Tribunal de Contas da União

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1 Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 618/96 - Plenário - Ata 38/96 Processo nº TC /94-5 Interessado: Exmo. Sr. Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária do Estado do Acre, Dr. Evandro Reimão dos Reis Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA Vinculação: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal Relator: MINISTRO HOMERO SANTOS Representante do Ministério Público: Dr. Walton Alencar Rodrigues Unidade Técnica: 6ª Secretaria de Controle Externo Especificação do "quorum": Ministros presentes: Adhemar Paladini Ghisi (na Presidência), Carlos Átila Álvares da Silva, Homero dos Santos (Relator), Paulo Affonso Martins de Oliveira, Humberto Guimarães Souto, Bento José Bugarin e os Ministros-Substitutos José Antonio Barreto de Macedo e Lincoln Magalhães da Rocha. Assunto: Representação Ementa: Representação formulada por Juiz Federal. Pagamento a maior a perito judicial pelo IBAMA. Conhecimento. Conversão dos autos em Tomada de Contas Especial. Determinação. Data DOU: 15/10/1996 Página DOU: Data da Sessão: 25/09/1996 Relatório do Ministro Relator: GRUPO II - CLASSE VII - Plenário TC /94-5

2 Natureza: Representação Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA Vinculação: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal Interessado: Exmo. Sr. Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária do Estado do Acre, Dr. Evandro Reimão dos Reis Ementa: Representação formulada pelo Sr. Juiz Federal-Substituto da Seção Judiciária do Estado do Acre, sobre irregularidades no pagamento de perito judicial pelo IBAMA. Conversão dos autos em Tomada de Contas Especial. Determinação à 6ª SECEX para quantificação do débito. Citação. Envio de cópia da Decisão, Relatório e Voto ao interessado. Trata-se de Representação formulada pelo Exmo. Sr. Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária do Estado do Acre, Dr. Evandro Reimão dos Reis, sobre irregularidades no pagamento de perito judicial, por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, Superintendência no Estado do Acre. Segundo informado, a Entidade teria feito pagamentos relativos a despesas com os honorários definitivos do perito judicial, Sr. Aldenor Fernandes de Souza, por serviços realizados em processos de desapropriação tombados naquele Juízo, sem que houvesse decisão judicial a esse respeito. Em instrução preliminar, a Sra. Diretora de Divisão Técnica, diante da pouca precisão das informações contidas nos autos, quanto às importâncias percebidas pelo perito e às datas de cada pagamento, obteve junto ao SIAFI dados adicionais que permitiram suprir a omissão inicial, entendendo, ainda, que a responsabilidade pelas inquinadas ocorrências deveria ser imputada ao Superintendente do IBAMA no Acre e à Ordenadora de Despesa Substituta, excluído o Perito Judicial, uma vez que, nos termos do art. 896 do Código Civil, a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Ao concluir, propôs a conversão do processo em tomada de contas de especial e, em conseqüência, a citação dos Srs. Francisco de Assis de Oliveira, Superintendente do IBAMA no Estado do Acre, e Evanja Maria Marques Pinto, Ordenadora de Despesa Substituta, consoante o disposto no art. 12, inciso II, da Lei nº 8.443/92, para, no prazo de 15 (quinze) dias, contados da ciência,

3 apresentarem alegações de defesa ou recolherem aos cofres da Entidade as importâncias abaixo discriminadas, acrescidas de juros de mora e correção monetária, incidentes a partir das respectivas datas, observada a legislação pertinente, decorrentes dos pagamentos de honorários efetuados ao Perito Judicial, Aldenor Fernandes de Souza, sem que houvesse decisão judicial, relativos a processos de desapropriação que se encontram em trâmite na Justiça Federal da 1ª Instância, conforme comunicações formuladas ao Tribunal pelo Exmo. Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária do Estado do Acre, da seguinte forma: a) Francisco de Assis de Oliveira Cr$ ,00-28/01/94 Cr$ ,00-24/05/94 Cr$ ,50-26/05/94 b) Evanja Maria Marques Pinto Cr$ ,00-16/06/94 O Sr. Secretário de Controle Externo, ao manifestar-se de acordo com as propostas da instrução, sugere, em acréscimo, que seja também citado o Sr. Aldenor Fernandes de Souza, em solidariedade com os gestores responsáveis pelos pagamentos, tendo em vista que, de acordo com a sentença do Juiz, o mesmo não havia apresentado os laudos periciais, caracterizando a existência de mais de um devedor da mesma obrigação (art.896, Parágrafo Único, do Código Civil). Por Despacho, autorizei a citação, na forma alvitrada pelo Titular da 6ª SECEX. Presentes as alegações de defesa, a Sra Diretora, após detida análise dos elementos encaminhados, consignou, na peça instrutiva, que os Responsáveis não atentaram para o fato de que o pagamento questionado, nestes autos, diz respeito aos honorários definitivos do Perito, que são fixados e determinados pelo Juiz ao proferir a sentença nos processos de desapropriação, enquanto os provisórios têm por objetivo cobrir as despesas decorrentes da perícia a ser realizada. Dessa forma, considera que os esclarecimentos apresentados não são suficientes à descaracterização do inquinado pagamento. Explica, no entanto, a Informante, com relação aos valores constantes da citação, que foram ali englobados tanto os honorários provisórios, devidamente autorizados, como os definitivos, ora impugnados, razão pela qual sugere, com a anuência do Sr.

4 Secretário, que, preliminarmente ao exame de mérito, seja diligenciado ao Exmo. Sr. Juiz Federal para que informe o valor que seria arbitrado por aquele Juízo, como remuneração definitiva dos Peritos designados nos processos de Desapropriação, referentes à Reserva Extrativista Chico Mendes e Alto Juruá, em relação ao total dos Laudos Periciais apresentados e aos já efetivamente pagos pelo IBAMA, bem assim quanto aos honorários provisórios devidamente autorizados, identificando os pendentes de pagamento e aqueles já liquidados. Em atendimento ao solicitado, foram enviados os demonstrativos dos honorários periciais pagos pelo IBAMA, os quais, no entanto, conforme exame efetuado pela Unidade Técnica, não permitiram verificar a possível extrapolação dos valores pagos ao Perito, posto que somente foram indicados os pagamentos realizados sem autorização judicial, não constando, ainda, da coluna relativa aos honorários definitivos, o padrão monetário respectivo. Aduz a Sra. Diretora que, em nenhum momento, colocou-se em dúvida a prestação efetiva dos serviços pelo Sr. Aldenor, entendendo, por conseguinte, que, apesar de os pagamentos terem sido feitos sem a devida autorização judicial, não há como exigir dos ex-ordenadores de Despesas o ressarcimento da totalidade das quantias despendidas. Nesse contexto, sugere, com a aquiescência do Titular, que, nos termos do art. 16, inciso II, e 18 da Lei nº 8.443/92, sejam as contas julgadas regulares com ressalva, dando-se quitação aos Srs. Francisco de Assis de Oliveira, ex-superintendente do IBAMA/SUPES/AC, e Evanja Maria Marques Pinto, Ordenadora de Despesas Substituta, à época, sem prejuízo de se alertar o IBAMA que os pagamentos decorrentes de honorários de perito só devem ser efetuados após fixados e autorizados pelo juiz ao proferir a sentença no respectivo processo, ante o disposto no art. 125 do Código de Processo Civil. Pronunciando-se, no processo, o douto Ministério Público, representado pelo Dr. Walton Alencar Rodrigues, Subprocurador-Geral, ao considerar necessário conhecer-se os exatos valores que porventura tenham extrapolado as determinações judiciais, sugere a realização de minucioso levantamento "in loco", a cargo talvez da SECEX/AC, para identificar e quantificar, processo a processo, os valores pagos pelo IBAMA pelas respectivas perícias judiciais e os valores fixados pelo juiz da causa.

5 Anuindo à preliminar proposta pelo "Parquet", autorizei à SECEX/AC a realização dos trabalhos. A mencionada Unidade Técnica, ao relacionar, por processo, os pagamentos arbitrados e pagos ao perito, Sr. Aldenor Fernandes de Souza, registra que, consoante informações obtidas junto aos servidores do IBAMA e da Justiça Federal/AC, houve, à época, um acordo entre as partes envolvidas, de conhecimento do Juiz em exercício, por meio do qual foram fixados os honorários. Em novo pronunciamento, o Representante da Procuradoria, Dr. Walton Alencar Rodrigues, assim expõe seu entendimento sobre o assunto: Os novos elementos trazidos aos autos tornam possíveis a identificação e a quantificação, processo a processo, do "quantum" indevidamente pago. As informações colhidas junto à Justiça Federal/AC permitem solucionar as dúvidas suscitadas pela instrução fl. 688, subitens 2.1 e 2.2, quais sejam: a) os valores dos honorários definitivos arbitrados pelo juiz para a primeira perícia seriam idênticos àqueles arbitrados para a segunda perícia (fl. 692), constando da quinta coluna das tabelas fls. 676/86; b) esses valores foram expressos em Reais (R$), conforme demonstram as tabelas fls. 693/96. De posse desses dados e com uma observação acurada dos quadros fls. 676/82, pode-se concluir ter havido pagamentos ao perito Aldenor Fernandes de Souza, em montantes superiores aos fixados em definitivo pelo juiz. Por exemplo, no processo , a tabela fl. 676, demonstra que os honorários definitivos foram estabelecidos pelo juiz em R$ 220,00 (5ª coluna). No entanto, o IBAMA pagou por esses serviços a quantia de 259,16 URV (fl. 676, 3ª coluna). A Medida Provisória nº 542, de , art. 1º, 3º, os valores expressos em URV foram convertidos em Reais, em , à taxa de 1 para 1. A conclusão é que houve pagamento a maior no montante de R$ 39,16. Outro exemplo há no processo (fl. 680), no qual foram fixados pelo juiz honorários definitivos de R$ 180,00. Entretanto, foi pago por esse serviço o valor de CR$ ,00 (fl. 680, 2ª coluna). A nota de empenho e a ordem bancária comprovam que esse pagamento ocorreu em (cf. 94NE00017, de , fls. 20/1, e 94OB00065, de , fls. 591/2). Nessa

6 data, 1 URV correspondia a CR$ 450,92. Assim, CR$ ,00 equivaliam a 291,72 URV. Esse valor, convertido em Reais, revela um pagamento em excesso de R$ 111,72. A repetição do mesmo procedimento para todos os processos relacionados (fls.676/82), permite apurar, com simplicidade, o valor pago a maior ao perito judicial Aldenor Fernandes de Souza, conforme proposição do Ministério Público fl Ademais, no caso, é irrelevante a existência de acordo entre as partes envolvidas para fixação de honorários periciais (fl. 692), haja vista que a competência para tal é do juiz da causa, consoante farta jurisprudência mencionada (fl. 689), bem assim o "decisum" transcrito a seguir: Em sede de arbitramento de salários periciais dos auxiliares nomeados, o Magistrado não deve permitir que a remuneração resulte unicamente da estimativa do próprio interessado, pois só a ele compete estimar o valor da diligência ordenada, observados os parâmetros legais relacionados ao zelo profissional, lugar da prestação do serviço, tempo exigido para sua execução e importância da causa (2ª TACivSP, Ag , Rel. Demóstenes Braga, j ). Acrescente-se, finalmente, que a instrução fls. 644/7 já havia proposto a transformação do presente processo em Tomada de Contas Especial, nos termos do art. 197 do Regimento Interno do TCU. Por todo o exposto, o Ministério Público manifesta-se no sentido de que: a) seja determinado à zelosa 6ª SECEX que se digne de proceder ao levantamento do quantum pago indevidamente ao perito judicial Aldenor Fernandes de Souza, bem assim do montante cuja responsabilidade cabe a cada um dos ordenadores de despesas; b) sejam os autos convertidos em Tomada de Contas Especial, nos termos do art. 47 da Lei nº 8.443/92, de modo que propicie o futuro julgamento de mérito dos atos praticados pelos responsáveis (vf. TC /91-2, decisão nº 315/95-TCU-Plenário); c) sejam citados os srs. Francisco de Assis de Oliveira, Superintendente do IBAMA no Estado do Acre, e Evanja Maria Marques Pinto, ordenadora de despesa substituta, cada qual no limite de suas responsabilidades, pelos pagamentos que autorizaram, para, em solidariedade com o sr. Aldenor Fernandes de Souza, perito judicial, apresentar alegações de defesa ou recolher aos cofres da entidade a quantia apurada pela 6ª SECEX, correspondente à

7 diferença entre os valores efetivamente pagos e aqueles arbitrados pelo juiz da causa, em caráter definitivo, para os honorários referentes a perícias judiciais. É o Relatório. Voto do Ministro Relator: Diante do exposto e examinado, e aquiescendo aos judiciosos fundamentos apresentados pelo douto Ministério Público, acolho, na essência, a conclusão de seu parecer e Voto no sentido de que o Tribunal adote a Decisão que submeto a este Colegiado. Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1. conhecer do expediente encaminhado pelo Interessado como Representação; 2. converter os autos em Tomada de Contas Especial, consoante o disposto no art. 47 da Lei nº 8.443/92; 3. determinar à 6ª SECEX que adote providências no sentido de proceder ao levantamento dos valores indevidamente pagos ao perito judicial Aldenor Fernandes de Souza, na forma propugnada pelo Ministério Público, fazendo indicar, também, a responsabilidade individualizada dos Ordenadores de Despesas nos referidos pagamentos; 4. proceder à citação do Sr. Aldenor Fernandes de Souza solidariamente com os Ordenadores de Despesas responsáveis pelos pagamentos, para que apresentem alegações de defesa ou recolham aos cofres do IBAMA a quantia apurada pela 6ª SECEX, correspondente à diferença entre os valores efetivamente pagos e aqueles arbitrados pelo juiz da causa, em caráter definitivo, para os honorários referentes a perícias judiciais; 5. encaminhar cópia desta Decisão, bem como do Relatório e Voto, ao Interessado. Indexação: Representação; Juiz Federal; AC; Pagamento Indevido; Conversão de Processo; Tomada de Contas Especial; IBAMA; Perito Judicial;