TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº /04 ACÓRDÃO
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- Maria de Fátima Garrau Gabeira
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº /04 ACÓRDÃO REM JEAN FILHO XXXIV e Balsa CONAVE XVII. Colisão de comboio com muro de marina. Possíveis influência de fortes ventos. Arquivamento. Vistos os presentes autos. Consta que no dia 25 de agosto de 2003, cerca de 11h35min, próximo ao porto da SNPH, São Raimundo, Manaus-AM, o comboio formado pelo REM JEAN FILHO XXXIV e balsa CONAVE XVII colidiu com o muro de arrimo da marina Bicho Preguiça. O referido comboio tinha como tripulação Francisco Lemos dos Santos, Contramestre Fluvial, Comandante. Sebastião Ventura da Silva, Marinheiro Auxiliar e Júlio Celso Ferreira de Sousa, Condutor Motorista O REM JEAN FILHO XXXIV é inscrito sob o nº , tendo como proprietário a empresa J.F.Oliveira Navegação Ltda. A balsa CONAVE XVII é inscrita sob o nº , tendo como proprietário a empresa Conave Comércio Navegação Ltda. Durante os depoimentos das testemunhas, foi observado que o comandante do comboio só poderia conduzir embarcações com até 300 AB, pois o mesmo é Contramestre Fluvial, enquanto que o comboio necessitava ser comandado por um Piloto Fluvial, e tendo como imediato um Mestre Fluvial, pois o comboio perfazia o total de AB. Além da observação anterior, foram encontradas as seguintes discrepâncias no REM JEAN FILHO XXXIV: o CSN consta 29.1 AB e a nota para arqueação apresenta 33 AB, conforme fls. 35 e 37, o mesmo encontrava-se sem ecobatímetro e carta náutica.
2 De acordo com o depoimento do comandante do comboio, o acidente ocorreu durante a aproximação para atracação no cais utilizado pela empresa SNPH. Devido ao forte vento, o comandante perdeu o controle do comboio, conforme fls. 16. Neste momento ele decidiu dar máquinas a ré, até que o comboio livrasse as embarcações que estavam no atracadouro, nas proximidades do cais utilizado pela empresa SNPH, com vários passageiros, até atingir o muro pertencente a marina Bicho Preguiça, conforme fls. 16 e 18. Após chocar-se com seu bombordo no muro da marina o comboio atingiu também, a pilastra de uma recente construção da marina, vindo a danificar três compartimentos que sofreram rachaduras bem visíveis. De tudo quanto contêm os presentes autos, o encarregado do inquérito concluiu que: a) fator humano não contribuiu; b) fator material não contribuiu; e c) fator operacional o comandante não estava habilitado a conduzir o comboio, devido a sua habilitação só permitir que conduzisse comboio até 300 AB, e o comboio possuía AB. Francisco Lemos dos Santos, Contramestre, declarou que tinha sido escalado para assumir o comando do comboio por ordem de Ivan de Oliveira Rocha, responsável pelo setor de navegação da empresa J.F. de Oliveira Ltda, devido o comandante de direito e de fato não se fazer presente. No entanto, após ouvir o responsável pelo setor de navegação, que de acordo com o contramestre era quem preparava a escalação das tripulações das embarcações da empresa, e que teria escalado o contramestre indevidamente, relatou o seguinte: era apenas encarregado do setor de embarcações, e que não tinha nenhuma autoridade para realizar qualquer tipo de escalação ou alteração de escalação de tripulantes das embarcações da empresa, sendo esta de responsabilidade do Diretor Administrativo da empresa, Jean Bérgson Lacet de Oliveira. 2
3 Jean Bérgson Lacet de Oliveira foi notificado, de acordo com à fl. 27, porém não compareceu para prestar depoimento. Portanto, levando-se em consideração o exposto acima, acredita-se que são possíveis responsáveis pelo acidente: Francisco Lemos dos Santos, contramestre, por conduzir o comboio com AB, sendo que só poderia conduzir comboio com até 300 AB; Ivan de Oliveira Rocha, responsável pelo setor de navegação da empresa, por ter sido indicado pelo comandante do comboio como sendo a pessoa que realizou a escalação dos tripulantes no dia do acidente, escalando um contramestre quando na verdade deveria ter escalado um Piloto Fluvial e tendo como imediato um Mestre Fluvial e Jean Bérgson Lacet de Oliveira, por ser superior imediato do responsável pelo setor de embarcações, e que de acordo com o mesmo, é a pessoa que determinava todas as escalações e alterações nas escalações dos tripulantes das embarcações da citada empresa, conforme fls. 28, além de não ter comparecido para prestar depoimento. A PEM requereu o arquivamento dos autos capitulado no art. 14, letra a (colisão), da Lei nº 2.180/54, pelas seguintes razões: Consta dos autos que no dia 25 de agosto de 2003, por volta de 11h30min, o comboio formado pelo REM JEAN FILHO XXXIV e Balsa CONAVE XVII veio a colidir com muro da marina Bicho Preguiça, quando se aproximava do porto da SNPH, localizado no bairro de São Raimundo, Manaus-AM. De acordo com os depoimentos colhidos durante as investigações, o comboio, ao aproximar-se do local de atracação sofreu forte influência do vento, sendo jogado em direção ao terminal de embarque de passageiros da SNPH. O laudo pericial de fls. 45 foi confeccionado sem a observância das regras da NORTEC-09. Embora seja pouco claro, parece que os peritos concluíram que o acidente em comento ocorreu em virtude da influência de forte vento sobre o comboio. 3
4 O encarregado do inquérito, como se vê em seu relatório de fls. 59/60, reconhece que o acidente em exame ocorreu em virtude de forte vento. Contudo, responsabiliza o condutor do comboio Francisco Lemos dos Santos, pelo acidente em apreço uma vez que o mesmo não possuía habilitação adequada para conduzir um comboio com AB. Aponta ainda, como responsável pelo acidente Ivan de Oliveira Rocha e Jean B. Lacet de Oliveira por terem, supostamente, escalado o condutor Francisco Lemos para o comando do comboio. Ao analisar os autos, entendeu o ilustrado representante da PEM que restou esclarecido com absoluta precisão que a influência de forte vento não estava na esfera de previsibilidade do condutor da embarcação, isto posto, não há que se imputar culpa ao mesmo ou a qualquer do envolvido direta ou indiretamente com a escolha do condutor do comboio, em função do que a PEM reiterou o pleito inicial de arquivamento, face o caráter fortuito do evento em exame. Por dever de ofício, a PEM apontou a infração ao art. 11 do RLESTA pela armadora do comboio, a saber J.F. de Oliveira Navegação Ltda. Considerando que, segundo relatos colhidos, o comboio ao aproximar-se do local de atracação sofreu forte influência do vento forte, sendo jogado em direção ao terminal de embarque do SNPH, e numa atitude correta e sensata o comandante segurou o comboio sob máquinas e desviou do terminal de passageiros terminando por bater no muro de arrimo da marina Bicho Preguiça, causando rachaduras nas paredes internas da construção. Pelo exposto é de se deferir o requerido pela PEM por considerar que a colisão decorreu de possível influência de fortes ventos, mandando arquivar os autos. Comunicar à DPC a infração ao art. 11 (falta de habilitação) do RLESTA a ser atribuído a armadora do comboio. Assim, 4
5 A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: colisão de comboio com muro de marina; b) quanto à causa determinante: possível influência de fortes ventos; c) decisão: concordar com a promoção da D. Procuradoria e mandar arquivar os autos. Oficiar à DPC comunicando a infração ao art. 11 (falta de habilitação) do RLESTA a ser atribuída a armadora do comboio J.F. de Oliveira Navegação Ltda. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 6 de dezembro de JOSÉ DO NASCIMENTO GONÇALVES Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 5
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