Relatório VER-SUS Lapa,Paraná

Transcrição

1 Relatório VER-SUS Lapa,Paraná Sou Ana Flavia Fontes, acadêmica de Nutrição na Universidade Federal do Paraná e venho através deste, descrever a minha experiência de vivente no VER- SUS. Ocorreu na cidade de Lapa-PR entre os dias 30 de janeiro a 08 de fevereiro de 2015, a estadia da equipe foi no Assentamento Contestado local do Movimento Sem Terra (MST). Cheguei dia 30/01 (sexta-feira) final de tarde, a primeira impressão foi: Não me imagina em um MST! Ali, me deparei com realidades diferentes, culturas diferentes, aos poucos fui me dando conta que estava fora da minha zona de conforto, mas tinha comigo que era necessário certo desprendimento do meu mundinho para enxergar e vivenciar o SUS, este que vai além das praticas biomédicas. Diante disso, me entreguei a vivencia, deixando os pré-conceitos, mente a aberta e respeito para com o novo que estava por vim! Nesse dia ocorreu a recepção por parte da equipe organizadora (Inspira SUS) através de místicas, favorecendo o conhecimento e integração entre os participantes. Depois disso recebemos algumas orientações sobre nossa estadia e além das nossas vivencias seriamos colaboradores nas atividades a serem desempenhadas no Assentamento como: lavar loucas, limpar banheiro e café da manhã, ou seja, o grupo foi divido através de um cronograma. Após essas orientações, tivemos a primeiro dia de capacitação, ao todo foram três dias.contamos com a presença de professores psicólogos que participaram da mística e abordou o tema afetos, este que além de ser importante para a vida pessoal a fim de mover nossa vontade de gostar de algo, mas também lutar! Porém afetos ligados à saúde, o quanto esse sentimento é importante durante um acolhimento, atendimento, por exemplo. Além dos afetos, foi colocada a importância de olhar para saúde muito alem do saber biomédico, é entender e compreender os saberes populares e outras formas de fazer saúde. No segundo dia de capacitação, tivemos maior entendimento sobre a extensão do município de Lapa e as divisões de cobertura de atendimento pelo SUS, através das descrições das representantes da Secretaria de Saúde da

2 Lapa,PR, Diretora Geral de Saúde, Pâmela Moreira Weinhardt e a coordenadora da atenção básica Amélia de Carvalho. Deixaram claro que o quadro de médicos é composto por médicos do Provab e do Programa Mais Médicos. O serviço ainda é centralizado mas estão caminhando para a descentralização do mesmo, mas ainda há resistência por parte de profissionais e cultura sobre esse assunto. Depois da breve apresentação do Município, nos repassaram assuntos que compreenderem a Saúde publica, sua historia até os dias atuais. Em seguida, tivemos a oportunidade de falar com um representante do MST, explicando quando ocuparam o atual Assentamento e como funciona a organização do Movimento de forma que funcione. É como se fosse uma cultura camponesa, produzir o alimento para o consumo das famílias, troca do alimento, o lucro não é primordial, o importante é ter saúde, alimentar-se bem e o alimento que prover que sejam oriundos de terras isenta de químicos e que a terra seja manuseada com respeito a sua natureza própria, ou seja, adesão a agroecologia. A política de trabalho é Não existe explorador e nem explorado, ou seja, todos participam das atividades sem discriminação de gênero, uma forma de organização e fortalecimento do Movimento. No terceiro dia de capacitação as abordagens foram quanto à alteridade e saúde, mulheres negras/comunidades Quilombolas e Movimento estudantil, tais temas foram imprescindíveis para um conhecimento e maior entendimento sobre eles. Evidenciando que precisamos do outro e é importante compreende-lo e respeita-lo, mostrou a importância de fortalecer que todos são iguais, que cor não define nada e ninguém, o quanto a participação dos jovens na política pode mover montanhas. Nos dias subsequentes realizamos as visitas e vivencias dentro do serviço, nos dividimos em três equipes cada qual composta por áreas diferentes da saúde, ou seja, interdisciplinaridade. Falando ainda da equipe, foi muito bom vivenciar, trocar experiências e aprender com os demais, pois desta forma é possível enriquecer o meu eu e aprendizado profissional.

3 As visitas foram realizadas e no fim do dia foi feito rodas de conversas para compartilhar com o grupo e trocar experiências e ver alternativas para contribuir nas melhorias do serviço. As visitas ocorreram do dia 02 de feveiro a 6 de fevereiro. Visitamos a Colônia de Johannesdorf, Reunião do Conselho Municipal de Saúde, em São Bento correu uma roda de conversa com as benzedeiras, no Assento a oportunidade de conhecer outras praticas de fazer saúde, através da bioenergia, fitoterapia, ervas medicinais, além disso, conhecemos dentro do Assentamento área de plantio dos alimentos agroecológicos. Visitamos também a Clinica da Mulher (Tamanqueiro), a Maternidade, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e Comunidade Terapêutica, finalizando com as Devolutivas para o Serviço de Saúde, Assentamento e para os viventes. As devolutivas foram embasadas através das rodas de discussões realizadas durante cada dia das vivencias, os temas abordados foram: redução de danos, identidade, acesso, zona rural, cultura, motivação, humanização, inserção social, radio, promoção e prevenção, valorização profissional, avaliação epidemiológica, assistência jurídica qualificada, alimentação e agro ecologia, olhar institucional, preconceitos com saúde e saberes populares. Para o MST, partes desses assuntos foram discutidas, porém, foi abordada a questão dos preconceitos, coletivo, organização, representatividade e saúde ampliada. Em relação ao serviço, foi notória a satisfação para alguns usuários do SUS em contra partida há certa parcela insatisfeita em função das especialidades serem de difíceis acessos de conseguirem e quando alcançam muitas vezes é necessário deslocamento para outras regiões como Campo Largo-PR ou Curitiba-PR. Durante as visitas e relatos dos pacientes foi notável que muitas das doenças obtidas como diabetes, hipertensão e obesidade podem ser amenizadas se aderirem uma vida saudável por meio de praticas de exercícios e alimentação saudável. Outra questão é o sofrimento psíquico, muitas vezes este pode ser desencadeado por certa monotonia de atividades durante o dia-dia não possuindo espaço para lazer, o que acarreta em uma demanda de pessoas deprimidas.

4 Uma sugestão é o serviço conscientizar em relação à alimentação saudável associada aos exercícios físicos o quanto podem fortalecer a vida de uma pessoa e favorecer meios de diversão de forma que sejam acessíveis pela população, alem de obterem cultura. Outra situação que além de chamar atenção me comoveu, foi o fato de muitos profissionais realizar atividades não obrigatórias mas realizam como ato de amor de forma voluntaria, pois de alguma estão contribuindo com a saúde e lutando pela mesma! Em relação a minha percepção de como um todo da vivencia foi: inexplicável! cada momento, cada olhar, cada troca, só favoreceu o crescimento e anseio de lutar pelo SUS, mesmo sendo nítido que não é perfeito em contrapartida ele funciona, e é para todos! A vivência me ofereceu novos companheiros e aliados nessa luta, vivenciei cada momento colocando-me no lugar de cada colaborador do serviço, bem como do usuário do SUS. Houve momentos que me imagina atuando, a vivencia só fortaleceu o que carrego comigo Cada vida vale a pena, lutar por aqueles que não lutam, levar o legado para contagiar os que estiverem em minha volta, desconstruir preconceitos que a mídia coloca sobre diversos movimentos e outras formas de fazer saúde. Aprendi que sozinha não consigo nada, necessito do outro, ou seja, trabalhar em coletivo ficou claro que em qualquer circunstancia não posso julgar uma determinada situação e ou pessoa, faz parte de uma organização e consolidação de algo a compreensão dos dois lados de uma moeda. Além disso, evidenciou-se a importância de me abrir a novos conhecimentos de outras áreas, as vivências com outras profissões me ensinaram muito, realizando uma aliança com elas é possível contribuir de forma efetiva na saúde! Colando aqui também, a importância no processo de fazer saúde a humanização do profissional, a integração e de forma insaciável a busca de alternativas de fazer saúde em prol do paciente. Por fim, estou feiíssima pela oportunidade de vivenciar o SUS e outras praticas, acredito que foi mais que um aprendizado foi certa renovação de espírito e de luta, claro sempre com muito amor para mover tudo!

5 VERSUSIANO que luta valoriza o saber popular FIGURA 1 - RECEPÇÃO VER- SUS (SECRETARIA DE SAÚDE) FIGURA 2 - ASSENTAMENTO CONTESTADO

6 FIGURA 3 - MÍSTICA DE RECEPÇÃO DOS VIVENTES FIGURA 4 - MELANCIA AGROECOLÓGICA

7 FIGURA 5 - VERSUSIANOS Atenciosamente, Ana Flavia Fontes Curitiba, 13 de fevereiro de 2015.