PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Rio Claro, em que são apelantes JOSÉ FILIER (E OUTROS(AS)) e IVONE PASCON FILIER, é apelado TERESA BERALDO CAVALHEIRO. ACORDAM, em 28ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso, com determinação. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente sem voto), PAULO ALCIDES E MAURO CONTI MACHADO. São Paulo, 27 de setembro de Teixeira Leite RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº Processo redistribuído em cumprimento à Resolução 737/2016 e à Portaria 1/2016. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. Art , parágrafo único, do CC. Imóvel usucapiendo com 27,38 m² de área. Sentença que julgou a ação improcedente, pois o imóvel usucapiendo não possuiria a metragem mínima necessária para seu registro nos termos da Lei de Parcelamento do Solo. Todavia, é possível a aquisição originária de imóvel com área inferior ao módulo urbano. Precedentes deste e. TJSP. Usucapião extraordinária qualificada pela moradia. Requisitos preenchidos. Sentença reformada. Recurso provido com determinação de expedição de mandado para que o Oficial de Registro de Imóveis competente providencie o regular registro do título judicial. Trata-se de apelação tirada da r. sentença de fls. 145/149, que julgou improcedente a ação de usucapião ajuizada por JOSÉ FILIER e IVONE PASCON FILIER contra IDIOMAR KLEMPS LANSONI e WALTER RUBENS LANSONI, por entender o d. Juízo que o imóvel usucapiendo não possui a metragem mínima necessária para seu registro nos termos da Lei de Parcelamento do Solo. Os apelantes, inconformados, aduzem, em suas razões (fls. 157/161), que, apesar do imóvel usucapiendo possuir 27,38 metros quadrados, foi agregado a um imóvel maior, cuja área é de 178 metros quadrados. Esclarecem que esse imóvel já era de sua propriedade quando lhe foi incorporado o terreno que pretendem usucapir, tendo sido doado à sua única filha em Ademais, a Prefeitura Municipal de Santa Gertrudes, que é o órgão fiscalizador das metragens mínimas dos imóveis, não se opôs à agregação ocorrida, cobrando, há mais de 10 anos, N Apelação nº Rio Claro - voto nº /6

3 IPTU sobre a área total, ou seja, 205,38 metros quadrados, conforme carnês de cobrança de IPTU acostados aos autos. E, ainda, o Sr. Oficial do 1º Cartório de Registro de Imóveis manifestou a sua não oposição ao registro (fls. 125). Requer o provimento do recurso para que ação de usucapião seja julgada procedente. Contrarrazões às fls. 169/173. Observa-se que este recurso deu entrada em 18 de janeiro de 2015, distribuído para a d. 5ª Câmara de Direito Privado, e, foi redistribuído em 19 de setembro de 2016, a este Relator, na qualidade de integrante de Câmara Extraordinária voltada a reduzir acervo do Tribunal de Justiça. Nesse caso, considerando a data da interposição, aplicam-se as regras do Código de Processo Civil vigente à época, daí sem qualquer surpresa ou prejuízo aos litigantes. É o relatório. Em breve suma, sustentam os apelantes serem legítimos possuidores de terreno com 27,38 metros quadrados adquirido em por meio de escritura pública, que foi agregado a imóvel de 178 metros quadrados, também de sua propriedade e que foi transmitido por doação para sua única filha, sendo hoje utilizado como garagem de sua residência. Alegando não ser possível o registro da escritura pública de aquisição do terreno, propuseram ação de usucapião, alegando terem preenchido os requisitos legais. O MM. Juiz julgou a ação improcedente, pois a Lei de Parcelamento do Solo estabelece que o módulo urbano deve possuir, no mínimo, 125 metros quadrados de área, e, considerando que a área que os apelantes pretendem usucapir possui 27,38 metros quadrados, N Apelação nº Rio Claro - voto nº /6

4 não será possível seu registro, criando óbice ao reconhecimento da usucapião, o que se reexamina. Pois bem. A irresignação dos apelantes merece prosperar, não tendo agido o MM. Juiz com o costumeiro acerto. A usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada, sendo seus requisitos a posse, o tempo, a sentença e a transcrição, constituindo forma de aquisição originária da propriedade e de outros direitos reais, cujos requisitos estão previstos nos arts a do CC. No caso, apesar dos apelantes não deixarem claro na petição inicial qual a modalidade de usucapião pretendida, certo que pretende o reconhecimento da usucapião extraordinária, nos termos do art , parágrafo único, do CC, que estabelece como requisitos (i) estabelecimento de moradia habitual ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo; (ii) posse contínua e não contestada a mais de 10 anos. Observa-se que nada é disposto acerca da metragem mínima do imóvel, do que se conclui que o art. 4º, II, da Lei de Parcelamento do Solo (Lei nº 6.766/79), ao dispor que os lotes terão área mínima de 125m² não tem aplicação na presente hipótese de aquisição originária. deste e. TJSP: Nesse sentido, posiciona-se a jurisprudência USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA - Na usucapião extraordinária, havendo o animus domini, basta N Apelação nº Rio Claro - voto nº /6

5 comprovação de dois requisitos: o tempo contínuo e a posse mansa e pacífica, independentemente de título e boa-fé Loteamento irregular Área inferior ao módulo rural Irrelevância - Possibilidade de usucapião - Presença dos requisitos legais para a prescrição aquisitiva Recurso desprovido. (Apelação ; Relator Alcides Leopoldo e Silva Júnior, 1ª Câmara de Direito Privado, DJ ). [grifo nosso] Usucapião extraordinário. Sentença de procedência devidamente fundamentada. Motivação da sentença adotada como fundamentação do julgamento em segundo grau. Inteligência do art. 252 do RITJ. Competência da Câmara Especial do Meio Ambiente afastada. Redistribuição recursal nos termos da Resolução 668/2014, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça. Aplicação do artigo 1º, 3º, da referida Resolução: 'atribuição de competência para julgamento de matérias de qualquer das Subseções'. Aplicação dos princípios de economia e celeridade processuais, sem prejuízos às partes. Posse mansa, pacífica e ininterrupta comprovada. Comprovação do exercício da posse mansa, pacífica, ininterrupta por mais de quinze anos. Possibilidade de usucapião sobre áreas inferiores ao módulo, sendo única forma de regularização da propriedade imobiliária. Recurso não provido. ( Apelação , Relator Edson Luiz de Queiróz, 14ª Câmara Extraordinária de Direito Privado, DJ ). [grifo nosso] N Apelação nº Rio Claro - voto nº /6

6 Ademais, o Sr. Oficial do 1º Cartório de Registro de Imóveis manifestou-se no sentido de inexistência de qualquer entrave para a registrabilidade do título judicial que porventura emergirá do provimento da pretensão dos apelantes (fls. 125). Assim, considerando que os apelantes comprovaram a posse com animus domini, já que demonstraram ter adquirido o imóvel usucapiendo por escritura pública em (fls. 13), exercida de forma ininterrupta e pacífica desde então, inclusive com o pagamento de IPTU sobre a área (fls. 18 e fls. 20/39), e utilizada com a finalidade de moradia, resta que a pretensão aquisitiva restou bem configurada na hipótese. Portanto, reformo a r. sentença para julgar procedente a ação de usucapião, declarando o domínio dos apelantes sobre o imóvel usucapiendo e determinando a expedição de mandado para que o Oficial de Registro de Imóveis competente providencie o regular registro do título judicial. Ante o exposto, voto pelo provimento do recurso, com determinação. TEIXEIRA LEITE Relator N Apelação nº Rio Claro - voto nº /6