TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /07 ACÓRDÃO
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- Elias Leandro Castelo Salvado
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /07 ACÓRDÃO Embarcação sem nome. Emborcamento quando navegava no rio Paraná do Manaquiri, AM, com danos materiais e uma vítima fatal. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Consta dos autos que a embarcação voadeira sem nome, de propriedade de Francisco José Fernandes Barros, naufragou no dia 12 de outubro de 2006, por volta das 14h, quando navegava de Iranduba, com destino a Manaquiri, na comunidade de Nossa Senhora de Aparecida, AM, tendo no comando Francisco José Fernandes Barros (proprietário) sem habilitação e José Roberval da Silva, como passageiro também não habilitado, e vítima fatal por afogamento. Dos documentos acostados extrai-se que quando a embarcação aproximava-se da comunidade Nossa Senhora Aparecida, José Roberval passou a conduzir a mesma, foi quando um banzeiro causado pela embarcação ALBATROZ, causou o naufrágio da lancha (fl. 10), os ocupantes da lancha foram lançados na água onde veio ocorrer o óbito de José Roberval da Silva (fl. 31). O laudo de exame pericial indireto, concluiu que os fatores humano e material, contribuíram para o acidente. Fatores que contribuíram para o acidente: a) fator humano os condutores foram negligentes, em conduzir a embarcação sem ser habilitados, e por não estarem usando colete salva-vidas; b) fator material a falta de colete salva-vidas. Documentação de praxe anexada. No relatório o encarregado do inquérito, concluiu que a causa do naufrágio da voadeira sem nome e o conseqüente óbito de José Roberval da Silva se deu por imprudência do mesmo, ao pedir a Francisco José para conduzir a voadeira sem ser habilitado e não ter tomado nenhuma precaução de segurança ao navegar sobre o banzeiro e não ter exigido o colete salva-vidas. Sendo o possível responsável indireto, pelo acidente, José Roberval da Silva por não possuir habilitação para conduzir a embarcação. E o possível responsável indireto também, Francisco José Fernandes Barros, por ter cedido a embarcação a uma pessoa inabilitada para condução da mesma, pondo em risco a salvaguarda da vida humana. 1/6
2 Notificação formalizada. Defesa prévia de fls. 56/59. A D. Procuradoria Especial da Marinha (PEM) ofereceu representação em face de Francisco José Fernandes Barros, comandante inabilitado e proprietário da voadeira sem nome, com fulcro nos artigos 14, letra a (naufrágio) e 15, letra e (todos os fatos), da lei nº /54, fundamentando de acordo com o encarregado do inquérito. Recebida a representação e citado o representado Francisco José Fernandes Barros, o mesmo foi defendido por I. advogado constituído as fls. 75 a 80. A defesa do ora representado alega em resumo. Trata-se de apresentação de Defesa, junto ao Tribunal Marítimo, aos termos da representação oferecida pela Procuradoria Especial da Marinha, buscando eximir-se da culpa pela ocorrência de fatídico acidente marítimo Preliminarmente, aduz o acusado que não concorreu para qualquer evento danoso causado pelo nefasto acidente marítimo. Os elementos fáticos consignados no relatório pertinente ao inquérito instaurado por ocasião do acidente ensejador do presente processo não devem prosperar, tendo em vista as circunstâncias ocorridas no dia do acidente. O acusado é dono de uma embarcação de pequeno porte e comumente faz o trajeto de Iranduba, AM até o município de Manaquiri, AM. Em data de 12 de outubro de 2006, o acusado estava se preparando para mais uma viajem até o município supracitado, porém como o seu trajeto é conhecido pelas pessoas do município de Iranduba, José Roberval da Silva, sabendo da saída do acusado, perguntou se o mesmo poderia lhe dar uma carona. Na altura da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, José Roberval da Silva pediu ao acusado para guiar a voadeira (embarcação), afirmando ter conhecimento na área vez que trabalhava com a condução de embarcações e era acostumado a realizar viagens ao município de Manaquiri, AM. Ocorre que, após algumas horas de viagem, por força de um banzeiro provocado pela embarcação a jato, chamada de ALBATROZ, a voadeira emborcou, causando um acidente fatal, vitimando José Roberval da Silva. Com o emborcamento da embarcação, ambos foram lançados na água e a vítima não sabia nadar. Ressalte-se que o acusado não envidou esforços para minimizar as conseqüências do sinistro. 2/6
3 Embora o acusado não possuísse a habilitação para a condução de voadeiras, tinha conhecimento de viagens realizadas pelo rio, pois nasceu naquela região e era acostumado a conduzir embarcações. Como é cediço, os ribeirinhos de tal região possuem a cultura de viajar de voadeiras, tendo em vista ser o único meio de transporte. Insta salientar, que a causa determinante do naufrágio da embarcação, foi de fato a imprudência porém não do acusado, e sim do comandante da embarcação a jato, de nome ALBATROZ, que não respeitou os limites e regras impostas para a direção de embarcações de tal porte. Alias é comum agirem de tal maneira, sem a redução da velocidade quando vão cruzar ou ultrapassar embarcações de pequeno porte, gerando inúmeros acidentes na região. Comandante, mesmo avistando a voadeira de menor porte, não tomou nenhuma providência com o intuito de desviar ou mesmo minimizar a tragédia, e mais, concorreu para a morte de José Roberval. Agiu de maneira imprudente e negligente, sem prestar qualquer assistência aos que ali estavam. Assim, para que uma pessoa responda pelo delito, deve restar evidenciado a relação de culpabilidade, ou sela a ação ou omissão sem a qual o resultado final não teria acontecido. Como se vê, não é o caso em tela, tendo em vista que o acusado não concorreu para o afogamento da vítima, que consentiu com os riscos a que estava atribuído. Ora, tal acidente, a toda evidência, não pode acarretar qualquer responsabilidade penal em relação ao acusado, tendo em vista a inexistência da relação de causalidade entre sua conduta e a morte da vítima. É que, na espécie, não houve culpa do responsável pelo transporte da embarcação, não se omitiu em tomar as providências e precauções necessárias para impedir o resultado. Os crimes culposos pressupõem a existência do nexo de causalidade entre a ação e o resultado criminoso, não se admitindo a punição à título de culpa na hipótese em que o agente atua com as diligências necessárias, não se omitindo em observar as precauções para evitar o evento danoso. Registre-se que em sede de direito penal não se admite a incidência da responsabilidade objetiva, em consonância com o princípio expresso no brocardo latino nullum crimen, nulla poena sine culpa. A ocorrência da morte de José Roberval, consubstancia lamentável acidente de natureza, sem qualquer repercussão criminal perante o acusado. 3/6
4 Restou evidenciado, no relatório tocante ao inquérito, que a própria vítima contribuiu para que o acidente, acontecesse, porém, o fato é que se o comandante do barco ALBATROZ tivesse observado as normas de condução marítima, o acidente não teria ocorrido. Além do mais, reza a melhor doutrina que para caracterizar a culpa é necessário que exista um nexo causal entre a atitude e a conseqüência da ação ou omissão decorrente. Ora, como restou bem demonstrado, o acusado em nada contribuiu para o naufrágio de sua embarcação, pelo contrário, o mesmo se deu em função da atitude imprudente do comandante da embarcação ALBATROZ e de José Roberval que pediu para conduzir a embarcação sem ter conhecimento ou habilitação para tanto, além do mais não atendeu às solicitações feita pelo acusado, eis a verdadeira causa do naufrágio ocorrido. É importante ressaltar que o acusado, não sabia de forma alguma, que a infeliz vítima não sabia nadar. A vítima adentrou a embarcação, pedindo uma carona, o que foi prontamente acatado pelo acusado, tendo em vista ser uma atitude comum entre os habitantes daquela região em virtude da dificuldade de locomoção. Dada às circunstâncias do momento, assumindo, a vítima, dessa forma, o risco pelas conseqüências que poderiam advir. No caso vertente, o acusado é mais uma vítima da negligência e imprudência do comandante do barco ALBATROZ, agiu na boa fé e com o intuito de ajudar a vítima, jamais imaginando o que poderia acontecer. Por último, vale ressaltar, a atitude tomada pelo acusado no sentido de salvar a vida da infeliz vítima, sendo, inclusive, alvo de elogios por parte das pessoas que acompanhavam o terrível acidente nas inúmeras tentativas de salvar, do afogamento, a vítima, o que, infelizmente, acabou acontecendo. Portanto, não podendo responder por um delito que não cometeu e não concorreu para ocasioná-lo. Ex positis, e, tendo em vista as diretrizes emanadas do direito objetivo, máxime a total ausência de culpa do acusado, sua atitude corajosa no sentido de salvar a vida da desditosa vítima e o princípio da legalidade, insculpido no art. 37, caput, da Carta Magna em vigor, requer a total improcedência da representação ofertada. Na instrução nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais, falaram as partes. Decide-se. 4/6
5 De tudo o que consta dos autos, conclui-se que o acidente da navegação tipificado no art. 14, letra a da Lei nº /54, ficaram caracterizados como emborcamento de uma embarcação do tipo voadeira, sem nome, quando navegava no rio Paraná do Manaquiri, em frente a comunidade de Manaquiri, AM, tendo como condutor Francisco José Fernandes Barros, ora representado, proprietário da embarcação, e como passageiro José Roberval da Silva (vítima fatal, documento de fl. 31, Declaração de Óbito). Francisco José Fernandes Barros, em seu depoimento declarou não ser habilitado e que a voadeira não possuía coletes salva-vidas. Afirmou, ainda, que a vítima fatal pediu para assumir o comando da embarcação, dizendo saber conduzi-la e que, passando pelo poço fundo do rio Paraná do Manaquiri, o mesmo solicitou à vítima que reduzisse a velocidade por causa das embarcações que navegavam em sentido contrario, o qual foi atendido. Porém, mais adiante, foi produzido um banzeiro pela passagem da embarcação ALBATROZ que acabou gerando o acidente. A causa determinante do acidente esta relacionada à imperícia e negligência dos condutores da voadeira, por não possuírem habilitação e navegarem com a mesma sem coletes salva-vidas, o qual contribuiu sobremaneira para o falecimento por afogamento de José Roberval, condutor da embarcação na hora do acidente. Demais disso, restou apurado que a maneira como a embarcação foi conduzida antes do acidente, contribuiu consideravelmente ao seu emborcamento, tendo em vista, que o condutor da mesma adentrou de frente no banzeiro, levando a voadeira a sofrer um forte impacto, jogando ambos no rio. Nessas condições, considera-se que o erro da navegação, aliado a falta de habilitação dos condutores da voadeira e a falta de coletes salva-vidas, foram fatores preponderantes para eclosão do acidente. Diante do exposto, procedem os termos da representação ofertada pela D. Procuradoria, condenando o representado Francisco José Fernandes Barros, condutor inabilitado e proprietário da voadeira sem nome, à pena de repreensão e custas. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: emborcamento de embarcação quando navegava de Iranduba com destino a Manaquiri, AM, com danos materiais e uma vítima fatal; b) quanto à causa determinante: erro de navegação, aliado a falta de habilitação dos condutores da voadeira e a falta de coletes salva-vidas; c) decisão: julgar o acidente da 5/6
6 navegação capitulado no art. 14, letra a, da Lei nº /54, como decorrente de imperícia e negligência de Francisco José Fernandes Barros, proprietário e condutor inabilitado da voadeira, sem nome, condenando-o à pena de repreensão e custas. Oficiar à Diretoria de Portos e Costas as infrações ao RLESTA, artigos 11, 15, 16, a ser atribuídas ao proprietário da voadeira, sem nome, Francisco José Fernandes Barros. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 24 de junho de EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA Diretora da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 6/6
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