Um lugar muito lindo, porém de difícil acesso, mas ainda assim conseguimos chegar fomos recepcionados por a cacique Dorinha, coordenadora de educação

Transcrição

1 Como dizer que foi só um curso? No dia oito de Janeiro de 2015 embarquei em uma viagem, uma viagem que não imaginava que aprenderia tanto, que conheceria belíssimos lugares e pessoas maravilhosas. Fomos recebidos no Assentamento Virgulino Ferreira com uma calorosa recepção, no reunimos em uma ciranda nela pude observar umas carinhas de susto e ao mesmo tempo um brilho nos olhos com espírito de luta, logo depois jantamos, nos acomodamos e seguimos para um grande círculo onde tivemos uma primeira aproximação conhecendo os nomes de cada um, recebemos uma mochila com duas camisas, alguns materiais e camisinhas. A primeira atividade foi uma roda de apresentações onde todos os viventes dos VERSUS juntos com os facilitadores se apresentaram a respeito de suas características pessoais e profissionais. Seguimos para confecções de crachás de como gostaríamos que fossemos chamados, além de confeccionar envelopes individuais para fixá-los na parede. Depois o grande grupo foi dividido em cinco NBs, cada NB se reuniu e foi escolhido nome pra cada NB e confeccionado cartazes com os nomes, Virgulindxs, Zefa da Guia, Flor de Mandacarú, Paulo freire, o meu NB se chamou Abra SUS Olhos, tendo como facilitadoras Iyalê e Xuxu. Com isso criou um vínculo maior entre facilitadores e viventes.

2 Com uma dinâmica chamada teia nos separamos em pares, logo depois conversamos sobre livro, filme, musica, o barbante era jogado e quem pegasse teria que responder quem era seu amigo, qual ultimo livro que leu, música e filme. No final se formou uma teia bem forte foi exposta no teto e a sala foi tomando forma com um pouquinho de todos. Ao confeccionarmos um origami em forma de peixinho, (com ajuda do nosso querido amigo Penalta), não sabíamos a dimensão de valores nos traria... Não ficando por aqui assistimos o vídeo Se os tubarões fossem homens logo nos dividimos em NBs e discutimos sobre ele e percebemos que o mundo está cheio de tubarões, que desde pequenos somos moldados e lapidados para sermos escravos do sistema, mas no final no meio da plenária estava um desenho de um grande tubarão, o que fazer com ele? Todos nós com nossos peixinhos de origamis fomos mais fortes ao nos colocarmos ao redor daquele tubarão e agora sabemos podemos vencer qualquer forma de opressão, injustiça e manipulação.

3 Ao falar sobre dinâmica de estado e bem estar social com pequenas dinâmicas descobrimos o quanto usurpam o que é do povo e que o nosso congresso, o nosso estado é organizado de maneira tal que a maior parte da população não tem acesso ao que é seu por direito! O bem estar social está na mão de poucos. Conhecer um terreiro de candomblé foi místico, emocionante. Foi um momento de conhecer, tirar dúvidas com a mãe de santo e nos livrarmos dos preconceitos impostos pela sociedade. Perceber que a saúde não é só o biológico, mas que aprender a cultura do outro é saúde também e assim podemos contemplar a todos de forma justa. Debatendo sobre opressões pudemos desabafar sobre qualquer tipo de injustiça, de repúdio, para com negros, indígenas, LGBTT, opção religiosa... Em um círculo com todos sentados foram mencionadas diversas formas de opressão, onde cada vivente desabafava esse medo levado dentro de si. Divididos em grupos saímos rumo a conhecer os determinantes sociais de comunidades quilombola e indígena. Meu grupo teve a oportunidade de conhecer o povo Pankará, da Serra do Arapuá, no município de Carnaubeira da penha, povo ao qual pertenço! Um lugar muito lindo, porém de difícil acesso, mas ainda assim conseguimos chegar fomos recepcionados por a cacique Dorinha, coordenadora de educação

4 Noêmia, coordenadora da saúde Maria Emília, pelo pajé João Miguel e outras lideranças. Depois de um almoço tivemos a oportunidade de conhecer o ritual onde todos puderam participar, depois de um breve contexto histórico à cerca do povo, foram feitas perguntas em relação à saúde, educação, transporte, saneamento básico e observamos que as maiores dificuldades eram em relação a transporte e saneamento básico. E com orgulho posso dizer que somos um povo organizado, com líderes excelentes, mas ainda somos um povo que luta pela demarcação da nossa terra. Debatendo sobre saúde pública e saúde privada, chegamos a conclusão de que sem dúvidas o SUS é um sistema completo que atende a toda população, mas que devido à corrupção dos nossos governantes ele ainda não é perfeito, por isso devemos nos unir e lutar pelo nosso sistema! A saúde é nossa a saúde é do povo e só lutando construímos SUS pra todos! (Música cantada durante algumas plenárias) Chegam os dias das vivências nos nossos postos de saúde, meu grupo teve a oportunidade de conhecer uma USF na cidade de flores, ao chegar fomos recebidos pela enfermeira que nos levou a conhecer o local, o qual era uma casa adaptada para que funcionasse a USF, que contava com um banheiro, uma sala pra enfermeira, uma sala pra consulta, uma recepção. Havia cinco USFs no munícipio e três eram na zona rural onde a demanda era maior. Lá contava com serviços de saúde da mulher, do homem, consultas, mas não contava com

5 serviço odontológico. Percebemos que o modelo de saúde é principalmente preventivo e que para a promoção eram realizados esforços mínimos pelo pessoal da saúde. Ao visitar o CREAS (centro de referência especializado em assistência social), em Serra Talhada, fomos recebidos pelo psicólogo e o advogado. Eles contavam com um psicólogo, um advogado, um assistente social. Nos explicaram que lá eles ofertam serviços a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência psicológica, sexual, tráfico de pessoas, violência física, etc... As maiores dificuldades em relação ao serviço era a não notificação dos casos por parte da primeira pessoa a socorrer o agredido, dizendo que muitas vezes era por medo ou desconhecimento de que qualquer pessoa da saúde pode proceder com a notificação. Na visita ao CEO (Centro de Especialização Odontológica) em Serra Talhada, notamos que esse era o único no município e contava com serviços de peridontia, canal, odontologia infantil e prótese. Um dos aspectos questionados foi em relação a demanda do atendimento e nos explicaram que era muito grande, mas o que mais me chamou a atenção foi que apesar da demanda não encontramos pacientes, nem dentistas. Outro fato foi que a maioria dos profissionais eram contratados.

6 Movimento social, nesse dia contamos com as nossas amigas assentadas Sandra, Cida, Cidinha e nosso amigo Rafael que nos explicaram a grande luta do movimento por seus direitos. Foi um espaço onde nos livramos de qualquer preconceito em relação ao movimento, e percebemos o quanto somos manipulados por a mídia ao ouvir os relatos das nossas companheiras quando vão lutar pelo direito do povo e são repreendidos pela polícia e não é isso que mídia coloca. Na noite fizemos a jornada MST, com muita música e apresentações, foi demonstrada a posição de opressão sentida e ao mesmo tempo de muita bravura. Com os sem terrinhas tivemos a oportunidade de na sua apresentação ouvir uma linda música... Brilha no céu uma estrela do Che, somos sem terrinha do MST, saúde, escola e educação, desse meu direito eu não abro mão. Conhecer a Horta do Seu Francisco só me fez perceber mais ainda que o MST é mais que terra, é vida, saúde, educação...

7 Discutindo sobre o papel dos graduandos nos unimos em duplas e conversamos sobre diversos aspectos e acontecimentos das nossas vidas e o que desejaríamos ser ou fazer depois de graduados, como graduandos. Foi um momento mágico com minha companheira Kell, pude perceber sua força e que apesar de todas as dificuldades nunca perdeu seu espírito de luta e fome por justiça. Depois de muita conversa expressamos nossos sonhos pintando uma camisa eu pintei a dela e ela pintou a minha. Em uma visita cultural a Serra Talhada, conhecemos o Museu do Cangaço e nos aproximamos de toda vida e obra do Rei do Cangaço Virgulino Ferreira mais conhecido como Lampião. Depois de conhecer um pouco se nota que ele também foi um assassino, mas foi uma pessoa que tremeu de indignação com as injustiças, então é meu companheiro! Foi um momento de muito orgulho de ser pernambucana do sertão e saber que piso diariamente em terras que alguém de tanta bravura já pisou. Na última noite tivemos nossa última cultural, foi um momento muito difícil, saber que nos próximos dias já não iria despertar com alvoradas, tomar um café coletivo, debater temas importantes na plenária e estar ao lado de

8 pessoas tão especiais. Mas depois do embarque nessa rica viagem, com escalas nas mais diferentes realidades, posso dizer que desembarco com uma bagagem enorme, mais forte, mais feliz e com um monte de bomba aqui dentro.