Tribunal de Contas da União

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Acórdão 64/96 - Plenário - Ata 18/96 Processo nº TC /91-5 Interessada: Deputada Federal Jandira Feghali. Órgão: Hospital Geral de Bonsucesso - HGB/RJ. Relator: Ministro Bento José Bugarin. Representante do Ministério Público: não atuou. Unidade Técnica: SECEX/RJ. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Homero dos Santos (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva, Paulo Affonso Martins de Oliveira, Iram Saraiva, Humberto Guimarães Souto e Bento José Bugarin (Relator). Assunto: Denúncia. Acórdão: Vistos, relatados e discutidos estes autos de denúncia formulada pela Deputada Federal Jandira Feghali contra a administração do Hospital Geral de Bonsucesso; Considerando que, em Inspeção Especial, realizada no mês de setembro de 1992, a SECEX/RJ verificou que o Hospital Geral de Bonsucesso, por meio dos processos de nºs /90, /90, /91, /91 e /91, adquiriu da empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. computador, terminais, monitor e impressora, e também a contratou para a prestação de serviços de informática sem o necessário e devido processo licitatório, sob o argumento de ser este inexigível, por ser a empresa fornecedora exclusiva daqueles bens e serviços; Considerando que nos referidos processos administrativos não constam as respectivas justificativas para a situação de inexigibilidade, consoante então previsto no art. 24 do Decreto-lei 2.300/86; Considerando que a ex-diretora do Hospital, Sra. Vera Hasselmann Oswaldo Cruz, responsável pelas contratações, em suas justificativas a esta Corte, não conseguiu comprovar que somente a empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. era capaz de

2 atender as necessidades de informatização do Hospital que dirigia, tanto no que se refere a equipamentos como a sistemas de informática; Considerando que, na época das contratações, havia diversas empresas oferecendo serviços de informatização de hospitais, consoante informado pelo Diretor do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, órgão público integrante da estrutura da Fundação Nacional de Saúde; Considerando que, na mesma época, encontravam-se registrados na Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência da República cerca de 39 (trinta e nove) programas de computador, desenvolvidos por diferentes empresas, destinados à aplicação na área hospitalar; Considerando que a inobservância de norma legal ou regulamentar sujeita o responsável à multa prevista no art.58, inciso II, da Lei 8.443/92; ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em: a) aplicar à ex-diretora do Hospital Geral de Bonsucesso, Vera Hasselmann Oswaldo Cruz, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/92, respeitado o limite previsto no art. 53 do Decreto-lei 199/67, em vigor à época dos fatos, no valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que a mesma comprove perante este Tribunal, o recolhimento da referida importância aos cofres do Tesouro Nacional; b) com fundamento no art. 248 do Regimento Interno, determinar o arquivamento deste processo, sem cancelamento do débito, a cujo pagamento fica obrigada a devedora, condicionando-se a quitação à comprovação, perante este Tribunal, do recolhimento da dívida atualizada monetariamente até a data do efetivo pagamento; c) determinar ao Hospital Geral de Bonsucesso que, em contratações futuras, especialmente na área de informática, proceda ao competente processo licitatório, na forma prevista na Lei 8.666/93; d) comunicar o inteiro teor deste Acórdão, bem como do Relatório e Voto do Ministro-Relator à denunciante, Deputada Federal Jandira Feghali. Ementa:

3 Denúncia formulada por Parlamentar contra o Hospital Geral de Bonsucesso. RJ. Aquisição de equipamentos e contratação de serviços de informática sem procedimento licitatório. Justificativas da responsável consideradas improcedentes. Multa. Arquivamento sem cancelamento do débito. Determinação. Data DOU: 04/06/1996 Página DOU: 9860 Data da Sessão: 15/05/1996 Relatório do Ministro Relator: GRUPO: II - CLASSE VII -PLENÁRIO TC / com 8 volumes (apenso TC /93-9 com 2 volumes). NATUREZA: Denúncia. ENTIDADE: Hospital Geral de Bonsucesso/RJ. INTERESSADO: Deputada Federal Jandira Feghali. EMENTA: Denúncia de possíveis irregularidades que teriam ocorrido no Hospital Geral de Bonsucesso, quando da aquisição de equipamentos e contratação de serviços de informática. Realização de auditoria. Procedência da denúncia. Justificativas da responsável consideradas improcedentes. Aplicação de multa. Arquivamento do processo sem cancelamento do débito. Determinação à administração do Hospital. Comunicação à denunciante. Originaram-se estes autos com a solicitação da Deputada Federal Jandira Feghali (fls. 1) no sentido de que este Tribunal apurasse possíveis irregularidades que teriam ocorrido, entre 03/11/90 e 26/04/91, no Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), na aquisição de equipamentos e contratação de serviços de informática, junto à empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda., sem o necessário procedimento licitatório, conforme denúncia feita por aquela parlamentar à Procuradoria Geral da República (fls. 14/19). 2. O processo foi autuado como denúncia e, em cumprimento ao Despacho do então Relator, Ministro Olavo Drummond (fls. 25), a SECEX/RJ realizou inspeção especial no HGB, na qual detectou, em síntese (fls. 48/52), que nos cinco processos em que foi a

4 mencionada empresa contratada sem licitação, não havia o respectivo comprovante de exclusividade de fornecimento, exigido pelo art. 2º, 1º do Decreto 30/91, que fundamentasse a inexigibilidade de licitação invocada pela administração do Hospital. Em todos os processos também não havia as necessárias justificativas para a situação de inexigibilidade, conforme previa o art. 24 do Decreto-lei 2300/ Em dois dos referidos processos, relativos à contratação de serviços de informática e à manutenção de "software" ( /91 e /91, respectivamente), verificou, também, a SECEX/RJ que as propostas apresentadas pela empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. tinham datas anteriores às respectivas datas de emissão, pelo Hospital, do Pedido de Execução de Serviços. No processo relativo à aquisição de terminais, monitor e impressora ( /91), a SECEX/RJ detectou que a proposta da empresa tinha data anterior à data em que a administração do HGB decidiu realizar consulta à mesma. 4. Chamada a se pronunciar quanto às irregularidades supramencionadas (fls. 56/58), a então Diretora do HGB, Dra. Vera Hasselmann Oswaldo Cruz, apresentou declarações firmadas pelas empresas Edisa Informática S/A e EBC - Empresa Brasileira de Computadores e Sistemas S/A, (fls 88/91), e, ainda, pela ASSESPRO - Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Informática (fls. 92), as quais indicam,respectivamente, que a empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. é revendedora da Edisa com exclusividade no ramo médico-hospitalar em soluções com o sistema MUMPS; é detentora do direito exclusivo de comercializar o terminal EBC-TGM EXT, fabricado pela EBC e também detentora dos direitos de propriedade e comercialização exclusiva da linguagem de programação denominada SUPERMUMPS. Em seu pronunciamento (fls. 75/77), a ex-diretora do HGB justificou a escolha da referida linguagem (SUPERMUMPS) pelo fato, de que, segundo ela, tratar-se da única "desenvolvida específica e abrangentemente para a área médico-hospitalar". Quanto ao conflito de datas, mencionado no item anterior, a ex-diretora não prestou quaisquer esclarecimentos. 5. Diante dessas justificativas, a SECEX/RJ efetuou diligência junto à Direção do HGB (fls. 102), visando a obter informações sobre a obrigatoriedade de utilização da linguagem SUPERMUMPS no sistema de informatização do Hospital, obtendo como resposta (fls. 104) que o mesmo não possui profissional qualificado, na área de

5 informática, para prestar a informação solicitada. No entanto, a Direção do HGB apresentou cópia de relatório, datado de 03/11/92 (fls. 107/116), elaborado pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), unidade da Fundação Nacional de Saúde responsável pela informatização do Sistema Único de Saúde (SUS), no qual se destaca a informação de que "os sistemas da Extensão são desenvolvidos em SUPERMUMPS, linguagem considerada de difícil manutenção por terceiros, fazendo com que o HGB fique, cada vez mais, amarrado a essa empresa e, mesmo, a seus funcionários". 6. A SECEX/RJ, instruindo novamente o processo (fls. 119/123), fez diversas observações, dentre as quais destaco a de que a proposta de informatização do Hospital, enviada pela empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. (vol. V, fls. 7/10) é muito parecida com o projeto de informatização do Hospital, assinado pelo Diretor da Divisão de Administração, Sr. Ely dos Santos Pereira, (vol. IV, fls. 4/8), chegando a ter vários parágrafos exatamente iguais. Em síntese, concluiu àquela unidade técnica que (fls 123): a) "não restam dúvidas de que o processo administrativo que suportou a aquisição dos equipamentos e sistemas da empresa Extensão está eivado de irregularidades; e" b) "não está devidamente comprovado que a linguagem SUPERMUMPS era a mais adequada, conveniente e oportuna, para ser adotada pelo Hospital Geral de Bonsucesso". 7. Acolhendo sugestão formulada pela SECEX/RJ, o Ministro-Relator, Olavo Drummond, determinou, em 31/07/95, mediante Despacho, (fls. 126) a audiência da ex-diretora do HGB, Sra. Vera H. Oswaldo Cruz, e do Diretor da Divisão de Administração, Sr. Ely dos Santos Pereira. A primeira para justificar, tecnicamente, a escolha da linguagem SUPERMUMPS, como sendo a mais adequada, conveniente e oportuna para a informatização do HGB, e, o segundo, para justificar a elaboração dos documentos "Plano de Informatização do Hospital Geral de Bonsucesso" e "Projeto de Informatização do Hospital Geral de Bonsucesso", com indicação do dispositivo legal que lhe deu competência para tanto. Na ocasião foi promovida, também, diligência junto ao DATASUS (fls. 129), no sentido de que aquele Departamento informasse se, no segundo semestre de 1990, existia, no mercado de informática, linguagem de programação que pudesse ser utilizada na informatização do HGB, além da já mencionada SUPERMUMPS.

6 8. O Sr. Ely dos Santos Pereira, apesar de ter assinado os planos de informatização do HGB, mencionados no item anterior, informou, por meio do expediente de fls. 131, que não era de sua competência a elaboração dos mesmos, e sim da Direção Geral do Hospital. 9. O Diretor-Geral do DATASUS, em atendimento à diligência supramencionada, informou, mediante Ofício de nº 189/95 (fls. 132) que "já no 2º semestre de 1990 existiam no mercado diversas empresas oferecendo serviços na área de informatização de hospitais, oferecendo sistemas desenvolvidos em várias linguagens, inclusive outras versões do MUMPS". Acrescenta, ainda, o Sr. Diretor, que não há razão para supor que a linguagem SUPERMUMPS fosse melhor do que qualquer outra para a execução do serviço do HGB, a menos que o Hospital já dispusesse, em seus quadros, de especialistas em SUPERMUMPS ou tivesse realizado anteriormente grande investimento em sistemas escritos naquela linguagem. 10. A ex-diretora do HGB, por sua vez, e, em atendimento à audiência determinada pelo Relator, Ministro Olavo Drummond, justificou a escolha da linguagem SUPERMUMPS (fls. 136/138) com o argumento de que várias instituições do setor de saúde a utilizavam, fato que emprestava credibilidade à mesma, bem como por suas qualidades técnicas, as quais relacionou no expediente de fls. 139/143, com a indicação das publicações especializadas, na linguagem MUMPS, em que foram extraídas. 11. A SECEX/RJ, em sua última instrução do processo, constante de fls. 144/145, deixou de apreciar o mérito das respostas obtidas com a diligência e com as audiências determinadas pelo Relator, limitando-se a fazer as seguintes considerações: "os sistemas já foram implantados no HGB; a empresa contratada já possui experiência com o HGB; o corpo funcional do Hospital está ambientado na operacionalização dos sistemas implantados; e a troca dos sistemas em funcionamento por outros requerem um certo tempo até serem implantados e, conseqüentemente, implicam na paralisação da rotina hospitalar". Em vista desses "considerandos", a unidade técnica propõe que seja recomendado ao HGB que, em contratações futuras, proceda ao competente certame licitatório, com a utilização de uma das modalidades previstas no art. 22 da Lei 8.666/93, bem como seja a Deputada Jandira Feghali comunicada da decisão a ser tomada pelo Tribunal. 12. Apenso a estes autos, encontra-se o TC /93-9, que

7 trata de irregularidades ocorridas na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e no Hospital Geral de Bonsucesso. As questões relativas a Secretaria de Saúde passaram a ser examinadas no TC /93. No que se refere ao HGB, as irregularidades são as mesmas tratadas neste processo. Do referido processo apenso destaco as seguintes informações: segundo denúncia do médico Antônio Lafayette Rodrigues Pereira (fls. 2/8), enviada a este Tribunal pelo Deputado Estadual José Augusto Guimarães, a ex-diretora do HGB é casada com o Sr. Cláudio Stillner, um dos sócios da empresa Extensão, que, na época das contratações tidas por irregulares, era também Subsecretário de Planejamento da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Segundo ainda a mesma denúncia, antes das referidas contratações, existiam cadastrados, na Secretaria da Ciência e Tecnologia da Presidência da República, 47 programas de computador destinados às atividades de gerenciamento hospitalar, consoante informado por aquela Secretaria (fls. 13/23). É o Relatório. Voto do Ministro Relator: Conforme demonstrado no relatório antecedente, o HGB comprou microcomputador, monitor, impressora e terminais da empresa Extensão Informática e Tecnologia Ltda. e também a contratou para a prestação de serviços, sem o necessário processo licitatório. 2. As justificativas apresentadas pela ex-diretora do Hospital não procedem, pois além de não constarem dos processos administrativos respectivos, não encontram respaldo do ponto de vista técnico, como bem demonstra a afirmativa do DATASUS, segundo a qual não há razão para supor que a linguagem SUPERMUMPS seja melhor do que qualquer outra para a execução dos serviços do Hospital. As declarações de exclusividade apresentadas, além de firmadas pelos próprios interessados na venda de seus equipamentos para o HGB (EDISA E EBC), apenas demonstram que a empresa Extensão tinha direitos exclusivos de comercializá-los com usuários da linguagem SUPERMUMPS. Em nenhuma parte dos processos administrativos encontra-se justificada a necessidade do uso dessa linguagem ou da necessidade de se adquirir determinado tipo de computador ou de terminal. 3. A situação de inexigibilidade só se configura se houver a impossibilidade jurídica de se instaurar a competição entre eventuais interessados, o que, no caso concreto, não ocorreu, haja

8 vista que, segundo o DATASUS, no segundo semestre de 1990 havia diversas empresas oferecendo serviços na área de informatização de hospitais. Este fato pode ser comprovado pelo documento de fls. 13/23 do processo apenso, originário da Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, no qual encontram-se relacionados 47 (quarenta e sete) programas de computador, desenvolvidos por diferentes empresas, destinados à aplicação na área de administração hospitalar, sendo que 39 (trinta e nove) foram cadastrados até 31/12/90. Ressalte-se, inclusive, que uma das alternativas levantadas pelo DATASUS, em relatório datado de 03/11/92 (fls. 107/116), para solucionar o problema da informatização do HGB, foi justamente a realização de licitação, de forma a contemplar "as diversas 'software-houses' atuando nesta área". "Neste caso", acrescenta o relatório, "o processo poderia ser desmembrado, licitando-se, separadamente, sistemas, manutenção de 'hardware', pessoal de operação e equipamentos, caso sejam necessários". Esta observação do DATASUS indica que não é necessário vincular sistemas a determinada marca de equipamento, fato que contraria a justificativa da ex-diretora do HGB, em seu pronunciamento de fls. 75/77, segundo a qual a exclusividade da linguagem implica na exclusividade do equipamento e de sua respectiva manutenção. 4. Conforme registro que fiz no item 5 do Relatório, o HGB sequer dispunha de profissional qualificado na área de informática, o que pode explicar, ainda que parcialmente, os desacertos cometidos no processo de informatização do Hospital e, especialmente, o fato de a proposta de informatização, enviada pela empresa Extensão, ter alguns parágrafos exatamente iguais aos constantes do projeto de informatização do HGB, ou seja, tal projeto pode ter sido elaborado pela própria empresa que, posteriormente, seria beneficiada com as contratações irregulares. 5. Tratando-se de fatos já consumados, sem possibilidade de regularização, entendo que só resta ao Tribunal fazer determinação ao HGB no sentido de evitar ocorrências semelhantes, e, em vista da infringência à norma legal, aplicar à responsável, a multa prevista na atual Lei Orgânica desta Casa, respeitado o limite então previsto no Decreto-lei 199/ Diante do exposto, dissentindo, em parte, do parecer da SECEX/RJ, VOTO por que o Tribunal adote o Acórdão que ora submeto à apreciação deste Plenário.

9 Indexação: Denúncia; Hospital; Aquisição; RJ; Licitação; Contrato; Dispensa de Licitação; Multa; Aplicação; Prestação de Serviços; Informática; Equipamentos e Material Permanente; Débito; Cancelamento;