Entidade: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Número do documento: AC /01-2 Identidade do documento: Acórdão 348/ Segunda Câmara Ementa: Tomada de Contas Especial. Pessoa física. CNPq. Concessão de bolsa de estudos para curso no exterior. Não apresentação de Relatório Técnico final. Apresentação de documentação falsa. Contas irregulares. Débito. Remessa de cópia ao MPU. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE II - 2ª Câmara Processo: / Natureza: Tomada de Contas Especial Entidade: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq Interessados: Responsável: José Mário Alves Carneiro. Dados materiais: ATA 20/2001 DOU de 25/06/2001 INDEXAÇÃO Tomada de Contas Especial; CNPQ; Bolsa de Estudos; Documentação Falsa; Documentação Fraudulenta; Responsável em Débito; Sumário: Tomada de Contas Especial. Citação. Alegações de defesa apresentadas e não acolhida. Considerações a respeito da comprovada má-fé do responsável. Aplicação do Art. 3º da Decisão Normativa nº 35/2000. Contas irregulares e em débito o responsável.

2 Relatório: Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, tendo em vista a constatação de irregularidades na concessão de bolsa de estudos ao Sr. José Mário Alves Carneiro, na modalidade de Pós-Doutorado, a ser realizado junto à instituição denominada "Centre Hospitalier Regional et Universitaire de Nantes", localizada na cidade de Nantes, na França. 2.Versam as irregularidades sobre: a) não apresentação de Relatório Técnico final solicitado pelo CNPq em 24/09/90, conforme of. SBEX/GOP (fls. 20); b) apresentação, pelo próprio responsável, de documento comprovando a conclusão de doutorado pela Universidade de São Paulo-USP, pré-requisito para a concessão da bolsa de estudo, sem que tivesse concluído referido curso, conforme informado pelo Sr. Presidente da Comissão de Pós-Graduação daquela Universidade (fl. 44). 3.Notificado pelo CNPq, o responsável não apresentou qualquer justificativa a respeito das irregularidades a ele atribuída. (fls. 48 e 61). 4.Encaminhados os autos ao Controle Interno, este certificou a irregularidade das presentes contas, tendo o Exmo Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia atestado ter tomado conhecimento do aludido certificado e determinado o encaminhamento do processo a esta Corte de Contas. 5.Acolhendo proposta da Unidade Técnica, o Relator determinou fosse realizada a citação do responsável. 6.Em resposta à citação o responsável manifestou-se nos termos abaixo, conforme síntese formulada pela SECEX/PE: "Alegações de Defesa Apresentadas: O responsável alegou dentre outras coisas que: a) o CNPq detectou supostas irregularidades na bolsa de estudos a ele concedida e instaurou uma Auditoria Interna para investigação dos fatos e aplicação de penas; b) a Auditoria Interna, sem observar o princípio do contraditório e ampla defesa, concluiu que o processo deveria ser encaminhado à auditoria a fim de que fossem adotadas as providências cabíveis para

3 fim do recebimento dos valores pagos ao ex-bolsista; c) as notificações da Comissão de tomada de Contas Especial CTCE foram enviadas para endereço diverso do seu, não tendo, portanto, sido dada a oportunidade de se defender sobre os fatos a ele imputados; d) a pessoa que assinou o AR não é seu parente, não o conhece, nem tem qualquer relação de amizade com ele; e) a Universidade, ao ser indagada sobre o seu endereço, forneceu à CTCE um endereço onde o responsável nunca residiu, o que se afigura razoável afirmar que existia algo de errado na referida Universidade contra ele; f) nunca tomou conhecimento da referida auditoria interna pelo fato do endereço utilizado na notificação não ser o dele; g) em momento algum ficou caracterizado que ele tenha tomado conhecimento das referidas acusações que lhe foram imputadas e julgadas; h) foi manifestamente penalizado com a inscrição do seu nome no CADIN; i) os recursos recebidos por meio da "bolsa foram aplicados restritivamente para o fim a que foram endereçados, ou seja, o responsável cursou o Pós-Doutorado obtendo seu competente certificado que ora se faz anexar, e de acordo com a Convenção de Cooperação Judiciária em matéria civil, comercial, social e administrativa entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Francesa em vigor desde 30 de abril de 1985, Decreto nº , de , artigo 30." 7.Ao examinar as alegações de defesa apresentadas pelo responsável, a Unidade Técnica, de pronto, defende que não pode ser acolhido o pedido de nulidade do processo isto porque, ainda que o responsável não tenha tomado conhecimento das notificações encaminhadas pelo CNPq, as irregularidades persistem e o mesmo pode exercer, nesta oportunidade, o seu direito à ampla defesa. Prosseguindo argumenta que "anular o processo na fase em que ele se encontra, seria tão-somente adiar o julgamento do caso". 8.Sobre o mérito das alegações de defesa, a Unidade Técnica conclui nos seguintes termos: "...

4 Vale salientar ainda que, o certificado de conclusão do curso apresentado pelo Sr. José Mário, não foi reconhecido pela Universidade de São Paulo uma vez que ele não concluiu o Doutorado, sendo, portanto, falso. Desta forma, caracterizada está a sua má-fé, pois além de pretender fazer o Pós-Doutorado sem estar devidamente habilitado, ou seja, sem ter concluído o doutorado, não comprovou ter concluído aquele, com êxito. O Certificado de conclusão do Pós-Doutorado, por ele apresentado às fls. 1023, não atende às exigências do CNPq, tendo em vista que ele deveria ter apresentado um Relatório Técnico Final e não o fez. Questiona-se ainda a autenticidade da certidão apresentada, visto que seu aspecto e conteúdo assemelham-se mais a um atestado emitido por um professor, do que a um Certificado de conclusão expedido pela Universidade de Nantes." 9.Além disso, a solicitação do responsável de prorrogação da bolsa, por mais um ano, não foi aceita pelo CNPq. 10.Em razão do exposto, propôs a rejeição das alegações de defesa e a fixação do prazo de 15 (quinze) dias para que o responsável recolhesse o valor do débito. 11.O Ministério Público endossa "integralmente a análise efetuada no âmbito da SECEX/PE" (110), conforme abaixo transcrito: "De fato, não há que se falar em cerceamento de defesa, vez que o interessado foi citado para apresentar alegações de defesa, oportunidade em que lhe foi facultada a apresentação de todas as suas razões, de fato e de direito, bem como os documentos com que pretendia prová-las. No mérito, verifica-se que o responsável, além de não apresentar o Relatório Técnico Final e as cópias do certificado de conclusão e da tese, condição para a baixa integral de suas responsabilidades (doc. de fls. 14/15), não fez juntar aos autos o certificado de conclusão do doutorado na USP, reforçando, assim, as suspeitas de que agiu de má-fé ao apresentar documento falso ao Conselho. Em face do exposto, entendemos que as alegações de defesa do Sr. José Mário Alves Carneiro devem ser rejeitadas, cientificando-se o responsável, consoante o disposto no artigo 12, parágrafo 1º, e artigo 22, parágrafo único, da Lei nº 8.443/92 c/c o artigo 153, parágrafo 2º, do RI/TCU, para em novo e improrrogável prazo de 15 (quinze) dias a

5 contar da ciência, comprovar, perante o TCU, o recolhimento aos cofres do CNPq das importâncias devidas, devidamente atualizadas e acrescidas dos juros de mora, na forma da legislação em vigor." É o relatório. Voto: Coloco-me de acordo com os argumentos da Unidade Técnica e do Ministério Público, quando defendem que as alegações de defesa apresentadas não foram suficientes para justificar as irregularidades atribuídas ao responsável. 2.De fato, as razões apresentadas para anular esta Tomada de Contas Especial, sob a alegação de que houve cerceamento de defesa por parte do CNPq, não merece prosperar. Observe-se que o CNPq foi, inclusive, bastante diligente ao solicitar o endereço do responsável à Universidade Federal de Pernambuco. Além disso, é indiscutível que a citação que ora se examina permitiu o pleno exercício da ampla defesa por ele questionada. Portanto, anular a presente TCE, como bem ressaltou a Unidade Técnica, serviria apenas para adiar o julgamento final da matéria, pois a expedição de novas notificações pelo CNPq em nada contribuiria para a compreensão da matéria. 3.No mérito, estou certo também de que o responsável não conseguiu justificar as irregularidades a ele atribuídas. Por oportuno, não teceu uma única consideração a respeito das informações prestadas pela USP sobre a falsidade do documento por ele apresentado ao CNPq para comprovar a conclusão de curso de Doutorado. Muito menos juntou qualquer documento que possa ser recebido como relatório técnico, documento esse exigido, expressamente, pelo CNPq ainda quando da concessão da bolsa de Pós-Doutorado (fls. 13/15). 4.A ausência do relatório técnico bem como a falta de um certificado idôneo (emitido pela entidade em que foi realizado o curso), pois que o apresentado trata-se de simples declaração pessoal de um médico, permite-nos inferir que o responsável jamais concluiu o curso de pós-doutorado, objeto da bolsa de estudo concedida pelo CNPq, a exemplo do que ocorreu com o curso de doutorado que afirma ter concluído junto à USP. 5.Quanto ao argumento de que o certificado juntado aos autos encontra amparo no art. 30 do Decreto nº /85, cujo inteiro teor abaixo transcrevo, ressalto que nem mesmo preenche os requisitos exigidos pelo aludido artigo, pois trata-se de simples documento particular sem o reconhecimento de qualquer autoridade do Estado Francês:

6 "art. 30 Os documentos expedidos pelas autoridades Judiciárias ou por outras autoridades de um dos Estados, assim como os documentos cuja veracidade, data, autenticidade de assinatura ou conformidade com o original tais autoridades atestarem, estarão dispensados de qualquer legalização ou formalidade análoga, quando devam ser apresentados no território do outro Estado." 6.Registro, ademais, que a norma mencionada trata de Convenção assinada pelo Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Francesa objetivando a Cooperação Judiciária em Matéria de Direito Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativo e não na área de educação. Portanto, aludida norma não trata do reconhecimento de certificado de pós-graduação expedido por entidade francesa. 7.Finalizando, coloco-me de acordo com o Ministério Público e com a Unidade Técnica quando afirmam que está caraterizada, nos autos, a má-fé do responsável. Diante disso, compreendo que pode ser adotada, de imediato, a orientação do art. 3º da Decisão Normativa TCU nº 035/2000, que abaixo transcrevo, no sentido de que sejam as contas, desde logo, julgadas irregulares, quando não for demonstrada a boa-fé do responsável, a exemplo do que já decidiu esta Corte em situações análogas (Acórdão nº 720/2000-2ª Câmara, Ata 46/2000-2, Acórdão nº 317/2000-Plenário, Ata 049/2000, Acórdão 26/2001-1ª Câmara, Ata 003/2001): "Art. 3º - Na hipótese de não se configurar a boa-fé do responsável ou na ocorrência de outras irregularidades relacionadas no art. 16, III, da Lei n.º 8.443/92, o Tribunal proferirá, desde logo, o julgamento definitivo de mérito pela irregularidade das contas." Ante o exposto, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 07 de junho de UBIRATAN AGUIAR Ministro-Relator Assunto: II - Tomada de Contas Especial

7 Relator: UBIRATAN AGUIAR Representante do Ministério Público: CRISTINA MACHADO Unidade técnica: SECEX-PE Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, tendo em vista a constatação de irregularidades na concessão de bolsa de estudos ao Sr. José Mário Alves Carneiro, na modalidade de Pós-Doutorado, a ser realizado junto à instituição denominada "Centre Hospitalier Regional et Universitaire de Nantes", localizada na cidade de Nantes, na França. Considerando que, regularmente citado, o responsável apresentou alegações de defesa que não logrou êxito em descaracterizar as irregularidades a ele atribuídas, consistentes na apresentação de documento falso para usufruir de benefício de bolsa de estudo e não apresentou relatório técnico sobre o curso de Pós-Doutorado, exigido pelo CNPq; Considerando que o Art. 3º da Decisão Normativa nº 35/2000, determina que, nos casos em que "não se configurar a boa-fé do responsável ou na ocorrência de outras irregularidades relacionadas no art. 16, III, da Lei n.º 8.443/92, o Tribunal proferirá, desde logo, o julgamento definitivo de mérito pela irregularidade das contas"; Considerando que está comprovado que o responsável agiu de má-fé ao apresentar documento falso para obter bolsa de estudo do CNPq, como ressaltaram tanto o Ministério Público quanto a Unidade Técnica. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, com fulcro nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea "d", 19 e 23, inciso III, da Lei nº8.443/92, em: a) julgar irregulares as presentes contas e em débito o Sr. José Mário Alves Carneiro, pelas quantias abaixo, a cujo pagamento o condenam, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para comprovar perante este Tribunal (art. 165, inciso III, alínea "a", do Regimento Interno), o recolhimento da dívida ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, atualizada

8 monetariamente e acrescida dos juros de mora devidos, contados a partir das respectivas datas até a data do efetivo recolhimento, nos termos da legislação em vigor: Valor Original do Débito Data da Ocorrência NCz$ 5.396, NCz$ 6.492, NCz$ , NCz$ , Cr$ , Cr$ , b) autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas objeto da alínea "a" supra, caso não seja atendida a notificação, consoante disposto no art. 28. inciso II, da Lei nº 8.443/92; c) encaminhar cópia dos presentes autos ao Ministério Público Federal nos termos do 3º, art. 16, da Lei nº 8.443/92. Quórum: Ministros presentes: Valmir Campelo (Presidente), Adylson Motta e Ubiratan Aguiar (Relator). Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 7 de junho de 2001