PN 2733.04-51; Ap.: Tc. Lamego, 2º J. ( Ap.e2: Ap.os3: Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) O recorrente não se conformou com a decisão de 1ª instância que, p ara além de o ter condenado como litigante de má fé, julgou improcedente o pedido, a saber: reconhecimento pelos RR a ele A. do direito de acesso directo aos tanques existentes no prédio rústico contíguo à Quinta do Borralhão ou Quinta da Raposeira, insc. mat. nº 283 e desc. C. Reg. P. Lamego nº 1478 (Almacave); (b) Da sentença recorrida: (1) A esses tanques [para os quais reivindica passagem] recorreu sempre o A., [alega,] enquanto decorriam as partilhas, para fins domésticos e agrícolas, tendo feito para tanto uma canalização de tu bos subterrâneos, em partes visíveis, a fim de captar a água para o seu terreno, usando tamb ém um atravessadouro (já usad o por seu pai desde tempos imemoriais) destinado a deslocar-se ao poço, e que caminho que necessita de efectuar com diversa frequência, a fim de avaliar da limpeza e funcionamento do dito poço, tendo aliás sido verbalmente consignado em acordo que todos os herdeiros teriam acesso ao uso das águas e caminho para os tanques; contudo, veio a saber, em Fevereiro deste ano, que o seu irmão tinha vendido o terreno aos RR, tomando 1 Vistos: Des. Marques Peixoto (1700 e 1759); Des. Fonseca Ramos (1169) 2 Adv.: Dr. 3 Adv.: Dr. 1
disso conhecimento porque viu começarem obras de construção dentro do terreno contíguo, destinadas a erguer pelo menos um muro que tapa o acesso aos ditos tanques: ficou privado desse caminho de acesso à água, e a construção dos muros poderá tornar irreparável os prejuízos sofridos pelo A. nas regas que necessita de efectuar nos seus terrenos e plantações; (2) Acontece que o A. não logrou provar estes factos, tal como lhe competia, art. 342/1 CC: não ficou provado que nos prédios em causa se encontrem tanques que têm águas de um fonte em direcção a Norte, e que deram nome à quinta, e que a esses tanques sempre o A. tenha recorrido enquanto decorriam as partilhas, para fins domésticos e agrícolas, levantada uma canalização de tubos subterrâneos, em partes visíveis a fim de captar a água para o seu terreno e usando também um atravessadouro, já utilizado pelo seu pai desde tempos imemoriais, destinado a deslocar-se ao po ço, caminho d e que necessita com diversa frequência, a fim de avaliar da limpeza e funcionamento deste mesmo p oço, bem como para obter directamente água através de transporte manual e tendo ocorrido acordo verbal de todos os herdeiros para acesso ao uso dessas águas e caminhos para o uso desses tanques; também não ficou provado que o A. esteja privado do caminho de acesso à água e que a construção dos muros possa tornar irremediável os prejuízos ditos por ele sofridos nas regas que necessita de efectuar nos seus terrenos e plantações; (3) Ora, atenta a posição assumida pelo A. não poderemos deixar de verificar que o mesmo, ao intentar a presente acção, alegou factos que sabia não corresponderem à verdade, ou deturpou-os, o que desde logo resulta da análise dos documentos juntos, os quais contrariam a posição dele; também do depoimento prestado por este na Audiência; (4) Foi assim deduzida pretensão cuja falta de fundamento não deveria ignorar o A., que actuou com negligência grave: deverá ser responsabilizado pelo pagamento de uma indemnização à parte co ntrária em virtude dos danos que lhe causou, quer a título de danos patrimoniais (honorários a pagar ao mandatário constituído), quer pelos incómodos e aborrecimentos que lhes causou a causa; em multa, ainda: a título de indemnização, o montante de 1 458,98; a título de multa, 1250,00. II. Matéria assente: 2
(1) Correram termos no Tribunal de Círculo da comarca de Lamego inventário facultativo, ar quivado sob os nºs 73/56 e 34/56, por óbito de e mulher, em que intervieram como interessados cc e cc (2) O A. é dono e legítimo proprietário d e um prédio urbano de habitação (verba nº26 do inventário) que tem anexo um logradouro de 1249 m2, tendo este último resultado do desmembramento da verba nº35 do mesmo inventário, insc. mat. (Almacave) art. 402-B; (3) Os RR compraram o imóvel desc. C. Reg. P. sob o nº 01478/230798, freguesia de Almacave, insc. mat. art. 283-B da referida freguesia, a 98.09.21; e mulher, por escritura pública de (4) havia comprado o prédio referido em (2), que depois vendeu aos RR, a e a seus filhos e (5) O A. viu começar as obras de construção dentro do terreno; (6) Essas obras destinav am-se a construir, entre outr as coisas, um muro; (7) No subsolo do prédio dos RR, passa enterrado, em toda a sua extensão, um tubo que conduz água, unicamente para gastos domésticos para a casa do A. e para a casa de uma sua irmã que com a sua confina; (8) Tal água (residual, perdida e que brota a borbulho) provém de um prédio pertencente a seis irmãos do A. e de junto a um grande tanque ali existente; (9) E é sempre conduzida a subterrân eo até à casa do A.; (10) Sendo depositada antes de atravessar o prédio dos RR num depósito em cimento, fechado e coberto; (11) O enterrar dos tubos no subsolo dos prédios dos RR ficou a dever-se a um mero favor e tolerância do anterior dono do prédio. III. Cls./Alegações: (a) Os direitos reais ou sobre os imóveis, constituição, alienação ou alteração, exigem a intervenção de todos os seus titulares ou comproprietários, 3
quer do lado activo, quer do lado passivo, para que a acção possa produzir o seu efeito útil e normal, pelo que a sentença recorrida ao consentir na presença na lide apenas do A., casado sob o regime de comunhão geral de bens com violou a letra e o espírito dos arts. 26 e 28 CPC; (b) Na condenação por litigância de má fé a lei impõe se reconheça que a parte ou partes fizeram um uso reprovável do processo, o que não aconteceu nem acontece no caso presente: pelo menos há tanque, canos, regos, água; a sentença recorrida violou a letra e o espírito dos arts. 456 ss CPC; (c) Deverá ser revogada, não cabendo nem a multa nem a indemnização da má fé, nem o julgamento de fundo. IV. Contra-alegações: não houve. V. Recurso - foi julgado nos termos do art. 705 CPC: (a) O único tema proposto de fundo neste recurso, dizendo respeito à ilegitimidade do A. por preterição de litisconsórcio necessário, foi encarado, com trânsito em julgado, por decisão proferida nestes autos; cito: os RR defendem-se por excepção, alegando que o A. desacompanhado da mulher é parte ilegítima, mas este pugnou pela improcedência; vejamos: nos termos do disposto no art. 28-A/1 CPC, devem ser propostas por marido e mulher as acções de que possam resultar a perda ou oneração dos bens que só por ambos possam ser alienados, ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos; e na presente acção não há perda de direitos, mas o pedido de reconhecimento de um direito do casal, o direito de acesso directo aos tanques: o A. é, pois, parte legítima para a acção desacompanhado da mulher. (b) Tanto pelo trânsito, como pela concordância com o despacho, não merecem reconhecimento de mérito as conclusões desta Apelação que, por aqui, claudica. (c) No entanto, no que diz respeito à condenação por litigância de má fé, a simples circunstância de o A. não ter feito prova dos factos articulados não sustenta nem temeridade, nem dolo. E o certo é que do contexto do provado e do não provado não pode retirar-se nenhuma destas conclusões, ou melhor, o debate 4
não caracteriza os motivos autorizados para a indemnização e multa cominadas: neste particular, procede o recurso. (d) Por conseguinte, visto o disposto nos arts. 456 e 672 CPC, foi revogada a sentença de 1ª instância apenas na parte em que condenou o A. por litigância. VI. Reclamação: do ape. nos termos do disposto do art.º 700/3 CPC; tabelar. VII. Resposta: não houve. VIII. Sequência: não havendo razões de discordância do despacho reclamado, nem outras tendo sido avançadas para crítica do mesmo, tomam-no, agora, como decisão colectiva. IX. Custas: por ambos, na proporção da sucumbência; isento o presente incidente por se tratar de condição necessária para o recurso de revista: há aqui apenas a sucumbência inicial. 5