Tribunal de Contas da União. Número do documento: AC /01-2. Identidade do documento: Acórdão 317/ Segunda Câmara

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1 Tribunal de Contas da União Número do documento: AC /01-2 Identidade do documento: Acórdão 317/ Segunda Câmara Ementa: Tomada de Contas Especial. Fundação Nacional de Saúde - Distrito Sanitário de Crato CE. Não comprovação da distribuição de materiais adquiridos para a população carente. Execução de serviços em propriedade particular. Pagamento indevido de diárias. Inclusão em um mesmo processo de licitação de itens de naturezas distintas. Participação de servidor em certame licitatório. Existência de processos forjados de carta-convite. Alegações de defesa já rejeitadas. Apresentação de elementos adicionais de defesa. Ausência de fatos novos. Contas irregulares. Débito. Multa. Remessa de cópia ao MPU. Inclusão do nome do responsável no CADIN. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE II - 2ª Câmara Processo: / Natureza: Tomada de Contas Especial Entidade: Fundação Nacional de Saúde - Funasa - Distrito Sanitário de Crato - CE Vinculação: Ministério da Saúde Interessados: Responsável: Gladstone Lins de Alencar. Dados materiais: ATA 18/2001 DOU de 04/06/2001 INDEXAÇÃO Tomada de Contas Especial; FNS; Crato CE; Diárias; Licitação; Fraude; Alegações de Defesa Rejeitadas; Multa; Responsável em Débito; Inscrição de Responsável; Cadastro;

2 Sumário: Tomada de Contas Especial instaurada em virtude de irregularidades ocorridas no Distrito Sanitário de Crato Fundação Nacional de Saúde. Citação e audiência do responsável e determinação à Entidade. Alegações de defesa rejeitadas e razões de justificativa acolhidas parcialmente (Decisão nº 374/99-2ª Câmara). Ciência ao ex-gestor e fixação de prazo para recolhimento das importâncias devidas. Elementos apresentados a título de recurso, os quais foram analisados nos termos da Resolução nº 36/95. Esclarecimentos incapazes de justificar as irregularidades. Contas julgadas irregulares com débito e multa. Autorização para cobrança judicial. Determinação à Funasa. Remessa de cópia dos autos ao Ministério Público da União. Relatório: Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial, originária de Representação formulada pelo Procurador da República da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Estado do Ceará, Sr. José Adonis Callou de Araújo Sá, tendo em vista a ocorrência de irregularidades na Fundação Nacional de Saúde Funasa, no Distrito Sanitário de Crato CE. 2. Promovidas a citação e audiência devidas, o responsável apresentou alegações de defesa e razões de justificativa, as quais foram apreciadas pela 2ª Câmara na Sessão de (Decisão nº 0374/99 ), oportunidade em que foram rejeitadas as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Gladstone Lins de Alencar, tendo em vista que as justificativas não lograram descaracterizar as irregularidades verificadas na distribuição dos filtros, na perfuração de poços em propriedade particular, bem como no recebimento de diárias a maior, cientificando-o para que recolhesse aos cofres da Fundação Nacional de Saúde as quantias especificadas, acrescidas dos encargos legais. 3. Foram acolhidas naquela assentada as razões de justificativa oferecidas pelo responsável em relação às ocorrências verificadas no procedimento licitatório referente à Carta Convite nº 08/95 e rejeitadas aquelas concernentes à não adoção de providências administrativas em vista de irregularidades envolvendo servidor da Entidade. 4. Determinou-se naquele momento que fosse promovida diligência junto à Fundação Nacional de Saúde Distrito Sanitário de Crato CE com vistas a verificar o cumprimento das determinações exaradas pelo Tribunal na Sessão de (Decisão nº 553/98 Plenário).

3 5. Cientificado da Decisão nº 0374/99-2ª Câmara, o responsável apresentou expediente intitulado de recurso, acompanhado de anexos, alegando, preliminarmente, que não roubou, não furtou, não cometeu improbidades administrativas. Resumimos abaixo os argumentos oferecidos, destacando em seguida a análise efetivada pelo AFCE responsável pela instrução dos autos. 6.Sobre a aquisição e distribuição de filtros, o ex-gestor afirma que as aquisições foram regulares e a entrada contabilizada no almoxarifado. Acrescenta que as saídas dos filtros foram também registradas no almoxarifado e o servidor designado para distribuição dos materiais, pessoa de poucas letras, não atentou para os devidos registros na ocasião da entrega, apesar de ter sido orientado para o correto preenchimento das fichas de doação dos bens, ora pegando assinaturas de pessoas semi-analfabetas e ora deixando de registrar o dia da entrega. Acredita que, cobrado pelo registros corretos, tratou de preencher as fichas incompletas, colocando a data incorreta, porém sem dolo. 7.Destaca o AFCE que o caso dos filtros mereceu grande atenção na auditoria realizada no Distrito Sanitário de Crato, pois as constatações relevantes foram reafirmadas nas pesquisas documentais e in loco, conforme registrado no Relatório de Inspeção (fls. 262/275 do principal). Acrescenta que a nova tentativa de explicação do responsável, consubstanciada nos documentos constantes dos anexos, os quais são cópias de peças já examinadas nos autos e durante a fiscalização, razão pela qual não são capazes de elidir as irregularidades comprovadas nos autos. 8.Quanto à perfuração de poço, afirma que o Tribunal não levou em consideração a documentação anexada aos autos, pois o mesmo foi feito em propriedade de herdeiros, mas já devidamente doado mediante Instrumento Particular de Escritura de Doação. Acredita que o analista ao se reportar ao poço profundo localizado na Fazenda Pedrinha deveria ter mencionado que o mesmo ainda não se encontrava em pleno funcionamento por culpa da Fundação Nacional de Saúde, uma vez que faltavam os motores para o seu funcionamento; que existia cerca, porém ao redor de toda a obra, separando a Fazenda e a mesma; que não constatou com presentes se realmente o poço estava sendo utilizado por pessoas da Fazenda. Apresenta declaração de algumas pessoas residentes nas proximidades da questionada obra, bem como fotos para comprovar a utilização do poço pelos munícipes daquela região e a inexistência de cercas ao redor da obra questionada. 9.O AFCE assinala que o Instrumento Particular de Escritura de Doação

4 já foi objeto de exame na fase de audiência do responsável e não tem valor jurídico, pois não foi feito em cartório e as assinaturas do documento não foram reconhecidas. As fotos tiradas quando da inspeção mostram claramente que o poço não estava em funcionamento e a sua implementação dependia também da legalização da área. Sobre a declaração anexada, verifica-se que as não pessoas não estão identificadas, não confirmaram seus endereços e nem consta o reconhecimento de suas assinaturas. Nas fotos ora apresentadas, aparecem poços, não restando claro a sua localização, nem sua finalidade e se as pessoas constantes das fotos são empregados da fazenda. Além disso, destaca que o assunto foi cuidadosamente pesquisado na oportunidade da inspeção, inclusive junto a pessoas trabalhadoras na fazenda, e restou confirmado o que as fotos tiradas na época da inspeção mostram. 10.No que se refere à impugnação de diárias esclarece que, revendo o Pedido de Concessão de Diárias nº 05/96, de , o beneficiário teria direito a seis diárias e não a cinco e meia como ficou comprovado, havendo portanto prejuízo a ele e não à Fundação Nacional de Saúde. Afirma que nos demais pedidos o beneficiário sempre foi prejudicado, não havendo razão para ressarcimentos aos cofres da Funasa, e sim direito a diferenças não pagas. O AFCE afirma que os documentos oferecidos para exame não apresentam informações capazes de comprovar a permanência do responsável na capital do estado e na forma prevista nos documentos, destacando que a impugnação ocorreu em razão do Boletim Diário de Tráfego, as fls. 108 do principal. 11.Relativamente às providências administrativas, assinala que errou ao afirmar, na defesa inicial, que não existia tempo para tomar as medidas administrativas necessárias, quando na verdade o que ocorreu foi que não tomou conhecimento do fato quando ainda era o Chefe do Distrito Sanitário de Crato. Acrescenta que essa falha não acarretou qualquer prejuízo para os cofres administrativos, pois a aquisição realizada, e que teve a participação do servidor Eugênio Cláudio Siébra de Queiroz, foi devidamente processada e registrada nos controles contábeis da Fundação Nacional de Saúde. O AFCE aduz que as alegações do responsável confirmam mais uma vez a má gestão do responsável à frente daquele Distrito de Crato. 12.Com relação às diligências promovidas junto à Fundação Nacional de Saúde, restou esclarecido que a Funasa criou Comissão de Processo Disciplinar com a finalidade de apurar as irregularidades apontadas no Relatório da Comissão de Sindicância. A Comissão de Processo Disciplinar apurou os fatos irregulares cometidos pelos servidores, tendo o Coordenador Regional da Funasa no Estado do Ceará aplicado as

5 penalidades de advertência e suspensão, bem como determinado a instauração de Sindicância para apurar responsabilidades pela perfuração de poço profundo em propriedade particular do ex-gestor. Quanto ao Sr. Gladstone L. Alencar, em razão de já ter sido exonerado do cargo em comissão, o processo foi submetido à Presidência da Fundação com vistas à aplicação da penalidade prevista no art. 135, parágrafo único, da Lei nº 8.112/ No que se refere ao pagamento de diárias, noticiou-se que foram promovidas os ressarcimentos de diárias pagas indevidamente, juntando para comprovar as fichas financeiras do servidores envolvidos. 14.Diante do exposto, propôs o AFCE que o recurso interposto seja recebido como novos elementos de defesa, julgando as contas do responsável irregulares, com fulcro nos arts. 1º, I, 16, III, b, e c, e 23, III, da Lei nº 8.443/92, concedendo novo prazo para recolhimento das quantias estipuladas nos autos, bem como sejam aceitas as providências tomadas pela Direção da Funasa, em cumprimento às determinações exaradas. 15.A Diretora Técnica, com o endosso do Secretário da SECEX/CE, após salientar que as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Gladstone L. de Alencar, sobre a não adoção de providências administrativas em vista de irregularidades envolvendo o servidor Eugênio Cláudio Siébra de Queiroz, foram rejeitadas pelo Tribunal na Sessão de, acenando-se para a possibilidade de aplicação de multa, manifesta-se no sentido de: a) julgar as presentes contas irregulares e em débito o responsável, com fulcro nos arts. 1º, I, 16, III, b, e c, e 19, caput, da Lei n 8.443/92 condenando-o ao pagamento das importâncias especificadas, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora a partir das respectivas datas; b) aplicar ao Sr. Gladstone a multa prevista no art. 58, II e III, da Lei nº 8.443/92; c) remeter cópia do acórdão condenatório à Advocacia-Geral da União para as providências que entender pertinentes, caso não atendida a notificação; d) encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público da União para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis, nos termos do art. 16, 3º, da Lei nº 8.443/92;

6 e) determinar ao Distrito Sanitário de Crato - Fundação Nacional de Saúde a inclusão do nome do responsável no CADIN, caso essa providência não tenha ainda sido adotada. 14.O Ministério Público, em cota singela, manifesta-se de acordo com a proposta formulada pela Unidade Técnica. É o relatório. Voto: Os elementos carreados aos autos pelo responsável em vista da rejeição das alegações de defesa e das razões de justificativa por meio da Decisão nº 374/99 2ª Câmara, a título de recurso, foram examinadas pela Unidade Técnica nos termos do art. 23 da Resolução Administrativa TCU nº 36/95. 2.Mais uma vez o responsável não conseguiu comprovar a efetiva distribuição dos filtros adquiridos para atender à população carente do Município de Crato, tampouco descaracterizar as falhas verificadas nos documentos apresentados, quais sejam: recibos supostamente emitidos pelos beneficiados contendo as mesmas assinaturas; recibos indicando o recebimento de filtro quebrado; outros trazendo o nome de um beneficiário e a assinatura de pessoa distinta ; recibos com datas anteriores à data da aquisição. 3.Com relação à perfuração de poço profundo em propriedade do ex-gestor, o termo de doação apresentado é o mesmo já trazido aos autos anteriormente. Os documentos necessários para regularizar a situação, conforme já esclarecido, seria a escritura de doação do terreno, bem assim de termo de servidão pública da mencionada obra, registrada e transcrito no cartório de registro de imóveis, nos termos da legislação civil. Ademais há que se frisar que os elementos remetidos tampouco comprovam que o poço está beneficiando a comunidade local, não havendo, assim, como aceitar os argumentos oferecidos pelo responsável. 4.Da mesma forma, quanto à impugnação de diárias, os documentos apresentados não foram capazes de demonstrar a correção nos pagamentos de diárias ao ex-gestor, permanecendo, portanto, a obrigação do ex-chefe do Distrito Sanitário de Crato de restituir aos cofres da Funasa, os valores pagos indevidamente, 5.No que se refere a não adoção de providências em vista de irregularidades envolvendo o servidor Eugênio Cláudio Siébra de Queiroz em procedimento licitatório, as novas alegações do responsável não lograram descaracterizar a sua omissão na apuração dos fatos, não

7 conseguindo comprovar que não teve conhecimento dos acontecimentos à época. Ao contrário do que agora afirma, ao prestar depoimento na Comissão de Processo Administrativo declarou que teve ciência dos fatos na véspera de sua saída da Chefia do Distrito Sanitário, ratificando, assim, o que já havia sido informado neste processo em atendimento à audiência. Assim, não há como acolher as razões de justificativa apresentadas pelo responsável, pelo que lhe deverá ser aplicada a multa prevista no art. 58, III, da Lei nº 8.443/92, conforme determina o art. 43, II, parágrafo único, da mesma lei. Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 24 de maio de UBIRATAN AGUIAR Ministro-Relator Assunto: II - Tomada de Contas Especial Relator: UBIRATAN AGUIAR Representante do Ministério Público: MARINUS EDUARDO Unidade técnica: SECEX-CE Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial de responsabilidade do Sr.Gladstone Lins de Alencar, ex-chefe do Distrito Sanitário de Crato - Funasa, instaurada em razão de irregularidades ocorridas na distribuição de filtros, na perfuração de poço profundo em propriedade particular, bem como o recebimento indevido de diárias e a não adoção de providências administrativas em vista de ilegalidades envolvendo servidor da entidade. Considerando que, citado e ouvido em audiência, o responsável apresentou alegações de defesa e razões de justificativa, as quais foram rejeitadas por esta Câmara na Sessão de ( Decisão nº

8 374/99-2ª Câmara); Considerando que, ciente da rejeição de sua defesa, o ex-gestor remeteu novamente defesa, as quais foram examinadas como elementos complementares, nos termos do art. 22 da Resolução Administrativa nº 36/95; Considerando que os esclarecimentos e elementos remetidos, com relação à distribuição de filtros e perfuração de poço em propriedade particular, são basicamente os mesmos já examinados e já rejeitados por este Colegiado em oportunidades pretéritas; Considerando que mais uma vez o responsável não conseguiu justificar a não adoção de providências administrativas em vista de irregularidades envolvendo o servidor Eugênio C. S. de Queiroz; Considerando os pareceres da Unidade Técnica e do douto do Ministério Público. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, em: a) julgar irregulares as presentes contas e em débito o Sr.Gladstone Lins de Alencar, ex-chefe do Distrito Sanitário de Crato - Fundação Nacional de Saúde, pela quantias abaixo especificadas, com fulcro nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "b" e "c", 19 e 23, inciso III, da Lei nº 8.443/92, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a partir da notificação, para que comprove, perante este Tribunal (art. 165, III, alínea "a", do Regimento Interno), o recolhimento do referido valor à Fundação Nacional de Saúde - Funasa, acrescidas da atualização monetária e dos juros de mora devidos, contados a partir das respectivas datas até a data do efetivo pagamento, nos termos da legislação em vigor; (Vide Acórdão 626/2003 Segunda Câmara - Ata 14. Alteração da redação.) VIDE TABELA NO DOCUMENTO ORIGINAL b) aplicar ao responsável a multa referida no art. 58, III, da Lei nº 8.443/92 no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), fixando o prazo de 15 (quinze) dias, a partir da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 165, III, alínea "a" do Regimento Interno), seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizado monetariamente a partir do dia seguinte ao término do prazo ora fixado, até a data do efetivo pagamento;

9 c) autorizar, desde logo, com fulcro no art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/92, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações; d) determinar a Fundação Nacional de Saúde que inclua o nome do Sr. Gladstone Lins de Alencar (CPF nº ) no CADIN, caso essa providência ainda não tenha sido adotada; e) encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público da União para ajuizamento das ações penais e cabíveis, nos termos do art. 16, 3º, da Lei nº 8.443/92. Quórum: Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta, Ubiratan Aguiar (Relator) e o Ministro-Substituto Lincoln Magalhães da Rocha. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 24 de maio de 2001