Representante do Ministério Público: MARIA ALZIRA FERREIRA;

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Representante do Ministério Público: MARIA ALZIRA FERREIRA; Assunto: Consulta Colegiado: Plenário Classe: Classe III Sumário: Consulta formulada pela Presidência do Tribunal Superior do Trabalho acerca da licitude da averbação, para fins de adicional por tempo de serviço dos magistrados, de tempo prestado ao Banco do Brasil, na condição de aprendiz, atestado em certidão expedida pelo INSS, sem observância dos requisitos estabelecidos na Súmula-TCU nº 96. Conhecimento. Possibilidade de contagem do tempo. Ciência ao interessado. Arquivamento dos autos. Natureza: Consulta Data da Sessão: 17/10/2001 Relatório do Ministro Relator: Cuidam os autos de consulta de autoria do eminente Ministro Wagner Pimenta, Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, acerca da possibilidade de aproveitamento do tempo de serviço prestado na condição de aprendiz ao Banco do Brasil, para fins da gratificação adicional por tempo de serviço prevista no art. 65, inciso VIII, da Lei Complementar nº 35/79 (LOMAN). Tal consulta resultou de questionamento encaminhado ao TST pela Dra. Anabella Almeida Gonçalves, Juíza Presidente do TRT da 17ª Região, nos seguintes termos: É lícita a concessão de gratificação adicional por tempo de serviço a magistrados, em virtude de tempo de serviço prestado ao banco do Brasil, como menor aprendiz, com base em certidão expedida pelo INSS, ainda que tal averbação não atenda aos pressupostos da Súmula nº 96 do Egrégio Tribunal de Contas da União? Ao apreciar o feito, o AFCE Paulo Luís Quintela de Almeida, em parecer acolhido pelo Secretário da SEFIP e pelo Ministério Público, assim se manifestou quanto ao mérito:

2 5. Em princípio, cumpre ressaltar a particularidade da concessão da mencionada gratificação aos magistrados. Com efeito, como o art. 65, VIII, da Lei complementar n.º 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN), refere-se simplesmente a quinqüênio de serviço, sem se referir expressamente a serviço público, e o Decreto-lei n.º 2.019/83 repetiu a expressão, chegou-se ao entendimento de que o tempo de serviço em atividades privadas poderiam também ser utilizados para fins de concessão da vantagem, enquanto que, para os demais servidores federais, este tempo somente é computável para fins de aposentadoria. 5.1 Esta exegese teve espaço com o advento do mencionado Decreto-lei n.º 2.019/83, conforme entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal na Representação de Interpretação de Lei em Tese n.º DF. Com efeito, a Lei n.º 5.010/66, que regulava a matéria, em seu art. 50, expressamente condicionava a concessão da vantagem ao efetivo exercício da magistratura, nas mesmas condições estabelecidas para os servidores públicos em geral. 5.2 Com o advento da LOMAN, não houve imediata revogação do dispositivo, embora somente se referisse a tempo de serviço, vez que se reservou para a lei a regulamentação da vantagem. Tal somente ocorreu com o mencionado Decreto-lei n.º 2.019/83 que, ao se referir simplesmente, nos mesmos termos da LOMAN, a tempo de serviço, deu ensejo a que o Supremo Tribunal Federal entendesse que o tempo de atividade privada é computável para fins de gratificação adicional, mas somente quando prestado a pessoas jurídicas privadas da Administração indireta. 6. Quanto ao fato de a certidão expedida pelo INSS não satisfazer às condições da Súmula n.º 96 dessa Corte, cumpre ressaltar que o assunto não guarda relação direta com a questão em comento. 6.1 Com efeito, a mencionada Súmula versa sobre as condições para que o tempo de serviço prestado como aluno aprendiz a escolas profissionalizantes da União seja contado como de efetivo exercício, para todos os efeitos. Exige-se, para tanto, a comprovação de um vínculo empregatício, devendo o menor aprendiz ser remunerado pelos cofres públicos, nos termos do art. 268 da Lei n.º 1.711/52. O que se busca aqui é computar um tempo de atividade privada para fins de concessão de gratificação adicional, não se questionando acerca de seu aproveitamento para fins de aposentadoria. 7. De acordo com o entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal, o tempo de serviço prestado ao Banco do Brasil, além de computar ordinariamente para fins de aposentadoria, também é computável para fins de gratificação adicional aos magistrados.

3 Para se responder ao questionamento, dever-se-á definir, portanto, se o tempo prestado como menor aprendiz será ou não considerado como tempo de serviço. 7.1 De se observar que o aprendiz não mantém vínculo empregatício, não havendo, a princípio, a obrigatoriedade de recolhimento da contribuição previdenciária. No entanto, como a noção de tempo de serviço é intimamente ligada ao direito à aposentadoria, temos que, para se considerar como tempo de serviço o prestado como menor aprendiz, será indispensável que se comprove ter ocorrido contribuição para a Previdência Social, sobremodo após o advento da Emenda Constitucional n.º 20/98. Tal conclusão é consectário da lógica, na medida em que não há sentido em se considerar como tempo de serviço para gratificação adicional aquele que sequer é considerado para aposentadoria. 7.2 Assim, o instrumento hábil para a averbação do tempo de serviço prestado como menor aprendiz no Banco do Brasil é a certidão do INSS que comprove ter havido recolhimento de contribuição previdenciária durante o aprendizado no Banco do Brasil. Ante o exposto, submetemos os autos à consideração superior, propondo que o Tribunal, nos termos do art. 1º, XVII, da Lei n.º 8.443/92: 1. conheça da presente consulta, uma vez preenchidos os pressupostos de admissibilidade previstos no art. 216 e seguintes do RITCU, para responder ao consulente que: 1.1 é lícita a concessão de gratificação adicional por tempo de serviço a magistrados, em virtude de tempo de serviço prestado ao Banco do Brasil, como menor aprendiz, desde que haja certidão do INSS comprovando ter havido recolhimento de contribuição previdenciária durante o período de aprendizagem, não se lhe aplicando o disposto na Súmula n.º 96 desta Corte. 2. dê ciência à autoridade consulente da decisão que vier a ser proferida, enviando-lhe cópia acompanhada do Relatório e Voto respectivos; e 3. mande arquivar os presentes autos. Voto do Ministro Relator: A presente consulta preenche os requisitos de admissibilidade fixados no art. 216 do Regimento Interno desta Corte, devendo, pois, ser conhecida. No tocante ao mérito, ponho-me de acordo com o parecer da Unidade Técnica, sufragado pelo Parquet. Com efeito, a Súmula-TCU nº 96 dispõe:

4 Conta-se para todos os efeitos, como tempo de serviço público, o período de trabalho prestado, na qualidade de aluno-aprendiz, em Escola Pública Profissional, desde que comprovada a retribuição pecuniária à conta do Orçamento, admitindo-se, como tal, o recebimento de alimentação, fardamento, material escolar e parcela de renda auferida com a execução de encomendas para terceiros. Trata-se, portanto, de entendimento aplicável aos casos de serviços prestados a Escola Pública Profissional, na condição de aluno-aprendiz, não se referindo à questão sub examine. Divirjo do parecer da SEFIP apenas no tocante à natureza jurídica do contrato de aprendizagem. Consoante assinala Sérgio Pinto Martins, a aprendizagem efetivamente constitui um contrato de trabalho. Comparando-a com a figura do estágio, observa o doutrinador: Distingue-se o estagiário do aprendiz. O estagiário não é empregado, desde que cumpridas as determinações da Lei nº 6.494/77. O aprendiz sempre será empregado, tendo contrato de trabalho (art. 1º do Decreto nº /52). Trata-se de uma espécie de trabalho especial. (Direito do Trabalho. 8ª ed. São Paulo: Atlas, p. 151) É visível a diferença entre o simples estágio e o contrato de trabalho de aprendizagem. No primeiro, é obrigatória a interveniência de instituição de ensino, que celebra o chamado acordo de cooperação com a entidade na qual será realizado o estágio (art. 3º da Lei nº 6.494/77). Em não sendo atendido esse requisito, que é formalidade essencial, o suposto estágio configurará verdadeiro contrato de trabalho (MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 12ª ed. São Paulo: Atlas, p. 106). Deixando claro que o menor aprendiz é trabalhador (o que já constava do Decreto nº /52) e segurado da Previdência Social, a Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) dispôs: Art Ao adolescente aprendiz, maior de 14 (quatorze) anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. Se é empregado, por óbvio, o aprendiz presta serviços, ainda que de forma especial. Assim, em tendo havido recolhimento de contribuição previdenciária, não há como se negar ao magistrado a contagem do tempo de serviço para fins da gratificação do art. 65, inciso VIII, da LOMAN, ainda que o contrato de aprendizagem tenha sido celebrado com empresa pública ou sociedade de economia mista, nos termos do acórdão do STF que julgou a

5 Representação de Interpretação de Lei em Tese n.º DF. Ante o exposto, concordando com o encaminhamento oferecido pela Unidade Técnica, com o qual anuiu o Ministério Público, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este Colegiado. Sala das Sessões, em 17 de outubro de GUILHERME PALMEIRA Interessados: Interessado: Ministro Wagner Pimenta - Presidente Decisão: O Tribunal Pleno, ante as razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. conhecer da consulta formulada pelo Exmo. Sr. Ministro Wagner Pimenta, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho, por preencher os requisitos de admissibilidade previstos no art. 216 do Regimento Interno; 8.2. responder a S. Exa. que o tempo de serviço prestado ao Banco do Brasil, na condição de menor aprendiz, desde que atestado por certidão do INSS, comprovadora de recolhimento de contribuição previdenciária, pode ser averbado para fins de concessão da gratificação adicional por tempo de serviço prevista no inciso VIII do art. 65 da Lei Complementar nº 35/79; 8.3. dar ciência a S. Exa. e ao atual Presidente do TST do inteiro teor desta Decisão, bem como do Relatório e do Voto que a fundamentam; Grupo: Grupo I Indexação: Consulta; TST; Gratificação adicional por Tempo Serviço; Banco do Brasil SA; Aluno Aprendiz; Magistrado; INSS; Certidão; Data da Aprovação: 24/10/2001

6 Unidade Técnica: SEFIP - Secretaria de Fiscalização de Pessoal; Quorum: Ministros presentes: Humberto Guimarães Souto (Presidente), Iram Saraiva, Adylson Motta, Walton Alencar Rodrigues, Guilherme Palmeira (Relator), Ubiratan Aguiar, Benjamin Zymler e os Ministros-Substitutos Lincoln Magalhães da Rocha e Augusto Sherman Cavalcanti. Ementa: Consulta formulada pelo TST. Possibilidade de aproveitamento do tempo de serviço prestado na condição de aprendiz ao Banco do Brasil, para fins de adicional por de tempo de serviço dos magistrados. Conhecimento. Ciência ao interessado. Arquivamento. - Tempo de serviço. Menor aprendiz. Possibilidade do aproveitamento do tempo de serviço para fins de adicional dos magistrados, desde que atestado por certidão do INSS. Considerações. Data DOU: 26/10/2001 Número da Ata: 46/2001 Entidade: Órgão: Tribunal Superior do Trabalho - TST Processo: / Ministro Relator: GUILHERME PALMEIRA;