Interessados: INTERESSADO: identidade preservada (art. 55, 1º, da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 35, 4º, inciso II, da Resolução TCU nº 77/96)

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Número do documento: DC /98-P Identidade do documento: Decisão 859/ Plenário Ementa: Denúncia. Possíveis irregularidades na PETROBRÁS - Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão SP. Reforma de viaturas e pintura do prédio a preços superfaturados. Diligência promovida comprovou a regularidade dos atos. Conhecimento. Improcedência. Juntada às contas. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE VII - Plenário Processo: / Natureza: Denúncia Entidade: Petróleo Brasileiro S.A. - Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão Interessados: INTERESSADO: identidade preservada (art. 55, 1º, da Lei nº 8.443/92 c/c o art. 35, 4º, inciso II, da Resolução TCU nº 77/96) Dados materiais: DOU de 11/12/1998 (Sigiloso) - c/ 1 volume Sumário: Denúncia sobre possíveis irregularidades em processos licitatórios realizados por empresa estatal. Diligência. Esclarecimentos. Denúncia improcedente. Juntada do processo às contas anuais respectivas. Comunicação ao interessado. Relatório: Denúncia apresentada ao Tribunal sobre possível superfaturamento que teria ocorrido na aquisição de materiais e serviços na Refinaria

2 Presidente Bernardes de Cubatão (fl. 02). É informada a ocorrência de má gestão de recursos públicos em relação aos seguintes processos de despesa: a) funilaria, pintura e motor em quatro viaturas pelo valor de US$ ,00; b) adequação em outras seis viaturas pelo valor de US$ ,00; c) compra e montagem de chassis Scania por US$ ,00; e d) pintura do prédio do Sesema por US$ ,00. Por despacho (fl. 01) acolhi a denúncia e determinei as providências necessárias à elucidação dos fatos, a cargo da 9ª Secex. A Unidade Técnica, após proceder às diligências pertinentes e examinar os elementos coligidos, manifesta-se nos seguintes termos (fls. 75/80): "(...) III - Das Diligências III.1 - Ao Denunciante Uma vez que as provas apresentadas não foram suficientes para fundamentar um juízo de mérito sobre a denúncia, foram solicitados ao Denunciante, por intermédio do Ofício de Diligência nº 379/96 (fl. 8), maiores esclarecimentos à respeito da identificação dos procedimentos administrativos que ensejaram os serviços acusados, bem como as evidências necessárias que comprovassem a existência do superfaturamento. Em resposta ao expediente saneador, o Interessado apresentou as informações e documentos às folhas 9/17, comunicando que a mesma denúncia havia sido encaminhada à Promotoria de Cubatão, a qual determinou a abertura do inquérito policial, tendo sido, inclusive, colhido o seu depoimento (folha 14). Conforme os documentos acostados às folhas 10/12, o Denunciante oficiou ao Diretor-Presidente, ao Diretor do Departamento Industrial (DEPIN) e ao Setor de Segurança e Meio Ambiente da RPBC (SESEMA), todos da PETROBRÁS, comunicações em que destaca os seguintes fatos: a) a intenção da gerência de segurança da RPBC, de acordo com o documento interno nº 74/95 (fls. 3/4), de 'maquiar' aquele setor da Refinaria, preparando-o para a auditoria a ser realizada naquela Refinaria; b) a meta da gerência local da RPBC de concorrer e ganhar o prêmio do concurso de segurança que a PETROBRÁS fará a nível nacional. Entendendo que tais atitudes são reprováveis e ferem os padrões éticos dos trabalhadores da Petróleo Brasileiro S.A., o Denunciante requereu aos responsáveis daquela empresa estatal a adoção das seguintes providências: não autorizar a realização das reformas nas dependências do SESEMA/RPBC; antecipar a auditoria prevista para a RPBC, para o mais breve possível; orientar a gerência da RPBC a priorizar a manutenção de equipamentos de segurança, independentemente de haver auditorias ou concursos de âmbito nacional.

3 Quanto aos valores apurados na denúncia, o Interessado declara que os preços em dólar foram convertidos para real, com base na cotação de 27/09/95 (0,956). Os gastos previstos para os serviços de reforma e adequação de viaturas do setor segurança da Refinaria (itens 1 e 2, da denúncia, no total de US$ ,00 - fl. 02) foram considerados expressivos, sendo comparados, a título de exemplo, a uma grande quantidade de veículos da marca Volkswagen Gol 1000/94, cujo valor, em 10/12/95, era de R$ 7.476,00. Com relação à compra e montagem de chassis Scania, no valor de US$ ,00, o Denunciante absteve-se de qualquer comentário, por não dispor de dados. No que se refere à pintura do prédio do SESEMA, o Interessado destaca a expressividade do montante (US$ ,00), comparando-o à pintura, com tinta látex, de metros quadrados de parede, ou seja, 784 salas com 5 metros de largura, 8 metros de comprimento e 3 metros de altura. Foram computados, na comparação, os custos de mão de obra e insumos, acrescidos de encargos sociais e BDI, com base na tabela de construção civil, divulgada pelo Sindicato da Construção Civil e pela imprensa (fls. 15/16). III.2. À PETROBRÁS Instada a manifestar-se sobre os fatos denunciados, bem como a apresentar os procedimentos administrativos realizados pela empresa e os esclarecimentos pertinentes, conforme Ofícios de Diligência nº 442/96 e 269/97 (fls. 21/22 e 28/29), a PETROBRÁS prestou as seguintes informações, constantes das folhas 30/73 e do Volume I: a) Item 1 da denúncia: 'Funilaria, pintura, motor em 04 (quatro) viaturas da RPBC (US$ ,00)' - Os serviços de funilaria, pintura e motor de 4 (quatro) viaturas da RPBC, com valor estimado em US$ ,00, não foram contratados, em decorrência de reavaliação e execução parcial dos trabalhos com recursos próprios; b) Item 2 da denúncia: 'Adequação em outras 06 (seis) viaturas (US$ ,00)' - Por intermédio da Concorrência nº , foi realizada a contratação dos serviços de modernização de apenas uma viatura, no valor de R$ ,55. A estimativa de custo do serviço foi estipulada pela RPBC em R$ ,30, tendo como referência contrato de natureza similar, efetuado pela Refinaria de Paulínia - REPLAN, no valor de R$ ,75 (preço-base de agosto de 1995); c) Item 3 da denúncia: 'Compra e montagem de chassis Scania (US$ ,00)' - A aquisição de chassis de caminhão foi realizada por meio da Tomada de Preços nº /96. A estimativa inicial da compra, avaliada em R$ ,00, baseou-se em aquisição de equipamento similar, pela Refinaria de Paulínia - REFLAN, em 28/08/96, cujo valor foi de R$ ,00. O objeto contratual licitado pela RPBC foi adjudicado à empresa SUVESA Super Veículos Indústria, Comércio e Transportes Ltda, pelo valor de R$ ,00;

4 d) Item 4 da denúncia: 'Pintura do prédio do SESEMA (US$ ,00)' - A reforma e pintura do prédio do SESEMA não foi realizada. Quanto ao valor expressivo, mencionado no documento interno DIP RPBC/DIOPE/SESEMA /95, de 15/09/95, a PETROBRÁS informa que o montante de US$ ,00 refere-se ao total dos serviços propostos para recuperação de viaturas de combate a incêndio da RPBC. Devido ao erro de digitação, esse valor foi, equivocadamente, registrado como sendo relativo à estimativa do serviço de pintura do prédio do SESEMA. O engano foi percebido pela PETROBRÁS, conforme documento interno DIP RPBC/DIAD/SESER /95, de 15/09/95, referendado pelo Memorando RPBC/DIOPE/SESEMA de 18/09/95 (fls. 78/79, do Volume I), retificando-se a estimativa para US$ ,00; e) o Diretor-Presidente da PETROBRÁS manifestou-se, por meio da carta RPBC /95, de 19/12/95, encaminhada pelo Superintendente da RPBC ao Presidente da Câmara Municipal de Diadema, Sr. Vereador João Paulo de Oliveira (folha 77, do Volume I), não tendo havido parecer da Auditoria Interna; f) em resposta à correspondência nº 262/95, encaminhada pelo Denunciante ao Diretor-Presidente da PETROBRÁS, o Superintendente do Departamento Industrial - DEPIN, Sr. Otacílio Viana de Albuquerque, informa que a gerência da RPBC não teve a intenção de maquiar o Setor de Segurança da Refinaria, visando prepará-lo previamente à auditoria departamental (vide Ofício DEPIN-020/95, de 07/11/95, à folha 85, do Volume I). Salienta que o resultado dessas auditorias não é influenciável por qualquer tipo de maquiagem, posto que os resultados de segurança de qualquer organização dependem fundamentalmente da sua cultura. Acrescenta, por fim, que o objetivo do prêmio PETROBRÁS de segurança é estimular a reflexão profunda sobre as sistemáticas adotadas na busca do cumprimento da missão do órgão, tendo em vista o alcance de melhores resultados na área de segurança. IV - Análise. Os serviços constantes dos itens 1 e 4 da denúncia, ou seja, reforma de quatro viaturas da RPBC (funilaria, pintura e motor) e pintura do prédio do SESEMA não foram realizados, o que torna insubsistente o questionamento dos mesmos. Especificamente em relação ao serviço de pintura do prédio do Setor de Segurança e Meio Ambiente, não houve qualquer intenção ou dolo dos responsáveis em superestimar os custos da contratação, tratando-se, tão somente, de erro no lançamento dos dados, conforme se verifica nos documentos às folhas 77/79, do Volume I. Quanto ao procedimento administrativo destinado à contratação dos serviços de reforma e modernização de veículos de combate a incêndio (item 2 da denúncia), observa-se, conforme Relatório de Licitação às folhas 4/46, do Volume I, que a RPBC envidou as diligências necessárias à divulgação do edital, visando disponibilizá-lo ao maior número possível de empresas. Conquanto três interessadas tenham retirado cópia

5 do edital, somente a empresa - CIMASA Equipamentos Urbanos Ltda - apresentou proposta, cujo valor final ficou apenas 3,58 % acima da estimativa feita pela contratante. Em se tratando de serviço especializado, a RPBC estimou o custo do objeto em contrato similar, realizado pela Refinaria de Paulínia - REPLAN. Não se verifica, portanto, o superfaturamento suscitado na denúncia. Com relação à aquisição de chassis para caminhão (item 3 da denúncia), também não encontramos qualquer óbice que pudesse eivar de nulidade o procedimento licitatório, conforme documentos acostados às folhas 48/73 - Volume I. A estimativa de custo de aquisição do equipamento baseou-se em compra de objeto similar, realizado pela Refinaria de Paulínia - REPLAN. O valor do contrato foi praticamente idêntico ao gasto estimado. Observa-se, ainda, que o montante do dispêndio mencionado na denúncia (US$ ,00) não foi confirmado pelo valor estimado pela RPBC para a compra do chassis (R$ ,00), reforçando, assim, a sua improcedência. A presunção de que RPBC tencionaria 'maquiar' o setor de segurança da Refinaria, ante a iminência de auditoria, também não pode prosperar. O Documento Interno da empresa - DIP RPBC/DIAD/SESER, de 20/09/95 (fl. 87, do Volume I), enfatiza a necessidade de realização de reformas no depósitos de EPI's e equipamentos do SESEMA, não em decorrência da realização de auditoria, pura e simplesmente, mas pelo motivo maior de alcançar o prêmio do concurso segurança da PETROBRÁS. De acordo com a informação prestada pelo Superintendente do Departamento Industrial da PETROBRÁS - DEPIN (fl. 85, do Volume I), a intenção da empresa, por meio do concurso, não é criar soluções paliativas, porém uma verdadeira cultura de segurança e qualidade. Mesmo que houvesse a referida auditoria, esta não seria influenciável, já que a fiscalização poderia realizar-se em duas vertentes: 1) auditoria de conformidade, em que seria analisada a regularidade da execução de despesa, segundo os ditames legais e regulamentares; 2) auditoria operacional, com o objetivo de analisar o desempenho e eficácia do setor em análise. Com relação à primeira auditoria, qualquer irregularidade seria detectável, porquanto a realização de despesa está intimamente atrelada aos dispositivos da Lei nº 8.666/93 e demais regulamentos internos pertinentes. A auditoria operacional, a nosso ver, iria mais além do que um simples exame físico das instalações de segurança. Verificaria, por exemplo, elementos que uma 'maquiagem' não seria capaz de acobertar, como organização do sistema de segurança da Refinaria, avaliação interna e contínua de procedimentos, padronização de rotinas, busca da qualidade, treinamento e aperfeiçoamento do corpo funcional. Portanto, não vemos como procedente a denúncia, vez que a PETROBRÁS tenciona, por intermédio do concurso na área de segurança, incutir uma verdadeira cultura no setor, além do que qualquer auditoria não seria influenciada por uma

6 'maquiagem' ou simples melhoria física. V - Conclusão. Exauridas as diligências necessárias à instrução do feito e analisados os documentos acostados aos autos, propomos, com base no art. 53, 3º, da Lei nº 8.443/92, c/c o art. 212, 1º, do Regimento Interno do TCU: a) arquivar o presente processo, visto que, ante às argumentações expendidas, a denúncia não tem procedência; b) dar ciência ao Interessado do inteiro teor do Relatório e Voto que vier a ser proferido c) levantar a chancela de sigilo que recai sobre os autos." É o Relatório. Voto: A presente denúncia pode ser conhecida, tendo em vista a sua adequação ao disposto no art. 53 da Lei nº 8.443/92. Quanto ao mérito, como ficou demonstrado no Relatório precedente, a Petróleo Brasileiro S.A. esclareceu todas as questões levantadas pelo denunciante e nenhuma irregularidade foi observada na contratação dos serviços objeto da denúncia. A Unidade Técnica propõe o arquivamento do processo. Entretanto, tendo em vista que nos autos constam informações sobre atos de gestão ocorridos durante o exercício de 1996, entendo que a juntada às respectivas contas, para análise em conjunto e em confronto, é a medida mais adequada, ante o que dispõem os arts. 194, inciso I, e 212, 3º, do Regimento Interno. Dessa forma, acolho, na essência, os pareceres e VOTO por que o Tribunal de Contas da União adote a DECISÃO que ora submeto à apreciação deste Plenário. Assunto: VII - Denúncia.. Relator: Carlos Átila Unidade técnica: 9ª SECEX Quórum: Ministros presentes: Homero dos Santos (Presidente), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva (Relator), Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, Iram Saraiva, Humberto Guimarães Souto, Valmir Campelo e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo.

7 Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 2 de dezembro de 1998 Decisão: O Tribunal de Contas da União, diante das razões expostas pelo Relator e com fundamento nos artigos 1º, inciso XVI; 53 e 55 da Lei nº 8.443/92 c/c o disposto nos arts. 194, inciso I, e 212, 3º, do Regimento Interno, DECIDE: 8.1. conhecer da presente denúncia para, no mérito, considerá-la improcedente; 8.2. determinar a juntada dos presentes autos às contas da Petróleo Brasileiro S.A., exercício de 1996, para exame em conjunto e em confronto; 8.3. cancelar a chancela de sigiloso dos presentes autos; e 8.4. comunicar a presente Decisão ao interessado.