TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO N /02 ACÓRDÃO
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- Anna Rodrigues Santiago
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO N /02 ACÓRDÃO Jangada "CARINA". Emborcamento quando navegava a 05 milhas da praia de Ponta Negra, Natal, RN. Sem vítimas. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Consta dos autos que no dia 26 de junho de 2002, cerca de 5h, no mar de Pirangi, aproximadamente a 5 milhas náuticas da praia de Ponta Negra, Natal-RN, a jangada CARINA, com dois tripulantes, o proeiro, Armando dos Santos Correia Filho, e o mestre Edson Sena de Lima, ambos inabilitados, emborcou em razão das condições adversas do mar e vento, sem vítimas. Laudo de exame pericial, concluiu que a possível causa determinante do emborcamento da jangada CARINA se deu por fortuna do mar. Documentações de praxe anexada. No relatório o encarregado do inquérito concluiu que a embarcação em questão teve seu naufrágio causado por fortuna do mar, e que houve imprudência por parte dos tripulantes e do proprietário da embarcação em se fazer ao mar sem equipamento de salvatagem necessários e com o mar apresentando condições desfavoráveis. Notificação dos indiciados formalizadas. Defesa prévia de fls. A Douta Procuradoria, ofereceu representação em face de Edmilson Cardoso, proprietário da jangada, e Edson Sena de Lima, que apesar de não possuir qualquer tipo de habilitação como aquaviário, exercia as funções de mestre da jangada. Por entendê-los responsáveis pelo acidente da navegação naufrágio (emborcamento) e pelo fato da navegação. Todos os fatos (colocar em risco a embarcação e as vidas de
2 bordo); previsto nos Arts. 14, letra a e 15, letra e, da Lei nº 2.180/54, fundamentando que o proprietário da jangada é responsável pelo fato da navegação, na medida em que não providenciou material de salvatagem adequado para sua jangada e por ter colocado para mestra-la uma pessoa que não possuía os conhecimentos reais, sobre os perigos de se enfrentar o mar com embarcação tão frágil, uma vez que sabia que o mestre, a quem entregara sua embarcação não passara pelo processo de habilitação para conduzi-la Resta caracterizada a conduta imprudente e negligente de Edmilson Cardoso, que também não inscreveu sua embarcação junto à Autoridade Marítima como era sua obrigação, fato este que caracteriza infração à RLESTA. Ao mestre da jangada Edson Sena de Lima imputamo-lhe culpa em face de sua conduta imprudente, ao permanecer navegando e enfrentando mar agitado, apesar das condições adversas de mar, vento e visibilidade que se apresentavam e por, apesar de não ter habilitação formal, ter aceito mestra-la. Pescador vivo tem condição de sustentar e prover sua família, morto não. Recebida a representação, e citados os representados foram regularmente defendidos. A defesa do 1º e 2º representados alega em resumo que os representados por questões óbvias, já esclarecidas nos autos, especialmente quanto a legalidade da embarcação, esse quanto ao representado Edmilson Cardoso, e quanto a conduta imperita do segundo Edson Sena Lima, estão de forma concisa expressa na representação, mas necessitando serem desconsideradas ante a realidade, ao estado dos fatos e principalmente quanto ao direito de sobrevivência que advém de certas situações da vida, o que não inibe a obrigação do estado de suprir necessidades como saúde, segurança e educação. 2
3 Alega ainda, que outros fatores de ordem administrativa, como falta de condições técnicas e inabilidade dos representados, podem servir de suporte para uma simples advertência, face ao caráter que a realidade social impõe-lhes de forma, que Vossa Excelência, se digne, apreciar a representação sob o prisma de estado de necessidade face a realidade social da própria categoria dos representados. Alega também, que não é cansativo enfatizar que a culpa por si só já seria uma tragédia que diretamente os impinge pena mortal, que por sorte não adveio, de forma que tal omissão não trouxe sérios prejuízos ao próximo, mas a si mesmos. A pena, lógica, já advém do caso. Alega finalmente, que fugindo à regra do perigo, a exclusão de responsabilidade ocorrerá diante da força maior, do caso fortuito do estado de necessidade e da culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. A força maior trata-se de fenômeno natural, absolutamente estranho ao comportamento humano. Ante o exposto, ratificam-se os termos da defesa, requerente de Vossa Excelência, diante da realidade social da categoria, até mesmo pela própria realidade descrita nos autos, diante ainda, de que os representados não possuem renda própria e vivem da pesca, rudimentar para subsistir, conforme denota a própria embarcação que alem da pena em si mesma já sofrida, resulte no arquivamento da presente representação, e se assim não entender, por medida equânime ao que ficou caracterizado no inquérito, a aplicação da pena de advertência, por ser, no mínimo, o mais condizente com a realidade vivida pelos requeridos na própria condição de simples pescadores artesanais, o que por si só já inibe o pagamento das custas processuais. Nas instruções, nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais falam as partes. Decide-se. 3
4 De tudo o que consta nos presentes autos, tipificados nos arts. 14, letra "a" e 15, letra "e", da Lei nº 2.180/54, ficaram caracterizados como, emborcamento de jangada quando navegava a 05 milhas náuticas da praia de Ponta Negra, Natal, RN, com dois tripulantes inabilitados, sem vítimas. Em virtude desse emborcamento a jangada foi levada pela correnteza, mar a dentro, e seus tripulantes a largaram e apoiando-se em pedaços de isopor, ficando o mestre a espera de socorro, foi nadando até chegar à praia da Redinha Nova, onde providenciou o socorro junto a um policial militar. O exame pericial constatou que as condições do mar e vento não estavam favoráveis à navegação deste tipo de embarcação, fato descrito às fls. 09, 10 e 11, boletim de condições meteorológicas e depoimentos, alegarem os tripulantes que estas condições fizeram que a jangada emborcasse. Como se já não fosse o bastante o inquérito também apurou que a jangada, era uma embarcação que não oferecia segurança aos seus tripulantes em navegação de mar aberto, e se fez ao mar sem os equipamentos de salvatagem necessários, colocando assim a vida de seus tripulantes em risco. Demais disso a jangada não era inscrita na Capitania dos Portos, bem como seus tripulantes não possuíam qualquer tipo de habilitação como aquaviário. Nessas condições, considerando que a falta de material de salvatagem, aliado a falta de habilitação do condutor da jangada e as condições adversas de mar, vento e visibilidade, comprometeram, decisivamente a navegação da jangada, deixando-a vulnerável para empreender a navegação que desenvolvia. Considerando, ainda, que a embarcação não era inscrita junto à Autoridade Marítima, bem como o erro de manobra do mestre da mesma, pois não soube manobrar, corretamente a jangada para enfrentar as ondas e retornar em segurança de sua própria vida e a de seu proeiro, o que colocou em risco as vidas e fazendas de bordo, julgo 4
5 procedente os termos da representação, oferecida pela Douta Procuradoria, condenando os representados pelo acidente e fato da navegação, previsto na letra "a", do art. 14, da Lei nº 2.180/54, e letra "e", do art. 15, ambos da Lei nº 2.180/54, o proprietário da jangada "CARINA", Edmilson Sena de Lins, por imperícia. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente e fato: emborcamento de jangada, quando navegava a 5 milhas da praia de Ponta Negra, Natal, RN, sem vítimas; b) quanto à causa determinante: erro de manobra de condutor inabilitado; c) decisão: julgar o acidente e o fato da navegação, previstos nos arts. 14, letra "a" e 15, letra "e", da Lei nº 2.180/54, como decorrentes de negligência de Edmilson Cardoso e imperícia de Edson Sea de Lima. Isentá-lo de pena de multa e pagamento de custas, nos termos do Art. 143 da citada lei, visto à situação sócio-econômica de ambos e a perda de jangada. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 22 de abril de EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 5
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