Representante do Ministério Público: MARINUS EDUARDO DE VRIES MARSICO

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: MARINUS EDUARDO DE VRIES MARSICO Assunto: Tomada de Contas Especial Acórdão: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pela Secretaria Federal de Controle, por intermédio da Coordenação-Geral para Assuntos de Inventariança, contra Nilo Fraga Menezes, ex-prefeito de Pinhão/SE, em razão de irregularidades e impropriedades na aplicação de recursos de subvenção social concedida pelo extinto Ministério da Ação Social, objetivando a aquisição de medicamentos para a população carente e a limpeza da rede de esgotos municipal. Considerando que o responsável tempestivamente apresentou, em audiência, razões de justificativa para as irregularidades verificadas na aplicação dos recursos subvencionados; Considerando que restou comprovado desvio de finalidade na aplicação dos referidos recursos em relação ao plano de aplicação; Considerando que os recursos foram integralmente aplicados em prol da comunidade do Município de Pinhão/SE; Considerando a inexistência de locupletamento por parte dos responsável; Considerando os pareceres uniformes da Unidade Técnica e do Ministério Público. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Segunda Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em: a) nos termos dos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "b", e 19, parágrafo único, da Lei nº 8.443/92, julgar irregulares as presentes contas, aplicando ao responsável, Sr. Nilo Fraga Menezes, nos termos dos arts. 23, inciso III, alínea a, e 58, inciso I, da mesma Lei c/c o art. 165, inciso III, alínea a, do Regimento Interno/TCU, multa na quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante este Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional; Colegiado:

2 Segunda Câmara Classe: Classe II Sumário: Tomada de Contas Especial. Recursos provenientes de subvenções sociais do extinto Ministério da Ação Social. Impropriedades e irregularidades na aplicação dos recursos. Audiência. Razões de justificativa. Desvio de finalidade. Ausência de locupletamento. Irregularidade das contas. Aplicação de multa ao responsável. Autorização para cobrança judicial da dívida. Natureza: Tomada de Contas Especial. Data da Sessão: 04/12/2001 Relatório do Ministro Relator: Trata-se de Tomada de Contas Especial instaurada pela Secretaria Federal de Controle do Ministério da Fazenda, por intermédio da Coordenação-Geral para Assuntos de Inventariança, contra Nilo Fraga Menezes, ex-prefeito de Pinhão/SE, em razão de irregularidades e impropriedades na aplicação de recursos de subvenção social concedida pelo extinto Ministério da Ação Social/MAS, objetivando a aquisição de medicamentos para a população carente e a limpeza da rede de esgoto municipal. As mencionadas irregularidades são as seguintes: ausência de gastos em serviços de limpeza de rede de esgotos, bem como aplicação de parte dos recursos na aquisição de alimentos, material escolar e de limpeza, atividades essas não previstas nos planos de aplicação. Promovida audiência do responsável quanto ao desvio de finalidade na aplicação dos recursos, foram tempestivamente apresentadas razões de justificativa (fls. 113/114), nas quais o defendente alega que o município é pequeno e não possui uma grande rede de esgotos, razão pela qual utilizou os recursos para adquirir medicamentos, material escolar, material de limpeza e gêneros alimentícios para a população carente de Pinhão/SE. Justificou que a Prefeitura não alterou o plano de aplicação no Ministério da Ação Social por equívoco ou por falta de conhecimento e que durante a aplicação das subvenções sociais foram realizadas fiscalizações por técnicos do ministério repassador sem que fossem feitas notificações ou recomendações. Por último, o responsável alega que os recursos foram

3 revertidos em prol da comunidade, não havendo indícios de locupletamento ou de má-fé. A instrução da Unidade Técnica destaca que os gestores municipais já sabiam, desde antes de pleitear os recursos, que o repasse não seria utilizado em conformidade com o plano de trabalho e que sequer havia previsão de gastos com material de limpeza, material escolar e gêneros alimentícios, configurando-se, portanto, desvio de finalidade na aplicação dos recursos conveniados. Assevera ainda que os elementos constantes dos autos permitem concluir que não houve intenção do gestor em modificar o plano de trabalho e que houve má-fé do Prefeito em solicitar recursos indicando objetivos distintos daqueles que realmente almejava, assim como não foi apresentada nenhuma comprovação de que tenha sofrido fiscalização por parte do extinto Ministério da Ação Social. Ao final, a Unidade Técnica, em pareceres uniformes, endossados pelo representante do Ministério Público junto ao TCU, propôs que o Tribunal julgue irregulares as presentes contas, com aplicação de multa ao responsável, com autorização para cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação, e que seja determinada à Secretaria Federal de Controle a adoção de providências com vistas à baixa da inscrição da responsabilidade do Sr. Nilo Fraga Menezes. Voto do Ministro Relator: Da análise dos elementos presentes nos autos restou comprovado que houve desvio de finalidade na aplicação dos recursos subvencionados. Dos Cr$ ,00 pleiteados e transferidos para limpeza de rede de esgotos, nada foi aplicado nessa finalidade, sendo que o prefeito resolveu aplicá-los na aquisição de mais medicamentos e também na compra de alimentos, material de limpeza e material escolar. As razões de justificativa apresentadas em audiência pelo responsável confirmam o fato, mas demonstram a inexistência de locupletamento por parte do gestor, uma vez que os recursos foram integralmente aplicados em benefício da população carente do Município de Pinhão/SE. O fato de o responsável ter solicitado recursos para limpeza de esgotos, já sabendo que não iria aplicá-los nessa finalidade, demonstra um meio ardiloso para a obtenção das verbas federais, razão pela qual deve ser censurada. Por sua vez, o argumento de que teria atingido, genericamente, o interesse público pode parecer correto à primeira vista, entretanto sucumbe quando temos definido no nosso sistema jurídico que quem define o interesse público e o destino que as verbas públicas devem ter não é a autoridade executora, mas o legislador que estabelece a priori as áreas que têm primazia. A execução do orçamento deve guardar fidelidade com projetos e ações idealizados pelo legislador, sob pena de haver usurpação das funções do legislativo pelo executivo. Não compete ao prefeito municipal definir, discricionariamente, se o recurso

4 público federal tem tal ou qual destinação. Certamente, por meio de um juízo de valor, no julgamento das contas é levado em consideração a intensidade em que ocorre cada espécie de desvio de finalidade para o caso de aplicar e dosar a penalidade de multa e, até mesmo, se configurado dano ao erário, ensejar a condenação em débito. Seguindo essa linha de entendimento, o Tribunal tem decidido em casos dessa espécie (Acórdãos n. 432/97, 83/99 e 69/00 da 2ª Câmara e Acórdãos 07/96 e 293/99 da 1ª Câmara) - quando presente o desvio de finalidade, mas com aplicação dos recursos em prol da comunidade - pela irregularidade das contas, aplicando ao responsável a multa prevista no inciso I do art. 58 da Lei nº 8.443/92. Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à deliberação desta Segunda Câmara. Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 04 de dezembro de BENJAMIN ZYMLER Interessados: RESPONSÁVEL: Nilo Fraga Menezes, ex-prefeito. Grupo: Grupo I Indexação: Tomada de Contas Especial; Convênio; MAS; Prefeitura Municipal; Pinhão SE; Desvio de Finalidade; Aplicação; Recursos Públicos; Multa; Data da Aprovação: 13/12/2001 Unidade Técnica: SECEX-SE - Secretaria de Controle Externo - SE Quorum: 1 Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta, Ubiratan Aguiar e Benjamin Zymler (Relator). Ementa:

5 Tomada de Contas Especial. Convênio. MAS. Prefeitura Municipal de Pinhão SE. Desvio de finalidade. Aplicação dos recursos em prol da comunidade. Contas irregulares. Multa. - Desvio de finalidade na aplicação dos recursos. Considerações. Data DOU: 21/01/2002 Número da Ata: 44/2001 Entidade: ENTIDADE: Prefeitura Municipal de Pinhão/SE. Processo: / Ministro Relator: BENJAMIN ZYMLER