se a mudança resultar de mudança total ou parcial do estabelecimento onde presta serviço; no caso concreto, há prejuízo para mim e não obstante V. Exs.terem falado na demolição do quartel Antero Chaves, é lá que se situa o cinema, não existindo outro local; por outro lado, a mudança de categoria do trabalhador também só pode operar se for por este aceite e autorizada pelo INTP, o que mais uma vez no caso em apreço não foi cumprido ; 3
4 f) Em , elementos da Direcção, acompanhados pela GNR, arrombaram as portas das instalações do bar, tendo trocado as fechaduras e interrompido o fornecimento de energia eléctrica; g) O requerente foi admitido ao serviço da A.H.Bomb.V.Paços de Ferreira, em 01.80, para exercer as funções de auxiliar do serviço de cinema; h) Acerca de 5 anos a sala de cinema da requerida foi encerrada por deliberação da Direcção, face à falta de rentabilidade da mesma; i) Nessa altura, por acordo entre as partes, o requerente passou a prestar serviço no bar dos Bombeiros, 9.30/11.30 h, 12.30/18.00 h, até permanecerem clientes; j) Desde essa altura era o requerente quem assegurava o funcionamento do bar, procedendo à abertur a e encerramento; k) Foi ainda acordado pelas partes que para além do salário o requerente teria direito a uma percentagem de 25%, calculada sobre o lucro bruto mensal; l) O requerente aufere o rendimento mensal de Pte.: $00; m) Os montantes recebidos pelo requerente a título de percentagem dos lucros brutos do bar variam na medida do apuro do mês respectivo; n) A A.H.Bomb.V. Paços de Ferreira é a exclusiva responsável pelos pagamentos de todas as despesas com água, luz, telefone e mercadorias necessárias ao funcionamento do bar A convicção do tribunal veio dos depoimentos, tendo sido mais relevante a inquirição de, por ter sido com quem decorreram todas as conversações quando o requerente deixou de ter ocupação efectiva como auxiliar de cinema. No essencial, as testemunhas foram unânimes, ao afirmarem que as mercadorias existentes no bar eram adquiridas pelos B.V. Paços de Ferreira, assim como era esta instituição a suportar os encargos decorrentes da água, luz e telefone; ainda que o requerente sempre manteve a retribuição, bem como recebia 25% do lucro bruto, apurado no bar. 4
5 Contribuíram também as actas com as deliberações do encerramento do cinema e do bar; a carta do requerente para a requerida; as folhas de ordenados e salários, uma delas com referência à data de admissão ao serviço do requerente, outra de férias; as facturas de produtos e serviços todas em nome da requerida. 5. O recurso está pronto para julgamento. 6. O recorrente não alega erro na fixação da matéria de facto, antes desconformidade na aplicação do direito aos factos. Segundo ele estes deveriam ter levado à qualificação do contrato como contrato de cessão de exploração do bar, a questão da falta de forma relegável ou irrelevante, nesta sede cautelar. No entanto a matéria dada como provada não configura de modo algum o contrato de cessão mas tão só a existência de um contrato de trabalho em que a remuneração, como é evidentemente possível, e se tornou até renovador e comum, se recorta para além do salário fixo numa percentagem dos lucros do empreendimento. Nesse sentido, de se tratar apenas de um contrato de trabalho, vai sem dúvida a carta escrita pelo recorrente à Direcção dos Bombeiros, protestando contra a tentativa de afectação a funções diferentes das inicialmente acordadas. Nessa altura não aduziu a cessão de exploração, o interesse empresarial. Temos por conseguinte de concordar com a sentença de 1ªInstância: o recorrente nem apresentou fumo de bom direito no qual se possa fundar uma decisão cautelar positiva. Por outro lado faleceu também a prova do perigo de prejuízo. Não há pois que alterar a decisão recor rida. 7. Atento o exposto, visto o Art. 384 CPC, decidem mantê-la inteiramente. 8. Custas pelo Ap.e, sucumbente. 5
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