DECISÃO. Juiz(a) de Direito: Dra. Juliana Amato Marzagão. Vistos.

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1 fls. 363 DECISÃO Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Aline Mary do Nascimento e outro Requerido: Nice Investimentos Imobiliários Ltda. (Tecnisa S/a.) Juiz(a) de Direito: Dra. Juliana Amato Marzagão Vistos. Trata-se de ação de rescisão contratual ajuizada por ALINE MARY DO NASCIMENTO e FELIPE BORGES TRAMA contra NICE INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. (TECNISA S.A.). Alegam os autores que celebraram Instrumento Particular de Compromisso de Venda e Compra referente à unidade residencial n.º 137, bloco A, no Condomínio Flex Tatuapé. O valor do sinal, no importe de R$ 8.444,00, foi desmembrado em oito cheques, conforme requerimento da ré, sendo R$ 6.400,00 a título de comissões de corretagem, R$ 750,00 a título de taxa SATI e R$ 1.354,00 destinados à incorporadora. Inconformados com tal informação, os autores não concordaram com esses pagamentos, relativos a serviço de assessoria que jamais havia sido requisitado, tampouco prestado o auxílio para a aquisição do imóvel. Em abril de 2015, houve mudança da condição econômica dos autores, o que ensejou a impossibilidade de honrarem com os pagamentos das parcelas vincendas. Contudo, ao solicitarem a rescisão do contrato, foram informados de que a incorporadora devolveria somente 30% dos valores pagos. Em vista disso, foi enviada notificação extrajudicial à ré, informando a suspensão dos pagamentos a partir de maio de Requereram a devolução de 90% do valor total pago, ou seja, R$ ,96 referentes às parcelas do contrato, além de R$ 6.340,00 referentes à comissão de corretagem e R$ 750,00 relativos à taxa SATI. Juntaram documentos (fls. 24/98). A ré ofereceu contestação nas fls. 112/130. Preliminarmente, requer a retificação do polo passivo da demanda, haja vista que o contrato foi celebrado com a empresa NICE, por consequência, a empresa TECNISA não faria parte da relação jurídica. De outro lado, alega sua ilegitimidade passiva com relação ao pedido de devolução dos valores relativos à comissão de corretagem e taxa SATI, pois esse contrato teria sido celebrado com a empresa TECNISA. Afirma a legalidade da atribuição do pagamento de comissão de corretagem aos

2 fls. 364 promitentes compradores. No mérito, aduz a impossibilidade de devolução dos valores relativos à comissão de corretagem e taxa SATI, por corresponderem à contraprestação por serviços prestados e, ainda que assim não fosse, os autores não teria junatdo o comprovante de pagamento dos valores aos autos. Em relação à rescisão contratual, não se opõe a ré, com a ressalva de que fossem respeitadas as disposições contratuais, em especial a cláusula 6.3, que prevê os valores a serem suportados pelos autores em caso de rescisão. Réplica nas fls. 164/194. Intimadas as partes a especificarem as provas que pretendiam produzir, ambas requereram o julgamento antecipado da lide (fls. 348/349 e 350/351). É o relatório. Decido. O feito comporta julgamento antecipado parcial de mérito no estado em que se encontra porque não há necessidade de produção de outras provas, nos termos dos artigos 356, inciso II, e 355, inciso I, ambos do Código de Processo Civil. Cuida-se de ação de rescisão contratual por meio da qual os autores pretendem a devolução de 90% do valor pago à ré para aquisição de imóvel. Todavia, verifica-se que os autores também pedem a restituição dos valores pagos a título de corretagem e taxa SATI. Tendo em vista a determinação pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça nos autos da ação cautelar nº SP (2015/ ), Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, de suspensão de todas as ações em trâmite, inclusive em primeiro grau, afetando o REsp nº /SP, em 16/12/20015, para que seja julgado sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 938), deve o pedido de restituição dos valores pagos a título de corretagem e taxa SATI ficar suspenso até o julgamento do recurso repetitivo. Com relação ao pedido de restituição das parcelas quitadas, porém, o feito deve prosseguir em observância ao artigo 356 do Novo Código de Processo Civil, que permite ao juiz decidir parcialmente o mérito. No entanto, antes da análise do mérito, necessário apreciar a alegada ilegitimidade passiva. Embora os autores não mantivessem vínculo contratual direto com a empresa TECNISA, é certo que ela participou ativamente para o planejamento do empreendimento, com

3 fls. 365 total envolvimento para o sucesso integral da empreitada, além de ser parceira da corré NICE neste mesmo negócio e, portanto, é responsável solidariamente pelo empreendimento que toca em parceria. De outro lado, é certo que os autores, adquirentes, assinaram o contrato com a empresa TECNISA relativo à prestação dos serviços de corretagem envolvidos no negócio somente em razão de ajuste celebrado com a ré NICE, o que enseja a responsabilidade solidária de ambas as empresas pela restituição dos valores envolvidos na transação. Assim, pode a parte optar por ajuizar a ação somente contra um dos devedores solidários, assegurado o direito de regresso. É justamente o caso dos autos, em que a ação foi ajuizada somente contra a empresa NICE. Nesse sentido, esclarecedor o seguinte trecho do v. Acórdão lançado nos autos da Apelação nº , Rel. Ênio Zuliani: "Ressalte-se que, no que tange à solidariedade da apelada e da empresa responsável pela percepção do montante atinente à comissão de corretagem, é sabido que elas, por terem se coligado para oferecer ao mercado um produto/serviço, comungam de interesses comuns, respondendo, por isso, de forma solidária, pelos prejuízos suportados pelo consumidor. Logo, causado dano a este, ele pode acionar ambas as empresas ou apenas uma delas nos termos do artigo 275 do Código Civil e do artigo 25, 1º, da Lei no 8.078/90. Assim, todos aqueles que intervierem no fornecimento de produtos de consumo de bens duráveis ou não duráveis, em face do consumidor são solidariamente responsáveis, sem culpa, por vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valore ainda o consumidor, em razão da solidariedade passiva, tem direito de exigir e receber de um ou alguns daqueles que intervieram nas relações de fornecimento, parcial ou totalmente, a sanação do vício ou, esta não sendo levada a efeito, quaisquer das alternativas oferecidas no parágrafo primeiro deste art. (ver art. 25, parágrafos primeiro e segundo) (in Código de Defesa do Consumidor Comentado, Arruda Alvim e outros, 2ªed. RT, pág. 145)." (São Paulo, 4ª Câmara de Direito Privado, j. 04/03/2016). Portanto, afastada a tese de ilegitimidade passiva da ré com relação ao pedido de devolução de valores relativos à comissão de corretagem e taxa SATI. Oportuno observar, todavia, que o polo passivo da demanda deve ser retificado para constar apenas Nice Investimentos Imobiliários Ltda, pois a empresa Tecnisa S/A, pessoa jurídica que não se confunde com a ré, apesar de ter responsabilidade solidária, não foi acionada.

4 fls. 366 No mérito, o contrato deve ser rescindido, pois os autores admitiram não ter condições financeiras para dar continuidade à avença e suspenderam os pagamentos das contraprestações. Aliás, a ré não se opõe à rescisão. Diante da rescisão do contrato, têm direito à devolução de parte dos valores quitados, conforme entendimento consolidado do Egrégio TJSP, nos termos da Súmula n 1 da Corte: "O compromissário comprador de imóvel, mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do contrato e reaver as quantias pagas, admitida a compensação com gastos próprios de administração e propaganda feitos pelo compromissário vendedor, assim como com o valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do bem". A retenção de 50% que pretende a ré, prevista na cláusula do contrato (fls. 43/44), é abusiva e não se justifica, já que o imóvel sequer foi ocupado e pode ser novamente alienado a terceiro pelo preço integral. Nesse sentido: "Apelação - Ação de rescisão contratual cumulada com restituição de valores pagos - Sentença que autoriza a retenção de 30% e rejeita a devolução da Sati e da corretagem - Inconformismo - Caso em que os autores, por dificuldades financeiras, não conseguiram cumprir o contrato - Possibilidade de redução do percentual da retenção para 10% do montante pago, o que se coaduna com o entendimento do C. STJ e porque ausente contestação da vendedora - Ilegalidade da taxa Sati - Venda casada - Comissão de corretagem que não foi destacada do preço total do imóvel e deve ser restituída - Ausência de cláusula contratual nesse sentido - Ofensa ao direito básico do consumidor à informação (artigos 6º, II, 30 e 31 do CDC) - Provimento". (TJSP, Apelação n.º , 4ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Enio Zuliani, julgado em 25/09/2015). Nesse cenário, de rigor a rescisão do contrato com a devolução das parcelas pagas, permitindo-se a retenção de 10% pela ré. A retenção reputa-se razoável, porque visa indenizar a ré pelas perdas e danos decorrentes da rescisão, consideras as despesas administrativas, tais como publicidade, comercialização e outras atinentes ao empreendimento (despesas operacionais). Observa-se, ademais, que o valor pago pelos autores, no que diz respeito ao compromisso de compra e venda, foi de R$ ,40, o que não foi impugnado pela ré e, por consequência, é incontroverso. Diante do exposto, com fulcro nos artigos 487, I, e 356, II, ambos do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTES, sem extinção do feito, os pedidos de rescisão do contrato firmado entre as partes e de condenação da ré à restituição aos autores do valor

5 fls. 367 correspondente a 90% das prestações pagas, atualizado de acordo com a Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o desembolso de cada parcela e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar da citação. Como se trata de hipótese de julgamento antecipado parcial do mérito, fixo apenas os honorários, deixando a condenação ao pagamento das custas processuais para ser apreciada quando da extinção do feito. Assim, em razão da sucumbência, condeno a ré NICE INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA. ao pagamento dos honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, nos termos do artigo 85, 2º, do Código de Processo Civil. Com relação à taxa de corretagem e à taxa SATI, diante da suspensão determinada, em 16/12/2015, no REsp nº /SP, já mencionada nessa decisão, cadastrese como pendência no sistema. Por fim, retifique-se o polo passivo da demanda para constar apenas Nice Investimentos Imobiliários Ltda. Intimem-se. São Paulo, 15 de julho de DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA