TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante 1: Milton de Oliveira Ferreira Apelantes 2: Kab Kalil Administração de Bens Ltda. e outro Apelados: os mesmos Relator: Jds. Des. Elton M. C. Leme R E L A T Ó R I O sentença de fls Adota-se, na forma regimental, o relatório lançado na Trata-se de ação ordinária promovida por Kab Kalil Administração de Bens Ltda. e Alfredo José Kalil da Silveira em face de Milton de Oliveira Ferreira, objetivando o pagamento da quantia de R$ ,00, relativa à comissão dos serviços de corretagem prestados pela primeira, além de danos morais. Isto porque, quando da venda do imóvel de propriedade do réu, mediante a intermediação da parte autora, houve equívoco dos autores quando da elaboração do recibo de sinal, fazendo-se constar do documento como preço da transação o valor de R$ ,00 somado à comissão de corretagem devida pelos compradores aos autores, no valor de R$ ,00, perfazendo o valor total de R$ ,00. O equívoco residiu no fato de não ter sido feita convenientemente a ressalva de que naquele valor total estava incluída a comissão de corretagem. Entretanto, após assinado o

2 documento, a parte ré não concordou em restituir a parte destinada à corretagem, sob a inverídica alegação de que a transação havia sido pactuada com base no valor global de R$ ,00. A parte ré, em contestação, alegou que o preço ajustado para a venda do imóvel de sua propriedade foi de R$ ,00 e não ,00, conforme consta do respectivo recibo de sinal e que nada deve aos autores. A sentença de fls julgou parcialmente procedente o pedido, condenando o réu a pagar à primeira autora a quantia de R$ ,00, a título de comissão de corretagem, com correção monetária desde 18/11/2004 e juros de mora de 1% ao mês desde 22/12/2004. A decisão se fundamenta no fato de que foi constatado através de diversas provas que o valor de venda do imóvel foi de R$ ,00, sendo de R$ ,00 o valor da comissão de corretagem. Dessa forma, considerou-se que o réu injustamente reteve a importância de R$ ,00. Deixou, entretanto, a sentença de reconhecer a incidência de danos morais. Apelou o réu às fls , sustentando que a sentença está equivocada em reconhecer que o preço de venda do bem é de R$ ,00, reafirmando que o valor real foi de R$ ,00. Requereu a integral reforma da sentença. Apelação da parte autora às fls , requerendo que seja reconhecido o dano moral postulado na inicial, bem como a condenação do réu a arcar com os ônus da sucumbência.

3 Contra-razões da parte autora às fls É o relatório. À douta revisão. Rio de Janeiro, 29 de junho de Jds. Des. Elton M. C. Leme Relator

4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Apelante 1: Milton de Oliveira Ferreira Apelantes 2: Kab Kalil Administração de Bens Ltda. e outro Apelados: os mesmos Relator: Jds. Des. Elton M. C. Leme COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. AJUSTE DO PREÇO, LIVRE DE COMISSÃO DE CORRETAGEM, NOS TERMOS DO VALOR CONSTANTE DO ANÚNCIO PUBLICADO EM JORNAL. EQUÍVOCO NA ELABORAÇÃO DO RECIBO DE SINAL, SOMANDO AO PREÇO DA VENDA O VALOR DA CORRETAGEM, SEM A DEVIDA RESSALVA. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL ROBUSTA. LOCUPLETAMENTO ILÍCITO POR PARTE DO VENDEDOR. BOA FÉ DOS CORRETORES. OBRIGAÇÃO DO VENDEDOR DE RESTITUIR AOS CORRETORES O QUE RECEBEU A MAIOR. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. 1. Diante da prova documental e testemunhal positiva, é possível concluir que, na transação de compra e venda de imóvel, houve equívoco quando da elaboração do recibo de sinal, incorporando-se ao preço da venda do bem, sem a devida ressalva, o valor devido pelos compradores aos corretores que intermediaram a transação. 2. Não é lícito ao alienante do bem se locupletar da boa fé dos corretores que intermediaram a transação, retendo indevidamente valores que a estes se destinavam a título de comissão de corretagem. 3. Não é possível, entretanto, extrair do caso concreto repercussão tal que suscite o reconhecimento de gravame moral. 4. Correta a sentença. 5. Desprovimento de ambos os recursos.

5 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº , julgada na sessão de 24 de julho de 2007, figurando como apelantes (1) Milton de Oliveira Ferreira e (2) Kab Kalil Administração de Bens Ltda. e outro e apelados os mesmos. ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Acórdão apresentado na data da sessão. V O T O Inicialmente, no que tange ao agravo retido, não merece o mesmo acolhida, tendo em vista que não restou demonstrado que a testemunha contraditada tivesse interesse no resultado da demanda, conforme bem ressaltou o eminente magistrado que conduziu a inquirição da testemunha, não alterando, para fins probatórios, o teor de seu depoimento quer sob compromisso, quer dispensado este. No que tange ao mérito, a hipótese em análise envolve controvérsia sobre o preço real de venda de bem imóvel de propriedade do

6 réu, em que a parte autora figurou como corretora, intermediando a compra. A parte autora postula o recebimento do valor de R$ ,00 referentes à sua comissão, valor esse que foi indevidamente incorporado ao preço da transação por equívoco quando da elaboração do recibo de sinal. Conforme muito bem conclui a douta sentença recorrida, a prova carreada aos autos, tanto documental, como testemunhal, é contundente e comprova a veracidade da versão alinhada pela parte autora. Ficou claramente demonstrado que o comprador do bem, mediante a intermediação da parte autora, foi atraído pelo anúncio de jornal que indicava com clareza o preço do imóvel como sendo de R$ ,00 (fls. 30). Esse fato foi confirmado pela prova testemunhal, especialmente o depoimento de Janete Proença Coelho Dias, às fls , que foi quem intermediou a transação a pedido do vendedor, ora apelante. Restou também evidenciado que os compradores fizeram uma contraproposta, com valor mais baixo do que o anunciado, o que não foi aceito, deixando-se claro que o valor pretendido pelo apelantevendedor era de R$ ,00, livre que qualquer comissão de corretagem. Assim, as partes marcaram uma reunião para a concretização do negócio, tendo os autores elaborado o recibo de sinal, incorporando o valor da corretagem que lhes era devida, no montante de R$ ,00 ao valor da venda, de R$ ,00, perfazendo o total de R$ ,00.

7 Está evidenciado nos autos que houve equívoco na elaboração do recibo de sinal, sendo certo que não é possível admitir, porque não verossímil, que os compradores tenham, por puro desprendimento, elevado o valor da proposta aceita de R$ ,00 para R$ ,00, sem prévia discussão, e que tenha o vendedor, ao ler tal importância no recibo, somente neste momento concordado com a transação, sem qualquer manifestação. A boa fé dos autores está patenteada nos autos, não podendo o vendedor se locupletar da situação e reter, indevidamente, a parte do ajuste que não lhe destinava, mas sim aos corretores que intermediaram a transação em nome dos compradores. Sendo assim a atitude do réu em não entregar à parte autora o que lhe é devido a título de comissão não merece qualquer amparo, sendo portanto correta a decisão de primeiro grau, ao condenar este a pagar à autora os R$ ,00 (quarenta mil reais) que lhe são devidos. Quanto ao pedido de dano moral, o mesmo não merece acolhida. Como bem concluiu o eminente Magistrado prolator da sentença recorrida, a parte autora não sofreu, em virtude do episódio objeto da demanda, nenhum abalo emocional grave ou qualquer mácula a sua boa reputação profissional. Não se extrai, portanto, da hipótese em exame, conseqüências juridicamente relevantes que justifiquem a imposição de danos morais.

8 Por tais fundamentos, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao agravo retido e, no mérito, negar provimento a ambos os recursos de apelação. Rio de Janeiro, 24 de julho de Jds. Des. Elton M. C. Leme Relator