PN.1768.07-5; Ap: Tc. Paredes, 2ª J.( ) Ap.: Ap.o: Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I INTRODUÇÃO: (a) Os recorrentes não se conformam com a sentença de primeira instância que julgou improcedentes os embargos de executado que deduziram contra o embargado com base em coacção moral na emissão dos títulos executivo (declaração de divida; cheques) (b) Da sentença recorrida: (1) Assente que os recorrentes subscreveram os [titulos executivos], das posições assumidas [p elas partes] resulta que os embar gantes e o embargado concordaram na troca dos documentos contra a devolução de um cheque subscrito pelo pai do recorrente marido. (2) Todavia, os recorrentes fizeram-no porque o embargado ameaçou d ar à execução esse outro cheque, mas à data os embargantes nada deviam ao embargado. (3) O título executivo reúne todas as car acterísticas, no entanto, do artº 46/1.b.c. do CPC, presumindo-se assim a existência da obrigação subjacente. (4) de qualquer modo, os embargantes assumiram uma divida de terceiro, a qual, face ao acordo do credor, se lhes transmite, nos termos e para os efeitos do art 595/1 CC. 1 ) Adv: Dr. 2 ) Adva. Drª 1
(5) Assim e não resultando provado que a prestação em causa não fosse devida originariamente ou que enferme de qualquer invalidade, con clui-se por ter sido regular esta transmissão da divida nos exactos termos e montante em que foi assumida pelas partes no titulo. (6) E sendo pressuposto da existencia de coacção moral relevante que a declaração seja determinada pelo receio de um mal de que o declarante tenha sido ameaçado ilicitamente, a ameaça de dar à ex ecução determinado cheque contra terceiro não constitui sequer uma ameaça, muito menos ilícita: esteve ausente a coacção moral do negócio. II- MATÉRIA ASSENTE: (a) apôs a sua assinatura sob a palavra assinaturas que consta no rosto do cheque nº 2021267340, relativo à conta nº 646/00034/000.2 do BES Régua que datou de 2000.04.26 e onde escreveu o montante de PTE 3 000 000$00. (b) O cheque acima referido ficou em bran co na linha a seguir aos dizeres à ordem de (c) Mas entregou este cheque ao embargante, marido, como beneficiário da ordem de pagamento nele escrita. (d) Entretanto, em 00.05.29, comunicou ao BES o extravio do cheque em questão e solicitou o seu não pagamento. (e) Posteriormente, contudo, o embargado e de apresentou-se perante os embargantes como portador do cheque em causa. (f) E exigiu-lhes o pagamento desse cheque, sob pena de recorrer à via judicial. (g) Os embargantes acederam, então, a assinar a declaração da divida e na mesma data também entregaram ao exequente os cheques, títulos que este executou conjuntamente. (h) Fizeram-no para evitar que e de desse á execução o cheque subscrito por. (i) No entanto, à época os embargantes nada deviam ao embargado, circunstancia que era do conhecimento deste. 2
III - CLS/ AL EGAÇÕES: (1) O Tribunal considerou provada toda a matéria alegada pelos embargantes, nomeadamente que foi o pai do mar ido,, que apôs a sua assinatura sob a palavra assinaturas que consta do cheque nº 2021267340, relativo à conta nº 646/00034/000.2 do BES Régua, ao mesmo tempo que o datou de 2000/04/26 e nele escreveu o montante de PTE 3 000 000$00 (2) Este cheque, no original, estava em branco na linha a seguir à expressão à ordem de e foi entregue aquele embargante como beneficiário da ordem de pagamento nele contida. (3) O cheque em causa veio a desaparecer e, por isso, em 00.05.29, comunicou ao BES o seu extravio e solicitou o seu não pagamento. (4) O mesmo cheque foi, depois, parar às mãos do embargado, e d e, que se apresentou perante os embargantes como seu portador e exigiu deles o pagamento, sob pena de recorrer à via judicial. (5) Para evitar que o exequente desse à execução o cheque de que era portador, subscrito pelo pai do embargante,, os embargantes acederam em assinar os titulos executivos. (6) Mas á época, os embargantes nenhuma quantia deviam a e de, o que era do seu conhecimento. (7) Contudo, não obstante ter considerado que á data da constituição da obrigação cambiaria os embargantes nenhuma quantia deviam ao embargado, o Tribunal invocou que os embargantes, com o acordo do credor/emb argado assumiram a divida cambiaria que este, o pai do embargante, tinha para com o embargado,e o que constitui uma assunção da divida deste terceiro (8) Porém, dos factos provados não resulta a existência de qualquer divida do pai do embargante para com o embargado. (9) Isso mesmo foi confessado por este no depoimento de parte, no qual referiu que o cheque lhe tinha sido entregue por para pagamento de uma divida dele para consigo. (10) Ficou, aliásassente: o cheque foi entregue ao embargante marido como beneficiário e logo após o extravio foi comunicado ao BES. 3
(11) Isto é, a relação cambiária foi estabelecida apenas entre o embargante e seu pai: a mesma cessou e a posse legítima do cheque foi interrompida, quando este se encontrava na posse do embargante marido e desapareceu. (12) Ora, se o embargante marido era o titular legitimo do cheque e o beneficiário da ordem de pagamento nele contida, não o tendo transmitido a terceiro, o seu novo titular, supostamente, não era de todo legítimo portador do cheque e, por isso, o obrigado cambiário não lhe d evia nada. (13) Não podia, pois, o Tribunal concluir que os embargantes assumiram uma certa dívida cambiária, porque n enhuma divida existia entre o pai do emb argante e o embargado. (14) De qualquer modo, e de não alegou qualquer transmissão válida do cheque de PTE: 3 000 000$ 00 até à posse do seu endossante. (15) Circunstãncia esta que permite questionar qual a razão de se ter constituído a divida entre o pai do embargante e o embargado, per ante uma relação cambiária, estabelecida entre o pai e o filho, e que se quebrou com o extravio do cheque. (16) A partir daí, a sua eventual posse por um terceiro, isto é, pelo embargado ele mesmo, é ilícita e não titulada. (17) Finalmente: o Tribunal entendeu que não se verificou coacção moral porque a ameaça de dar à execução um título contra terceira pessoa não constitui sequer ameaça ilícita (18) Contudo, se o embargado não é credor, nem legitimo portador do título, a ameaça de execução é ilícita, porque, antes de mais, não existe divida. (19) Em suma: existe mesmo coacção moral - a declaração foi subscrita pelos embargantes precisamente para evitar a concretização da ameaça ilícita de o cheque ser executado contra o familiar. (20) Por conseguinte, a d ecisão recorrida violou, por erro de interpretação e aplicação o disposto nos artºs 595 e 255 do CC. (21) Deve ser revo gada para que os embargos procedam. IV CONTRA-ALEGAÇÕES: não houve VI RECURSO: pronto para julgamento nos termos do artº 705 CPC. 4
VII - SEQUÊNCIA: (a) O ponto nodal da lide diz respeito em boa verdade ao vício da declaração de divida e do negócio de emissão dos cheques executados. (b) Com efeito, do ponto de vista metodológico não importa arrancar da transmissão da divida se da matéria provada, como é o caso, não resulta o vinculo de portador legitimo do cheque bran dido pelo embargado p ara obter os títulos executivos que conseguiu e accionou depois. (c) É que, pelo contrário, f oi dado como provado acerca desse cheque do pai do embargante que quem era o portador dele er a o filho, significativo o hiato, portanto, entre esta circunstância e a circunstância de o embargado se apresentar com ele na mão. (d) Assim, perante tal defesa, deveria este ultimo ter alegado uma passagem do título, por entrega legítima, mas que não defendeu na contestação. (e) Entretanto, a ameaça de ex ecução do cheque extraviado, contra um familiar tão próx imo do embargante, é, no conhecido contexto social de Peso da Régua, uma pressão psicológica grave, de um mal incontornável. (f) Por isso mesmo e porque o mal da ameaça não adere a uma retroacção legítima, conferida na certeza de uma autorização legal (provad a nas circunstancias próprias ao debate ocorrido nestes embargos), h á que considerar ter havido, pois, uma verdadeira coacção moral no âmbito e alcance do disposto no artº 225/1.2 CC. (g) Por conseguinte, procedem os argumentos, estes mesmos argumentos que são dos recorrentes: fazem vencimento no recurso. (h) Tudo visto e o disposto na citada norma legal vai a sentença recorrida substituída por este despacho em que se julgam procedentes os embargos para arquivamento da execução. VIII - CUSTAS: pelo apelado que sucumbiu. 5