ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente sem voto), AUGUSTO REZENDE E LUIZ ANTONIO DE GODOY.

Transcrição

1 fls. 178 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante THIAGO FERNANDEZ NEGLIA, é apelado PLANIK 18 EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO SPE LTDA.. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RUI CASCALDI (Presidente sem voto), AUGUSTO REZENDE E LUIZ ANTONIO DE GODOY. São Paulo, 27 de julho de Christine Santini Relatora Assinatura Eletrônica

2 fls. 179 Apelação Cível nº São Paulo Apelante: Thiago Fernandez Neglia Apelado: Planik 18 Empreendimento Imobiliário SPE Ltda. Juiz Prolator: Laura de Mattos Almeida TJSP (Voto nº ) Apelação Cível. Compromisso de venda e compra Pretensão de devolução dos valores desembolsados pelo adquirente a título de intermediação imobiliária Sentença de improcedência Comissão de corretagem Falta de adequada informação prévia e destacada acerca do valor das despesas de intermediação imobiliária em fase précontratual Comunicação que se deu apenas no momento da consumação do ajuste Abusividade caracterizada conforme tese fixada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp nº SP, pelo rito dos recurso repetitivos, aplicável à hipótese. Dá-se provimento ao recurso. 1. Trata-se de ação de restituição de valores pagos movida por Thiago Fernandez Neglia em face de Planik 18 Empreendimento Imobiliário SPE Ltda., alegando, em síntese, que celebrou com a ré compromisso de venda e compra de imóvel no empreendimento Condomínio Enjoy Freguesia do Ó, tendo efetuado o pagamento de R$ ,85 referente à assessoria e intermediação de venda. Requer, assim, a devolução integral de tais valores. A ação foi julgada improcedente. Diante da sucumbência, arcará o autor com o pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor atualizado da causa (fls. 114/117).

3 fls. 180 Inconformado, apela o autor postulando, em síntese, o acolhimento de seu pedido inicial. Pugna, enfim, pela reforma da R. Sentença (fls. 119/155). Processado regularmente o recurso, foram apresentadas contrarrazões com preliminar de não conhecimento por ausência de impugnação específica dos fundamentos da R. Sentença (fls. 161/167). Não houve oposição das partes ao julgamento virtual (fls. 177). É o relatório. 2. Preliminarmente, não se cogita do não conhecimento do recurso de apelação do autor. O artigo 1.010, inciso II, do Código de Processo Civil, prevê que: Artigo A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá: (...) II - a exposição do fato e do direito; No caso, o recurso de apelação interposto pelo autor tem nexo lógico direto com a R. Sentença apelada. O apelante expõe claramente os argumentos invocados para reforma da sentença, bem como os fundamentos de fato e de direito capazes de embasar seus pedidos.

4 fls. 181 O recurso merece provimento. Em relação ao pedido de restituição de valores pagos a título de comissão de corretagem e taxa SATI, cumpre observar que não se verifica na hipótese o advento do prazo prescricional trienal, conforme tese fixada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial nº SP, que seguiu o rito dos recursos repetitivos: Incidência da prescrição trienal sobre a pretensão de restituição dos valores pagos a título de comissão de corretagem ou de serviço de assistência técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere (artigo 206, 3º, IV, CC). Isso porque o pagamento da comissão de corretagem se deu em (fls. 67), mesma data da celebração do contrato, tendo sido a demanda proposta em Logo, não houve o decurso do prazo prescricional de três anos. O Colendo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos REsp nºs SP e SP, que seguiu o rito dos recursos repetitivos, fixou a seguinte tese acerca da responsabilidade dos adquirentes quanto ao pagamento da comissão de corretagem: Validade da cláusula contratual que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação

5 fls. 182 imobiliária, desde que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com destaque do valor da comissão de corretagem.(grifos nossos) Melhor examinando o V. Acórdão, reformulo entendimento anterior sobre a matéria. Isto porque o Colendo Superior Tribunal de Justiça destacou a necessidade de ajuste prévio entre as partes quanto ao repasse do ônus do pagamento da comissão de corretagem ao consumidor-adquirente, conforme excerto abaixo transcrito: A solução da controvérsia situa-se na fase pré-negocial, englobando as tratativas, a oferta e a aceitação, com ênfase no dever de informação acerca da transferência do dever de pagar a comissão de corretagem ao adquirente antes da celebração do contrato de compra e venda.(grifos nossos) Logo, não é o bastante que esta informação tenha sido prestada no instante da celebração do contrato para que se verifique a comunicação prévia e destacada ao consumidor quanto ao pagamento da comissão de corretagem. No caso dos autos, não há nenhum documento indicando que ao consumidor foi dada informação prévia, em fase pré-contratual, quanto a sua responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem. Observe-se que até mesmo o documento de fls. 66, intitulado planilha de cálculo, com discriminação dos valores a serem pagos e indicação dos corretores beneficiários dos cheques a serem emitidos, não possui indicação de data.

6 fls. 183 Logo, ausente a imprescindível demonstração de que ao consumidor foi dada a ciência prévia a propósito da referida despesa decorrente de suposta intermediação imobiliária, ainda em fase précontratual, tem-se que é abusiva a cobrança da comissão de corretagem. Apenas para que não pairem dúvidas, ressalte-se que em relação à taxa SATI, tal como observou o juízo, não há informação nos autos quanto ao seu pagamento, uma vez que o valor de R$ ,85 foi integralmente destinado ao pagamento da intermediação imobiliária, conforme discriminou o recibo de fls. 66. Desse modo, reconhecida a abusividade da cobrança da comissão de corretagem, é devida a restituição dos valores comprovadamente pagos, com correção monetária desde o desembolso e juros de mora desde a citação. Assim, o recurso merece provimento para o fim de reconhecer a abusividade da cobrança de comissão de corretagem e determinar a restituição de forma simples dos valores comprovadamente pagos, nos moldes acima definidos. Em face da sucumbência, deverá a ré arcar com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação atualizado. 3. À vista do exposto, pelo meu voto, dou provimento ao recurso, para o fim acima declinado.

7 fls. 184 Christine Santini Relatora