TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados GETÚLIO ANTUNES DE OLIVEIRA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) e IRACI FERNANDES DE OLIVEIRA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA). ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), COELHO MENDES E ROBERTO MAIA. São Paulo, 29 de janeiro de CARLOS ALBERTO GARBI RELATOR [assinado digitalmente]

2 VOTO Nº APELAÇÃO COM REVISÃO Nº COMARCA: SÃO PAULO (11ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA). APELANTE: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. APELADOS: GETÚLIO ANTUNES DE OLIVEIRA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) E OUTRO. USUCAPIÃO. IMÓVEL. ÁREA DEVOLUTA. DEMANDA DISCRIMINATÓRIA. 1. A área usucapienda é parte integrante de imóvel com registro de domínio, conforme concluiu o perito no laudo produzido. Diante deste fato, não se poder reconhecer o caráter devoluto da área, ao contrário do que alegou a Fazenda Pública do Estado de São Paulo. 2. Embora exista sentença prolatada na demanda discriminatória, a decisão é datada de 1º de outubro de 1941, conforme cópia da sentença juntada aos autos pela apelante e, até hoje, não se tem notícia da demarcação da área. No transcurso do tempo, a região foi densamente ocupada, como confirmou o perito. Nessas condições, não se pode reconhecer, e aqui decisivamente, a área como devoluta, o que favorece o reconhecimento da usucapião do imóvel Sentença de procedência do pedido de reconhecimento de usucapião de imóvel mantida. Recurso da Fazenda do Estado não provido. I. RELATÓRIO. Recorreu a Fazenda Pública do Estado de São Paulo da sentença, proferida pelo Doutor Domingos de Siqueira Frascino, que julgou procedente Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 2 de 5

3 o pedido de reconhecimento de usucapião constitucional urbano de imóvel possuído pelos autores há mais de vinte anos. Afirmou que o pedido da demanda discriminatória foi julgado procedente. Assim sendo, o imóvel em exame constitui terra pública, que não pode ser objeto de usucapião. A sentença representaria afronta à coisa julgada. da sentença. O recurso foi respondido pelos autores, que pediram a manutenção A Procuradoria de Justiça do Ministério Público, pela manifestação subscrita pelo Doutor Luiz Felippe Ferreira de Castilho Filho, afirmou que não é caso de intervenção. II. VOTO. Segundo alegou a apelante, o imóvel usucapiendo, situado na rua Albertina de Medeiros, 444, está inserido no Segundo Perímetro de São Miguel Paulista, em área de terra devoluta, objeto de ação discriminatória (autos nº fls. 349). Por esta razão, não poderia ter sido julgado procedente o pedido de usucapião do imóvel. Entretanto, a área usucapienda é parte integrante de imóvel com registro de domínio em favor de Ottili Perlich, conforme concluiu o perito no laudo produzido (fls. 302). Diante deste fato, não se poder reconhecer o caráter devoluto da área, ao contrário do que alegou a Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Como esclarece Benedito Silvério Ribeiro: As terras devolutas Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 3 de 5

4 têm o significado de terras públicas, sendo aquelas situadas nas faixas de fronteira, as que não são aplicadas a qualquer uso público federal, estadual ou municipal e as que não se acham, por título legítimo, na posse ou domínio particular de alguém. Conforme define Hely Lopes Meirelles, terras devolutas são todas aquelas que, pertencentes ao domínio público de qualquer das entidades estatais, não se acham utilizadas pelo poder público, nem destinadas a fins administrativos específicos. São bens públicos patrimoniais ainda não utilizados pelos respectivos proprietários [...] Em consequência disso, aflorou para muitos a ideia de presunção de serem devolutas as terras que não se encontrassem no domínio de particulares, portadores de títulos de propriedade (Tratado de Usucapião, vol. I, Ed. Saraiva, 3ª ed., p. 541). Embora exista sentença prolatada, a decisão é datada de 1º de outubro de 1941, conforme cópia juntada aos autos pela apelante (fls. 516) e, até hoje não se tem notícia da demarcação da área. Diante disso, a região foi densamente ocupada, como confirmou o perito. Nessas condições, não se pode reconhecer, e aqui decisivamente, a área como devoluta, o que favorece o reconhecimento da usucapião do imóvel. Em caso semelhante decidiu este Tribunal recentemente: A análise da situação posta sub judice permite concluir que a ação discriminatória em trâmite desde 1.957, portanto, há mais de meio século, não concluiu a demarcação da área. Logo, em que pese estar o imóvel localizado no mencionado perímetro de São Miguel Paulista, não se logrou comprovar que está efetivamente Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 4 de 5

5 inserido em terras devolutas, como já reiteradamente se têm decidido em ações análogas a esta. Ainda que assim não fosse, a longa tramitação da ação discriminatória e o crescimento populacional na área permitiu com o passar dos tempos a urbanização, com instauração de bairros completos, abrigando densa camada populacional, o que retira as características que a distinguia como terras devolutas (TJSP, AI n , rel. Percival Nogueira, dj ). A sentença, portanto, que julgou procedente o pedido, decidiu corretamente a lide e deve ser mantida por seus próprios fundamentos. III. DISPOSITIVO Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. CARLOS ALBERTO GARBI relator [assinado digitalmente] Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 5 de 5