MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE Gabinete do Conselheiro Luís Fernando Rigato Vasconcellos

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1 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA - CADE Gabinete do Conselheiro Luís Fernando Rigato Vasconcellos Averiguação Preliminar nº / Representante: Sr. Nilton Luis Venturi e outros Representados: Postos Revendedores de Combustíveis de Telêmaco Borba - PR Advogados: Lisa Marini Ferreira dos Santos, José Alexandre Moraes, Ziraldo Tatagiba Rodrigues e outros Conselheiro-Relator: Luís Fernando Rigato Vasconcellos RELATÓRIO Instaurou-se a presente averiguação preliminar em virtude de ofício emitido pela Procuradoria da República no estado do Paraná, dirigido à Secretaria de Direito Econômico, na data de 14 de janeiro de 2000, contra os postos revendedores de combustíveis do município de Telêmaco Borba - PR, com o intuito de apurar possível infração à ordem econômica passíveis de enquadramento no art. 20 c/c art. 21 da lei 8.884/94. Cabe ressaltar que a Procuradoria da República no estado do Paraná reiterou tal ofício em 25 de abril de 2000 enviando um novo ofício solicitando a adoção de medidas pertinentes contra os estabelecimentos de revenda de combustíveis de Telêmaco Borba (PR). Tais ofícios foram gerados tendo por base uma denúncia, através de abaixo-assinado, feita pelo Senhor Nilton Luis Venturi e outros junto a Procuradoria da República no estado do Paraná, solicitando investigação sobre eventuais infrações à ordem econômica pelos revendedores de combustíveis no município de Telêmaco Borba PR. Na citada denúncia é relatado que os postos deste município estariam praticando preços elevados e em um mesmo patamar e é apresentada uma tabela contendo nomes de sete postos revendedores bem como os preços praticados por estes. Conforme planilha e notas fiscais enviadas junto com a denúncia, somente dois preços estariam sendo praticados na revenda de gasolina comum (R$ 1,39 e R$ 1,40) no final de outubro e início de novembro de Diante do exposto, no dia 26 de junho de 2000, a Secretaria de Direito Econômico, através de despacho do secretário, determinou a promoção de Averiguações Preliminares para a apuração de possível infração à ordem econômica.

2 Após a instauração da Averiguação Preliminar, a SDE notificou quatro postos de Telêmaco Borba (Posto Rodonaza Comércio de Combustíveis Ltda; Posto Com. de Comb. e lubrificantes Wolff Ltda; Posto Cotrasa Comércio de Transportes e Veículos Ltda; Posto A.C.S Comércio de Combustíveis Ltda), solicitando (i) informações sobre a evolução de preços dos combustíveis vendidos de janeiro de 1998 a agosto de 2000; (ii) a bandeira que ostentavam; (iii) os preços de compra junto a suas distribuidoras; (iv) planilha de custos para formação de preços dos combustíveis; (v) datas dos reajustes de combustíveis; (vi) sindicato ao qual eram filiados; e (vii) outras informações que julgassem importantes. Os quatro postos representados enviaram as suas respostas, incompletas, conforme fls 44 a 46 (Posto Com. de Comb. e lubrificantes Wolff Ltda), fls 47 a 50 (Posto Cotrasa Comércio de Transportes e Veículos Ltda ), fls 52 a 58 (Posto A.C.S Comércio de Combustíveis Ltda) e fls 62 a 64 (Posto Rodonaza Comércio de Combustíveis Ltda) dos autos. A SDE, em 05 de janeiro de 2004, notificou a Agência Nacional do Petróleo (ANP), por meio de ofício, solicitando informações para apuração de supostas práticas comerciais concertadas por parte de postos de combustíveis no município de Telêmaco Borba (PR). Foram solicitadas informações sobre quais postos revendedores de combustíveis atuavam no município desde 1999, preços mínimos e máximos praticados na revenda de combustíveis, margens, preço de distribuição e datas e percentuais de aumento dos combustíveis. A ANP, em 26 de janeiro de 2004, informou que o município de Telêmaco Borba (PR) não era contemplado pelo levantamento de preços dessa agência, o que impossibilitaria o envio de todas as informações solicitadas. Dessa forma, a ANP somente enviou a lista dos revendedores que atuavam no município e as datas e percentuais de aumento dos combustíveis. Com relação a esta última informação, cabe destacar que os reajustes de preços autorizados para a gasolina no segundo semestre do ano de 1999 foram de 18,01% e 8,99%, nos meses de junho e agosto, respectivamente. Esses reajustes ocorreram, portanto, em períodos anteriores à data da denúncia do suposto cartel. Em 29 de julho de 2005, a fim de dar continuidade às investigações do procedimento, a SDE encaminhou ofício à SEAE solicitando a emissão de nota técnica sobre a conduta imputada aos representados. 2

3 A Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), para elaborar sua análise a respeito de possíveis indícios econômicos de cartelização nos mercados relevantes de revenda de gasolina comum e de álcool hidratado no município de Telêmaco Borba (PR), enviou ofícios aos postos revendedores de combustíveis desse município que estavam cadastrados na ANP 1, solicitando os preços médios de compra e venda de gasolina comum e de álcool para o período de janeiro de 1998 a dezembro de Desta forma, foram enviados 20 ofícios com as solicitações acima mencionadas, dos quais apenas 6 não foram respondidos, dado que se tratavam de postos que não mais existiam. O objetivo desses ofícios era ampliar a base de informação temporal, visando obter informações sobre o mercado de combustíveis no período em que ocorreu a denúncia em questão. Essa solicitação foi motivada pelo fato de o levantamento de preços disponível no site da ANP não contemplar o município de Telêmaco Borba (PR). A SEAE ponderou que o elemento econômico apontado como indício do suposto cartel, a saber, a alta concentração dos preços praticados na revenda dos combustíveis, constatada pelo denunciante por meio de notas fiscais de venda desses produtos, não constitui indício de cartel; isso porque um mercado em que o produto é relativamente homogêneo, mesmo que não haja conluio, tende a apresentar uma homogeneidade nos preços praticados. De posse das informações obtidas junto aos revendedores de combustíveis do município de Telêmaco Borba (PR) e com vistas a avaliar de fato a existência ou não de indícios econômicos do suposto conluio, a SEAE analisou a evolução da margem de revenda percentual 2 e da dispersão dos preços de compra e venda para o município de Telêmaco Borba (PR) e para estado do Paraná 3 no período de janeiro de 1998 a dezembro de A relação de postos cadastrados foi obtida junto à ANP, por meio do site 2 Diferença entre o preço de compra e venda (a margem nominal), dividida pelo preço de compra, eliminando o efeito inflacionário. 3 As informações para o estado do Paraná foram obtidas no site da ANP do período de julho de 2001 a dezembro de

4 Em observação aos movimentos da margem de revenda e coeficientes de variação dos preços de compra e de revenda de gasolina em Telêmaco Borba e no Paraná, obtidos para o período delimitado, a SEAE inferiu que não há nos autos qualquer indício econômico que possa amparar a possibilidade de haver cartel entre os revendedores de gasolina comum no município de Telêmaco Borba (PR), pois: (i) a margem média de revenda de gasolina comum do município apresentou tendência de queda ao longo do período; inclusive, no período da denúncia, a margem de revenda estava em processo de queda; (ii) a evolução da margem de revenda municipal não é díspar da evolução da margem média estadual, chegando a serem iguais; (iii) a variabilidade dos preços de revenda refletia a variabilidade dos preços de compra junto às distribuidoras. Analogamente, embasada nos movimentos das margens de revenda e coeficientes de variação dos preços de compra e de revenda de álcool no município estudado, bem como no Estado, a SEAE chegou à mesma conclusão sobre inexistência de indício econômico que possa amparar a possibilidade de cartel na revenda de álcool em Telêmaco Borba (PR), pois: (i) houve redução da margem de revenda do álcool ao longo do período de análise; inclusive, no período da denúncia, a margem de revenda estava em nítido processo de queda; (ii) elevações da margem de revenda não estão associadas linearmente a reduções na variabilidade dos preços; (iii) a evolução da margem de revenda municipal não é muito diferente da evolução da margem média estadual, chegando a ser menor em alguns períodos. Preliminar. Diante disso, a SEAE sugeriu o arquivamento desta Averiguação A Secretaria de Direito Econômico (SDE), tendo em vista os princípios da economia processual e da eficiência da Administração Pública, concordou com o teor do parecer da SEAE, nos termos do 1º do artigo 50 da Lei nº 9.784/99, sugerindo, portanto, o arquivamento desta Averiguação Preliminar. 4

5 A Procuradoria-Geral do CADE (ProCADE), em consonância com os pareceres da SEAE e da SDE, opina pela manutenção do arquivamento do presente processo, tendo em vista o previsto 1º do artigo 50 da Lei nº 9.784/99. O Ministério Público Federal (MPF) também opina pelo arquivamento da presente averiguação preliminar. É o Relatório. Brasília, 17 de outubro de Luís Fernando Rigato Vasconcellos Conselheiro Relator 5