SENTENÇA. Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro

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1 fls. 177 SENTENÇA Processo Digital nº: Classe - Assunto Procedimento Comum - Rescisão do contrato e devolução do dinheiro Requerente: Fernando Kuroiwa e outro Requerido: Plano Aroeira Empreendimentos Imobiliários Ltda. (Plano & Plano Construções e Participações Ltda.) Juiz(a) de Direito: Dr(a). Adriana Borges de Carvalho Vistos. FERNANDO KUROIWA e NIDIA IDE KUROIWA ajuizaram ação de rescisão contratual c/c pedido de tutela antecipada em face de PLANO AROEIRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (PLANO & PLANO CONSTRUÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA). Constou na exordial, sucintamente, que os autores adquiriram um apartamento comercializado pela ré, localizado na Rua das Pérolas nº 162, unidade nº 508 no futuro Condomínio Edifício Fatto Perfil Jabaquara. Salientaram que na época da assinatura do contrato, dispunham de condições financeiras para honrar com as obrigações contratuais. Porém, desde janeiro de 2016, encontram-se em outra realidade econômica e diante da falta de recursos financeiros, solicitaram o distrato amigável do contrato. Foram informados de que seria possível a rescisão do contrato. Contudo, a incorporadora restituiria apenas o equivalente a 20% dos valores pagos, sem qualquer atualização monetária e de forma parcelada. Ressaltam que o valor total pago é de R$ ,02, informando, ainda, que o empreendimento ainda não foi concluído e o imóvel jamais esteve na posse dos autores. Após inúmeras tentativas de composição amigável, os autores não aceitaram a condição e retenção proposta pela ré, razão pela qual pleiteiam a rescisão do lauda 1

2 fls. 178 contrato com a restituição de 90% dos valores pagos pelos autores no importe de R$ ,32, sem prejuízo das verbas de sucumbência e honorários advocatícios. Citada, a requerida apresentou contestação (fls. 85/88), concordando expressamente com o pedido de rescisão contratual. No que se refere à devolução dos valores, alegou que os autores deram causa à rescisão do contrato e, por isso, os valores a serem devolvidos deverão obedecer ao disposto na cláusula X-3 e seguintes das Normas Gerais, cabendo a devolução de 20% sobre os valores pagos. Destacou que movimentou despesas inerentes à campanha de vendas e são evidentes os gastos que assumirá com a renegociação da unidade. Por fim, aguarda a improcedência do pedido e na hipótese de condenação, que os juros de mora incidam a partir da data do trânsito em julgado, uma vez que os autores deram causa à rescisão contratual. Sobreveio réplica (fls. 162/174). É O RELATÓRIO. DECIDO. Conheço diretamente do pedido, com base no art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil. O feito comporta julgamento antecipado, na medida em que a prova é essencialmente documental, sendo que ambas as partes já tiveram oportunidade de trazê-la aos autos, com a inicial e a contestação (art. 434, CPC). A ação é procedente. Por se tratar de relação de consumo, aplicam-se lauda 2

3 fls. 179 as regras do Código de Defesa do Consumidor. Os autores aduziram que, diante de dificuldades financeiras, não têm mais condições de assumir as obrigações contratuais, motivo pelo qual requereram a rescisão contratual com a devolução de 90% dos valores pagos. A ré, por sua vez, concordou com a rescisão do contrato, mas, em relação ao pedido de restituição dos valores pagos, solicitou a aplicação da cláusula X-3 do contrato, através do qual reteria 80% dos valores pagos pelos autores, uma vez que foram eles que deram causa à rescisão contratual. Consoante análise dos autos, comprova-se que os autores efetuaram o pagamento da quantia de R$ ,02 (fls. 49/50). E por não terem mais condições financeiras para manter o contrato, solicitaram a rescisão do contrato, com a restituição de 90% dos valores pagos (fls. 51/56). É certo que o direito de rescisão contratual é inerente a qualquer instrumento contratual, ou seja, independentemente da perda do interesse em manter o contrato ou da inadimplência dos compradores a declaração da rescisão contratual é de rigor. No entanto, a retenção de 80% das parcelas pagas, como pretende a ré, caracteriza evidente desequilíbrio entre as partes, com notório enriquecimento sem causa da requerida, pois ela retomará a coisa, que será alienada a terceiro, e ainda fica com o plus de vantagem, traduzida nas prestações pagas. Considerando a jurisprudência dominante, lauda 3

4 fls. 180 entendo razoável que pela rescisão contratual a construtora retenha, somente, 10% dos valores pagos pelos requerentes para as despesas arcadas pela requerida. Conforme este entendimento: DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. DISTRATO. DEVOLUÇÃO ÍNFIMA DO VALOR ADIMPLIDO. ABUSIVIDADE. RETENÇÃO DE PERCENTUAL SOBRE O VALOR PAGO. SÚMULA 7 DO STJ.1. "O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato" (art. 472 do Código Civil), o que significa que a resilição bilateral nada mais é que um novo contrato, cujo teor é, simultaneamente, igual e oposto ao do contrato primitivo. Assim, o fato de que o distrato pressupõe um contrato anterior não lhe desfigura a natureza contratual, cuja característica principal é a convergência de vontades. Por isso, não parece razoável a contraposição no sentido de que somente disposições contratuais são passíveis de anulação em virtude de sua abusividade, uma vez que "'onde existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de Direito".2. A lei consumerista coíbe a cláusula de decaimento que determine a retenção do valor integral ou substancial das prestações pagas por consubstanciar vantagem exagerada do incorporador lauda 4

5 fls. 181 Não obstante, é justo e razoável admitir-se a retenção, pelo vendedor, de parte das prestações pagas como forma de indenizálo pelos prejuízos suportados, notadamente as despesas administrativas realizadas com a divulgação, comercialização e corretagem, além do pagamento de tributos e taxas incidentes sobre o imóvel, e a eventual utilização do bem pelo comprador. 4. No caso, o Tribunal a quo concluiu, de forma escorreita, que o distrato deve render ao promitente comprador o direito à percepção das parcelas pagas. Outrossim, examinando o contexto fáticoprobatório dos autos, entendeu que a retenção de 15% sobre o valor devido seria suficiente para indenizar a construtora pelos prejuízos oriundos da resilição contratual. Incidência da Súmula 7 do STJ. 5. Recurso especial não provido. (Superior Tribunal de Justiça; Quarta Turma; RE nº /PE; Relator: Ministro Luis Felipe Salomão; d.j: 27/08/2013). Ação de rescisão contratual com pedido de devolução de quantias pagas e indenização por perdas e danos - Cooperativa habitacional - Desligamento do cooperado - Rescisão do contrato - Devolução dos valores pagos que deve ocorrer em única parcela - Aplicabilidade do disposto no Código de Defesa do Consumidor - Possibilidade de retenção de lauda 5

6 fls. 182 percentual a título de despesas administrativas, que fica reduzido para 10% - Perdas e danos - Não comprovação - O descumprimento contratual não gera, por si só, direito a indenização por dano material ou moral - Sentença de parcial procedência da ação Recurso de apelação dos autores parcialmente provido - Recurso de apelação da requerida não provido - Deram parcial provimento ao recurso dos autores e negaram provimento ao recurso da requerida. (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; 1ª Câmara Extraordinária de Direito Privado; Apelação nº ; Relatora: Desembargadora: Maria Regina Dalla Déa Barone; Comarca: Campinas; d.j: 10/12/2013). Destaco que a devolução dos valores pagos pela requerente à requerida deverá ser feita em parcela única, conforme Súmula nº 02, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição. Os requerentes indicaram na inicial que efetuaram o pagamento de R$ ,02, conforme posição financeira fornecida pela própria empresa-ré às fls. 49/50. Portanto, caberão aos autores a devolução de lauda 6

7 fls % do valor acima informado, perfazendo a quantia de R$ ,32, a ser restituída em parcela única. Sobre este montante, incidirá correção monetária a partir de cada desembolso e juros de mora a contar da citação. Diante do exposto e do mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTEa ação promovida por FERNANDO KUROIWA e NIDIA IDE KUROIWA em face de PLANO AROEIRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (PLANO & PLANO CONSTRUÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA), declarando a rescisão do contrato de compra e venda e determinando que a requerida proceda à devolução, em única parcela, do valor equivalente a R$ ,32, ou seja, 90% (noventa por cento) do montante pago pelos autores, com correção monetária a partir de cada desembolso até o efetivo pagamento e juros moratórios legais a contar da citação. Em razão da sucumbência, arcará a ré com as custas e despesas processuais, corrigidas desde o desembolso, além dos honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor atribuído à causa. Após o trânsito em julgado, aguarde-se por 30 dias. Nada sendo requerido, arquivem-se os autos, com as cautelas de praxe. de cálculo o valor histórico atribuído à causa. A taxa de preparo de apelação terá como base P.R.I. São Paulo, 26 de abril de Adriana Borges de Carvalho Juíza de Direito (assinatura digital) lauda 7