PN 7028.06-5; Ag: Tc Baião () Age: Ago: Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO: (a) Os agravantes não se conformam por não terem feito vencimento de causa nesta ratificação judicial de embargo de obra nova que intentaram contra os recorridos (b) da sentença recorrida: (1)... não se justifica o embargo em situações de ofensa meramente potencial, maxime quando a obra está apenas em fase de projecto ou de licenciamento, quando se encontrem efectuados apenas trabalhos preparatórios: a ameaça de que a obra cause prejuízo pressupõe, nos termos da lei, a existência de uma ofensa efectiva ao direito de propriedade ou a outros direitos reais ou pessoais de gozo ou da sua posse3. (2) Assim sendo, uma vez que, no momento em que os requerentes p rocederam ao embargo extrajudicial ainda não tinha sido realmente iniciada a obra, o seu 1Adv: Dra. 2 Adv: Dr. 3 Cito u Abrantes Geraldes, Temas da Reforma de Processo Civil, IV, pp 228-229; Ac. STJ, 740104, BMJ 233/112; Ac. RC, 0 50517, pn 484/05, www.dgsi.pt: resulta do art. 412 CPC que o embargo judicial e a ratificação do emb argo extra judicial obedecem entre outros requisitos que o requerente se julgue ofendido no seu direito em consequência da obra, trabalho ou serviço novo - exige-se que as obras ou trab alhos em realização já tenham ofendido o direito; Ac. RL, 980305, JTRL00024642, www.dgsi.pt. 1
direito, não estava ofendido, pelo que falece um dos pressupostos para a ratificação. II. MATÉRIA ASSENTE: (a) Pertence aos primeiros requerentes o prédio rústico Campo das Lajes... insc mat. respectiva art. 1072, SM Zézere, omisso (b) Também pertence aos primeiros requerentes o prédio rústico Ribeirinho... insc mat respectiva art 1327 SM Zézere, omisso (c) Pertence aos segundos requer entes o prédio misto Casal do Eido... insc mat respectiva art 1173 SM Zézere, desc. C. Reg. P. Baião nº.. 01733/040102... (d) Pertence aos segundos requerentes o prédio rústico Ribeirinho, insc mat respectiva art 1075 SM Zézere, desc. C. Reg. P. Baião nº.. 489/19891110... (e) Pertence aos requeridos o prédio u rbano, insc mat respectiva art 2106 Fonseca - SM Zézere...,desc C. Reg. P. Baião nº.. 01770/070602.. (f) Em 90/12/17, o requerido marido prometeu comprar a de e este prometeu-lhe vender uma parcela de terreno destinada à construção urbana com a área de 85m2 e a desanexar do prédio rústico Ribeirinho... insc. mat respectiva art. 1075 SM Zézer e, desc. C. Reg. P. Baião nº.. 00489 (g) Nesta parcela de terreno, os requeridos construíram em 1996 o prédio urbano acima referido (h) Em momento anterior à compra e venda dos segundos requeridos a de do prédio rústico Ribeirinho, insc mat art 75 SM Zézere, desc C Reg. Baião n. 489, os requeridos compraram a dita parcela de terreno para construção urbana ao mesmo de (i) No prédio misto Casal do Eido, existe uma poça de repesa de água que recebe águ as pluviais e águas de um que ali corre (j) Toda esta água destina-se desde tempos imemoriais, à rega de vários prédios rústicos, entre eles, Campo das Lajes e Ribeirinho [art. 1327] (k) A poça de represa de água existente há mais de 60 anos foi escavada na terra com paredes consolidadas em terra e pedra, levantadas por mão e obr a do homem, com o objectivo de cap tar, explorar e armazenar as águas de rega dos vários consortes. 2
(l) Todas estas obras estão à vista de todos, cabendo aos primeiros requerentes e seus antecessores, bem como aos restantes consortes da água, a limpeza, consolidação e manutenção da referid a poça há mais de 60 anos com o ob jectivo de fruirem e utilizarem a água em questão em proveito próprio (m) Os actos em que tudo isto se consubstancia têm sido praticados à vista de toda a gente, sem oposição de quem quer que seja, com a convicção de lhes pertencer a fruição dessa mesma água, sem lesão do interesse de terceiros (n) São consortes da água os p rimeiros requerentes, e, casada (o) A utilização da água é levada a cabo pelos primeiros requerentes desde sextafeira ao pôr-do-sol até do mingo (p) A condu ção da água represada é feita através de um rego a céu aberto que partindo dali se dirige para os diferentes prédios a que se destina (q) Esta utilização vem sendo feita peolos requerentes e seus consortes à vista de todos, sem oposição, co ntinuamente, convictos de exercerem direito próprio sem lesão do interesse de outr ém (r) Ao mesmo tempo que utilizam o rego condutor de água, limpando-o e consolidando-o quando é necessário, para o efeito utilizando todo o caminho que o acompanham (s) Este caminho também se destina a dar acesso ao prédio dos segundos requerentes, onde está a represa da água (t) É por este caminho, que segu e paralelo ao rego, existente há mais de 30 anos que os requerentes acedem a pé, durante todo o ano, ao prédio em causa e à represa da água, à vista de todos, sem oposição, ininterruptamente, convictos de direito próprio, sem lesar direito alheio (u) A casa dos requeridos confina a poente com o rego e o caminho (v) Há mais ou menos 6 anos, construíram uma garagem, na parcela de terreno que adquiriram a de, que ocupa cerca de 20m2, a poente da habitação, precisamente no local onde corre o rego e se situa o caminho, mas demoliram-na depois (x) Em 06/07/10, pelas 9 da manhã, os requerentes constataram que alguns trabalhadores de um empreiteiro sob as ordens e direcção dos requeridos procediam à limpeza da faixa de terreno onde esteve construída a garagem dos 3
requeridos (y) Nessa altura, os requerentes acompanhados de dois vizinhos dirigiram-se ao requerido marido e ao empreiteiro - disseram-lhes: parém imediatamente com a limpeza e preparação do terreno - porque embargavam a obra (w) No entanto, o requerido recusou-se a parar e ordenando ao empreiteiro que continuasse o que estava a fazer (z) O empreiteiro continuou (aa) Os requeridos construíram uma edificação destinada a garagem e/ou arrumos, diminuíram a largura do caminho de acesso à represa da água, ficando livre apenas uma faixa com 1m de lar gura (ab) Os segundos requerentes, após a compra e venda celebrada com de, em 2004, vedaram o prédio com tijolos, deixando de parte o caminho paralelo ao rego d e encaminhamento da água da represa. (ac) Antes do ano de 1990, este caminho já se encontrava separado fisicamente do prédio actualmente pertença dos segundos requerentes, prédio rústico Ribeirinho insc mat respectiva art. 1075 SM Zézer e, etc. (ad) No ano de 1996/97, os requeridos plantaram uma roseira, heras e uma ou duas videiras na p arcela de 85m2 que prometerem adquirir a de (ae) Estes actos foram pr aticados à vista de toda a gente e sem oposição (af) Em 1992, os requeridos colocaram anilhas de cimento subterrâneas no (ag) A presente ratificação de embargo da obra nova deu entrada em 06/07/17 III. CLS/ ALEGAÇÕES (a) Os requerentes entenderam e entend em, contra a sentença recorrida, que os trabahos de limpreza da faixa de terreno lev ados a cabo pelos trabalhadores de um empreiteiro acompanhados da colocação de materiais de construção civil no local eram e são provas indiscutíveis de se estar a iniciar a execução de uma obra nova (b) Tanto assim, que a obra foi construída (c) Entretanto, os pro cedimentos cautelares visam prevenir lesões, e, por conseguinte, não podem ser opostos à obra nova consumada, salvo se a lesão fôr motivo de justo receio de outras lesões futur as (d) Na verdade, o art. 412/1 CPC refere-se à ameaça de causar prejuízos 4
(e) Ora, os trabalhos ou serviços de limpeza do terreno por si sós e em conjugação com os precedentes con stituem uma real ofensa ao direito dos requerentes que, por isso, não era meramente potencial e foi concretizada (f) E nos termos da disposição legal citada, a ameaça de causar prejuízo abarca toda e qualquer violação do direito de propriedade ou de qualquer outro direito real ou pessoal d e gozo (g) Não se exige pois a verificação de um prejuízo concreto para que se possa proceder ao embar go de obra nova, mas tão só a ocorrência de um dano jurídico (h) Assim, no entender dos agravantes o tribunal recorrido fez errada interpretalação do dito art. 412 CPC: deve ser revogada a sentença sob crítica e substituída por acordão que conceda a ratificação IV. CONTA-ALEGAÇÕES: Não houve V. RECURSO: Pronto para julgamento nos termo s do art. 705 CPC. VI. SEQUÊNCIA: (1) Os argumentos do recorrente não contrariam a visão da sentença recorrida a não ser no que qualificam de início da obra uma simples limpeza de terreno (2)... pode ser até melhoramento, mas o que é certo é ser o início da obra caracterizado por qualq uer modificação topográfica, marcação de alicerces ou escavações (3) Nada disso foi dado como provado: sim, poventura a intenção de iniciar uma obra que afinal abortou, tanto quanto os elementos de julgamento nos habilitam a considerar4 (4) Deste modo, continua a verificar-se a car ência dos requisitos de autorização do embargo extrajudicial de obra nova, não só por esta não ter arrancado, mas ainda mais porque a limpeza do terreno não é bastan te para dar con gruência a um acontecimento radicado na intencionalidade da obra projectada: não é por si só sinal do desígnio de construir contra os direitos dos recorrentes 4 Não podemos entrar em conta com a deposição de materias de construção, circunstância que não foi à matéria assente e que por assim não ter ido não foi criticada nas conclusões do recurso. 5
(5) Visto o disposto no art. 412/1 CPC vai pois confirmada a decisão impugnada VII. CUSTAS: pelos recorrentes que sucumbiram 6