TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 460 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante ACS BETA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, são apelados NEUSA GOMEZ QUINTINO e JOEL QUINTINO FILHO. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MAIA DA CUNHA (Presidente sem voto), HAMID BDINE E ENIO ZULIANI., 27 de abril de 2017 NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 461 Apelação Cível n.º Apelante: ACS BETA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA Apelados: NEUSA GOMEZ QUINTINO E OUTRO Comarca: SÃO BERNARDO DO CAMPO Voto n.º Aquisição de imóveis em construção. Atraso na entrega da obra. Relação de consumo presente. Resolução dos contratos em condições de prevalecer. Polo passivo deixou de observar o lapso cronológico ajustado, portanto, é o culpado pelo desfazimento do pactuado. Alegação de caso fortuito ou força maior em relação à entrega das chaves não pode sobressair. Prorrogação de 180 dias já leva em consideração as vicissitudes da construção civil. Vendedora responde pelo fortuito interno risco da própria atividade. Devolução que também abrange as taxas condominiais pagas no período, porquanto os autores sequer foram imitidos na posse. Apelo desprovido. 1. Trata-se de apelação interposta tempestivamente, com base na r. sentença de págs. 395/401, que julgou procedente ação de rescisão contratual, cumulada com restituição de valores pagos, envolvendo aquisição de imóveis em construção que tiveram atraso na entrega. Alega a apelante que o contrato não apresenta abusividade ou desequilíbrio econômico, afirmando que a cláusula de retenção de parte dos valores pagos tem validade, elencando justificativa de caráter penal. Continuando mencionou que em caso de resolução contratual por parte da vendedora, caberia a Apelação nº São Bernardo do Campo - VOTO Nº 2/5

3 fls. 462 restituição de 70% do valor pago, sustentando o equilíbrio da referida disposição contratual. Prosseguindo ressaltou a presença da boa-fé objetiva, destacando que a resilição decorre de causa atribuída ao comprador, ou seja, a inadimplência, reportando-se a textos legais, bem como a cláusulas contratuais, salientando a autonomia da vontade e a liberdade de escolha. A seguir fez referência sobre previsibilidade, investimentos em infraestrutura/pesquisas e outras peculiaridades de âmbito econômico, reiterando a validade da cláusula Em sequência declarou que não houve mora, já que o atraso na obra decorrera de motivos caracterizados como caso fortuito ou força maior, ressaltando o equilíbrio econômico-financeiro e contratual. Ademais disse que o prazo de tolerância de 180 dias tem validade, conforme entendimento jurisprudencial, transcrevendo ementa de acórdão. Dando prosseguimento destacou que as verbas condominiais são devidas, antes os benefícios recebidos pelos proprietários, não cabendo o ressarcimento, visto que, se os apelados não estavam na posse do imóvel, fora em razão da não quitação do preço. No mais sustentou que a taxa Sati fora recebida por terceiros, além de salientar que referida verba tivera base na intermediação imobiliária que é praxe no mercado, e não resulta lesão ao consumidor, reportando-se à doutrina e à jurisprudência. Finalmente pleiteou o provimento do apelo, para que a ação seja julgada improcedente. O recurso foi contra-arrazoado, rebatendo integralmente a pretensão da recorrente, págs. 436/453. É o relatório. 2. A r. sentença apelada merece ser mantida. De início, o pactuado pelas partes envolve notória relação de consumo, portanto, a legitimidade passiva é manifesta, pois todos que participam do avençado respondem de maneira solidária com relação aos prejuízos sofridos pelo consumidor. A tese firmada no Tema 939 assim dispôs sobre assunto: Legitimidade passiva 'ad causam' da incorporadora, na Apelação nº São Bernardo do Campo - VOTO Nº 3/5

4 fls. 463 condição de promitente vendedora, para responder pela restituição ao consumidor dos valores pagos a título de comissão de corretagem e de taxa de assessoria técnico imobiliária, nas demandas em que se alega prática abusiva na transferência desses encargos ao consumidor. 3. Por outro lado, na hipótese em testilha o atraso na entrega da obra está caracterizado, já que deveria ter ocorrido em setembro de 2014, já considerado o lapso dilatório de 180 dias. A referência abrangendo caso fortuito ou força maior é irrelevante, visto que a cláusula de prorrogação de 180 dias já leva em consideração as vicissitudes da construção civil, sendo que a ré responde pelo fortuito interno, ou seja, o risco da própria atividade. Desta forma, o descumprimento do pactuado por parte do polo passivo está caracterizado, mostrando-se suficiente para o desfazimento do ajustado. Destarte, a restituição integral dos valores pagos apresenta-se adequada, inclusive no que corresponde à taxa Sati e condomínio, visto que o autor sequer foi imitido na posse do imóvel. Oportunas as transcrições jurisprudenciais: Compromisso de compra e venda. Imóvel em construção. Ação indenizatória, proposta pelas compradoras. Procedência em parte. Inconformismo. Acolhimento em parte. Apelada que comunicou atraso na entrega, motivando a rescisão. Culpa das vendedoras. Devolução dos valores pagos que deve ser integral. Danos morais não caracterizados. Ônus da sucumbência bem disciplinado. Sentença reformada apenas quanto ao valor a ser devolvido. Recurso provido em parte. (Apelação Cível n.º Relator Grava Brazil. Oitava Câmara de Direito Privado. J ). Apelação nº São Bernardo do Campo - VOTO Nº 4/5

5 fls. 464 Compromisso de compra e venda. Atraso injustificado na entrega na obra. Inadimplemento que autoriza a rescisão e implica da devolução integral das parcelas pagas. (...) Recurso parcialmente provido. (Apelação Cível n.º Relator Des. Moreira Viegas. Quinta Câmara de Direito Privado. J ). No mais, referência expressa de validade da cláusula 10.8 não tem supedâneo, porquanto abrange inadimplência do comprador, contudo, no caso em exame foi a vendedora que não cumprira a data para a entrega da obra, o que foi reconhecido expressamente nas razões do apelo, pág Finalmente, a sucumbência estabelecida na r. sentença mostra-se adequada, pois levou em consideração a relativa complexidade da demanda, além de remunerar condizentemente o titular da capacidade postulatória que representa os autores. 5. Com base em tais fundamentos, nega-se provimento ao apelo. NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA RELATOR L256 Apelação nº São Bernardo do Campo - VOTO Nº 5/5