TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO N.º /03 ACÓRDÃO
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- Sofia Imperial Philippi
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO N.º /03 ACÓRDÃO B/M VOVÔ ORLANDO CIDADE. Queda de tripulante na água, estando a embarcação atracada, da prancha de embarque/desembarque, colocada conforme os usos e costumes, embora não atendendo plenamente à NORMAM 02, resultando no seu óbito, sem danos materiais e sem registro de poluição ao meio ambiente. Provável imprudência da própria vítima. Arquivamento. Vistos e relatados os presentes autos. Consta que na madrugada do dia 9 de agosto de 2002, o tripulante Francisco Ferreira Pinto, Marinheiro Fluvial de Máquinas, ao retornar para bordo do B/M VOVÔ ORLANDO CIDADE, licença no 001-LPT-0372/04, a ser inscrita, tipo PSC, de 31,35 m de comprimento e 8 m de boca, casco de madeira, de 156,9 TAB, sob o comando de Idalmor de Souza Pires, de propriedade de Roberto Maia Cidade, que se encontrava atracado ao porto da Escadaria dos Remédios, caiu da prancha de embarque/desembarque, resultando no seu óbito, por asfixia em meio líquido/afogamento, sem danos materiais e sem registro de poluição ao meio ambiente. No inquérito instaurado pela Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental foram ouvidas duas testemunhas, sendo que uma foi reinquirida, o comandante, e anexados aos autos os documentos de praxe. Na Certidão de Óbito, fl. 14, consta que a causa da morte de Francisco Ferreira Pinto foi asfixia em meio líquido, afogamento, ocorrido no dia 9/8/2002, às 7 horas, no rio Negro, Manaus Moderna, atestada por Dr. Yolanda Kaneko (CRM 1651).
2 No Laudo de Exame Pericial, fls. 18 e 19, consta que a prancha de embarque/desembarque não possuía corrimão para que as pessoas, ao subirem ou descerem, apoiassem as mãos. Que a prancha se encontrava em bom estado de conservação, medindo aproximadamente 4 metros de comprimento e 50 cm de largura, com ripas de madeira espaçadas uma das outras, servindo de degraus, ficado uma das extremidades da prancha apoiada no piso, no portaló da embarcação, e a outra apoiada na balsa; o portaló possui uma abertura de cerca de 2 metros e a distância do barco até o cais em torno de 2 metros; e caso alguém venha a se desequilibrar não terá onde se agarrar para evitar a queda na água. Considerou que o fator humano contribuiu, pois, segundo relatos, a vítima apresentava indícios de ter ingerido bebida alcoólica e que o fator material também contribuiu, pois a prancha de acesso à embarcação não possuía corrimão de apoio. Concluiu que as causas da queda de Francisco Ferreira Pinto, na água, foram a possível ingestão de bebida alcoólica pela vítima e a falta do corrimão na prancha. No relatório do encarregado do inquérito, acompanhando as considerações do laudo pericial, consta que, devido a hora do incidente, cerca de 00h10min, somente uma mulher que vendia lanche naquele local presenciou o acidente e relatou o fato ao proprietário da embarcação, Roberto Maia Cidade, que, com base nestas informações, fez a ocorrência no 1 o Distrito Policial, por achar ser um dos tripulantes de seu barco, pelas descrições dado pela citada mulher; que a vítima tinha um histórico de uso compulsivo de bebida alcoólica; que em viagem procurava não ingerir bebida alcoólica, porém, nas pouquíssimas vezes que o fazia, sua função a bordo ficava comprometida; que, no dia, a vítima foi vista por duas pessoas diferentes: o ajudante de cozinha, Raimundo Luiz Nascimento, que alegou que pela manhã, Francisco não apresentava sinais de ingestão de bebida alcoólica; e o comandante, Idamor de Souza Pires, que 2
3 encontrou Francisco, na parte da tarde, antes do acidente, em estado de embriagues, mas que não foi possível afirmar se até o acidente a vítima ingeriu mais bebida alcoólica. Concluiu que a queda de Francisco Ferreira Pinto, na água, foi em conseqüência de excessiva ingestão de bebida alcoólica, favorecido pela falta de um corrimão na prancha da embarcação e apontou como possível responsável pelo acidente, o proprietário do B/M VOVÔ ORLANDO CIDADE, Roberto Maia Cidade. Regularmente notificado o indiciado apresentou Defesa Prévia, fls. 25 e 26, que, em síntese, alegou que, desde a construção do barco, em 1995, embora a falta do corrimão, não existiu nenhum acidente com queda na água, mesmo de passageiros; que, sabendo nadar, não havendo trauma encefálico, nem ficando preso, por ter morrido afogado, conclui-se que o óbito se deu pelo fato de estar embriagado, não sabendo prender o fôlego alguns segundos e retornando a superfície; que a segurança dos passageiros no embarque e desembarque é feita pelos tripulantes, atentos, que os auxiliam; que a operação se dá segundo os usos e costumes da área, diante da impossibilidade de se adaptar o mencionado corrimão e, como o corrimão teria uma altura de um metro e apenas colocado por um dos lados da rampa, fatalmente, uma pessoa em avançado estado etílico, escorregando, como faz presumir o caso em tela, teria passado entre o corrimão e a rampa, portanto, mesmo que a exigência estivesse sendo cumprida por alguma das embarcações de madeira, o acidente não seria evitado. A Douta Procuradoria requereu três diligências, deferidas, e atendidas pela Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental: fls. 32 e 33, em 10 de novembro de 2003, e atendidas em 29 de março de 2004, fls. 44 a 54; em 20 de abril de 2004, fls. 56 a 58, e atendidas em 23 de julho de 2004, fls. 67 a 79; e em 30 de agosto de 2004, e atendidas em 30 de maio de 2005, fls. 93 a 98, que em síntese questionava o porquê desta embarcação não estar cumprindo a NORMAM 02; se a vítima, tripulante, estava regularmente embarcada; se a embarcação estava devidamente inscrita; e requerendo 3
4 documentos, informação de lotação da embarcação e listas de tripulantes embarcados; sendo atendidas em parte, devido à impossibilidade de responder alguns quesitos e pela falta de alguns documentos, tendo em vistas que a embarcação, embora em uso, estava autorizada a operar apenas provisoriamente. A Douta Procuradoria, fls. 102 a 107, com base no inquérito e nas diligências, considerou que o fato da navegação, tipificado no art. 15, letra e (todos os fatos...), da Lei n. o 2.180/54, tendo em vista a vítima não ser passageiro do barco, mas seu tripulante, acrescido ao fato, comprovado pelas fotos, de ser pratica comum nas embarcações regionais a forma de embarque e desembarque, conforme oficiosamente permitido, requereu o arquivamento dos autos, pois a causa determinante, tudo leva a crer, ter sido em razão de imprudência da própria vítima. Foi publicada Nota para Arquivamento tendo decorrido o prazo sem que possíveis interessados se manifestassem. Por todo o exposto, deve-se concordar com o pedido da Douta Procuradoria e mandar arquivar os autos. Assim, A C O R D A M os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do fato da navegação: queda de tripulante na água, com a embarcação atracada, da prancha, resultando em sua morte por afogamento, sem danos materiais e sem registro de poluição ao meio ambiente; b) quanto à causa determinante: provável imprudência da própria vítima; c) decisão: julgar o fato da navegação, tipificado no Art. 15, letra e (todos os fatos...), da Lei nº 2.180/54, como decorrente de provável imprudência da própria vítima, mandando arquivar os autos, conforme promoção da Douta Procuradoria. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 7 de fevereiro de
5 FERNANDO ALVES LADEIRAS Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 5
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