PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 38ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante BTW COMERCIAL E IMPORTADORA DE FERRAMENTAS LTDA, é apelado MAX- FER COMERCIAL LTDA. ACORDAM, em 38ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SPENCER ALMEIDA FERREIRA (Presidente), FERNANDO SASTRE REDONDO E FLÁVIO CUNHA DA SILVA. São Paulo, 8 de maio de Spencer Almeida Ferreira RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: 7064 APELAÇÃO: COMARCA: SÃO PAULO APTE.: BTW COMERCIAL E IMPORTADORA DE FERRAMENTAS LTDA APDO.: MAX-FER COMERCIAL LTDA EMBARGOS À EXECUÇÃO Duplicata Ajuizamento da execução 3 anos após o deferimento do processamento da recuperação judicial Crédito sujeito à recuperação judicial (Art. 49, caput, da Lei /05) Sentença de procedência Apelação interposta pela embargada Alegação de que não recebeu a correspondência prevista no Art. 22, I, a, da Lei de Recuperação Judicial Demonstração, pela parte contrária, de envio de fax Hipótese em que, ainda que não tivesse constado do rol de credores apresentado pela empresa postulante de recuperação, seria o caso de habilitação de crédito, nos termos do art. 7º e seguintes da referida lei Verificação, junto ao sítio do TJSP, de que houve convolação em falência Arts. 61, 2º e 80 da Lei /05 Aplicabilidade Crédito sujeito ao concurso de credores Ausência de interesse processual Sentença mantida Recurso não provido. 1.- A sentença de fls. 173/176, cujo relatório é adotado, julgou procedentes os embargos opostos, com fulcro nos artigos 586 e 618, I, cc artigo 267, IV, todos os CPC. Condenou a embargada ao pagamento de custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da causa. Recorreu a sucumbente a fls. 181/184, buscando a modificação do julgado. Alega, para tanto, que tabulou contratos de compra e Apelação nº

3 venda com a apelada, sendo emitidas duplicatas no valor total atualizado até a data do ajuizamento da execução em R$ 9.613,44 (nove mil, seiscentos e treze reais e quarenta e quatro centavos). Instada a efetuar os pagamentos, a apelada quedou-se inerte, o que justificou a propositura da execução das duplicatas, uma vez que não pagas na data e forma aprazadas. Como defesa, a apelada ingressou com a presente ação, alegando que estava em processo de recuperação judicial e que o crédito da apelada havia sofrido novação por conta da lei. Exara que foi surpreendida com essa nova situação jurídica, sendo que apenas foi enviado um fax para sua sede, sem ser destinatária a representante legal. Nem o edital, muito menos o fax tem o condão de fazer prova inequívoca do conhecimento da recuperação judicial. Assevera que o plano, conforme consta hoje de seu andamento, parece fadado ao insucesso, sendo que seus credores jamais receberão os valores ali descritos, o que faz nascer à apelante o seu direito de cobrar pela via executiva. Requer, subsidiariamente, a redução da verba honorária. Recurso tempestivo, preparado e respondido. É o relatório. 2.- Sem razão a recorrente. Cuida-se de execução por título extrajudicial aforada (em ) em face de Max Fer Comercial Ltda que, desde o ano de 2007, estava em recuperação judicial (fls.14/56). Alega a embargada, ora apelante, que desconhecia tal fato, não obstante seu crédito tenha constado do rol de credores publicado nos editais previstos em lei (fls. 14/17). Na espécie, a embargante fez prova de envio de carta por fax a fls. 153, comunicando que a embargada constava do rol de credores por ela apresentado ao juízo da recuperação judicial. Ainda que não constasse, prevê o artigo 49, caput, da Lei /05 que estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Seria o caso, por conseguinte, de requerer Apelação nº

4 a habilitação de crédito nos autos da recuperação judicial, nos termos dos artigos 7º e seguintes daquela lei. Assim, verifica-se que a apelante pretendeu, por meio desta demanda, burlar o juízo recuperacional, passando à frente dos demais credores incluídos no plano de recuperação judicial. Caso tivesse esta execução sido ajuizada antes do deferimento do processamento da recuperação, seria o caso de suspensão. Como foi ajuizada 3 (três) anos após, verifica-se a falta de interesse de agir. Em consulta ao andamento do processo de recuperação judicial, no sítio do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, constata-se que, em sentença prolatada em , foi decretada a falência da pessoa jurídica Max Fer Comercial Ltda 1. lei /05: Neste caso, aplica-se o disposto nos artigos 61, 2º e 80 da Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial. 1º Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei. 2º Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial. Art. 80. Considerar-se-ão habilitados os créditos remanescentes da recuperação judicial, quando definitivamente incluídos no quadrogeral de credores, tendo prosseguimento as habilitações que estejam em curso. Desta forma, pelos critérios legais, convolada a recuperação judicial em falência, o crédito representado pelas duplicatas objeto da presente fica sujeito ao concurso de credores, não havendo interesse de agir nesta demanda. Também inexiste razão para redução da verba honorária, uma vez que fixada em 15% sobre o valor atualizado da causa (R$ 9.613,44 nove mil, 1 Processo nº: Apelação nº

5 seiscentos e treze reais e quarenta e quatro centavos). Observou-se, portanto, os critérios previstos no artigo 20, 3º e 4º 2, do CPC. Merece a sentença ser mantida por seus próprios fundamentos. 3.- Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. SPENCER ALMEIDA FERREIRA Relator 2 Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte po cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. 4 o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. Apelação nº