PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São José do Rio Preto, em que é apelante LAURINDO RODRIGUES JUNIOR (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A.. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento aos recursos. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores VITO GUGLIELMI (Presidente sem voto), FRANCISCO LOUREIRO E EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE. São Paulo, 18 de março de Paulo Alcides Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO : APELAÇÃO : COMARCA : SÃO JOSÉ DO PRETO APELANTE(S): LAURINDO RODRIGUES JÚNIOR E MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A. APELADO(S) : OS MESMOS JUIZ (A) : LINCOLN AUGUSTO CASCONI COMPRA E VENDA. Ação de anulação de cláusula contratual, cumulada com restituição. Sentença de parcial procedência. Taxa de corretagem. Indevida a restituição pelo serviço de intermediação do negócio realizado. Taxa de administração de contrato. Ausência de informação quanto ao serviço cobrado. Taxa de assessoria cartorária ou de despachante. Abusividade da cobrança reconhecida. Sentença mantida. RECURSOS DO AUTOR E DA RÉ DESPROVIDOS. Trata-se de recursos de apelação interpostos contra a r. sentença (fls. 180/184), que julgou parcialmente procedente a ação de anulação de cláusula contratual, cumulada com restituição, ajuizada por LAURINDO RODRIGUES JÚNIOR em desfavor de MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A. Sustenta o autor, em seu recurso, que: pagou duplamente pelos serviços de assessoria; a sua contratação foi de maneira compulsória; houve venda casada; o comprador não foi informado devidamente sobre as cobranças. Pretende, ainda, que sejam fixados honorários sucumbenciais para o seu patrono (fls. 186/201). A ré, em seu apelo, aduz que a taxa de administração de contrato e de assessoria cartorária (ou taxa de despachante) estavam previstas em contrato de forma clara, sem qualquer oposição do autor quanto à sua cobrança. A taxa de administração serve para remunerar a empresa que confecciona o Apelação nº Voto nº 2

3 contrato; quanto à taxa de despachante, o autor utilizou desse serviço (fls. 202/217). Recursos processados no duplo efeito (fl. 223). Contrarrazões (fls. 225/232 e 233/247). É o relatório. O autor assinou, em , um contrato particular de promessa de compra e venda para aquisição de uma casa no Residencial Village Rio Volga, em São José do Rio Preto, pelo preço de R$ ,00 (fls. 14/16). Alega que pagou diversas quantias a título de sinal para que o negócio se efetivasse; somente a posteriori notou que pagou uma soma referente à assessoria e honorários de intermediação no valor total de R$ ,00, bem como uma Tx. de Assess. Cartorária/Org. Pub., no montante de R$ 602,00. Entende que essas cobranças são ilegais, uma vez que não foram devidamente abatidas do valor de venda do imóvel. O seu pedido foi julgado parcialmente procedente para declarar nulas as cobranças relativas ao termo de ciência e aquelas denominadas Tx. Assess. Cartorária/Org Publ., com a condenação da ré à devolução do valor de R$ 790,00, atualizado monetariamente a partir das suas contratações e acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação (fl. 184). Os recursos serão apreciados conjuntamente. No tocante ao pedido de devolução do valor pago pela intermediação do negócio, não resta a menor dúvida de que os serviços de corretagem em empreendimentos vendidos na planta abrangem também serviços de promoção de venda e são contratados pelo empreendedor, nunca pelo promitente comprador. O promitente comprador procura o stand de Apelação nº Voto nº 3

4 vendas da empreendedora e lá se depara com profissionais contratados por ela e treinados para vender determinado produto. Se a incorporadora contrata a promoção de vendas e os corretores para o lançamento do empreendimento, é óbvio que deve remunerá-los, pagando-lhes a devida comissão de corretagem, a qual integrará os custos do empreendimento e será repassada, direta ou indiretamente, aos promitentes compradores, posto que será embutida no preço total e final do produto. Na verdade, transfere-se para o promitente comprador o pagamento direto das despesas de corretagem, ao invés de inserir tais despesas no preço total da unidade. Para ele, é indiferente, em termos econômicos, pagar, direta ou indiretamente, a comissão de corretagem, uma vez que o percentual integrará o preço final do imóvel. Aliás, não existe vedação legal ao repasse desse pagamento ao consumidor. No caso concreto, o serviço de corretagem, inegavelmente, foi desenvolvido a contento, na medida em que o negócio se consolidou, não se podendo afirmar que o serviço não foi prestado ou o pagamento não é devido. Acrescente-se, ainda, que a comissão de corretagem está prevista no Código Civil, artigo 722: Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obrigase a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. Além disso, não há abusividade nesta cobrança, pois o próprio artigo 724 do Código Civil permite o seu ajuste. Uma vez que o comprador anuiu com o seu pagamento, não pode agora pedir Apelação nº Voto nº 4

5 sua restituição. Ressalte-se, ainda, especificamente neste caso, que o item 6 Declarações do Promitente Comprador, do Quadro Resumo do Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda, em seu último parágrafo estabelece que: A comissão de intermediação devida pela realização do presente negócio, bem como outras despesas com assessoria relativas à presente transação, são devidas por mim (nós), sendo que qualquer quantia deverá ser paga nas condições negociadas entre nós, PORMITENTE COMPRADOR(A) e imobiliária e/ou corretor, isentando-se a PROMITENTE VENDEDORA de qualquer responsabilidade. (fl.16) Uma vez que o autor anuiu com essa cláusula no ato da contratação, não pode agora pedir sua nulidade, visto que amparada pela lei. Portanto, no que se refere ao pagamento de comissão de corretagem, não há razão para se pleitear a sua devolução, pois ausente qualquer ilegalidade ou abuso. Nesse sentido: COMPROMISO DE VENDA DE COMPRA Promitente compradora que pleiteia o reconhecimento da abusividade do contrato de adesão, e a restituição de valores pagos a título de comissão de corretagem e serviços de assessoria técnico-imobiliária (SATI) - Sentença de improcedência Reforma parcial - Fato de o contrato ser de adesão não implica, por si só, abusividade - Comissão de corretagem efetivamente devida pela adquirente - Custos da intermediação que, ainda que não previstos expressamente no contrato, foram informados à promitente compradora no momento da aquisição e seriam repassados, ainda que de forma indireta, à compradora Indevida, porém, a cobrança por assessoria técnico- Apelação nº Voto nº 5

6 imobiliária, sem comprovação do serviço útil prestado - Dever solidário das rés de restituição simples dos valores pagos a este título - Sucumbência recíproca - Recurso parcialmente provido.(apel. nº , 6ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Francisco Loureiro, j. em ) Assim, o pagamento a título de corretagem não comporta restituição. De outro lado, a taxa de administração do contrato foi cobrada de forma indevida. Apesar do alegado pela ré, não há qualquer previsão específica a seu respeito no contrato firmado entre as partes, tendo sido cobrada sem qualquer justificativa, como pode ser verificado no termo de ciência de fl. 17. Ressalte-se que a ré não demonstrou de forma peremptória no que consistiu tal encargo, em flagrante afronta ao dever de informação, previsto no artigo 31, do Código de Defesa do Consumidor, norma cogente que rege a questão. Também o repasse do custeio do serviço de despachante, muito embora não seja uma prática vedada, na espécie, a sua cobrança foi abusiva. Os autores comprovaram ter efetuado o pagamento de R$ 600,00 a esse título, não existindo nos autos qualquer indício sobre a discriminação deste serviço, visto que o único documento diz respeito a um extrato de pagamentos emitido pela ré, o qual não se presta a esclarecer no que ele consistiu e quais seriam as obrigações assumidas por parte do prestador do serviço. É evidente a violação ao direito de informação do consumidor, previsto no artigo 6º, inciso III do Código de Defesa do Apelação nº Voto nº 6

7 Consumidor. Também não restou demonstrado se os autores tiveram a oportunidade, ou não, de optar pela contratação do serviço. Confira-se, a respeito, o entendimento desta C. Câmara: RESTITUIÇÃO DE VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE. Compromisso de venda e compra. Corretagem. Ciência dos compradores. Pagamento devido. Cobrança pela confecção do contrato indevida. Contrato de adesão feito segundo os interesses da vendedora que, portanto, deve arcar com o custo de sua confecção. Taxas de pesquisa de caixa e de despachante indevidas. Não comprovação do serviço prestado. Pagamento que incumbe a quem contratou o serviço. Cobrança de serviços de assessoria imobiliária. Ausência de clara distinção em relação ao serviço de corretagem. Cobrança indevida. Restituição na forma simples, eis que ausente prova da má-fé da vendedora. Sentença reformada. Recurso parcialmente provido. (Apel. nº , Rel. Des. Ana Lucia Romanhole Martucci, j. em ). recursos do autor e da ré. Concluindo, a r. sentença é mantida. Ante o exposto, nega-se provimento aos PAULO ALCIDES AMARAL SALLES Relator Apelação nº Voto nº 7