TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº /03 ACÓRDÃO
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- Maria de Lourdes Sabala Camilo
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº /03 ACÓRDÃO N/M LORETA D. Queda de carga na água devido a não colocação de redes de proteção ao costado, com poluição ao meio ambiente marinho, sem vítima. Negligência. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Trata-se de analisar o fato da navegação caracterizado pela queda de carga na água, por ocasião do carregamento no porto de Santos, SP, junto aos armazéns 13/14, ocorrido com o N/M LORETA D, prefixo ELSE7, de bandeira liberiana, de TAB, 149 m de comprimento e 21 m de boca, de armação de Pacific Maritime Co., sob o comando do C.L.C. Vasilev Sabcho Dochev, atracado por bombordo, em faina de embarque de sacos de açúcar, do cais para o porão n. º 1, com equipamento de bordo, quando cerca de 12h10min, do dia 27 de julho de 2002, uma lingada de 28 sacos de açúcar se desfez, caindo ao mar, entre o cais e o costado. No inquérito instaurado pela Capitania dos Portos do Estado de São Paulo, foram ouvidas três testemunhas e anexadas aos autos fotografias e os documento de praxe. Amadeu Cassiano Alves, feitor da Capatazia, fl. 54, declarou que estava de serviço, mas que não se lembra de ter presenciado o ocorrido e que esse fato acontece com freqüência, pois a capatazia faz a lingada usando uma funda de cabo de nylon (que quando novos são escorregadios) e o guincheiro ao içar o pau de carga não aperta devidamente os cabos da funda, ou movimenta o braço do pau de carga antes que esses cabos estivessem devidamente apertados, causando assim, durante a
2 movimentação do mesmo, de terra para bordo, a queda dos sacos na água, no próprio cais, ou mesmo no convés do navio. Declarou, ainda, que no tempo em que a CODESP operava a carga e descarga de navios, eram utilizadas redes de proteção, colocadas entre o costado do navio e o cabeço do cais, de maneira que caso ocorresse um acidente, os sacos cairiam na rede e não haveria muito prejuízo à carga. Paulo Roberto Galvão, estivador, fl. 63, declarou que não se recorda bem do acidente; que esse tipo de acidente ocorre com freqüência devido ao sistema que é feita a lingada, pois o posicionamento das sacas na funda é feito normalmente de uma maneira não muito bem feita e devido a rapidez com que é feito o carregamento, muitas vezes ao ser içado pelo guincho e movimentada em direção ao porão, as sacas caem no cais, na água e as vezes no convés do navio. Declarou, ainda, que antigamente eram utilizadas redes de proteção entre o costado do navio e o cais para que quando as sacas caíssem não houvesse prejuízo da carga. Nelson Salviano, Gerente de Exportação da Agência Beacon & South Atlantic Agenciamentos Ltda., fl. 69, declarou que é somente Agente Portuário, cabendo a firma ENAR Comissária e Serviços Marítimos Ltda a contratação da estiva e da capatazia. Declarou, ainda, que antigamente o cais era dotado de cabo de aço onde poderia ser presa uma rede entre o cais e o navio, de modo que a carga ao cair não ficaria inutilizada. Porém esses cabos foram retirados pela CODESP Companhia Docas do Estado de São Paulo, e hoje já não são mais colocadas as redes por ocasião das manobras de carregamento. Laudo de Exame Pericial, fl. 02, efetuado no dia da ocorrência, considerou que o fator operacional contribuiu, concluindo que a causa determinante foi a lingada 2
3 ter sido feita de modo incorreto e a ausência da rede de proteção no costado da referida embarcação. No relatório, fls. 73 e 74, o encarregado, considerou que os fatores material e operacional contribuíram e concluiu, como possível responsável indireto, pelo fato da navegação, o Operador Portuário, ENAR Comissária e Serviços Marítimos Ltda, responsável pela contratação dos serviços de carregamento do navio, por negligência e imprudência na operação de carregamento do navio, porque não se preocupou com a necessidade de se colocar redes de proteção entre o cais e o costado do navio, ou em melhorar o projeto das fundas, e que não havia como atribuir responsabilidade aos estivadores, pois não foi possível confirmar se as sacas estavam mal empilhadas. ENAR Comissária e Serviços Marítimos Ltda, fls 77 a 82, apresentou Defesa Prévia, alegando, em síntese, que, recebendo um carregamento de sacos de açúcar, correspondendo a movimentos, somente uma lingada de 28 sacos apresentou-se deficiente, lembrando que são realizadas por pessoas humanas, passíveis de falhas, o que comprova não serem as fundas impróprias para essa operação. Alegou, ainda, que as fundas são testadas e aprovadas para esse serviço, apresentando, em anexos, fl. 93, certificado de execução de prova de carga em funda, para transporte de sacos de açúcar, com capacidade máxima de kg, e fl. 97, Relatório de Ensaio, demonstrando teste para kg, correspondente a 40 sacos de açúcar, concluindo que são adequadas para carga de trabalho de 14,7 kn (1.500 kg), ou seja, 30 sacos de açúcar. Alegou, finalmente, que a responsável é a CODESP, na qualidade de concessionária do porto de Santos, e que somente em 31/01/2003 atendeu a solicitação desta Operadora Portuária, colocando os cabos de aço para fixação das redes de proteção, requerendo, adicionalmente, oitiva de duas testemunhas e expediente ao 3
4 INMETRO para que informe se a Testin-Tecnologia de Materiais Ltda estaria credenciada a proceder Prova de Carga de Funda. Na fl. 94, consta do ofício da CODESP, Autoridade Portuária, datado de 31 de janeiro de 2003, informando à ENAR Comissária e Serviços Marítimos Ltda, a instalação de cabos de aço próprios para a fixação de redes de proteção e/ou serrapilheiras, visando evitar a queda de produto/mercadoria ao mar, durante operação de navios, nos armazéns: 12A, 13/14 e 27, respectivamente, entre os cabeços 161 a 168, 168 a 174 e 247 a 251 e que, face ao exposto, alerta quanto a obrigatoriedade de utilização das referidas redes e/ou serrapilheiras. A Douta Procuradoria, fls. 109 e 110, requereu o Arquivamento dos autos, por entender que a real causa determinante do evento não restou apurada. Foi publicada nota para arquivamento, no DJ, nº 89, em 13 de maio de 2003, com prazos preclusos, sem que possíveis interessados se manifestassem. Na 5.981ª Seção Ordinária, de 11 de setembro de 2003, o Tribunal, por unanimidade, decidiu retornar os Autos à PEM, para que oferecesse Representação contra a CODESP, com fulcro no art. 15, letra e, da Lei n. º 2.180/54, nos termos do voto do Juiz-Relator, fl Cumprida a determinação do Tribunal, a Douta Procuradoria representou em face de Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP, pelo fato da navegação caracterizado pela queda na água de sacas de açúcar, quando transportadas para bordo, capitulado no art. 15, alínea e (todos os fatos...), da Lei n º 2.180/54, por negligência, fundamentando, pois houvesse a rede de proteção, não teriam caído na água e, sendo da responsabilidade da CODESP o posicionamento de cabos de aço, entre os cabeços do cais, para possibilitar a fixação das referidas redes, providência esta só tomada após a ocorrência. 4
5 Citado, o representado que consta do rol de antecedentes deste Tribunal, aguardando julgamento, no Processo n. º /03, pelo fato da navegação queda de carga e/ou equipamento n água, ocorrido em 17 de julho de 2002, com o cargueiro estrangeiro LUCKY ROSE e no Processo n. º /03, pelo mesmo fato, ocorrido em 29 e 31 de julho de 2002, com o cargueiro estrangeiro SOTIRIA, foi regularmente defendido. A Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP, em sua defesa, fls. 133 e 134, alegou que desde 1998 deixou as operações portuárias, admitindo, porém, que lhe cabe apenas a colocação dos cabos, o qual, alegou, já existiam no local e teriam que ser utilizados pelo Operador, com a colocação das redes, sob sua responsabilidade. Alegou, ainda, que a lingada de 28 sacas de açúcar, pesando 60 kg cada, totaliza kg, e em queda livre, considerando a força da gravidade, seria necessário que qualquer rede fosse feita de cabos de aço, de grande capacidade, para suportar todo o peso da carga, entretanto, alegou que essas redes não são confeccionadas com cabos de aço, logo, mesmo que estivesse com a rede de proteção, a carga iria fatalmente cair no mar. Na instrução, nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais, apenas a Douta Procuradoria se pronunciou, alegando que se manifestará em plenário. De tudo o que consta dos presentes autos, temos que: Não foi possível apurar, acima de qualquer dúvida, a causa determinante da lingada ter se desfeito durante o carregamento, entretanto, foi possível determinar que não havia, a época do acidente, as redes de proteção entre o costado do navio e o cais, e, como alegado pelo operador portuário, não foi possível coloca-las em função da falta de cabos de aço apropriados para tal. 5
6 Considerando que, pela LEI Nº 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, que dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias e dá outras providências, conhecida como Lei dos Portos, no seu art. 33. A Administração do Porto é exercida diretamente pela União ou pela entidade concessionária do porto organizado; no seu 1 Compete à Administração do Porto, dentro dos limites da área do porto: VI - fiscalizar a execução ou executar as obras de construção, reforma, ampliação, melhoramento e conservação das instalações portuárias, nelas compreendida a infra-estrutura de proteção e de acesso aquaviário ao porto; VII - fiscalizar as operações portuárias, zelando para que os serviços se realizem com regularidade, eficiência, segurança e respeito ao meio ambiente. Na Defesa da Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP, fls. 133 e 134, consta que a colocação da rede de proteção de nada adiantaria, pois a queda da carga, na água, não seria impedida por redes de proteção que não fossem de aço e, principalmente, alegou que já existiam, na época, os cabos de aço que facilitariam a colocação das redes de proteção, entretanto, estas alegações foram contrariadas pelo apurado nos autos. Inicialmente, quanto à alegação de que as redes de nada adiantariam, a menos que fossem de aço, não se sustenta, pois a carga era composta de 28 sacos de açúcar, de massa individual de 50 kg, conforme foto na fl. 104, totalizando 1500 kg, e que não atinge o mesmo ponto da rede ao mesmo tempo, além de que a carga não tem cantos vivos que poderiam cortar a rede, e a própria experiência, em diversos portos do mundo, onde este procedimento é adotado com eficiência, prova em contrário. Adicionalmente, nos depoimentos das três testemunhas, consta que, como ocorria na época em que a CODESP era a operadora portuária, com as redes de proteção, caso ocorresse um acidente de queda de carga, os sacos cairiam nas redes de proteção e não haveria muito prejuízo a carga. 6
7 Finalmente, quanto à falta de cabos de aço, para fixação das redes, além da foto inferior do navio, na fl. 03, mostrando, pelo menos parte do cais, sem o referido cabo de aço, temos, também, a comunicação, DSF/ , da própria CODESP à ENAR Comissária e Serviços Marítimos Ltda, fl. 94, datada de 31 de janeiro de 2003, ou seja, seis meses após a ocorrência, informando que já se encontravam instalados nos locais, os cabos de aço próprios para a fixação de redes de proteção e, face ao exposto, alertando da obrigatoriedade de utilização das referidas redes. Diante do exposto, deve ser considerada integralmente procedente a Representação da Douta Procuradoria, condenando o representado. Assim, A C O R D A M os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do fato da navegação: queda de carga na água, após se desfazer a lingada, durante operação de carregamento, sem vítima, com perda de 28 sacas de açúcar e poluição ao meio ambiente marinho; b) quanto à causa determinante: falta de redes de proteção e cabos de aço para facilitar sua fixação; c) decisão: julgar o fato da navegação, tipificado no art. 15, letra e (todos os fatos...), da Lei n.º 2.180/54, como decorrente de negligência da Companhia Docas do Estado de São Paulo CODESP, devendo ser acolhidos os termos da representação da Douta Procuradoria e com fulcro no Art. 127, da Lei n.º 2.180/54, condenar a representada a pena de Repreensão e custas na forma da lei. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 13 de julho de FERNANDO ALVES LADEIRAS Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 7
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