ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CLAUDIO GODOY (Presidente) e AUGUSTO REZENDE. São Paulo, 3 de maio de 2016.

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Andradina, em que é apelante URBANIZADORA CONTINENTAL S/A EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES, é apelado ALEX SANDER SANTANA DE ARAÚJO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CLAUDIO GODOY (Presidente) e AUGUSTO REZENDE. São Paulo, 3 de maio de Christine Santini RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Cível nº Andradina Apelante: Urbanizadora Continental S.A. Empreendimentos e Participações Apelado: Alex Sander Santana de Araújo Juiz Prolator: Thiago Henrique Teles Lopes TJSP (Voto nº ) Apelação Cível. Ação reivindicatória Sentença que julgou improcedente a ação, ante o acolhimento da tese de usucapião arguida em defesa Titularidade dominial demonstrada pela autora Hipótese, contudo, em que comprovado o exercício pelo réu de posse sobre o imóvel registrado em nome da autora de forma mansa, pacífica, ininterrupta e com animus domini pelo lapso temporal previsto no artigo 183, caput, da Constituição Federal e no artigo do Código Civil Improcedência da ação bem decretada Manutenção da R. Sentença. Nega-se provimento ao recurso de apelação. 1. Trata-se de ação reivindicatória movida por Urbanizadora Continental S.A. Empreendimentos e Participações, alegando, em síntese, que é a legítima proprietária do imóvel localizado à Rua Maranhão, nº 918, na cidade de Andradina, SP, adquirido mediante carta de adjudicação devidamente registrada perante o CRI. Afirma que foi surpreendida pela informação de que o referido imóvel foi ocupado sem sua autorização por pessoa totalmente desconhecida. Assim, reivindica para si o imóvel, requerendo a restituição de sua posse sobre o bem. A ação foi julgada improcedente, nos termos da R. Sentença de fls. 307/312, com a condenação da autora ao pagamento das 2

3 custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em R$ 1.500,00. Embargos de declaração (fls. 317/319) foram rejeitados pela R. Decisão de fls. 320/321. Inconformada, apela a autora, sustentando, em síntese, que não há nos autos comprovação do preenchimento, pelo réu, dos requisitos da usucapião constitucional arguida em defesa (fls. 324/329). Processado regularmente o recurso, foram apresentadas contrarrazões (fls. 335/345). É o relatório. 2. Anote-se, de início, que o recurso de apelação, interposto em (fls. 324), tem por objeto sentença proferida em (fls. 312) e publicada em (fls. 315). Assim, face ao princípio do tempus regit actum, devem ser aplicadas à hipótese as disposições do Código de Processo Civil de 1973 (Lei nº 5.869/73), diploma vigente à época em que praticados os referidos atos. O recurso de apelação não merece provimento. A ação reivindicatória é dotada de natureza petitória, fazendo-se necessária à sua procedência a demonstração pela parte de 3

4 que ostenta o melhor título de domínio. Nesse sentido confira-se lição de Silvio Rodrigues (in Direito Civil: Direito das Coisas, v.5, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 55): No juízo petitório, cujo rito é ordinário, os litigantes alegam o domínio, e o reivindicante, demonstrando a excelência de seu direito, nega o direito de seu adversário sobre a coisa cuja entrega reclama. A prova do domínio, nem sempre fácil, deve ser cristalinamente produzida. No juízo possessório, ao revés, basta mostrar a posse pacífica por ano e dia para que o possuidor alcance proteção contra quem quer que seja. Em rigor basta mostrar a posse para obter proteção contra quem não tenha melhor posse. Na hipótese, a autora logrou êxito em demonstrar a titularidade dominial sobre o imóvel ocupado pelo réu, conforme se observa da cópia da matrícula nº 7.675, acostada a fls. 36/38, relativa ao imóvel localizado à Rua Maranhão, nº 918. No entanto, apesar da prova da titularidade dominial em favor da autora, há nos autos comprovação do preenchimento dos requisitos da usucapião especial urbana arguida em defesa pelo réu, em sua contestação. 4

5 O artigo 183, caput, da Constituição Federal, ao tratar da usucapião urbana, é expresso ao prever que: Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. No mesmo sentido o artigo do Código Civil: Art Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Assim, para haver direito a usucapião, forma de aquisição originária de propriedade, exige-se o preenchimento de alguns pressupostos, dentre eles, coisa hábil, posse com animus domini e transcurso do tempo. E em se tratando de usucapião constitucional urbana, conforme exposto, exige-se também que o prescribente utilize o imóvel para sua moradia ou de sua família e não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 5

6 quo que: Na hipótese dos autos, bem observou o MM. Juízo a (...) A modalidade de usucapião pleiteada pelo réu é a especial de imóvel urbano previsto pela Constituição Federal em seu artigo 183, posteriormente regulamentada pela Lei nº /2001 e copiado no artigo do Código Civil, que possibilita àquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Assim sendo, estão presentes os requisitos da usucapião especial urbana: a) posse de imóvel urbano com área de até 250m; b) animus domini; c) posse ininterrupta por mais de cinco anos; d) utilização para fins de moradia; e) ausência de propriedade de outro imóvel. O imóvel tem 70,00 m² e o réu comprovou a sua posse, inclusive vem pagando os débitos referentes ao IPTU, água, esgoto e energia elétrica, conforme cópias juntados ao autos (fls. 109/173). Não há registro de oposição anterior a presente demanda, 6

7 tampouco da existência de outro bem em nome dele (fl. 99). De fato, é certo que o réu comprovou documentalmente por meio da prova que instruiu a contestação o exercício de atos possessórios do imóvel em questão, bem como através da prova oral produzida, notadamente pelo quanto dito pelos seus vizinhos de que, realmente, reside há mais de 05 anos no imóvel objeto do litígio. (fls. 309/310) (g.n.) Nem se alegue como faz a autora, ora apelante, que o ajuizamento da Execução Fiscal nº 797/10 impede o reconhecimento da prescrição aquisitiva, pois, conforme se verifica a fls. 106/114, quem efetuou o pagamento dos débitos fiscais incidentes sobre o imóvel foi o próprio requerido. Dessa forma, diante do reconhecimento do direito do réu à usucapião do imóvel objeto da presente demanda, não há falar em procedência da pretensão reivindicatória da autora. Observe-se, por fim, que embora possível o reconhecimento da usucapião alegada em matéria de defesa nos autos de ação reivindicatória, tal reconhecimento não tem o condão de declarar a titularidade do domínio do réu, tampouco consistindo em título hábil ao registro imobiliário. 7

8 De fato, a declaração da usucapião que enseja retificação do registro do imóvel e importa oponibilidade erga omnes depende de ação autônoma e observância de procedimento especial, tal como observado pelo MM. Juízo a quo (fls. 310). Em suma, nada justifica a reforma da R. Sentença apelada, que deve ser mantida tal como lançada. ao recurso de apelação. 3. À vista do exposto, pelo meu voto, nego provimento Christine Santini Relatora 8